quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Muffins integrais de banana, café e nozes de supetão


Há tempos em que tudo flui, tudo se encaixa, e você flutua graciosamente por entre seus magníficos exemplos de organização e disciplina.

E há tempos em que você acorda no meio da madrugada e se dá conta de que não há nada pro Matador-de-Dragões-Sequestrador-de-Dinossauros-do-Maternal levar de lanche na escola a não ser a fritatta de anteontem.

Levanta às 6h30 da manhã depois de uma noite muito mal dormida, e, enquanto o pimpolho brinca pela casa, você tenta pensar no que fazer.

"Thomas, quer ir à padaria com a mamãe?"
"Dão."
"Vamos lá, a gente pode tomar café na padaria. Com pãozinho e suco de laranja!"
"Dão, dão, dão!"
"Não quer pãozinho?"
"Dão."

Hmmm...

Então se dá conta de que a manhã está mais sossegada, com marido viajando a trabalho e Madame Bochechas na avó.

"Thomas, quer ajudar a mamãe a fazer bolinho?"
"Quéo".

Apanha um livro, liga o forno, bota 12 forminhas de papel na forma de muffins. São 6h40. Thomas entra na escola às 8h.

Coloca farinha integral e fermento na  tigela. De repente se lembra de que usou os ovos na fritatta. Abre a geladeira. Tem um só. Tira seis forminhas de papel da forma de muffins e resolve fazer meia receita. Tenta de algum jeito tirar metade do fermento da tigela (que vai para o lixo) e metade da farinha, a parte que não encostou no fermento (que volta pro pote de farinha). Pica as nozes, coloca na tigela.

"Agora vão as nozes."
"Dóces."
"O sal..."
"O cal."
"E agora o café."
"O caqué."

Dá o fouet na mão da criança.

"Devagar, para não voar tudo pra fora da tigela."

Ele segura primeiro na pontinha do fouet, e brinca de girá-lo devagar no próprio eixo, como se fosse um batedor de batedeira. Então, de repente, segura o meio do cabo com força e começa a misturar com vontade.

"Calma, calma, tá bom."
"Tá bom", repete.

Vai derreter a manteiga e se dá conta de que a receita pede para batê-la na batedeira, em temperatura ambiente. A manteiga está gelada. Sente-se idiota, pois lembra que era justamente por isso que nunca fizera aqueles muffins: preguiça de bater manteiga, porque quando você quer muffin, você quer pra ontem. Dá de ombros, bota a batedeira no máximo e bate o açúcar e a manteiga... só até misturar um pouco. Não dá tempo de ficar mega cremosa e fofa como a receita pede.

Apanha as mãozinhas do pequeno e o ensina a quebrar o único ovo da geladeira, com cuidado. Acrescenta à manteiga. Talha. Claro. Bate mais. Quem se importa?

"Colo!", pede ele, para ver a batedeira em funcionamento.
"Agora vai o iogurte."
"Bai o cute."

Coloca o iogurte gelado e a manteiga talhada solidifica no fundo da tigela.
Sentimento de estupidez suprema.

"Cute! Cute! Tetê! Cute!"

Demora para se lembrar de que, por algum motivo, o Matador de Dragões a chama de Tetê, e não de Mamãe. Demora mais ainda para perceber que ele quer tomar iogurte de café da manhã.

Coloca iogurte caseiro numa tigelinha.

"Quer mel no iogurte?"
"Quéo. Quéo méu."

Enquanto a criança se esbalda com iogurte e mel, tenta salvar a lambança na tigela da batedeira, raspando com a espátula a manteiga gelada e voltando bater em velocidade máxima. Apanha duas bananas pequenas congeladas, pica com a faca até virarem uma maçaroca e junta à meleca de manteiga. Junta os ingredientes secos, mistura como dá, e, meio cínica, distribui nas forminhas.

O Não-Mais-Pequeno-Guerreiro-Ítalo-Germânico-Talvez-Tamanho-Médio passa o dedo na massa e emite um som de contentamento.

Polvilha o restante das nozes por cima, mete no forno, acerta o timer, e começa a pensar num plano B. Talvez a padaria mesmo.

Enquanto isso, faz uma limonada e separa uvas para a lancheira. Bota roupa para lavar. Tira o pijama e veste o vestido novo, orgulho da muquiranice, comprado em promoção da promoção por menos do que costumava gastar numa camiseta há oito anos atrás. Finge um cabelo arrumado. Finge noite bem dormida com um pouco de corretivo.

Volta para descobrir que o Matador de Lagartas está no quintal sistematicamente arrancando das paredes e esmagando todos os casulos de borboleta que encontra. Bota a criança de castigo, porque o menino sabe que não é pra fazer isso.

Enquanto isso, olha o livro de receita e descobre que colocou os muffins na prateleira do meio a 180ºC, quando era na prateleira mais baixa, a 190ºC.

¬_¬

Alguém ainda se importa?

O timer toca. Os muffins cresceram e estão cheirosos. Abre um deles, e a textura está ótima. São 7h40. Hora de sair. Bota criança e mochila no carro e leva muffin na mão, fora da lancheira, para ir esfriando até chegar na escola.

