sexta-feira, 13 de março de 2009

100% sazonal

Para muitos cozinheiros, donas-de-casa ou seres humanos em geral mais experientes, isso pode parecer chover no molhado. Com tantos chefs-celebridade na TV nos mandando comer sazonalmente, parece idiota que eu [meramente eu] diga a mesma coisa. Mas a verdade é que até pouco tempo atrás eu era "sazonalmente debilitada". Conhecia a época de três ou quatro de minhas frutas e legumes favoritos, e era só. De resto, comprava o que a receita do livro pedia, e me perdia em meio aos preços por kg do supermercado e por unidade da feira. Não conseguia comparar, e nunca me lembrava quanto pagara pela escarola seis meses antes.

Seguindo o raciocínio que me fez compilar as informações sobre o creme de leite, imaginei que se eu tinha dificuldades, outras pessoas também poderiam ter.

Sejamos francos: ao contrário de nossas infâncias, é muito difícil para uma pessoa que acabou de deixar o ninho dos pais descobrir quando é a melhor época para se comprar maçãs. Elas estão na prateleira do supermercado o ano todo, afinal. Noutro dia, saí para comer com um amigo e ele escolheu um suco que levava morangos. "Não peça isso", eu disse. "Morangos não estão na época, então eles ou são congelados ou abarrotados de veneno. De qualquer forma, estarão sem gosto." Ele pediu mesmo assim, sua lombriga falando mais alto, e o resultado foi um "Ahn... tá meio sem gosto mesmo..." Para quê insistir em ir contra a natureza? Eu mesma costumava pagar pequenas fortunas por figos com gosto de água. Até o dia em que descobri a época do figo e os encontrei explodindo de doce e por 1/3 do preço. A-há!

Como não quis continuar gastando dinheiro aprendendo por tentativa e erro, apanhei a tabela do Ceagesp, utilíssima para quem vive por aqui (com certeza existem similares regionais). Como a tabela é extensa e pode ser meio chata para memorizar ou consultar durante as compras, apanhei uma folha de papel e escrevi em letras garrafais "MARÇO", e compilei todas as frutas e legumes que estão em sua melhor forma nesse mês. Para aproveitar ao máximo tanto sabor quanto preço, decidi limitar minhas escolhas apenas ao quadradinhos verdes, que indicam o ápice dos produtos, e ignorei os meses de transição. Enfiei a folha na bolsa e a levo comigo onde vou. Qualquer passada na feira ou no supermercado, e lá está ela, para me ajudar a me manter na linha e montar um cardápio 100% sazonal. "Leva brócolis que tá bonito", insite o feirante. Dou uma bizoiada na lista. "Não, obrigada. Mas vou querer um montão desse milho aqui."

A experiência começou há pouco tempo, mas já vi uma mudança significativa tanto no sabor de meus almoços quanto na conta do supermercado. Claro que é muito tentador apanhar aquele pimentão fora de época. Principalmente para nós que gostamos de livros e revistas estrangeiras, com lindos cardápios de Páscoa com os ingredientes da época... do hemisfério errado. Mas me contenho e penso em tudo o que vou produzir com ele quando ele de fato estiver tinindo de delicioso, e que ninguém me impede de fazer aquela torta da revista para outro evento, quando o ingrediente estiver na época por aqui. De repente me pego olhando para todos os ingredientes e sentindo aquela ansiedadezinha gostosa que sinto com os morangos e as alcachofras. E tudo fica mais interessante e mais especial, sabendo que tenho apenas aquela janela de oportunidade para aproveitar aquela fruta, e então... só no ano que vem.

SALADA DE MARÇO
Para uma pessoa, apanhe uma espiga de milho verde fresquinho cozido e retire os grãos com uma faca. Coloque-os em ume tigela e junte dois tomates bem maduros picados, meio pepino fatiado fino com casca, 1/4 de cebola vermelha picada, um punhado de salsinha picada, 4-5 azeitonas pretas sem caroço fatiadas, 1 colh. (chá) de alcaparras, meia pimenta jalapeño (ou dedo-de-moça, ou qualquer outra de sua preferência) sem sementes e picada fino, duas fatias de queijo tipo Feta em cubos, um pouco de azeite, suco de limão, sal e pimenta-do-reino moída na hora.

Obs: minha próxima missão é descobrir a sazonalidade dos queijos produzidos no Brasil. Pois que tem, tem. E quem souber, aceito a informação de bom grado. :)

segunda-feira, 9 de março de 2009

Le Chocolê

Quando vi as novas fotos dos chocolates da Lelê, tive certeza de que precisava falar deles aqui. Eu quase nunca faço qualquer espécie de propaganda de um lugar, pessoa ou produto, a não ser que realmente goste da coisa. E a Le Chocolê não foge à regra.

Conheci Elenice Tamashiro há muitos anos atrás, quando peguei um emprego fixo de ilustração. Foi ela quem me ensinou a tomar chá verde sem açúcar, um hábito que nunca pensei que se enraizaria em mim. Foi sua mãe quem me ensinou a fazer um delicioso pão de milho, que vira e mexe faço como ele é, vira e mexe adapto, mas sempre sai perfeito. Já naquela época ela nos presenteava com suas trufas, muito escuras, aromáticas e cobertas de cacau em pó, que, ao serem mordidas, revelavam duas cores, dois sabores, deliciosos e que derretiam na boca. Cuidadosa, Lelê as embalava em caixas douradas e prateadas que ela mesma fazia de origami.

Embora não fosse viciada em chocolate, ela foi cada vez mais se apaixonando pela arte e pela técnica que envolve o chocolate. Seus presentes delicados acabaram gerando encomendas, o que a incentivou a começar o Le Chocolê e buscar cada vez mais conhecimento. Fez dois cursos na Academia do Chocolate em Lebeke-Wieze na Bélgica [invejinha...], e não perdeu tempo em aplicar o que havia aprendido. Lembro-me de ter passado horas com ela, após seu primeiro curso, conversando sobre as técnicas, tentando absorver seu conhecimento por osmose. Hoje, ela usa apenas matéria prima belga de qualidade na confecção de seus chocolates, a respeito dos quais mostra um orgulho quase tímido, muito condizente com sua personalidade doce, se me permitem o adjetivo.

Orgulho mesmo tenho eu, por ter assistido à sua trajetória. Desde suas primeiras trufas, enormes, como os verdadeiros tartufi das florestas italianas, até seus delicados bombons de hoje em dia, seus ovos de páscoa, seus alfajores que enchem minha boca d'água quando penso neles. Por isso, por conhecê-la, por ter visto seu cuidado e dedicação, que tive certeza de que precisava escrever esse post. Lelê tem o tipo de paixão pela cozinha que eu compreendo (e vocês). Não é à toa que seu enorme, carinhoso e estabanado labrador amarelo se chama Quindim. :D

Para conhecer sua lista de chocolates para a Páscoa e fazer encomendas, escreva para: lechocole@gmail.com

Todas as fotos foram feitas por Edu Moraes.

Cozinhe isso também!

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