quarta-feira, 5 de junho de 2013

Semana da gororoba e bolo de gengibre fresco


Já devo ter contado essa história antes, mas vamos lá... Há muitos anos atrás, quando comecei a me interessar por cozinha, resolvi preparar lasagne verde com berinjela. A falta de experiência fez com que calculasse errado a quantidade de ingredientes, e acabei fatiando mais berinjela do que o necessário. Fiquei atrapalhada e sem saber o que fazer com aquele excesso, quando meu pai me interrompeu: "Um bom cozinheiro não desperdiça comida", disse ele, imediatamente apanhando as berinjelas para um outro prato improvisado.

Sempre me lembro desse episódio na Semana da Gororoba.

Semana da Gororoba é como eu chamo aquela semana em que você está com o saco na lua, como diria meu pai, e lavar alface recém-comprada na feira parece trabalho demais. E então você olha para sua geladeira e sua despensa e decide que é hora de lançar mão da criatividade e dar cabo daquele queijo mofando, do sauerkraut sem destino, do feijão congelado, da lata de atum fazendo aniversário. A Semana da Gororoba tem duas regras:

1. deve usar apenas o que há em casa, de preferência a maior quantidade de ingredientes velhos e esquecidos possível;
2. deve ser fácil de preparar.

A Semana da Gororoba é ótima para colocar em uso aquele ingrediente que é tão especial que, de tanto ficar reservado para uma boa ocasião, já está vencendo – você finalmente usa porque é só o que sobrou de comestível mesmo. Ou para fazer a rapa no freezer e descongelar aquela sopa que você nunca lembra que está lá. Ou para finalmente testar aquela receita daquele livro para a qual você jamais teria comprado os ingredientes especialmente. É ótima também para testar adaptações e usar aquele queijo meia cura esquecido no lugar do cheddar que a receita pede, ou farinha integral no lugar da branca que acabou.

A Semana da Gororoba produz fritatta de spaghetti de ontem, sopa de sauerkraut, bolo sem farinha, transforma baba ganoush em molho de macarrão, pão velho em pudim, e até pega um molhinho de frutas vermelhas que sobrou da panna cotta e, acrescido de açúcar, transforma em uma geleia rapidíssima, em dez minutos, para ir ao sanduíche do pimpolho na escola. Você fica se sentindo competente e frugal. Às vezes aparecem gororobas que fazem jus ao nome e você come de pura dó, mas, com tantos livros de culinária à disposição, você sempre encontra alguma receita que use três ingredientes bizarros juntos.

O caso é que a Semana da Gororoba tem acontecido com mais frequência nesses tempos corridos. E nunca meu freezer foi tão movimentado e tão importante. Tenho aprendido como é bom fazer o dobro daquelas enchiladas que dão um trabalhão e congelar uma travessona imensa. Ou fazer muffins para o lanche do Thomas para daqui a um mês. Ou cozinhar e congelar todo o saco de feijão de uma só vez. Como alivia saber que um dia da semana você pode ficar pintando ao invés de correr para fazer o jantar.

Esse bolo de gengibre fresco é ótimo para a Semana da Gororoba pois

, além de perigosamente delicioso, usa aquele pedaço gigantesco de gengibre que você comprou na feira um dia e esqueceu, e que aquelas receitinhas asiáticas que pedem por bocadinhos de dois centímetros não deram conta. Além disso, ele é tão úmido, que o fato de eu ter usado metade de farinha integral (pois a branca acabara) não influenciou em nada na textura, e acredito mesmo que poderia tê-lo feito inteiro com ela. O bolo é perfumado, apimentado, estupidamente macio, maravilhoso com uma xícara de chá quentinha nessa friaca ou com uma compota de frutas da estação.

Enquanto o bolo vai sumindo da bancada mais rapidamente do que minhas ancas parideiras gostariam, vou vendo o fundo da geladeira e da despensa aparecendo. Nunca vou entender o prazer que me dá em esvaziar minha geladeira. Se é competência, se sinal de transtorno-obsessivo-compulsivo ou simples falta de coisa melhor com o que se preocupar.

BOLO DE GENGIBRE FRESCO
(do ótimo Ready for Dessert, de David Lebovitz)
 Rendimento: 1 bolo de 23cm, cerca de 10-12 pedaços grandes.

