terça-feira, 12 de julho de 2011

Uma coisa leva à outra, e às vezes leva a Shortbread

Noutro dia contava à Pat sobre meu histórico de fracassos retumbantes com biscoitos: biscoitos queimados, crus, moles demais, esfarelentos demais, e o diabo a quatro. O que é estranho, pois eu me lembrava de assar bons biscoitos há anos atrás; mas algo aconteceu ao longo do tempo que me fez meio que "perder a mão".

Eu não desistia da ideia dos biscoitos, porém. A louca desvairada que me habita (e que se parece com a velha dos gatos dos Simpsons) continua comprando livros apenas de biscoitos, alimentando a fantasia de um dia ser uma fantástica cookie baker. Confesso, entretanto, que caí no mesmo pecado com os biscoitos que com os bolos: elegi meus tipos favoritos, caí na preguiça culinária e preparei sempre os mesmos ao longo dos anos. Chocolate Chip Cookies, Oatmeal cookies... e infinitas variações sobre o tema. Assim como aconteceu com brownies, quick breads e pound cakes.

Algo aconteceu no final da gravidez, no entanto, que me fez querer tentar novamente. E comecei com os biscotti, que havia anos não apareciam na minha cozinha. Pode ter sido desejo de grávida nos 44 do segundo tempo, mas o sucesso daqueles biscotti me incentivou a continuar. Parecia que a a mão para os biscoitos retornara. Após o nascimento do Thomas, NÃO sair para comprar ingredientes que faltavam me fez trabalhar com o que tinha e cozinhar o que dava, e acabei me aventurando nas barras. Foi com elas que caí nas bases de shortbread, que eu nunca preparara antes, e foi paixão à primeira mordida.

Shortbread é um tipo de biscoito cuja receita aparece em todos os livros americanos e ingleses que possuo, e que nunca me havia apetecido. Sua simplicidade passa por monotonia, erroneamente. Não me parecia interessante o suficiente. Não parecia algo que eu tivesse vontade de comer. No entanto, agora, estou apaixonada por sua textura leve e ligeiramente crocante, por seu sabor amanteigado. Adorei comê-lo com chá, café, ou com marmelos cozidos e iogurte. E agora que fui fisgada, pergunto-me o que mais andei perdendo, que outros biscoitos ignorei presunçosamente por tanto tempo. E não vejo a hora de prepará-los todos.

Esta receita de Alice Medrich não apenas é deliciosa, mas é à prova de idiotas. Se você se sente um desastre na cozinha e não tem coragem de assar biscoitos com medo de estragar ingredientes, essa é a porta de entrada para um caminho viciante e sem volta: a dos homemade cookies. Não apenas os ingredientes são simples, mas o processo não envolve bater manteiga, abrir com rolo, nem separar bolinhas. Apenas tenha certeza de usar uma manteiga bem saborosa e extrato de baunilha de verdade. Aliás, isso é regra para tudo e estou chovendo no molhado ao especificar esse tipo de coisa... ;)

Pat, esse shorbread é para você, que me fez ter vontade de retornar aos biscoitos. :)
SHORTBREAD ASSADO DUAS VEZES
(do livro Chewy Gooey Crispy Crunchy, de Alice Medrich)
Tempo de preparo: 5 min + 2 horas de descanso + 1h10min forno
Rendimento: cerca de 16 biscoitos

Ingredientes: 
  • 11 colh. (sopa) manteiga sem sal (cerca de 160g)
  • 1/4 xic + 1 colh. (sopa) de açúcar cristal orgânico
  • 1 colh. (chá) extrato de baunilha
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 1 1/2 xic. farinha de trigo branca orgânica
  • açúcar demerara para polvilhar

Preparo:
  1. Forre o fundo de uma forma quadrada de 20cm com papel-alumínio OU unte uma forma de quiche de 23cm com fundo removível. 
  2. Derreta a manteiga. Numa tigela média, misture a manteiga ainda quente ao açúcar, sal e baunilha. Junte a farinha e misture apenas até que esteja incorporada. Com as mãos, espalhe a massa no fundo da forma e deixe descansando em temperatura ambiente por 2 horas ou durante a noite. 
  3. Pré-aqueça o forno a 150ºC e posicione a grade na parte inferior do forno. Asse o shortbread por 45 minutos. Remova a forma do forno mas deixe-o ligado. Polvilhe o açúcar demerara sobre o biscoito e deixe esfriar por 10 minutos. 
  4. Remova o shortbread da forma cuidadosamente para que não quebre e corte-o em quadrados, fatias ou palitos. Coloque os biscoitos numa assadeira forrada com papel-manteiga, ligeiramente afastados entre si, e asse por mais 15 minutos. 
  5. Retire, remova os biscoitos da assadeira e deixe que esfriem sobre uma grade. Guarde em pote fechado por várias semanas.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Sobre compromisso e educação

