sábado, 10 de novembro de 2012

Torta de beterraba com queijo, porque é o que temos

Quando estava grávida de sete meses do Thomas, nem parecia, a barriguinha era discreta e charmosa. Dizem que na segunda gravidez a barriga aparece mais cedo. De fato. Talvez seja porque sua musculatura já está parecendo uma camiseta velha, mas a barriga aparece e cresce horrores no segundo filho. E aqui está ela, redonda e enorme, pesada, pimpolha lá dentro enfiando os pés enormes (filho meu e do meu marido só pode ter pé de lancha) nas minhas costelas e dando mil cambalhotas, de um jeito que me faz, vira-e-mexe, ficar fazendo continha nos dedos, desconfiada de que o médico e eu tenhamos errado a data e eu esteja mais grávida do que imaginamos.

O que quer dizer que perdi minhas roupas muito antes do que esperava. Então lá vou eu todos os dias passear o cachorro com a mesma legging preta surrada e as mesmas três camisetas largas e longas o bastante para não me deixar de umbigo de fora enquanto uso calças justas, o que seria um visual red neck demais até mesmo para alguém que não se importa muito. Junte a isso meu cabelo metade natural, metade água-de-salsicha (depois que a tinta roxa saiu toda, e agora que não posso pintar de novo) e uma lata de cerveja sem álcool na mão, e você veria pelas ruas do condomínio, empurrando carrinho de bebê descalço e arrastando cachorro pela coleira, a esposa prenha de um traficante de metanfetamina.

Não dá. Eu ainda me importo um pouco. Nada de umbigo de fora e cerveja sem álcool.

Mas, contudo, porém, entretanto... simplesmente não tenho dentro de mim aquela mulher que compra roupas de maternidade (nada contra). Legging surrada? Três camisetas, duas das quais têm manchas pequenas de água engordurada da louça que insito em lavar sem avental? É o que temos. Para passear o cachorro está bom.

Enquanto isso, claro, anseio pelo momento mágico em que poderei me comprar meia dúzia de roupas novas, porque eu estendi ao máximo o uso do meu armário. Esse é um ponto negativo (ou positivo, depende do ângulo), de ter um guarda-roupa enxuto. Se você usa suas poucas roupas com frequência, elas estragam mais rápido. Continuo fantasiando com vestidos de cintura marcada. Para usar com coturnos, claro, o que deixa minha irmã inconformada. ;)

Vamos ver. A pequena justiceira aparentemente é tão ogra quanto o irmão – e pelo jeito que mexe, não será a menina comportada e introspectiva que eu esperava – e me fez perder na segunda gravidez o peso que ainda restava da primeira. Agora só preciso ficar esperta e não deixar a fome da amamentação se aliar ao tédio de ficar confinada em casa e descontar nos biscoitos. Aliás, desta vez, nada de bolos e biscoitos no meu freezer: eu não caio nessa pegadinha duas vezes.

Vestidos de cintura marcada. Ou melhor, cintura: essa é a meta. ;)

Enquanto isso, vou improvisando com a roupa que tenho, pois bem sei que nada adianta sair comprando. Perdi todos os meus sapatos bonitos depois da primeira gravidez, pois meus pés alargaram, então sei que até ter tudo estabilizado de novo, de volta ao "normal" melhor não gastar dinheiro.

E improvisando sigo na cozinha. Isso de estar mais barriguda do que esperava aos 7 meses me dá uma preguiça violenta de ir até ao supermercado para um mero ingrediente faltante. Aliado ao fato de que o mercado "chique" daqui parece ser depósito de restos das outras filiais, e todos os queijos estão sempre prestes a vencer, tornando a compra de perecíveis uma roleta-russa deprimente, o lema na cozinha tem sido "é o que temos".

Naquela manhã, querendo uma torta de beterrabas, não tinha nem os ingredientes para a torta da Heloísa Bacellar, e nem para a de Martha Stewart. Então preparei minha massa de torta como sempre faço (usando o processador, que, considerando meus dedinhos quentes, sempre produzem uma massa mais flocosa, pois a manteiga permanece gelada), mas usando farinha integral orgânica fina no lugar. A massa assim, inteira com farinha integral, não fica tão suave quanto feita com farinha branca. Mas ela tem uma característica interessante: algo de crocante, "arenosa" num bom sentido, como biscoitos "sablée" franceses. As proporções da massa foram as mesmas que sempre uso para um quiche redondo de 26cm: 210g de farinha, 140g de manteiga gelada, 70g de água gelada, 1/2 colh. (chá) sal. Mas desta vez, abri para encaixá-la numa assadeira pequena, de 20x30cm. Forrei com papel alumínio e feijões secos e levei ao forno a 180ºC por 10 minutos, até que estivesse seca, retirei o papel e os feijões e assei por mais 15 minutos.

Nas minhas tentativas com os queijos, comprei um pacotinho de ricotta de um produtor menorzinho, local, mas ela tinha gosto de queijo branco e textura ressecada. (Para quem nunca provou ricotta italiana, ela não tem gosto de queijo branco). Para melhorar sua textura, misturei 1 1/2 xic. dessa ricotta com algumas colheres de creme de leite, até ter uma textura mais parecida com uma ricotta rasoavelmente cremosa. Temperei com sal, pimenta-do-reino moída na hora, folhas frescas de tomilho, um dente de alho muito bem picado e um fio de azeite. Espalhei essa mistura sobre a massa pré-assada. Por cima, distribuí fatias de beterrabas que eu havia assado previamente (inteiras, espetadas com a ponta da faca, temperadas com sal, pimenta e azeite, e embrulhadas em papel alumínio; quando macias, deixei que esfriassem, descasquei com os dedos e fatiei fino). Distribui por cima pedaços de queijo Roquefort que ganhara de minha mãe, temperei mais uma vez com pimenta e azeite e levei ao forno por mais uns 20 minutos, até que o queijo estivesse derretido e as pontas das beterrabas ligeriamente chamuscadas.

