segunda-feira, 27 de setembro de 2010

I'm-having-a-baby pie

Lá estava eu numa sexta-feira com pouco trabalho, quando resolvo ligar a tv e pego The Waitress no comecinho, no canal da Fox. Aninhei-me no sofá com o cachorro, fiz um chá e me dei o direito de passar a tarde vendo um filme que eu adoro. É claro que as consequências de se assistir um filme tão ligado à comida são óbvias: saí desesperada atrás de uma torta para fazer.

Bananas são frutas que sempre me pareceram meio obrigatórias numa casa brasileira, e elas sempre estão lá, mesmo quando eu não sei bem o que fazer com elas, mesmo quando só servem de acompanhamento para uma fruta "mais interessante". No último mês, no entanto, ao invés de serem apenas a fruta-obrigação do lado da fruta-especial-da-estação, elas andam com status de estrela. Ando comendo muitas bananas, em vitaminas, com iogurte e granola, de qualquer jeito. Talvez por isso tenha decidido fazer uma torta que sempre me despertou curiosidade: Banoffee Pie.

Banoffee Pie nasceu na Inglaterra, na verdade, e não nos Estados Unidos, e é uma torta de banana e caramelo (toffee) coberta de chantilly. Apanhei a receita do livro Sticky, Chewy, Messy, Gooey, que sempre entrega o que o título promete. De modo geral, suas receitas são bastante doces, mas sempre saborosas. Apenas fico atenta às coberturas de bolo. Qualquer calda ou buttercream que leve mais açúcar do que o próprio bolo is a no-no. Aprendi isso ao fazer um delicioso bolo de chocolate e estragá-lo com uma calda de chocolate tão doce que me lembrou as dores de dente que tinha quando criança ao mastigar aquele chiclete Pong. :P

De qualquer forma, era essa torta que eu queria. Na intenção de permanecer fiel às raízes da receita, a autora sugere o uso de Digestive Biscuits no lugar de Graham Crackers para a base da torta. Eu já aprendera que as Graham Crackers na verdade nada têm a ver com as bolachas Maria que usamos por aqui para bases de cheesecake, uma vez que a tal Graham Flour, usada nos biscoitos, aparentemente é farinha de trigo integral grossa. Noutro dia, vendo um episódio antigo de Nigella preparando cheesecake, num close da câmera, consegui ver impresso no biscoito o nome da marca de Digestive Biscuits que ela estava usando. E aquilo para mim foi uma revelação, pois me dei conta de que o Santa Luzia tinha aqueles biscoitos sempre. Corri para o mercado e comprei-os.

São definitivamente mais caros que a bolacha Maria, mas o lado bom é não ter nenhum ingrediente bizarro ou conservante. Se você tem acesso a esses biscoitos, vale a pena comprá-los uma vez, ao menos para ter uma base de comparação e poder buscar opções semelhantes nacionais. De qualquer forma, um pacote grande rende 2 ou 3 bases de torta.

Ao experimentá-los, percebi que sua textura de fato é mais grosseira, por conta do farelo de trigo, e seu sabor, ainda que suavemente adocicado, é definitivamente salgado. Logo, em seu próximo cheesecake ou torta, experimente usar algum biscoito de farinha integral de sabor neutro.

Bom, comprei logo um pacote grande e já deixei-o totalmente moído num vidro na geladeira.

Quanto ao recheio... ao ver a pataquada de cozinhar o leite condensado no forno, meu primeiro impulso foi comprar doce de leite e pronto. Mas confesso que fiquei curiosa ao ver a manteiga, baunilha e o dark brown sugar no meio. E fiz a receita ipsis literis. Acabei usando o açúcar demerara no lugar do mascavo, pois fiquei com receio de que o mascavo fosse forte demais. Mas você pode fazer seu próprio light brown sugar ou dark brown sugar, apenas misturando melado a um pouco de açúcar cristal, segundo a Joy ensina aqui. Também, depois de 2 horas, o caramelo não estava tão "tostadinho" quanto deveria, mas fiquei com muito receio de que ele endurecesse demais na geladeira caso cozinhasse mais, e preferi-o mais claro.

De qualquer forma, na pressa, acho que doce de leite claro e cremoso é uma opção totalmente válida para substituir o caramelo.

