quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Pesto de couve para comer coisas verdes

Para quem torcia contra e estava ansiosamente esperando o momento em que meu devorador de tudo o que parece comida (e outras coisas que não parecem) entrasse na fase do não gosto e não quero, saiba que esse momento chegou. Na verdade há já algum tempo, bem uns dois meses, quando começou a recusar todos os seus pratos favoritos (menos macarrão com molho de tomate) e desenvolveu uma cisma com tudo o que é verde. Se ele visse qualquer pedacinho maior de salsinha grudada no seu arroz, lá iam seus dedinhos cuidadosos separar a erva ofensiva do seu jantar, jogando-a para fora do prato com muito alarde.

Mesmo o truque de picar muito bem coisas como espinafre não estava dando certo. Foram muitos almoços frustrantes, muita birra e muita comida jogada fora (ou para o cachorro, que adorou a fase sem apetite do pequeno).

Qual não foi minha surpresa então quando, depois de recusar arroz com tomate e ervilha (super kid friendly), ele raspou seu prato de crepe de beterraba com recheio de espinafre e mozzarella! Eu tinha certeza de que, no máximo, ele comeria os cubinhos de queijo e a massinha cor-de-rosa, e nunca imaginei que chegaria perto daquele emaranhado de enormes e inteiras folhas de espinafre refogado, aquele recheio verde-escuro e totalmente vegetal para o qual mesmo alguns adultos estragados olhariam torto.

Mas comeu. Com gosto.

Ele anda recusando o pãozinho com manteiga de manhã. Não quer saber de banana. Detesta batata cozida. Mas chamei-o para ligar o botão do processador enquanto fazia pesto de couve, o que sempre o deixa contente, e, de farra, dei-lhe a espátula cheia de pesto para lamber, como se fosse massa de bolo. Para meu espanto, ele lambeu, roubou a espátula de minha mão e ficou emitinho "hummmms" e "nham-nhams" enquanto devorava o resto. No macarrão, ele raspou o prato. E essa foi a primeira vez em que ele comeu couve, sempre recusada por sua aparência e textura.

É preciso lembrar de que se por um lado os pimpolhos decidem não gostar mais de algo que adoravam, nos deixando loucas, por outro, podem começar a gostar de algo que detestavam, o que é ótimo e me faz acreditar que realmente é bom continuar colocando no prato deles mesmo os itens que eles nunca comem. Um dia, quem sabe, eles decidem comer o espinafre e gostar de couve. Também me dei conta de que só porque ele não gosta da aparência ou da textura de algo, não quer dizer que não vá apreciar o sabor. E, por fim, que criança é movida à novidade (e quem não?), e ele provavelmente estava mais do que entediado pela miríade de fritattas e stir-fries que eu andava servido a ele. Tanto, que a quiche de milho e alho-poró foi devorada, assim como o soufflé de cenoura e cominho. E a manga e a uva no lugar da banana de sempre.

E eis que tenho de volta meu cavaleiro devorador, mas agora devorador de coisas verdes. ^_^

Ainda falta o alface, no entanto. :P

Este pesto de couve encontrei num blog lindo que sempre me dá vontade de correr para a cozinha: A Cozy Kitchen. Ele é fácil e delicioso; o gosto da couve não fica mascarado pelos outros ingredientes, mas tenho certeza de que se pode substituir o pistache, tão caro por essas bandas, por outra castanha mais em conta, sem grandes prejuízos.

FUSILLI COM PESTO DE COUVE-MANTEIGA
(daqui: http://acozykitchen.com/kale-pesto/)
Tempo de preparo: 20 minutos
Rendimento: cerca de 1 xícara (suficiente para 4-6 porções)

Ingredientes:
  • 250-300g couve manteiga, sem os talos, picada
  • 1 dente de alho
  • 1/3 xic. pistache sem sal, sem a casca e ligeiramente tostado na frigideira
  • suco de 1 limão pequeno (tahiti ou siciliano)
  • 1/3 xic. queijo parmesão ralado
  • 1 pitada de pimenta calabreza seca
  • 1/4 xic. azeite de oliva
  • sal
  • 1/2 xic. água do cozimento do macarrão
  • Fusilli (100g por pessoa)

Preparo:
  1. Cozinhe a couve em água salgada fervente por alguns minutos, até que esteja macia. Escorra, deixe esfriar um pouco e seque em panos de prato ou num secador de saladas, para retirar bem o excesso de água. 
  2. No processador (ou no pilão), bata o alho e o pistache até formar uma farofa fina. Junte o suco de limão e a couve, e processe novamente até que a couve esteja moída bem miudinha. Junte o queijo e a pimenta e processe mais uma vez. 
  3. Acrescente o azeite aos poucos, processando até formar uma pasta mais ou menos homogênea. Tempere com sal a gosto, se necessário.
  4. Cozinhe o macarrão (preferencialmente fusilli), que aderem melhor ao molho pesto). Reserve 1/2 xic. da água com o amido da massa e junte ao pesto, diluindo-o.  Escorra a massa e junte ao molho, misturando bem. Sirva imediatamente.