Ficou deliciosa e muito leve. Thomas, ao contrário das minhas expectativas, devorou a massa como se fossem biscoitos e todas as fatias da beterraba com Roquefort, mas ignorou completamente a ricotta.

É o que temos, e ficou danado de bom.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Biscoitos de chocolate para depois de um dia de trabalho

Semana passada fui totalmente abduzida pelo trabalho. Um trabalho bom, daqueles que faz você suspirar aliviada por ter tomado a decisão certa a respeito de sua carreira – no meu caso, largar design gráfico e me concentrar em ilustração e pintura. O resultado do trabalho, três aquarelas imensas para um evento corporativo, podem ser vistas AQUI. Enquanto isso, lembro a quem quiser [pode fazer jabá no próprio blog? Acho que sim, certo? ;)] que reproduções e originais podem ser compradas na minha loja AQUI e que pinturas podem ser encomendadas a qualquer momento. :)

Em meio à correria, tendo inclusive recorrido a minha mãe para cuidar do pimpolho enquanto eu pintava loucamente, fiquei com uma vontade enlouquecida de comer biscoitos de chocolate. Desejo de grávida ou simples gordice, a verdade é que eu precisava de algo super fácil e rápido. Recorri ao livro de biscoitos de Alice Medrich, Chewy Gooey Crispy Crunchy, e, enquanto Thomas jantava – maravilha de criança que come sozinha, deixa as mãos da mamãe livres – coloquei todos os ingredientes no processador, enrolei a massa em papel alumínio e levei ao freezer. No tempo que demorou para dar um banho no pequeno (e tirar a tinta azul do meu tornozelo, que ainda não sei como foi parar lá)  e colocá-lo para dormir, a massa firmou. E assim que o moleque danado cessou suas incorridas de chupeta e travesseiro em mãos até a sala e resolveu dormir de vez, os biscoitos foram para o forno. Em pouco tempo eles esfriavam na bancada da cozinha, e quando me sentei para ver um episódio de No Reservations em Paris, eles já estavam crocantes e deliciosos em minha mão.

Estes biscoitos são intensos de cacau, e apenas doces o suficiente. Crocantes, leves, do tipo perigoso que você continua comendo se o pote estiver aberto na sua frente. Ótimos para rechear com algum creme ou ganache, perfeitos para esmigalhar em cima do sorvete e acho que devem ser uma delícia com uma cerveja bem escura.

No dia seguinte, Allex apanhou um dos vidros de biscoito para levar ao trabalho, e no meio do dia recebo o seguinte email: "Por favor, faça esse cookie pelo resto da sua vida".

Acho que foi um sucesso.

BISCOITOS DE CHOCOLATE DE PROCESSADOR
(do infalível Chewy Gooey Crispy Crunchy, de Alice Medrich)
Tempo de preparo: 10 minutos + 15 minutos de forno (1 hora de freezer ou geladeira)
Rendimento: 50-60 biscoitos

Ingredientes:
  • 1 1/2 xic. farinha de trigo branca orgânica
  • 3/4 xic. cacau em pó não adoçado (usei Callebaut)
  • 1 xic. + 2 colh. (sopa) açúcar cristal orgânico
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 1/4 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 14 colh. (sopa) manteiga sem sal, ligeiramente amolecida (cerca de 210g)
  • 3 colh. (sopa) leite integral
  • 1 colh.(chá) extrato natural de baunilha

Preparo:
  1. Coloque a farinha, cacau, açúcar, sal e fermento no processador de alimentos e pulse algumas vezes para misturar bem. Junte a manteiga cortada em pedaços menores e pulse mais algumas vezes.
  2. Coloque o leite e a baunilha num copo. Com o processador ligado, derrame o leite pelo tubo devagar, e continue processando até que a mistura se agrupe junto à lâmina ou às laterais do pote. Sove uma ou duas vezes a massa, apenas para garantir que está tudo bem incorporado, e então forme um cilindro de cerca de 35cm. Embrulhe em papel alumínio ou papel-manteiga e leve à geladeira por no mínimo 1 hora e no máximo 3 dias. (Como fazia 30ºC na minha cozinha àquela noite, levei ao freezer.)
  3. Pré-aqueça o forno a 180ºC com as grades nos terços inferior e superior e forre duas assadeiras com papel-manteiga ou silpats. Corte fatias de 0,5cm do cilindro e distribua nas assadeiras, deixando uns 3cm entre os biscoitos. Leve ao forno por 12-15 minutos, ou até que tenham inflado um pouco e desinflado novamente e pareçam secos.
  4. Retire do forno, e transfira os silpats ou papéis para uma grade para que esfriem. Se depois de frios, não estiverem crocantes, volte ao forno por mais um minutinho ou dois. Depois de frios, podem ser guardados em potes fechados por até 2 semanas ou até 2 meses no freezer.

Cozinhe isso também!

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