Ingredientes:
  • 115g gengibre fresco (um pedaço do tamanho de uma banana), descascado e picado muito miudinho, com faca ou processador
  • 1 xic (250ml) melaço de cana
  • 1 xic. (200g) açúcar cristal orgânico
  • 1 xic. (250ml) óleo vegetal
  • 2 1/2 xic. (350g) farinha de trigo branca, integral fina ou uma mistura dos dois 
  • 1 colh. (chá) canela em pó
  • 1/2 colh. (chá) cravo moído
  • 1/2 colh. (chá) pimenta-do-reino moída na hora
  • 1 xic. (250ml) água 
  • 2 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 2 ovos grandes, orgânicos, em temperatura ambiente

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte com manteiga uma forma de 23cm e 5cm de altura, e forre o fundo com papel manteiga.
  2. Numa tigela grande, misture com um batedor de arame o melaço, o óleo e o açúcar. Numa tigela menor, misture a farinha, a canela, cravo e pimenta. 
  3. Numa panela, ferva a água. Misture o bicarbonato e então junte isso à tigela do melaço, misturando com o batedor de arame. Junte o gengibre picado.
  4. Gradualmente peneire a farinha sobre a tigela de melado, misturando até que esteja incorporada. Junte os ovos e misture com o batedor até que estejam bem incorporados. 
  5. Despeje a massa na forma e asse por cerca de 1 hora, ou até que um palito inserido no meio saia limpo. Tire do forno e deixe esfriar completamente antes de passar uma faca nas laterais e desenformar. O bolo se mantém bem em temperatura ambiente por vários dias, e pode ser congelado por até 1 mês.



quarta-feira, 15 de maio de 2013

Muffin de mãe surtada

De repente você pára de dar conta. De repente faz três dias que não consegue trabalhar. De repente, há pêlos de cachorro para todos os lados. De repente, sua nenê que passava horas dormindo agora quer brincar de ficar sentadinha, exigindo sua atenção constante. De repente seu mais velho não quer cochilar à tarde e resolve correr enlouquecidamente pelo quintal, catando taturanas, exigindo também sua atenção constante. De repente você olha a geladeira cheia e simplesmente não consegue processar a matemática de combinações que pode gerar uma ideia para o almoço. De repente faz um mês que você não escreve no blog.

E você percebe não só tarefas se acumulando à sua volta, mas caraminholas se embaralhando na sua cabeça.

Surto.

E a criança tem que levar algo de lanche na escola, e não pode ser uma batata crua.

Fica feliz então de ter arrancado do freezer na noite anterior um muffin de quinua, avelã e banana, e deixado descongelar durante à noite. De manhã cedo ele está macio e fresquinho como se tivesse sido assado no dia, e é enfiado na lancheira junto com uma limonada feita às pressas e um potinho com cubinhos de queijo meia-cura.

Criança feliz e alimentada, mãe menos surtada.

Esses muffins foram uma agradável surpresa, pois sempre tive um enorme pé atrás com gluten-free-baking. Na verdade, quando recém-saídos do forno, os muffins são um pouco esfarelentos. Mas uma vez frios, sua textura melhora, e ficam mais densos e gostosos. Mas esses muffins de banana são muito saborosos e complexos, e aplacam a neura nutricionista de mães paranóicas quando seu filho resolve que não quer almoçar – dá um alívio pensar que ele está comendo quinua e trigo sarraceno no lanche. ;)

MUFFINS DE BANANA, AVELÃ, QUINUA E CHOCOLATE
(do livro La Tartine Gourmande, de Béatrice Peltre)
Rendimento: 12 muffins

Ingredientes:
  • 40g avelãs ou nozes
  • 2 ovos grandes, orgânicos
  • 1/2 xic. (100g) açúcar cristal orgânico
  • 8 colh. (sopa) (113g) manteiga sem sal, derretida
  • 1/4 xic. iogurte natural integral
  • 1/2 xic. (70g) farinha de trigo sarraceno
  • 1 xic. (120g) farinha de quinua
  • 1/2 xic. (60g) farinha de avelã (avelãs moídas no processador até virarem uma farinha grosseira)
  • 1 pitada de sal
  • 1 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1/2 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 3 bananas maduras, amassadas com um garfo
  • 90g chocolate amargo (70%) picado

Preparo:
  1. Toste as avelãs ou nozes numa frigideira em fogo médio até que liberem perfume e dourem ligeiramente. Se estiver usando avelãs, esfregue-as num pano de prato para liberar as cascas e pique-as. Se estiver usando as nozes, apenas pique-as. 
  2. Pré-aqueça o forno a 180ºC e forre uma forma de muffins com forminhas de papel. 
  3. Na batedeira, bata os ovos e o açúcar até que fique claro e fofo. Junte a manteiga derretida e o iogurte e bata até que fique homogêneo.
  4. Numa tigela, misture as farinhas, o sal, fermento e bicarbonato. Junte à mistura de ovos e misture apenas até que não se veja mais farinha. Junte as bananas, avelãs (ou nozes) e chocolate e misture delicadamente.
  5. Distribua nas forminhas e leve ao forno por 25-30 minutos ou até que uma faca inserida no meio de um deles saia QUASE seca. Remova do forno e deixe que esfriem por alguns minutos antes de desenformar e deixar que esfriem completamente. Depois de frios, podem ser embalados num saco plástico e congelados. Para descongelá-los, asse-os no forno a 150ºC por alguns minutos ou tire do freezer para descongelar dentro de um pote durante a noite.

Cozinhe isso também!

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