Existe uma arte que anda se perdendo: a de se receber pessoas. Não apenas porque menos gente cozinhe em casa e tenha prazer (ao invés de pânico) em receber os amigos e familiares para um jantar. Mas porque quem ainda gosta de fazê-lo tem se sentido cada vez menos estimulado pela falta de consideração de seus próprios convidados. Talvez seja culpa de ferramentas como SMS e Twitter, que tornam a comunicação entre seres humanos cada vez mais lacônica e seca. Talvez os pais de toda uma geração tenham falhado em ensinar o mais básico das boas maneiras, como dizer "bom dia", "com licença", "obrigada" e "desculpe-me". São pequenos mas importantes os rituais de civilidade que estão desaparecendo, e, com isso, um pouco da esperança que eu tinha em ver minha casa sempre cheia de gente amiga.

Quando alguém se propõe a realizar um evento em sua casa, seja ele uma reuniãozinha com os mais chegados ou uma comemoração para cinquenta pessoas, há mais envolvido do que o simples comichão de quem ama ser anfitrião. Quando se envia um convite para, digamos, quarenta pessoas, pedindo R.S.V.P., é esperado dessas pessoas que, no mínimo, elas respondam "vou" ou "não vou". Ao contrário do que se espera, "não vou" é uma resposta absolutamente válida e não fere os sentimentos de quem está convidando.

Digamos que, dessas quarenta, vinte tenham respondido "vou". Alguns entusiasmados ainda acrescentam um "com certeza!" ao final da frase. A partir daí, qualquer bom anfitrião começa a planejar comes e bebes em torno desse número. Um cardápio é criado, mesmo que seja salgadinho e pipoca, e bebida é comprada. O anfitrião cuidadoso ainda leva em consideração as sensibilidades e preferências dos convidados que confirmaram presença, comprando bebidas light, não alcoólicas, e alimentos para quem tem restrições, como vegetarianos ou intolerantes a lactose, por exemplo.

No dia da festa, o anfitrião limpa a casa e arruma a mesa com muito gosto. Coloca uma boa trilha sonora e dá os últimos toques aos comes, esperando o primeiro convidado.

E ele espera.

Há esse estranho hábito no Brasil de não se querer ser o primeiro a chegar numa festa. Então, apesar do convite ser para, digamos, 19h, as pessoas só começam a chegar às 20h30. Todo o planejamento em torno da comida quente já foi perdido quando isso acontece, e o anfitrião já começa sua festa ligeiramente estressado pela espera. PAREM com isso.

Passam-se três horas de festa, e, ao ver que dos vinte confirmados, apenas seis chegaram, o anfitrião fica com a pulga atrás da orelha. Será que os convidados se perderam? Erraram o dia? Esqueceram? O bom anfitrião aproveita a companhia de quem veio e deixa para xingar depois.

E quando a festa acaba, ele xinga. Muito. Vai checar email e celular em busca de algum pedido de desculpas pela ausência, alguma justificativa... e nada. NADA. Vai olhar a geladeira repleta de comida e bebida comprada especialmente, e se pergunta por que essas pessoas sequer se deram o trabalho de aparecer. Afinal, era uma boca-livre em boa companhia. Ou talvez eles não achem que a companhia é tão boa assim.

Não sei o que há com as pessoas hoje em dia. Elas não honram compromissos, sua palavra não vale nada, e não há absolutamente nenhuma empatia nelas, pois não se colocam no lugar do anfitrião. Não se lembram de que receber gente custa caro e dá trabalho. Quando você é convidado à casa de alguém, trata-se de um evento especial, e quer dizer que você é querido por essa pessoa. Talvez amizades hoje em dia estejam restritas ao Facebook. Talvez dê muito trabalho sair de casa e se relacionar ao vivo.

Àqueles que estão sempre conosco, tomando uma cerveja e dando risada... amo vocês.

Todos aqueles que deixam os amigos na mão... vão à m*rda.

Cozinhe isso também!

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