sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Comprou rabanete? Ganhou sopa de folha de rabanete de lambuja.


Adoro qualquer coisa que seja verde. Em forma de saladas, sopas, o que for. Quando vi essa receita em uma revista Saveurs, fiquei obcecada. Afinal, sou fã de rabanetes, e nunca havia pensado em comer suas folhas. O problema era encontrá-las. No supermercado, os rabanetes são sempre vendidos já sem folhas, devidamente limpos e embalados. Na feira, os ramos estavam sempre murchos, imprestáveis para qualquer coisa. Acabava comprando as raízes sem as folhas, simplesmente porque rabanetes são bons e ponto.

Enfim, numa bela manhã de quinta-feira, apanhei um ramo enorme de rabanetes na feira e vi que suas folhas estavam todas frescas e de um verde-vivo apetitoso, e dei pequenos pulinhos de alegria por enfim poder preparar minha sopa.

Valeu a pena. As folhas de rabanete são saborosas, de um amargor muito sutil e leve picância. E a sopa não poderia ser mais fácil. Pronto. Agora posso voltar a falar de doces.

SOPA DE FOLHAS DE RABANETE
(Livremente adaptado da revista Saveurs)
Tempo de preparo: 20 minutos
Rendimento: 2 pessoas


Ingredientes:
  • 1 ramo de folhas de rabanete (com os talos mais finos; descarte os mais grossos, que são muito fibrosos)
  • 1/2 cebola
  • 1 batata pequena
  • 1 dente de alho
  • 500ml de caldo de legumes
  • 150g iogurte integral
  • 2 colh. (sopa) azeite
  • sal
  • pimenta-do-reino
Preparo:
  1. Lave muito bem as folhas de rabanete, tendo o cuidado de remover toda a terra e sujeira. Corte a batata em cubos, pique o alho e a cebola.
  2. Aqueça o azeite em uma panela e refogue o alho e a cebola até começar a dourar levemente. Junte as folhas de rabanete e uma pitada de sal e cozinhe até que as folhas murchem um pouco.
  3. Adicione a batata, o caldo e leve à fervura. Abaixe o fogo e deixe ferver por 15 ou 20 minutos.
  4. Bata num liqüidificador (com cuidado, aos pouquinhos, pois líquidos quentes explodem) e volte à panela para reaquecer. Acerte o sal e a pimenta. Distribua nas tigelas e despeje uma colherada gorda de iogurte no centro de cada uma. Polvilhe mais um pouco de pimenta e sirva quente ou fria.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Bustrengo: o doce italiano com jeito de palavrão


Gosto da cozinha sazonal, e por isso mesmo tinha vontade de preparar um bolo de reis no dia 6. No entanto, bateu em parte preguiça e em parte mão-de-vaquice para comprar os ingredientes que faltavam, e acabei preparando um bustrengo no lugar, porque a única coisa que faltava na despensa eram maçãs.

Acordara ontem com uma vontade preocupante de comer algum doce que levasse os deliciosos figos secos que habitavam minha geladeira. Fuçando em todos os meus livros, fiquei entre um bolo simples de Martha Stewart, o bustrengo de Jamie Oliver e o bostrengo do Culinária Italia. Não, não foi um erro de digitação. Apesar de ambos os nomes derivarem de "bustreng", uma palavra dialetal que se diz de origem "bárbara", são doces diferentes de diferentes regiões. O primeiro, típico da Romagna, é um bolo úmido de polenta e frutas secas. O segundo, de Le Marche, mais ao sul, ainda que leve também frutas secas, tem o arroz como base. Pensei ali, pensei aqui, e escolhi o doce romagnolo.

