domingo, 14 de setembro de 2008

PADARIA DE DOMINGO 21: Pão lagarta.. ops! Trançado, quero dizer.


Se você não souber rir de si mesmo, provavelmente não viverá muito tempo. Na cozinha nem sempre tudo são flores, nem sempre tudo sai exatamente como você imagina. Mas muitas vezes, quando tudo parece que dará errado, você descobre que não: eram somente suas expectativas que estavam meio fora do eixo.

Preparei essa massa de pão bastante versátil com intenção de fazer uma trança pela primeira vez. No entanto, alterações para lá e alterações para cá fizeram com que a massa ficasse bastante mole. Tenho apreciado cada vez mais trabalhar com massas mais úmidas, apesar da dificuldade de manipulá-las, pois elas parecem produzir pães mais interessantes. Daí a batedeira vem para ajudar, uma vez que fica com a parte mais chata da sova, quando a massa está ainda insuportavelmente grudenta, e meus dedos ficam apenas com a parte final, quando já posso polvilhar mais farinha para a primeira fermentação e o molde.


Normalmente as massas tendem a ficar mais firmes após a primeira fermentação. Não foi o caso dessa, porém. Ela continuava grudando um bocado em meus dedos e na bancada; tanto que, ao tentar trançá-la, podia ver as duas partes de massa grudando uma na outra e se fundindo em uma só, perdendo todo o desenho bonito que imaginara.


Quando levei aquela trança desmilingüida ao forno, não achei que sairia grande coisa. Cheguei a comentar com meu marido que aquela fornada provavelmente não daria certo. "Que nada! Esse vai ser um dos melhores pães que você já fez", profetizou.


De fato, apesar de parecer uma lagarta gigante, ele ficou delicioso e muito muito macio, com um suave perfume amanteigado de dar água na boca. A casca é fina e molinha, e ele me trouxe à mente um daqueles "pães sovados" de estrada, de miolo denso e macio. Teoricamente, essa massa pode ser moldada em qualquer formato, adaptando-se apenas tempo de forno e temperatura. No entanto, recomendo que seja moldado como pão de forma, ou em bolas, dispostas em uma assadeira bem juntinhas, para que grudem umas às outras e sejam "destacadas" do todo para serem comidas. Trançá-la novamente? Hmmm... acho que não.

PÃO BRANCO MACIO PAU-PRÁ-TODA-OBRA
(livremente adaptado do livro Professional Baking)
Tempo de preparo: 3 horas
Rendimento: 1 pão


Ingredientes:
  • 140ml de água
  • 15ml de leite integral
  • 10g de fermento ativo fresco
  • 315g de farinha de trigo para pães
  • 6g de sal
  • 30g de açúcar
  • 30g de manteiga sem sal
  • 1 ovo orgânico
Preparo:
  1. Esfarele o fermento na farinha e esfregue com as pontas dos dedos até que os dois estejam bem misturados. Junte o sal e o açúcar. Junte a água, o leite, o ovo e a manteiga e sove em uma batedeira planetária com gancho por 12 minutos na velocidade 2. (Não recomendo sovar essa massa à mão...)
  2. Coloque a massa numa superfície bem polvilhada de farinha e forme uma bola. Volte à tigela, cubra e deixe fermentando por 1h30.
  3. Volte a massa crescida para a bancada enfarinhada e molde como quiser. Deixe crescer por mais 1 hora.
  4. Leve ao forno pré-aquecido no máximo, abaixe a temperatura para 200ºC e asse por uns 30 minutos, ou até que a casca esteja dourado-escura e o pão esteja assado.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Salmão com pimentões agridoces

Desde que comecei esse blog, nunca tive um acúmulo tão grande de receitas a serem publicadas. Chame isso de criatividade advinda da adversidade se quiser, mas ando cozinhando mais pratos interessantes desde que comecei a dieta do que antes, quando tudo era permitido. Nunca me dera conta de quão estagnada e confortável estava entre massas e tortas, até não poder mais lançar mão delas para um jantar. Em contrapartida, tenho preparado tantos pratos com peixes, que pela primeira vez estou tendo de adiar a publicação de algumas receitas de modo a não ficar repetitiva.

Esta, por sinal, estava me deixando ansiosa. Não via a hora de publicá-la, uma vez que se mostrou um jeito delicioso de preparar salmão que com certeza repetirei.

