sexta-feira, 25 de julho de 2008

A Sra. gostaria de seus brócolis bem passados ou mal passados?


Enquanto muita gente fica atento ao ponto do filé quando vai a um restaurante, costumo ser muito picuinha a respeito dos meus legumes. Não por não comer carne [e é agora que talvez eu seja apedrejada], mas porque acredito que, enquanto qualquer um sabe preparar um bife, é preciso um pouco mais de sensibilidade (ou experiência) para acertar o ponto de diferentes legumes e verduras quando cozidos ao mesmo tempo. Por isso sempre avalio a qualidade de um restaurante pelo ponto e tempero dos legumes. Em especial brócolis, que, ao chegarem à mesa amarelados e desmanchando, fazem com que eu queira esfaquear o chef. Adoro brócolis, e nada me magoa mais do que ver esse lindos ramos verdes sendo mal tratados. Sem falar na couve-flor, pobre couve-flor: se ela estiver cheirando a... bem... pum, é porque você cozinhou demais; couve-flor no ponto não cheira a... hmmm... pum.


Antes que me executem por ser presunçosa, deixo claro que não acerto sempre. Demorei algum tempo para começar a tirar meus brócolis fumegantes da panela, cozidos mas ainda verde-vivo, brilhantes e firmes. Lembro-me sempre de um episódio de Jamie´s Kitchen, logo no início, quando ele pede aos estudantes para que preparem salmão com legumes cozidos, e a maior dificuldade da turma é o tempo de cozimento de cada legume, uma vez que iam todos para a mesma panela, cada um em um momento.

Por ser tão exigente com os outros, nada mais justo do que ser exigente comigo mesma. Portanto tomo cuidado e, como diria Gordon Ramsay, tenho respeito pelos legumes.

Fiquei contente com o resultado desse almoço, muito simples, na verdade. Tendo a sentir orgulho de mim mesma quando me vejo servir pratos com cara de saudáveis e que não sejam, bem, salada. Fiquei um pouco mais contente por conta do arroz selvagem, que não comia desde muitos Natais atrás, ocasiões em que minha tia [outra, não a do sorvete] costumava prepará-lo. Sempre gostei de sua textura diferente, seu sabor amadeirado, algo lembrando nozes. Cozinhei o arroz segundo as instruções do pacote, e achei (achei certo) que combinaria bem com brócolis branqueado e levemente refogado no alho e azeite, com castanhas de caju e um vinaigrette feito de 3 partes de azeite, 1 parte de vinagre de maçã, 1 parte de mostarda de Dijon, sal e pimenta-do-reino. Meu único erro foi ser muquirana com o vinaigrette, que não foi suficiente para temperar todo o arroz, que pegou muito pouco de seu sabor. Para acompanhar, uma fritatta de abobrinha, para a qual refoguei uma abobrinha no alho, tomilho fresco e azeite até cozida mas al dente, despejando por cima a mistura de dois ovos, uma colher de leite, um punhado de parmesão, sal e pimenta, deixando cozinhar e finalizando sob o grill.

Verde, saudável, gostoso. E brócolis no ponto.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Enquete: panelofobia


Se você pensou que essa enquete serviria para alguma coisa... errou! O único propósito dela foi matar minha curiosidade... Fico muito contente em saber que Anthony Bourdain e eu não estamos sozinhos com nossa paúra de panelas de pressão.

Sinceramente, nunca conheci ninguém que tenha de fato tido algum acidente com elas. No entanto, o medo está ali, encutido desde a infância, e há já muito tempo que decidi que panelas de pressão (assim como forno microondas e vampiros) jamais serão convidadas a entrar em minha casa.

Quando criança, era sempre a mesma ladainha. Assim que minha mãe colocava o feijão na panela, vinha o aviso: "Não entrem na cozinha, que a panela de pressão está no fogo". E eu continuava no sofá da sala, esparramada, semiconsciente, vegetando em frente à tv. De vez em quando olhava de soslaio para a panela, no fim da cozinha comprida, e ela respondia bufando, irritada, como um francês nervoso, tremelicando sobre a boca do fogão.

Tchuf, tchuf, tchuf... Era como um trem se aproximando, trazendo consigo o cheiro do feijão pronto.

O silvo agudo e entrecortado que ela emitia era o alarme que soava quando eu tentava atravessar a barreira invisível da porta da cozinha para apanhar um copo d´água ou, como era mais comum, o pacote de bolacha de chocolate. Sinal de que a hora era crítica para estar ali, e tudo o que conseguia imaginar era aquela remota possibilidade, descrita por minha mãe tantas vezes, de uma minúscula e inocente casca de feijão subir e entupir a válvula de escape da panela.

Não podia deixar de fechar os olhos e imaginar que aquele apito estridente era o prenúncio de uma explosão inevitável, como nos filmes de ação.

Quem tira uma imagem dessas da mente de alguém cabeça-dura e impressionável como eu?

Prefiro o planejamento, o deixar de molho os feijões durante uma noite inteira, colocá-los na minha pequena, bonita, confiável e nada explosiva panela de barro, e cozinhá-los durante umas duas horas, devagar, em fogo baixo. Não fosse pelo episódio dos feijões esturricados, diria que esse modo é 100% seguro.

Aos que têm medo de ingredientes estrangeiros, não temam: existe sempre alguém para segurar em suas mãozinhas trêmulas e explicar o que é o quê. [Mamãe, o que é umbu? — Ahm... posso pensar?] Aos que sentem calafrios ao ouvirem a palavra "merengue", relaxem a bisteca, logo logo eu faço um passo-a-passo das claras em neve para iniciantes. Você, ah, você que não flambaria um par de crêpes se sua vida dependesse disso... não se sinta sozinho: nunca flambei nada em minha vida porque, francamente, morro de medo de colocar fogo em minhas próprias sobrancelhas. Mas para tudo há uma primeira vez (para flambar e para queimar as sobrancelhas). Quanto aos outros medos bizarros, nada me resta a não ser curiosidade, então adoraria saber quais são eles. Possuidores de sinistras fobias culinárias, manifestai-vos!

Claro que, como tudo aquilo que é um desserviço à humanidade, essa enquete só podia terminar em pizza...


Cozinhe isso também!

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