Apanhei meu rico dinheirinho e fui ao supermercado comprar maçãs. Chegando lá, ao me deparar com a gôndola repleta dos diferentes tipos da fruta, lembrei-me do capítulo sobre maçãs do novo livro de Heloísa Bacellar. Confesso que, numa primeira olhada, tinha achado o livro meio "raspa de tacho". Foi só numa segunda folheada mais minuciosa que descobri que ele tem sim muito a oferecer. Só que a maioria das preciosas informações não estão nas receitas, mas nos longos textos que as precedem... No tal capítulo, ela discorre sobre os diferentes tipos de maçãs, suas características e serventias, de um modo que às vezes sinto que falta em outros livros de culinária. Além disso, ensina a congelar cascas, miolos e cabos das maçãs para que depois virem geléia. Isso muito me interessa. Outro dia mesmo congelei as cascas de um abacaxi inteiro, que posteriormente viraram um chá gelado incrivelmente aromático. Nada se joga fora.

Sempre que compro maçãs é a mesma coisa. Vou direto nas Fuji, minhas (até então) favoritas para comer cruas, crocantes e ácidas. Já tinha provado das Gala, e se tenho certeza de uma coisa em minha vida é de que não gosto de maçã Gala: acho sua textura muito granulosa. Se experimentei de outras maçãs, não me lembro, pois nunca havia prestado atenção a seus nomes, e só sabia que havia maçãs "gostosas" e maçãs "não tão gostosas". Resolvi tirar a prova. Apanhei algumas Red Delicious, outras Granny Smith e umas Fuji como grupo de controle. Voltei para casa e abri-as todas, experimentando um pedacinho de cada uma, dando-me conta de que só assim era possível avaliar suas diferenças de forma mais objetiva.

A conclusão foi: adoro a Red. Comeria uma bacia delas. Das Granny Smith (maçã verde), já fui mais fã quando nova; hoje em dia elas são um pouco ácidas demais para mim. Agora espero encontrar outras espécies no mercado, para poder continuar a experiência. Tão besta, tão óbvio, que me sinto uma idiota por ter comprado maçãs tão no piloto automático nos últimos anos.

Voltando ao bustrengo, confesso ter começado a receita com certo receio, uma vez que Jamie Oliver nem sempre acerta a mão quando o assunto é panificação e confeitaria. Desta vez, no entanto, ele acertou em cheio. Esse é exatamente o tipo de doce que adoro [assim como minha mãe, que ganhou metade do bolo]: não muito doce, bastante aromático, cheio de frutas secas, e cuja complexidade vai se revelando aos poucos, a cada mordida. Primeiro a textura da polenta, então as raspas de laranja, a maciez da maçã, as sementinhas dos figos explodindo na boca.

Comi, fotografei e não via a hora de escrever a respeito. Mas antes, um pouco de pesquisa. Sabe como é, eu não queria simplesmente repetir o texto do livro, e queria ter certeza da origem do bolo, uma vez que já conhecia a versão de arroz, mas não a de polenta.

Pesquiso aqui, pesquiso ali, descubro um portal da Romagna. E uma receita de bustrengo. Bem... não uma. "A" receita de bustrengo. Igual à do Jamie. Ou seria o contrário?? Tchan-tchaaaan...!

BUSTRENGO
(do livro Jamie's Italy... ou do site da Romagna. Mistério...)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 8-16 fatias


Ingredientes:
  • 100g farinha de milho para polenta
  • 200g farinha de trigo
  • 100g farinha de rosca
  • 100g açúcar cristal orgânico
  • 500ml leite integral
  • 100g mel
  • 3 ovos grandes, orgânicos
  • 55ml azeite extra-virgem
  • 100g figos secos cortados em pedaços
  • 100g de passas (claras ou escuras)
  • 500g maçãs firmes, sem casca, cortadas em pedaços pequenos
  • 1/2 colh. (chá) canela em pó
  • casca de 2 laranjas
  • casca de 2 limões
  • 1 colh. (chá) sal

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte com manteiga uma forma de 28cm, de fundo removível.
  2. Misture a polenta, a farinha, a farinha de rosca, o sal, a canela e o açúcar em uma tigela grande. Em outra, misture o leite, os ovos, o mel e o azeite.
  3. Junte a mistura líquida à seca, mexendo até que fique homogêneo. Adicione o restante dos ingredientes, misture novamente e despeje na forma. Asse por 50 minutos, ou até que um palito saia limpo quando inserido no centro. Polvilhe com açúcar de confeiteiro e sirva morno.

Cozinhe isso também!

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