Despacha criança para a sala de aula, de onde ele sai correndo, para ir à sala do Infantil I roubar os dinossauros. Porque no Maternal II não tem dinossauros, e isso é injusto.

Volta para casa, prepara um balde de café espresso e come um muffin. Se ficou bom dando tudo errado, deve ficar uma delícia fazendo direito. Lembra que acabou de mandar uma criança já elétrica para a escola carregando de lanche um muffin com pó de café espresso.

Mmmm... f*ck.

MUFFINS INTEGRAIS DE BANANA, NOZES E CAFÉ
(do sempre ótimo Super Natural Cooking, de Heidi Swanson)
Rendimento:12 muffins

Ingredientes:

  • 2 xic. de farinha de trigo integral (procure as mais fininhas)
  • 2 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 1 1/4 xic. nozes picadas, tostadas (não tostei, e ficou bom igual)
  • 1 colh. (sopa) pó para café espresso (como moí os grãos na hora, usei um pouquinho menos, pois tive medo de que ficasse forte)
  • 6 colh. (sopa) manteiga sem sal, em temperatura ambiente
  • 3/4 xic. açúcar cristal orgânico
  • 2 ovos grandes
  • 2 colh. (chá) extrato natural e baunilha
  • 1 xic. iogurte natural
  • 1 1/2 xic. bananas super maduras amassadas (cerca de 3 grandes)


Preparo:

  1. Pré-aqueça o forno a 190ºC. Posicione a grade na parte inferior do forno e forre uma forma de muffins de 12 cavidades com forminhas de papel.
  2. Combine a farinha, fermento, sal, 3/4 xic. das nozes e o pó de café numa tigela grande e misture com um batedor de arame. 
  3. Na tigela da batedeira, bata a manteiga até que fique fofa e clara. Junte o açúcar e continue batendo até que dissolva. 
  4. Junte os ovos, um a um, batendo bem a cada adição. 
  5. Junte a baunilha e o iogurte, então as bananas amassadas. 
  6. Desligue a batedeira e incorpore os ingredientes secos com uma espátula, apenas até que não se veja mais farinha. (Não misture demais, ou os muffins ficam massudos). 
  7. Distribua a massa entre as forminhas e polvilhe por cima as nozes restantes. (Pode encher até a borda, esses muffins não transbordam. Se a massa estiver muito mole, talvez tenha faltado farinha na hora de medir em volume. Acrescente mais uma ou duas colheres, até obter uma massa mole, mas que fique em montinhos.) Asse por 25 minutos, até que estejam dourados e um palito inserido no interior deles saia seco.  
  8. Deixe esfriar na forma por 5 minutos antes de retirar e deixar que esfriem completamente. 


Obs: pode acrescentar um pouco de chocolate picado se quiser, também. 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Bolo de limão de vó e de chuva

Pedacim pequeninim, num pires.

E prossegue esse calor infernal, esse calor que faz com que a manteiga recém-tirada da geladeira fique perfeita pra passar no pão em dois minutos, e absolutamente derretida em quinze. Esse calor que faz com que o pão de fermento natural dobre de tamanho em duas horas, e não em dezoito (o que impede também que ele crie aquela cor dourado-escura ao ser assado ou cresça decentemente no forno). Esse calor que é quente demais até para usar shorts. Só saia salva.

E enquanto todos nós derretemos por aqui, queimando os pés no azulejo do quintal e maldizendo cada pincelada de aquarela, cuja tinta seca antes que se possa manipulá-la no papel, ouço súplicas por chuva por todos os lados. Para refrescar, para encher os reservatórios.

Aí me pego pensando, que se fizermos um esforço coletivo, podemos, juntos, fazer chover. Basta seguir os passos simples a seguir, e é garantia de chuva refrescante no fim do dia:
  1. Saia de casa o dia todo e deixe as janelas abertas. De preferência, com algum objeto logo abaixo delas que não possa ser molhado, como seu livro favorito, um trabalho de faculdade ou seu laptop aberto. 
  2. Se não puder deixar seu livro favorito, seu trabalho de faculdade ou seu laptop em casa, saia com ele para dar uma volta bem longa à pé, em direção a algum lugar longe para um compromisso para o qual você já está atrasado, e lembre-se de não levar nenhuma espécie de proteção contra chuva para esse objeto que não pode molhar. Afinal, está um dia bonito e não vai chover. 
  3. Lave o carro.
  4. Regue as plantas. 
  5. Vá para o trabalho de moto, porque está um dia bonito e não vai chover. Melhor ainda se tiver uma reunião assim que chegar ou um evento importante depois do trabalho para o qual você vai direto, de moto.
  6. Faça escova no cabelo.
  7. Jogue fora aquela sua capa de chuva que você nunca usa mesmo, porque não chove faz tempo.
  8. Programe um piquenique a céu aberto. Programe, na verdade, qualquer evento a céu aberto. Melhor ainda se for importante, como um aniversário ou um casamento. Se puder ignorar os conselhos de amigos dizendo que é melhor ter uma tenda no evento, ótimo.
  9. Saia de casa com um sapato de camurça. [Funciona como ir de blusa branca em restaurante japonês: garantia de o sushi escapar do hashi e explodir shoyu na sua roupa. Ou dar sorvete de uva pra criança. Criança nunca derruba na blusa sorvete de limão. É sempre de uva.]
  10. Programe uma viagem para a praia, de preferência numa pousada cara, num lugar que não tenha mais nada para fazer a não ser virar croquete na areia, onde a TV só pegue rede Globo (e só às vezes), e onde não tenha wi-fi.
  11. Lave o quintal.
  12. E, mais importante de tudo, garantia de chuva na certa: peça à sua mãe para que diga a você que leve o guarda-chuva porque vai chover, e então deliberadamente a ignore, deixando o guarda-chuva em casa. Se isso não funcionar, nada mais vai.
Acredito que se todos resolvermos ajudar, conseguiremos fazer chover. Juntos chegaremos lá [tem aquele gesto de mãos acompanhando a frase com entusiasmo]. Vamos todos lavar os carros e combinar um piquenique de aniversário numa praia sem wi-fi, para o qual iremos de moto e sapatos de camurça, enquanto deixamos nossos guarda-chuvas em casa, dizendo que nossas mães não sabem de nada mesmo.