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Biscoito com doce de buriti pra mãe de dois

Você sabe que é mãe de duas crianças quando:
  • Passa 45 minutos brincando com o mais velho de fazer um trenzinho de fricção passar debaixo de duas cadeirinhas infantis verde-limão, enquanto equilibra um bebê de uma semana no ombro. 
  • Pega seu mais velho no colo, sente a blusa encharcar e percebe que não é ele fazendo xixi em você, mas você vazando leite nele.
  • Passa 6 horas ininterruptas com dois choros de timbres diferentes, às vezes intercalados, às vezes em uníssono.
  • Começa a confiar que seu mais velho não vai comer pedras se brincar cinco minutos sem supervisão no quintal, enquanto você dá banho na mais nova.
  • Fica mais flexível com horários e deixa o mais velho ir dormir às 8h da noite, só pra ficar junto da irmã mamando e não ficar com ciúmes. 
  • Se desapega da fantasia de dar de mamar tranquilamente na poltrona enquanto coloca a leitura em dia.
  • Depois de ficar de ombro direito torto de carregar o mais velho de 15kg no colo, fica com o ombro esquerdo torto de colocar a menor, de 4kg, para arrotar, desenvolvendo uma linda postura perfeita e igualmente torta dos dois lados. 
  • Têm a oportunidade de, quando os dois acordam chorando ao mesmo tempo, escolher quem pega no colo primeiro – ganha normalmente quem tem histórico de ser acalmado mais rápido ou quem tem potencial para criar mais problemas caso seja deixado chorando.
  • Calcula 1 hora de trajeto Aldeia – São Paulo, mais 30 minutos de trânsito em potencial, mas esquece dos 45 minutos que levam para trocar as fraldas dos dois, montar malinha com muda de roupas, brinquedo pra distrair, uma banana, garrafa com água, travesseirinho pro carro, agasalho pro caso de esfriar, última mamada de reforço antes de sair e colocar os dois pimpolhos nas cadeirinhas. Não sem antes sair do carro e voltar pra casa três outras vezes pra desligar o gás, fechar a porta da cozinha e pegar a carteira que ficou em cima da mesa. 
  • As duas crianças estão cochilando e você abdica do direito de dormir (enfim) em detrimento de atividades que colocam sua cabeça no lugar e a fazem feliz, como assar biscoitos. (Louca?)
  • Escreve posts de biscoito catando milho no teclado com uma mão só enquanto segura o bebê com a outra e tenta impedir que o mais velho aperte repetidamente o botão de liga-desliga do scanner.
Maternidade, essa coisa linda.

Estes thumbprint cookies ficaram deliciosamente saborosos, com uma textura de derreter na boca. Ao invés da geleia, tradicional, resolvi derreter com um nadinha de água o que sobrara do gostoso doce de buriti enviado pela Cynthia, leitora querida. A combinação ficou perfeita, algo que me lembrou doce-de-leite, mas azedinho, e precisei esconder o pote de biscoitos do Thomas, que cavocava o doce, lambendo os dedos, e comia o biscoito depois. Pode-se usar qualquer outro doce (goiabada?) derretido com um nadinha de água, só para dar consistência de pasta ou geleia firme, ou usar a geleia de sua preferência, ou lemon curd, por exemplo. A massa é bem molinha e derrete rápido nas mãos ao fazer as bolinhas, então sugiro que, assim que começar a ficar cheia de manteiga nas mãos, volte a massa para a geladeira. Pois os biscoitos que fiz primeiro, com a massa ainda gelada, ficaram com o formato mais bonito, enquanto as outras espalharam mais.

THUMBPRINT COOKIES COM DOCE DE BURITI
(do ótimo e fofo Miette, de Meg Ray)
Rendimento: a receita diz fazer 36 biscoitos de 5cm, mas consegui mais do que isso. 

Ingredientes:
  • 1 1/2 xic. farinha de trigo
  • 1.4 colh (chá) fermento químico em pó
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 3/4 xic. (170g) manteiga sem sal, em temperatura ambiente
  • 1/2 xic. açúcar cristal orgânico
  • 2 colh. (chá) extrato natural de baunilha
  • 1/4 colh. (chá) extrato natural de amêndoas (ou licor de amêndoas)
  • 1 ovo grande, orgânico
  • 1/2 xic. doce de buriti derretido com algumas colheres de água, com consistência de pasta, oua geleia sem sementes de sua preferência

Preparo:
  1. Peneire numa tigela a farinha, o fermento e o sal.
  2. Na tigela da batedeira, bata a manteiga, o açúcar e os extratos em velocidade média até que fique pálida e fofa, cerca de 5 minutos. Pare a batedeira e raspe as laterais com uma espátula. 
  3. Junte o ovo e bata em velocidade média até que esteja bem misturado.
  4. Junte os ingredientes secos e bata em velocidade baixa apenas até que não se veja mais farinha. Leve a massa à geladeira, embalada em filme plástico, por no mínimo 1 hora e no máximo 2 dias. 
  5. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Forre duas assadeiras grandes com papel-manteiga ou silpats. Use uma colher de chá para retirar bocados de massa e forme bolinhas do tamanho de uma bola de gude grande. É melhor que as bolas fiquem mais altas que largas. Coloque-as nas assadeiras, com 5cm de espaço entre elas. (Se a massa estiver mole, volte-a à geladeira antes de assar.)
  6. Asse por 12-14 minutos, ou até que estejam ligeiramente douradas.
  7. Imediatamente use a parte de trás do cabo de uma colher de pau, ou qualquer outro instrumento, para pressionar buracos sobre os biscoitos ainda quentes, para acomodar o recheio. Imediatamente recheie com 1/4 colh. (chá) em cada biscoito.
  8. Transfira para uma grade para que terminem de esfriar por pelo menos 30 minutos. Uma vez frios, podem ser guardados em pote fechado por até 2 semanas.


Cozinhe isso também!

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