quarta-feira, 2 de abril de 2008

Dois livros novos e nenhum tempo para aproveitá-los

Entre três trabalhos encruados, que não terminam nunca, a busca por um apartamento maior, e o cão tomando um remédio que me obriga a passear com ele pelo menos quatro vezes ao dia, é pouco ou nada o tempo (e a força de vontade) que me resta para cozinhar algo que preste. Nestes dias tenho lançado mão da criatividade para criar pratos rápidos para o jantar, em porções que me deixem sobras "requentáveis" para o almoço do dia seguinte.

Minha maior tristeza é ter mantido o blog às moscas, sem conseguir cumprir nem com minhas Padarias de Domingo nem com as Vítimas Culinárias.

E finalmente, após mais de um mês de espera, com porteiros que nunca estão na portaria para receberem pacotes e greves de carteiros, enfim consegui rastrear meu pacote da Amazon e encontrar em uma agência de correios completamente aleatória meus livros encomendados. Desde que vi o vídeo de Bertinet fiquei completamente apaixonada por sua intimidade com a massa, e corri sem dúvidas para comprar seus dois livros: Dough e Crust, ambos acompanhados de DVDs com instruções detalhadas.

Depois de dar a caixa de papelão para Gnocchi destruir, o que me resta é esperar o fim de semana, quando terei um tempinho para testar a primeira receita. Tenho esperanças de que consiga me livrar da recente maldição da ciabatta, e produzir um pão digno de uma boa passadela de manteiga.

Enquanto isso, cruzem os dedos para que eu encontre uma casa nova com uma cozinha decente!!

sexta-feira, 28 de março de 2008

Galettes de trigo sarraceno

Desde o post do pizzoccheri, quando expliquei muito rapidinho num comentário outros usos do trigo sarraceno que estava maluca para tentar os crêpes.

Passei toda a minha vida vendo minha mãe preparar crêpes muito finos, empilhá-los num prato, recheá-los e levá-los ao forno. Lembro-me até hoje do dia em que ela me deixou ajudá-la, e foi me orientando enquanto eu espalhava a pequena quantidade de massa na frigideira, movia o pulso em círculos para deixá-la uniforme, e virava o disco delicado com a ajuda de uma espátula, para tostar dos dois lados.

Claro, naquela época ninguém que eu conhecesse chamava aquilo de crêpes; eram panquecas. E confesso só tê-las começado a chamar pelo nome em francês quando preparei minha primeira panqueca de verdade, a americana, da que se come com mapple syrup. Chamar tudo de panqueca então parecia-me confuso. Crêpes são crêpes. Panquecas são panquecas.

Ou assim pensava minha mente simplória. Tudo mudou novamente, quando assisti a um Menu Confiança filmado na Bretagne (região no norte da França), em que uma francesa dona de uma crêperie preparava crêpes doces e salgados. Fiquei extasiada ao ver que as massas diferiam em mais coisas além do detalhe do açúcar, e que seus nomes eram diferentes: crêpes e galettes.

Saí em busca de mais informações e descobri que galettes são crêpes servidos como prato principal, e cuja massa leva trigo sarraceno. E crêpes são as versões doces, feitas apenas de farinha de trigo.

Graças a essa pequena pesquisa, acabei encontrando outras informações sobre o trigo sarraceno. Aparentemente ele é a semente de uma fruta, não um cereal, e é relacionado ao ruibarbo. Não tem glúten (como eu já havia mencionado), é abarrotado de ômega-3 (aquela mesma substância contida no azeite e no salmão), vitaminas B1 e B2, fibras, minerais e aminoácidos essenciais. [Normalmente eu não ligo para nada disso, mas acabo sempre indo atrás de informações como essa para comprovar a algumas pessoas que não, eu não sou anêmica por não comer carne. Tive um treinador que me enchia a paciência com isso.]

Fiquei um pouco apreensiva ao começar os crêpes — ops! galettes! — depois de ler Julie & Julia. Três anos morando nesse apartamento e, apesar da profusão de panquecas, nunca preparara um crêpe sequer. E se grudassem na minha panela? E se rasgassem? O que eu faria com aquela tigela enorme de recheio? No entanto, ao contrário da protagonista do livro, as galettes foram ficando prontas, uma a uma, fininhas, douradas, perfeitas (com exceção de uma, pobrezinha, que rasgou ao meio). Fiquei muito orgulhosa. Lembrei-me imediatamente de um amigo que trouxera certa vez de uma viagem uma francesa a tiracolo, e que nos convidara para jantar. Sentamo-nos na cozinha e ela foi preparando galette por galette, muito delicadas, virando-as e dobrando-as com tanta facilidade que, na época, senti-me uma cozinheira bruta e truculenta.

Bom, acredito que aquela sensação tenha desaparecido para nunca mais voltar.

GALETTES
(traduzido e ligeiramente adaptado do La Tartine Gourmande)
Tempo de preparo: 5min + 2h de descanso + 20 min.
Rendimento: 9-12 galettes, dependendo do tamanho da frigideira


Ingredientes:
  • 100g de farinha de trigo sarraceno
  • 60g de farinha de trigo comum
  • 1/4 colh. (chá) de sal
  • 2 ovos
  • 300ml de água fria
  • 100ml de leite integral
  • 2 colh. (sopa) de azeite extra-virgem

Preparo:
  1. Misture as farinhas e o sal.
  2. Bata ligeiramente os ovos e junte-os à farinha.
  3. Acrescente a água, o leite e o azeite e misture bem com um fouet, para aerar bem a mistura. Deixe descansar em temperatura ambiente por 2 horas.
  4. Aqueça uma frigideira anti-aderente e derreta um naco de manteiga. Despeje massa suficiente para apenas recobrir o fundo da frigideira e deixe dourar em fogo médio-baixo.
  5. Com a ajuda de uma espátula, deslize a galette e vire-a, deixando-a dourar do outro lado.
  6. Você pode apenas transferir a galette para um prato e mantê-la aquecida para recheá-la depois, ou pode já recheá-la direto na frigideira. Imagine o círculo de massa divido em 4 partes iguais, como uma pizza. Coloque uma ou duas colheres do recheio de sua escolha em um desses quartos. Não exagere. Dobre a galette ao meio, seguindo a divisão de quartos que você imaginara, e depois dobre-a novamente, formando um triângulo. Pressione-a muito suavemente com a espátula, retire e disponha em um prato aquecido. Sirva quente.
A quem interessar possa: o recheio que usei foi ricotta, parmesão e talos de espinafre refogados com alho e cebola vermelha. Reaqueci no forno com uns nacos de manteiga e polvilhado de queijo pecorino.

Cozinhe isso também!

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