terça-feira, 29 de julho de 2008

Cookies, muffins e torta de maçã... Talvez eu não tenha paciência para ser mãe um dia...


Eu não sei lidar com crianças. Mesmo. Não faço idéia do que fazer com elas. E elas não fazem idéia do que fazer comigo. Não consigo me lembrar do modo como os adultos conversavam comigo quando tinha 5 anos, e talvez por isso seja incapaz de interagir com qualquer um que precise dar a mão para atravessar a rua. Colocar um bebê no meu colo [coisa que mães parecem gostar de fazer, principalmente se eu digo "não, por favor, vou derrubar o bebê de cabeça no chão!"] é pedir para a criança abrir o berreiro: ela com certeza consegue sentir que estou prestes a derrubá-la de cabeça no chão, exatamente como avisara à mãe que faria. Costumo brincar sempre com meu marido, dizendo que não quero ser mãe, quero ser avó. Engraçadinho, ele chegou a sugerir que adotássemos um casal já de seus 25 anos. Seria uma excelente solução.


No entanto, isso de ter filhos está em minha mente o tempo todo. Não porque os queira agora, mas porque fico pensando se seria minimamente boa no assunto. Pego-me assistindo a Super Nanny (no GNT) vez ou outra, fazendo anotações mentais do que fazer ou não fazer quando minha hora chegar. Pergunto-me se conseguirei impor alguma disciplina aos moleques, ou se serei uma dessas mães que trata a criança como um rei, ajudando a inserir na sociedade mais um adulto sociopata. Principalmente, imagino se serei capaz de ensinar um filho meu a comer direito [considerando que ensinar marido a comer direito já é um parto...]. Tenho um milhão de dúvidas a respeito, a começar por toda a coisa de não comer carne. Até que ponto é saudável e até que ponto é simplesmente uma tirania não permitir que seu filho coma carne (pelo menos até ele poder ir sozinho a algum lugar e pedir um hambúrguer por sua conta e risco)? Ou mesmo açúcar? Vi um estudo certa vez que dizia que crianças não expostas a açúcar (leia-se açúcar adicionado, não frutose) até os dois primeiros anos de vida não apresentam o mesmo "vício" em doces que crianças normais; elas tendem a escolher frutas em lugar de bolos. Isso é ótimo, não? Mas você conseguiria convencer sua mãe ou sua sogra a não dar aquele biscoitinho de chocolate para seu filho? E se ele fica numa creche? Como impedir que dêem de lanche ao seu filho alimentos industrializados de baixa qualidade?

Paranóia.

E eu nem tenho filhos ainda.

Por isso achei que o último domingo foi, no mínimo, educativo.



Chamamos alguns amigos com filhas pequenas para jogar video-game, bater papo e comer quitutes. Sabendo da vinda das crianças, tratei logo de pensar em guloseimas que atraíssem tanto adultos quanto a molecada. Para nós crescidinhos, preparei uma boa torta de maçãs aromatizada com pimenta-da-jamaica, muito fácil, muito saborosa, feita na mesma manhã e servida em temperatura ambiente. Para as meninas, todas abaixo de 5 anos, muffins de milho, que são mais salgadinhos, muito fofos, pontilhados de grãozinhos amarelos de milho cozido estalando na boca, e, claro, cookies de chocolate, crocantes por fora, derretendo por dentro.

Os dois últimos preparei no dia anterior e guardei em potes herméticos. Os muffins foram estupidamente fáceis, receita de Dorie Greenspan (de quem gosto cada vez mais), apenas susbtindo óleo de milho por azeite de oliva e buttermilk por iogurte e leite. Eles ficaram incrivelmente macios, salgados mas com um delicado adocicado no fundo, e os que sobraram tenho comido com manteiga, no café-da-manhã.


Os cookies, bem, eles são um feliz acidente. A intenção original era reproduzir os cookies de chocolate do livro da Ghirardelli. Eu já havia mexido nas medidas de açúcar, pois queria incorporar açúcar demerara para um toque suave de caramelo no sabor. Também acrescentara baunilha, a meu bel prazer. No entanto, a receita pedia por chocolate em pastilhas, que eu quase nunca tenho, e a medida era em volume ao invés de peso. Sem pensar muito a respeito, decidi que picaria uma quantidade X de chocolate e mediria seu volume como se fossem pastilhas. Ledo engano. Chocolate picado em tamanhos variados ocupa um volume diferente de chocolate em pastilhas uniformes e idênticas, de modo que acabei derretendo e incorporando à massa cerca de (acredito) duas vezes mais chocolate do que o necessário.

O livro avisava que a massa seria um pouco molenga, mas impossível ir para o próximo passo com aquela massa líquida. Era preciso então enrolar a massa em filme plástico, no formato de pequenas toras, e levá-la à geladeira para firmar. No entanto, a massa era tão mole que escorria para fora do plástico antes mesmo que eu pudesse colocar a quantidade necessária. Vi-me jogando tudo de volta na tigela e proferindo um enorme e sonoro "M*RDA!".

Não era possível que eu houvesse desperdiçado todos aqueles ingredientes.


Algumas imprecações e chutes na parede depois, resolvi que tentaria salvar a lambança. Analisei a receita. Pensei nas proporções de outros cookies que já fizera. E resolvi que duplicaria a quantidade de farinha, assim, sem mais nem menos. E, milagrosamente, assim que incorporei a farinha extra, a massa tomou corpo e sorriu para mim, de forma promissora. Ela tinha agora a mesma textura, talvez um pouco mais úmida, dos cookies colocados às colheradas na assadeira. Cobri a tigela com filme plástico e levei à geladeira enquanto o forno aquecia.