O chantilly. Da próxima vez, faria metade da quantidade ou apenas 3/4 dela. Conforme fui empilhando o creme em cima da torta, comecei a entrar em pânico, acreditando que ele transbordaria. De fato, é uma enorme quantidade de chantilly, que é puxado para baixo pela faca na hora de cortar a fatia, escondendo as camadas de caramelo e banana que eu tanto queria fotografar. Tanto que essa foto foi tirada dois dias depois, quando FINALMENTE consegui tirar uma fatia limpa. Daí o fato de o chantilly estar meio caidinho. Mas a boa notícia é que a torta de mantém super bem na geladeira por alguns dias, e o gostinho da banana só vai intensificando. A crosta não perde a crocância e o caramelo não endurece.

Veredito final: super doce, faz sujeira, mas é uma delícia! Matou completamente a minha vontade por uma torta melequenta. :)

E para quem ficou curioso com o título do post, tenho mais uma coisa em comum com Jenna além do gosto por tortas. E não é o marido patife, porque, graças a Deus, o meu marido é o melhor do mundo.

Pirulito de nabo pra quem acertar. ;)

Obs: Para quem acertou, fica a dica... já aprendi que gravidez é pior que futebol: todo mundo tem uma opinião. Quem já teve filhos se lembra de todas as histórias terroristas que gostaria de não ter ouvido. Então sejam solidárias e não as passem para frente. Tenho de ler todos os comentários para decidir se são ou não publicáveis. Mas se sentir que vem história terrorista pela frente, vou apagar, estando certa ou não, sem nem terminar de ler. Ok? Espero que gostem da notícia. Papinhas, aqui vou eu.


BANOFFEE PIE
(do livro Sticky, Chewy, Messy, Gooey, de Jill O'Connor)
Tempo de preparo: 3 horas
Rendimento: a autora diz 6-8, mas eu arriscaria uns 10 pedaços, pela torta ser bem doce

Ingredientes:
(recheio)
  • 2 latas de leite condensado (395g cada)
  • 1 colh. (chá) extrato de baunilha
  • 1/4 xic. açúcar demerara ou mascavo orgânicos(o mascavo fica mais forte e mais escuro)
  • 4 colh. (sopa) manteiga sem sal derretida
  • 1/4 colh. (chá) sal
(base)
  • 2 1/2 xic. de Digestive Biscuits ou Graham Crackers (algum biscoito de farinha integral de sabor neutro, nem excessivamente doce nem com grãos de sal)
  • 1/4 xic. açúcar cristal orgânico
  • 1/2 xic. (120g) manteiga sem sal derretida
(cobertura)
  • 3 bananas médias, maduras mas firmes (ou o bastante p/ uma camada única)
  • 2 xic. creme de leite fresco
  • 1/3 xic. açúcar cristal orgânico
  • 1/4 colh. (chá) de grânulos de café instantâneo dissolvido em 1 colh. (chá) extrato de baunilha
Preparo:
  1. Posicione uma grade no meio do forno e pré-aqueça a 205ºC. 
  2. Para fazer o recheio, misture todos os ingredientes numa tigela refratária com capacidade para 6 xícaras, cubra a tigela com papel alumínio e coloque-a em uma assadeira média (20x30cm, mais ou menos). Preencha a assadeira com água fervente até metade da altura da tigela e leve ao forno com cuidado, e asse por 1h30 a 2h, mexendo com uma colher de pau a cada 15 minutos, até que esteja reduzido e caramelado. Retire do forno, retire a tigela da água e deixe esfriar. 
  3. Abaixe a temperatura do forno para 180ºC. Enquanto o caramelo esfria, faça a base. Misture numa tigela o biscoito moído, o açúcar e a manteiga derretida, até que todo o farelo pareça úmido. Despeje numa forma de torta ou de bolo, de fundo removível, de cerca de 23cm de diâmetro e 7cm de altura. Aperte contra o fundo e as laterais (é mais fácil usando um copo de laterais retas) de forma uniforme. Leve ao forno por 5-7 minutos, ou até que os farelos pareçam secos e dourado-escuros. Retire e deixe esfriar. 
  4. Quando a base estiver fria, espalhe o caramelo numa camada uniforme. Nesse ponto, você pode cobrir com filme plástico e levar à geladeira por até 24h para terminar depois. Senão, apenas leve à geladeira o suficiente para o caramelo terminar de esfriar. 
  5. Corte as bananas em rodelas de cerca de 0,5mm e arranje-as sobre o caramelo, formando uma camada única. Parece pouca banana, mas é o suficiente para um sabor acentuado. 
  6. Na batedeira, bata o creme de leite, o açúcar e o café dissolvido na baunilha, até obter picos firmes. Espalhe o chantilly sobre as bananas, cobrindo-as totalmente, para evitar que escureçam. Refrigere a torta até a hora de servir.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Um bolo de maracujá e uma homenagem aos blogueiros sem criatividade

