quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Cookies de firma e de corrida

Fiquei contente quando meu marido me pediu para que fizesse cookies para levar para a firma. Havia tempos que estava louca para preparar cookies, e o pedido foi perfeito, uma vez que poderia me divertir cozinhando sem ter de me preocupar em comê-los depois.

Escolhi uma receita de Dorie Greenspan, de cookies bem à la Nestlé Toll House. Deixei a manteiga e os ovos fora da geladeira e saí para uma reunião que duraria toda a tarde, sabendo que na volta estaria tudo à temperatura ambiente, pronto para ser usado. Voltei feliz e contente, abri o livro na página marcada e comecei a separar os outros ingredientes, quando percebi que deixara menos manteiga preparada do que deveria. F*ck. Eu tinha reservado aquele tempo para os biscoitos, e não sabia se estaria sossegada nos dias subseqüentes. Corto pela metade? Hmmm... A receita produziria 45. Talvez vinte e poucos fossem de fato... poucos. Não sabia quanta gente os comeria, e ainda queria levar alguns para o pessoal da corrida. A solução estava em uma das adaptações sugeridas pela própria Dorie: manteiga de amendoim no lugar de parte da manteiga. E lá vamos nós.

Os cookies ficaram excelentes em sabor e textura, e foram muito fáceis de fazer. Tive de substituir parte do açúcar mascavo por açúcar demerara, no entanto (coisa que faço muito), pois o primeiro acabou no meio da receita. Importante: a manteiga de amendoim utilizada é SEM SAL E SEM AÇÚCAR; na embalagem constam os seguintes ingredientes: Organic Dry Roasted, Unblanched Valencia Peanuts. Ou seja, apenas amendoins torrados com pele e moídos. Ponto. Caso não encontre nada parecido, recomendo usar a marca com menos aditivos (mas não tenho como garantir que fiquem iguais), ou esquecer dos amendoins e preparar a receita com manteiga mesmo, usando um total de 225g de manteiga sem sal (1 + 1/8 de tablete).

Mas espere um momento: nada deu errado? Nenhum desespero? Nenhuma aflição? Nenhuma anedota para divertir o leitor? A-há! Claro que tem. Sempre que faço cookies, acho que vou produzir cookies do tamanho das receitas brasileiras: biscoitinhos delicados, com uns 3-4cm de diâmetro. Distraída, nem me dei conta de que os 45 cookies que a receita produzia eram grandes, com cerca de 7-8cm. Depois de 4 fornadas rápidas, tendo produzido biscoitos ainda um pouco menores do que os pedidos na receita, fiquei olhando para o tupperware grande lotado e mais o saco de biscoitos que aquela noite rendera, e imaginei como faria para distribuir todo aquele monte de açúcar (conseguira 56 cookies)! Sorte minha que eles fizeram sucesso...

COOKIES DE MANTEIGA DE AMENDOIM E CHOCOLATE
(quase nada adaptado do livro Baking - From my Home to Yours)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 45-55 cookies


Ingredientes:
  • 2 xíc. de farinha de trigo
  • 1 colh. (chá) de sal
  • 3/4 colh. (chá) de bicarbonato de sódio
  • 200g (1 tablete) de manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 1/2 xíc. de manteiga de amendoim orgânica
  • 1 xíc. de açúcar cristal orgânico
  • 1/3 xíc. de açúcar mascavo escuro orgânico
  • 1/3 xíc. de açúcar demerara (ou cristal orgânico escuro)
  • 2 colh. (chá) de essência de baunilha
  • 2 ovos grandes orgânicos em temperatura ambiente
  • 200g de chocolate amargo picado

