sábado, 4 de junho de 2011

Queijo cottage, de novo, mas diferente

O despertador toca às cinco da manhã. Conformada, ainda que contrariada, levanto-me da cama, devagar, esticando os braços, sentindo os ombros ainda doloridos pelo peso do bebê. Sinto que meu corpo não acompanha o desenvolvimento do pequeno, e quando ele começa a se acostumar, o bebê cresce, engorda, fica mais pesado, exigindo mais de músculos que antes apenas sovavam pão.

Saio da cama, pés no assoalho frio, perguntando-me, mais uma vez, por que ainda não comprei pantufas. Vou de passos arrastados até o banheiro, lavar o rosto e tirar os cabelos desgrenhados da frente dos olhos. Preguiçosa mas cheia de determinação, visto a roupa de ginástica, uma camiseta por cima da outra, mais o moletom e o cachecol, por conta do frio. Com o tênis de corrida produzindo ruídos de borracha contra a madeira, agora caminho cuidadosa até a cozinha, ligando a cafeteira.

Preparo uma dose dupla de café preto, fatio meu pãozinho francês e espalho sobre os nacos uma colherada generosa de queijo cottage caseiro. Minhas pálpebras ainda estão pesadas, quando ouço os primeiros sons vindos do quarto do bebê, como um brinquedo desses que se aperta a barriga: breves, compassados, agudos e insistentes.

Passo pelo meu quarto. Marido e cachorro roncando. Encosto a porta e levo meu café-da-madrugada para a cômoda ao lado do berço. O bebê abre os olhos assim que acendo o abajur. Ele volta seu rostinho alerta pra mim, e ensaia um bico retorcido para baixo com seus labiozinhos cor-de-rosa, que sempre me corta o coração. Aproximo-me, segurando suas mãozinhas e falando com ele. O bico se desfaz no momento em que ele me reconhece. Enquanto troco sua fralda, ele esperneia, tentando rolar, indeciso entre chorar, manhoso e com frio, ou admirar o reflexo do abajur na vidraça da janela.

Sento-me na poltrona, bebê no colo, café ao lado, apoiado no trocador. Enquanto ele mama, esganado, depois de seis milagrosas e ininterruptas horas de sono, como meu pãozinho, tentando não derrubar migalhas nos seus cabelinhos ralos. O queijo caseiro é mais doce e suave do que a versão comprada em potes de plástico. Tem gosto de leite fresco e uma textura cremosa, de grumos pequenos, que derrete na boca. A imensa xícara de espresso termina de erguer minhas pálpebras e me aprontar para o dia por vir. Um dia inteiro de bebê alerta, querendo interagir e não cochilando mais do que 1 hora inteira. Um dia inteiro de cão carente, querendo brincar e passear. Um dia inteiro de cuidar da casa e ter certeza de que tudo e todos estão limpos e alimentados.

Coloco o bebê no berço ainda acordado, dou-lhe um beijo estalado na testa e faço-lhe um carinho entre as sobrancelhas, o que sempre o faz sorrir. Enquanto termino de apanhar minhas coisas (bolsa, carteira, iPod), ouço os ruídos estranhíssimos que ele emite enquanto tenta libertar os bracinhos agitados das cobertas. Ele produzirá mais alguns deles até soltar uma das mãos, que ele imediatamente levará inteira à boca escancarada, dormindo sozinho em seguida.

Abro a porta do quarto, digo "tchau!" para o marido, fornecendo-lhe as últimas notícias sobre o bebê e um "status" de fralda e mamada, e corro porta afora em direção ao clube, para 45 minutos de corrida, já com saudades daquelas bochechas cada vez mais redondas e cor-de-rosa.

QUEIJO COTTAGE
(receita dividida ao meio, vinda do lindo livro "Forgotten Skills of Cooking", de Darina Allen)
Rendimento: 1 xíc. bem cheia

Ingredientes: 
  • 1,25 l leite integral (de garrafa; NÃO use UHT)
  • 1/4 colh. (chá) coalho líquido
  • 1 colh. (sopa) água

Preparo:
  1. Aqueça o leite apenas até ficar morno. Misture o coalho à água e salpique sobre a superfície do leite, mexendo bem com uma colher. Cubra com um pano de prato e a tampa da panela (o pano evita que o vapor do leite condense e pingue de volta) e deixe quieto por 2 a 4 horas. 
  2. Com uma faquinha de ponta arredondada, corte o coalho num padrão xadrez e volte a panela ao fogo mínimo, apenas para amornar, até que você comece a ver o soro brotar. Não aqueça muito, ou o coalho ficará muito duro.
  3. Forre uma peneira com um pano próprio para isso, e posicione sobre uma tigela grande. Apanhe o coalho com uma concha e derrame sobre o pano. Amarre as pontas e deixe pendurado em algum gancho, pingando sobre a tigela, durante toda a noite (fora da geladeira). 
  4. No dia seguinte, coloque o queijo num potinho, salgue a gosto e consuma em até umas 2 semanas. Guarde o soro na geladeira e use para cozinhar.  

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