Havia um maracujá de tempos imemoriais na minha geladeira. Eu lhe lançava um olhar de soslaio, esperando que ele me soprasse alguma ideia, uma inspiração, e nada. Uma andorinha não faz verão, ou, na versão frutífera, um maracujá não faz mousse. Mas ele estava me irritando ali, me olhando da prateleira de acrílico. Cada vez que abria a geladeira, aquela fruta amassada era um tapa na cara, um atestado de incompetência. Vai me deixar estragar? Vai? Pecado, viu?

Até que me lembrei de um conselho que dera há muito tempo atrás, talvez nos comentários do blog, talvez no Formspring. Sobre usar maracujá no lugar do limão em um bolo. E pensei imediatamente no meu bolo de limão siciliano favorito, receita da Nigella que fora minha nêmesis até me dar conta de que bastava deixar a manteiga em temperatura ambiente. De verdade. Não "meio" geladinha. E o bolo foi um sucesso todas as vezes que o preparei desde que aprendi a ser paciente e tirar a manteiga da geladeira com uma hora de antecedência.

Apanhei o livro. Preparei a receita ipsis literis, substituindo as raspas de limão por um nadinha de baunilha. Abri o maracujá quase maduro demais, raspei-lhe a polpa e passei por uma peneira, obtendo exatamente a quantidade de suco de que precisava, nem uma gota a mais, nem uma a menos. Fiz a calda. Hummm... o cheirinho da calda... Despejei no bolo quente e fiquei impacientemente voltando à cozinha por mais de uma hora para ver se o bolo estava completamente frio. O primeiro pedaço foi cheio de expectativa.

Expectativa correspondida. :) O bolo ficou bem molhadinho, perfumadíssimo de maracujá e encharcado aqui e ali de calda amarelo-forte, aromática e doce. Tão bom quanto a versão original, de limão siciliano, e assim como o o original esse foi comido quase que de um dia para o outro, apenas por esta gulosa que lhes escreve. Não podia deixar de dividi-lo aqui.

Agora que o post está escrito, com todas as minhas impressões a respeito do processo da receita, da experiência, do teste... uma pergunta: como alguém pode achar interessante copiar e colar esse texto inteiro em seu próprio blog e deixar passá-lo como seu? Exatamente qual é a vantagem? Pegar foto dos outros, eu até entendo: a pessoa não é boa com a câmera, gostou da foto, às vezes achou no Google Images (a maldição) e o mundo está tão cheio de espertalhões quanto de pessoas que ignoram que direitos autorais vigoram também na Internet, e que nenhuma imagem surgiu por combustão espontânea, elas foram criadas por alguém.

Agora... texto??? Já vi muito passo-a-passo meu (e de outros blogs) espalhados por aí. Com créditos (thank you!) e sem créditos (go f*ck yourself!). Mas quando você copia um texto que diz "eu e meu marido...", "meu cachorro Gnocchi...", "porque eu estava fazendo uma ilustração pra um cliente...", ou mesmo falando sobre experiências pessoais com uma receita, memórias gustativas, livros favoritos e afins... que diabos??? Alguém me explica qual é a vantagem de se roubar o "diário" de outra pessoa?

Até que ponto essa coisa de "ter um blog" chegou? O importante é TER o blog. Gastar meio neurônio e cinco minutos para produzir conteúdo, aí é outra história, acho que é difícil para quem não tem meio neurônio sobrando. Se o seu blog inteiro é feito de conteúdo de terceiros, sem nem mesmo uma opiniãozinha sua a respeito, então, cara, por que diabos você está perdendo seu tempo? Vai fazer outra coisa, vai ler um livro, ver um filme, trabalhar, brincar com o cachorro... ou melhor: que tal começar a de fato cozinhar e criar suas próprias experiências??? Hein?