Quando tirei os cookies do forno, eles estavam lindos, cobertos com uma finíssima película craquelada e brilhante. Pressionando um deles suavemente com a ponta do dedo, podia sentir que eles ainda estavam incrivelmente moles por dentro. Era exatamente isso que eu queria. Deixei que esfriassem na assadeira, guardei-os cuidadosamente num pote e deixei que descansassem até o dia seguinte, quando então, por algum misterioso motivo, eles estavam mais saborosos do que na tarde anterior.

Fiquei orgulhosa da mesa posta, e achei que as crianças se esbaldariam com os quitutes. A primeira a provar os cookies foi a mais nova, e fiquei contente quando o pai me contou que ela não comia nada que não achasse de fato saboroso. Antes que pudesse, no entanto, cantar vitória, a mais velha me puxou de canto, perguntando o que mais havia para comer.

"Tem tudo aquilo, tem biscoito de chocolate, tem bolinho de milho e tem torta de maçã!", respondi.
"Ah, mas eu não gosto de nada disso", resmungou, fazendo bico.
"Você não gosta de biscoito de chocolate????", perguntei, incrédula.
"Desse, não."
"Por que não?"
"Porque não."
"Ah, mas se você não me explicar direito porque você não gosta, como é que eu vou poder fazer um que você goste na próxima vez que vier aqui?"
"Ele não é recheado. Eu gosto de biscoito recheado."
"Mas você já experimentou esse?"
"Não e eu não gosto."
"Mas não tem mais nada."
"Tem sim, você disse que o tio é que compra bolacha. Então tem sim."

E tem gente que diz que criança não presta atenção no que você sai falando por aí...


Arrasada, fui perguntar à mãe da menina o que diabos eu deveria fazer, uma vez que não sei como as meninas estão sendo educadas. Ela prontamente mandou a filha parar de ser cricri e comer o que tinha. Menos mal. Mas meus sonhos de crianças contentes comendo cookies de chocolate feitos em casa foi por água abaixo. Como explicar a uma criança de 5 anos que é melhor um biscoito feito de chocolate belga, ovos orgânicos e manteiga de verdade do que aquele que vem com uma carinha desenhada? Decepcionada, vi as crianças contentes comendo um pacote de bolachas industrializadas e danoninhos, que uma das mães trouxera de casa.

E fiquei quieta, imaginando o horror que serão as festas de aniversário dos meus filhos, com salgadinhos vegetarianos e doces caseiros. Meus filhos vão apanhar no colégio... Com certeza...


COOKIES
CROCANTES E MACIOS DE DOIS CHOCOLATES E CASTANHAS DE CAJU
(livremente inspirado pelo livro The Ghirardelli Chocolate CookBook)

Tempo de preparo: 1h30

Rendimento: 24-30 cookies medianos


Ingredientes:
  • 150g de chocolate amargo (mínimo de 50% de cacau)
  • 90g de manteiga
  • 3 ovos orgânicos
  • 3/4 xíc. de açúcar cristal orgânico
  • 1/4 xíc. de açúcar demerara orgânico
  • 1/2 colh. (chá) de essência de baunilha
  • 1/2 colh. (chá) de fermento químico em pó
  • 2/3 xíc. de farinha de trigo
  • 100g de chocolate branco de qualidade
  • 3/4 xíc. de castanhas de caju torradas SEM sal
Preparo:
  1. Pique o chocolate amargo e coloque numa tigela com a manteiga, derretendo em banho-maria e misturando de vez em quando com uma colher de pau para que fique homogêneo.
  2. Na batedeira, bata os ovos até que fiquem homogêneos. Junte aos poucos os dois tipos de açúcar, e continue batendo em velocidade alta até que eles fiquem muito brancos e fofos (foto), o que deve levar cerca de 10 minutos. Não se preocupe se ainda conseguir enxergar pontos de açúcar demerara. Junte a baunillha e misture mais.
  3. Diminua a velocidade da batedeira e junte o chocolate derretido com a manteiga. Misture até ficar homogêneo.
  4. Desligue a batedeira. Peneire a farinha e o fermento e junte-os aos poucos à tigela da batedeira, misturando com uma colher de pau até que fique esteja tudo bem incorporado.
  5. Pique o chocolate branco e as castanhas de caju e junte à massa, misturando com cuidado. Cubra com filme plástico e leve à geladeira por cerca de 30 minutos. Enquanto isso, pré-aqueça o forno a 190ºC.
  6. Forre uma assadeira com papel vegetal ou silpat. Distribua bolotas altas de massa (cerca de 1 1/2 colher de sopa), deixando um espaço de pelo menos 4cm entre elas. (Alternativamente, você pode formar com a massa - que ainda é meio mole - dois rolos de 5cm de altura e 20cm de comprimento, embrulhar em filme plástico e levar à geladeira para firmar. Na hora de distribuir na assadeira, corte em fatias de 2cm de largura.) Volte a massa que sobrar à geladeira. Leve a assadeira ao forno e asse por 12-14 minutos, até que os biscoitos tenham se esparramado um pouco e estejam com uma película fina, quebradiça e brilhante por cima. Retire e deixe esfriar na própria assadeira. Repita o procedimento com o restante da massa. Guarde em pote hermético em temperatura ambiente por até 1 semana.
P.S.: eu sei que já postei aqui outra receita de cookie com chocolate e castanhas de caju, mas elas não tem nada a ver uma com a outra. Entretanto, ambas são deliciosas!

Cozinhe isso também!

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