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 190ºC. Forre duas assadeiras com papel-manteiga.
  2. Em uma tigela, misture a farinha, o sal e o bicarbonato e reserve.
  3. Na batedeira, misture a manteiga e a manteiga de amendoim em velocidade média, até que fique homogêneo e cremoso (cerca de 2 minutos).
  4. Junte os açúcares aos poucos, batendo por mais uns 2 minutos, até que esteja tudo bem misturado. A massa terá uma aparência um pouco granulosa. Misture a baunilha.
  5. Adicione os ovos, um de cada vez, batendo por 1 minuto após cada adição.
  6. Desligue a batedeira. Adicione a mistura de farinha, em 3 partes, misturando com uma espátula após cada adição, apenas o suficiente para que a farinha esteja bem incorporada. Não misture demais. Não tem problema se a massa parecer um pouco empelotada. Junte o chocolate picado e misture para distribuí-lo bem.
  7. Distribua porções de massa ligeiramente arredondadas do tamanho de uma colher de sopa nas assadeiras, deixando uns 5cm entre cada uma, pois os biscoitos espalham bastante. Asse a primeira assadeira por 12-13 minutos, ou até que a parte de cima esteja dourada e as beiradas amarronzadas. Os cookies saem ainda bastante moles do forno, e endurecem enquanto esfriam. Retire-os e deixe que descansem na própria assadeira por 1 minuto. Remova-os com uma espátula de metal, cuidadosamente, e deixem que esfriem até temperatura ambiente em uma grade ou um prato. Repita com a outra assadeira. Enquanto estes assam, prepare a próxima, na primeira assadeira novamente forrada de papel-manteiga, que já deve ter esfriado um pouco (se suas assadeiras forem tão pequenas quanto as minhas).

DICA DA PRÓPRIA DORIE: Se não quiser assar os biscoitos no dia, a massa pode ser coberta com filme plástico e refrigerada por até 3 dias, ou congelada. Para congelar, distribua a massa na assadeira como se fosse assar os biscoitos e leve a assadeira ao freezer. Quando as bolas de massa estiverem duras, coloque-as em um saco bem fechado. Para assá-los, não é preciso descongelar: coloque na assadeira forrada e deixe 1 minuto a mais no forno, ou quanto for necessário.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Bacalhau fresco: usando boas lembranças de inspiração


Já falei sobre o Boudin por aqui. Sobre seus pães fantásticos que me deixaram saudades. Já comentei também sobre legumes cozidos no ponto e como isso é prioritário para uma boa experiência em um restaurante, ao menos para mim. Também já escrevi sobre preconceito contra restaurantes, e como às vezes você se sente idiota por ter quase deixado escapulir a oportunidade de uma excelente refeição.

Pois é, fazer o quê?! Esse post é sobre tudo isso. De novo.

Depois de um longo passeio à pé por San Francisco, saindo da Lombard Street (aquela rua famosa, cheia de curvas), percorrendo China Town, o bairro italiano e o centro comercial, estávamos na orla, vendo os lindos porém fedidos leões marinhos, quando, a despeito da puzza que dominava o ar, ficamos com fome. Saímos andando em busca de um bom restaurante onde comer e, depois de ler pelo menos 6 ou 7 cardápios suspeitos, decidimos que a exaustão nos guiaria e entramos, por fim, no bistrot que fica no andar superior da Boudin, a padaria Disney-style da cidade. O lugar parecia bastante formal, inconsistente com os ares lúdicos do andar superior, e sua decoração de madeira escura, toalhas brancas e talheres pesados intimidava um pouco duas mulheres com roupas confortáveis de turistas e que obviamente passaram a manhã inteira subindo e descendo ladeiras íngremes.

Chegaram os pãezinhos do couvert. Aaaaaaah... desses já falei, então não falo de novo.

Olhei o cardápio e imediatamente um prato me chamou a atenção: Black Cod com legumes. Hmmmm... bacalhau fresco: estava aí uma coisa que nunca provara na vida. Fiz meu pedido, acompanhado de um copo imenso de um chopp local de San Francisco (delicioso, denso, âmbar, opaco). Titia, mais comedida, pediu uma salada simples de tomates e parmesão.