É uma questão de ego? Você quer falar pros outros que você tem X mil acessos? Uau! Você tem sérios problemas. Do que mais você leva crédito sem merecer?

Crédito. Palavrinha hoje que parece estar associada só a um pedaço de plástico com chip. Que você usa para comprar coisas de que não precisa, para parecer o que você não é. Coisa mais importante do mundo hoje em dia: parecer alguma coisa. Parecer inteligente, parecer bom fotógrafo, parecer bonito, parecer rico. Mas ai de quem de fato se esforça para aprender alguma coisa, fazer um curso, cuidar da alimentação, ganhar dinheiro trabalhando. Mais fácil repetir citações da Veja, usar foto dos outros no seu blog, fazer lipo de vez em quando e comprar bolsa falsificada pra parecer de grife. Coisinha irritante.

O que me impede de ficar de mal humor pelo resto do dia é saber que não importa quantos textos ou imagens você roube. Haverá sempre gente genuinamente inteligente e capaz produzindo mais. E ao produzirem mais, essas pessoas pesquisam mais, experimentam mais e aprendem mais. E apenas por isso estão destinadas a serem seres humanos muito melhores do que você, tadinho, incapaz de escrever uma linha coesa do próprio punho, incapaz de expressar uma opinião que seja verdadeiramente sua, incapaz de criar. Qualquer coisa.

Vocês não precisam ir lá no site da pessoa. Mas esse post é em homenagem a todos os blogueiros (e seres humanos) sem criatividade e vontade de auto-aprimoramento por aí. De culinária ou não.

Agora vamos fazer bolo de maracujá e ficar calminhos, porque stress não leva a nada e o dia está bonito.

BOLO DE MARACUJÁ
(adaptado do livro How to be a Domestic Goddess, de Nigella Lawson)
Tempo de preparo: 1 hora + tempo para o bolo esfriar
Rendimento: 1 bolo inglês (cerca de 8 porções)

Ingredientes:
  • 1/2 xic. manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 1/2 xic. + 1 colh. (sopa) açúcar cristal orgânico
  • 2 ovos grandes, orgânicos
  • 1/2 colh. (chá) extrato de baunilha
  • 1 xic. + 1 colh. (sopa) farinha de trigo
  • 1 colh. (chá) de fermento
  • 1/8 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 1 pitada de sal
  • 4 colh. (sopa) leite integral
(xarope)
  • 4-5 colh. (sopa) de polpa de maracujá, sem as sementes (1-2 maracujás, dependendo do tamanho)
  • 1/2 xic. açúcar cristal orgânico

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC, unte uma forma de bolo inglês padrão (cerca de 10x21cm), e forre o fundo e as laterais com papel-manteiga, deixando uma boa beirada de papel para facilitar na hora de desenformar.
  2. Bata a manteiga e o açúcar na batedeira em velocidade média, por alguns minutos, até que fique claro e cremoso. Junte os ovos, um a um, batendo bem a cada adição. Junte a baunilha.
  3. Junte aos poucos a farinha, então o sal, o fermento e o bicarbonato, até ficar homogêneo. Junte o leite e bata apenas até que fique homogêneo.
  4. Despeje na forma, alise a superfície e leve ao forno por 45 minutos, ou até que esteja dourado (o bolo pode afundar ligeiramente no centro) e um palito inserido no meio saia limpo. Enquanto o bolo assa, coloque a polpa de maracujá e o açúcar numa panela e leve ao fogo baixo, até que o açúcar esteja completamente dissolvido.
  5. Retire o bolo do forno e espete toda a superfície com o palito, sem dó, até o fundo. Despeje a calda de maracujá de modo uniforme, inclusive nos cantos e laterais (deixe as abas de papel p/ cima, para impedir que escorra p/ fora) e deixe o bolo esfriar completamente e absorver a calda.
  6. Quando estiver totalmente frio, puxe o bolo para fora pelas abas de papel e descole-o com cuidado, pois o bolo é macio e quebradiço.

Cozinhe isso também!

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