Combinado?

Enquanto isso, que tal abraçar o calor de vez e dar uma de louca desvairada e... acender o forno? Fazer um bolo enquanto espera a mandinga aí de cima dar certo? Daí, quando chover, podemos fazer bolinhos de chuva (que também é coisa de vó) e reclamar que o verão está uma droga porque não pára de chover. ;)

Esse bolo de limão é tão brasileiro que me surpreendeu estar em um livro americano. Ele é muito fácil de fazer, desde que você não invente de substituir o açúcar, como tentei na primeira vez. Usei açúcar comum ao invés do de confeiteiro e o que aconteceu foi que tive de bater a manteiga por três vezes o tempo até que o açúcar estivesse dissolvido, o que incorporou muito ar à massa e fez com que o bolo transbordasse da forma, não assasse direito e fosse direto para o lixo. Fiz novamente, desta vez com o açúcar de confeiteiro, e foi um sucesso absoluto. Tão simples que acho que dá pra fazer até com uma colher de pau ou um batedor de arame. E tão gostoso, azedinho de limão, além de derreter na boca de macio.

BOLO DE LIMÃO
(Do ótimo Bon Appétit Desserts)
Rendimento: 9 porções (16 se você cortar em quadradinhos comedidos como os da foto)

Ingredientes:

  • 3/4 xic. manteiga sem sal em temperatura ambiente (cerca de 150g)
  • 2 1/2 xic. açúcar de confeiteiro, dividido em 1 xic. e 1 1/2 xic.
  • 2 ovos grandes, em temperatura ambiente
  • 1/4 xic. leite
  • 1 1/3 xic. farinha de trigo
  • 1 3/4 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 4 limões tahiti grandes
  • 6 colh. (sopa) açúcar cristal


Preparo:

  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte com manteiga e enfarinhe uma forma quadrada de 20cm de lado e pelo menos 5cm de altura (traumatizada com minha forma de metal, na qual o bolo vazara, usei com sucesso uma de vidro, um tantinho mais alta e milímetros mais larga).
  2. Com uma batedeira elétrica (ou, suspeito, uma colher de pau), bata a manteiga e 1 1/2 xic. do açúcar de confeiteiro até que o açúcar esteja dissolvido (menos de 1 minuto). 
  3. Junte os ovos, um a um, misturando bem a cada adição. Junte o leite. Não tem problema se talhar. 
  4. Misture e junte a farinha, o fermento e o sal, misturando com cuidado apenas até que não se veja mais farinha. 
  5. Espalhe na forma de modo uniforme, alisando com a espátula, e leve ao forno por 30-35 minutos, até que esteja dourado e um palito inserido no centro saia limpo.
  6. Enquanto isso, rale as cascas dos limões até obter 1 colh. (sopa) de raspas. Esprema os limões até obter 6 colh. (sopa) de suco. 
  7. Numa tigelinha, junte as raspas, o suco e 6 colh. (sopa) de açúcar comum e mexa bem até que o açúcar dissolva. 
  8. Quando o bolo estiver pronto, retire do forno e coloque a forma sobre uma grade. Fure o bolo por toda a superfície com um palito. Reserve 2 1/2 colh. (sopa) do xarope de limão para uso posterior e derrame o restante sobre o bolo ainda quente, deixando que escorra para dentro dos furos. Deixe esfriar completamente na forma.
  9. Quando estiver frio, junte ao xarope de limão a 1 xícara restante de açúcar de confeiteiro e misture bem até obter um glacê. Espalhe sobre o bolo uniformemente. Deixe secar por 1 hora antes de cortar o bolo em quadradinhos e servir. Você também pode desenformar o bolo primeiro e passar o glacê depois, mas ele vai escorrer para os lados em alguns pontos. O bolo se mantém bem em pote fechado por alguns dias. 



Cozinhe isso também!

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