Quando os pratos chegaram, tive uma surpresa: eles eram metade da porção que nos fora servida em nossa viagem até então. Diga-se de passagem, eles tinham o tamanho dos pratos de bons restaurantes de São Paulo, ao contrário daqueles onde vínhamos comendo, que serviam porções duplas (razão pela qual voltei mais pesadinha da viagem). Num primeiro olhar, não vi nada de muito especial no prato: o bacalhau branquinho, de pele negra, deitava-se sobre uma cama de mini-vegetais cozidos, embebidos em caldo de legumes. Uma grande folha de menta que parecia ter sido frita repousava sobre o peixe. Quando vi as cenouras e alho-porós bebês, imediatamente lembrei-me de um episódio de Kitchen Nightmares, em que Gordon repudia baby carrots. Tá vindo... tá vindo... Opa! Preconceito!

Por isso, decidi que sequer tiraria uma foto do prato. Por esse motivo e porque, como dissera, o ambiente intimidava um pouco... e eu fiquei com vergonhinha.

A primeira reação foi de minha tia. À primeira garfada, ela desprendeu uma interjeição de alegria, e pediu para que tirasse uma foto de sua salada, uma vez que os tomates, o queijo e todo resto estavam fantásticos.

Experimentei meu prato. O bacalhau estava divinamente bem preparado e temperado, a menta frita fora um toque excelente, e os vegetais-baby estavam tão deliciosos e bem cozidos que viraram referência eterna para mim. Apanhei a máquina, deixei a vergonha de lado e saí fotografando comida, pão, chopp, o diabo.

Anotei a mistura em meu caderno e prometi a mim mesma que tentaria reproduzir o prato em casa. O problema de fazê-lo, no entanto, é encontrar o danado do Black Cod por aqui. Por isso mesmo vibrei quando vi os filés de bacalhau fresco na geladeira do mercado. A-há! Vem com a mamãe, que você vai virar janta!

Infelizmente, o peixe fora filetado como pescada, e não tinham pele. E não fosse o cheiro suave e característico do bacalhau, acharia que comprei gato por lebre. Como vou adaptar isso, então? Resolvi usar uma técnica fácil mas que fica super metida à besta: cozinhar o peixe en papillote. Apanhei os alhos-poró pequenos, cortei-os ao meio no sentido do comprimento, lavei-os e os cozinhei por um ou dois minutos em caldo de legumes fervendo. Cortei as cenouras em tiras finas e fiz o mesmo, até que estivessem macias mas não desmanchando. O mesmo com alguns floretes de brócolis japonês e algumas de suas folhas. Por fim, cozinhei algumas ervilhas. Queria muito ter usado batatas, mas elas estão proibidas para mim.


Arranjei dois grandes retângulos de papel-manteiga e pincelei-os com um fiozinho de azeite. Montei duas camas de vegetais ainda encharcados de caldo sobre esse azeite, temperei com sal e pimenta e coloquei os filés de peixe, cortados em pedaços de 90g, para que todos cozinhassem por igual. Polvilhei sal, pimenta-do-reino, suco de limão, e um pouquinho de menta seca. Então piquei um punhado de salsinha e um dente de alho grande, misturando bem os dois, e espalhei essa mistura por cima de todo o peixe. Fechei bem os retângulos de papel-manteiga, amassando bem as bordas do papel para que o vapor não escapasse, coloquei os dois pacotinhos em uma assadeira e levei ao forno pré-aquecido a 220ºC por 10 minutos, até que os pacotes estivessem inflados e dourados nas bordas.

Meu marido não é fã de bacalhau salgado. O sabor que nos é mais familiar do bacalhau é muito mais sutil no peixe fresco, e desse ele gostou. Ficou tão bom que era inacreditável que estivesse mais dentro da dieta do que qualquer outra coisa que tenha preparado até então. Ficou igual ao do Boudin? Decerto não, ficou bastante diferente. No entanto, estou feliz de ter usado a lembrança do Black Cod como inspiração para esse prato. E resta ainda o desafio não cumprido, esperando por uma oportunidade...

Cozinhe isso também!

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