A inspiração veio de um programa de culinária do GNT sobre cozinha asiática, apresentada por uma descendente de chineses de sotaque indefinível. [Não me perguntem o nome do programa: nunca lhe assisti desde o começo pois não gostei do seu ritmo, e quando fui procurá-lo na programação do canal, não consegui encontrá-lo.] De qualquer forma, foi uma mera coincidência que eu estivesse vendo naquele momento. A apresentadora mostrava um vilarejo chinês em que quase todos são descendentes de Confúcio, e comentava enquanto uma senhora preparava um prato tradicional do lugar: kung fu tofu, ou qualquer coisa do gênero. Sua pronúncia mezzo-australiana/mezzo-britânica mais uma leitura dinâmica de legendas nem sempre confiáveis me fazem duvidar um pouco do nome. Tratava-se de um refogado de tofu defumado com gengibre, alho, shoyu, pimenta e mais alguma coisa. Como podem ver, eu não estava exatamente prestando atenção. Foi quando meu marido desprendeu um empolgado "isso deve ser gostoso" que resolvi ver do que se tratava, mas era tarde demais para detalhes. Meu cérebro absorvera apenas a essência do prato.

No dia seguinte, passei no supermercado decidida a tentar o prato-fantasma que se fixara em minha mente. No entanto, dei azar, e não havia tofu comum, muito menos defumado. Voltei para casa meio ressabiada, mas ainda de vontade firme. Se não tem tofu, vai sem tofu mesmo. Eu me viro.

Decidi refogar pimentões vermelhos e amarelos nos temperos de que me lembrava, e servir com salmão grelhado, pois ele é um peixe que sustenta bem sabores robustos. Mas não queria qualquer salmão. Pensei primeiro num salmão teriyaki, mas não havia na despensa tudo de que precisava, de modo que improvisei com o que tinha, fazendo nascer um de meus temperos favoritos para salmão a partir de então. Pensando em todo o conceito de salgado/doce/azedo, uni molho shoyu, azeite e xarope de romã, esse último sendo simultaneamente bastante doce e ácido. Cuidado apenas ao comprar o xarope: da primeira vez que fui atrás do ingrediente, comprei um xarope rosa-choque com gosto de pirulito. O xarope que usei aqui é escuro e tem consistência de melaço.

SALMÃO COM PIMENTÕES AGRIDOCES
Tempo de preparo: 30 minutos
Rendimento: 1 porção


Ingredientes:
  • 1 filé de 130g de salmão com pele
  • 1 colh. (sopa) + 1 1/2 colh. (chá) de shoyu
  • 2 colh. (chá) de azeite de oliva
  • 1/2 colh. (chá) de xarope de romã
  • 1/2 pimentão vermelho
  • 1/2 pimentão amarelo
  • 1 dente de alho
  • 1/2 pimenta dedo-de-moça sem sementes
  • 1/2 colh. (chá) de raspas de gengibre fresco
  • 1 colh. (chá) de vinagre de vinho branco

Preparo:
  1. Em uma tigela, misture 1 colh. (sopa) de shoyu, 1 colh. (chá) de azeite e o xarope de romã. Misture bem. Faça três ou quatro cortes na pele do salmão para evitar que ele encolha na frigideira e mergulhe o peixe na mistura, virando-o bem para recobrir-se da marinada. Cubra com filme plástico e leve à geladeira por meia hora.
  2. Fatie os pimentões, o alho e a pimenta. Aqueça o restante do azeite em uma frigideira e coloque o alho, a pimenta, os pimentões e o gengibre, e refogue em fogo médio até que os pimentões estejam macios. Junte o shoyu restante e o vinagre, cozinhe por 1 minuto e desligue o fogo. Mantenha os pimentões quentes enquanto prepara o peixe.
  3. Aqueça uma frigideira em fogo alto. Retire o salmão da marinada, deixe escorrer um pouco e coloque-o com a pele virada para baixo, abaixando o fogo para médio para não queimar a pele. Cozinhe por 5 minutos (ou mais se o filé for muito alto), vire e cozinhe por mais 3 minutos. Sirva imediatamente, com os pimentões quentes por cima, acompanhado de uma salada de rúcula ou outra folha amarga, se quiser.

Cozinhe isso também!

Related Posts with Thumbnails