sexta-feira, 7 de maio de 2010

Maçãs fritas, fruta com cara de junk food, ou fritura que não é junk coisa nenhuma

Estou apaixonada pelo livro I Know How to Cook, de Ginette Mathiot e se você encontrá-lo dando sopa por aí, recomendo fortemente que o compre. O livro é para os franceses o que o Joy of Cooking é para os americanos e o que Dona Benta é para os brasileiros. É um manual imenso (bota imenso nisso, que o bicho tem quase 1000 páginas) sobre meu tipo favorito de cozinha francesa (ou de qualquer lugar): a caseira, de todo dia. Até agora, tudo o que preparei dele ficou delicioso. E essas maçãs fritas são apenas um exemplo. É preciso deixar a massinha pronta 2 horas antes de fritá-las, mas não há problema: eu as fiz num almoço de domingo, e antes de começar a preparar o almoço em si, fiz a massinha e coloquei na geladeira. Após o almoço, foi só preparar as maçãs e comê-las quentinhas junto com café. :)

Para preparar essas maçãs que viram um purezinho dentro da casquinha dourada e crocante, polvilhada de açúcar, você precisa apenas misturar 1/2 colh. (chá) fermento ativo seco instantâneo a 1 colh. (sopa) água morna, até formar uma pasta. Junta a essa pasta 2 xic. de farinha, 1 colh. (sopa) de óleo e misture com um batedor de arame, juntando um pouco de água morna até que forme uma massa leve como de crêpes. Bata 1 clara de ovo com um garfo por 1 minuto e misture à massa. Leve à geladeira por 2 horas. Passado esse tempo, aqueça óleo suficiente para fritar a 180ºC ou até que um cubinho de pão doure em 30 segundos. Descasque e retire o miolo de 6 maçãs de tamanho médio e corte-as em anéis de cerca de 1cm de espessura. Mergulhe anel por anel na massa e frite por alguns minutos até que estejam dourados e macios. Escorra em papel-toalha e polvilhe com açúcar de confeiteiro. Coma imediatamente, mas cuidado com o recheio quente! Serve 6 pessoas generosamente.

Para quem tiver curiosidade, usei maçãs Gala nacionais, que estão uma delícia este mês.

P.S.:Use uma panela bem funda ou aquela telinha para evitar respingos de óleo, porque quando a maçã de fato começa a liberar água, o óleo borbulha que nem louco e voa respingo no fogão inteiro... :P

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Feijões brancos com folhas de nabo feitos num horário mais que normal

Uma das coisas que mais me perguntam é o que mudaria em minha rotina de cozinha se eu tivesse um emprego normal, como a maioria, em escritório, das 9h às 18h, com trânsito e tudo a que tenho direito.

Bem... minha semana tem sido bem assim. Correr para o computador antes das 9h, porque o cliente tem telefonado logo cedo, dez minutos de hora de almoço (é, dez minutos, não 1 hora), e tanto tempo trabalhando direto, que me esqueço de fazer os lanches da tarde ou mesmo levantar para ir ao banheiro. Fecho os arquivos às 19h30, mas quase todos os dias alguns clientes têm me telefonado para resolver pepinos depois desse horário. É. Trabalhar em casa não é esse mamão com açúcar que todo mundo pensa. A única coisa que tira minha busanfa da cadeira é o cachorro, que vem choramingar passeios em horários pré-determinados. Quando levanto para pegar a coleira, minhas costas estalam em diversos pontos, emitindo sons e ondas de dor preocupantes.

Nesse ritmo, além de requentar o restodontê para o almoço, tenho ligado o fogão apenas depois das 20h. Como muitos seres humanos. E num desses dias, exausta e de olhos ardendo por ter passado as últimas dez horas focando detalhezinhos de ilustrações na tela brilhante, fiz feijões brancos com folhas de nabo, brocolis sauce mornay e de quebra, mais à noite, um pudinzinho.

Como, diabos?

Na noite anterior, antes de dormir, deixara o feijão de molho. Depois de quase 24 horas submerso em água, o feijão cozinha muito rápido, mesmo sem panela de pressão. Principalmente se não estiver velho. Escorri os feijões, coloquei-os na panela com o restante dos ingredientes (como o salsão, que tenho sempre congelado), a água e coloquei no fogo. Durante os 45 minutos que o feijão demorou para ficar pronto, quebrei o brócolis japonês (que eu adoro) em pedaços menores e cozinhei em água fervente por alguns minutinhos. Escorri, passei sob a água fria para parar o cozimento e acomodei em uma travessinha refratária. Chequei o feijão. Tudo indo bem.

Vamos ao molho Mornay, que nada mais é que Béchamel com queijo. Preparei o molho béchamel, assim, no olho, como sempre faço, juntei um belo punhado de queijo parmesão ralado na hora, rapidinho, e despejei o molho sobre o brócolis cozido. Chequei o feijão. Liguei o forno. Piquei grosseiramente as folhas de nabo que já haviam sido devidamente separadas dos nabos, lavadas, secas e acondicionadas num pote fechado no dia em que haviam sido compradas (organização compensa, viu?). Piquei o alho. Chequei o feijão. Pronto. Refoguei as folhas no alho, juntei o feijão e deixei terminando de cozinhar. Enquanto isso, a travessa de brócolis foi para o forno. Nesses últimos cinco minutos, lavei toda a louça que usara, facas, tábua, deixei tudo em ordem apenas para servir a comida.

Tudo pronto, desliguei o fogo e o forno, tampei a panela, pus a coleira no cachorro, desci-o para a última ida ao banheiro do dia, voltei, tomei um banho, vesti o pijama e apanhei meu prato para me servir de comida quentinha. Exatamente uma hora e dez minutos depois.

O marido fora para a pós e só havia reprises na TV. Querendo algo docinho, voltei à cozinha e fiz um pudinzinho rápido. Para que esfriasse logo, coloquei a tigela de pudim quente sobre uma tigela de água e gelo e mexi com um fouet por alguns minutos. Vinte minutos de geladeira depois, já estavam suficientemente firmes para serem devorados. Durante esse tempo, brinquei com o Gnocchi, que gosta de apanhar um brinquedo e sair correndo por nosso minúsculo apartamento, enquanto finjo que tento pegá-lo.

Fui à geladeira, apanhei meu pudinzinho reconfortante, e voltei para o sofá, terminando de aproveitar minha noite, com o cachorro deitado ao meu lado.

Poderia ter pedido comida chinesa, ou esquentado uma lasanha congelada em dez minutos ao invés de gastar 1 hora e meia cozinhando? Poderia. Mas o que eu faria com essa hora e meia? Ficaria na frente da TV vendo reprises? Jura? Neh. Nos dias em que o marido não tem pós, prefiro ficar com ele na cozinha, conversando enquanto preparo o jantar, coisa que não aconteceria se eu corresse para a TV e ele para o computador. Estava exausta depois de trabalhar o dia todo? Estava. Mas meu corpo pedia pelo conforto que só a comida caseira provê. Com um pouco de planejamento e organização, o resultado final compensa, e garanto que um prato de feijões brancos fumegantes, adocicados, com folhas de nabo, picantes e saborosas, perfumadas de alho e alecrim, e uma bela porção de brócolis al dente, cobertos por um molho cremoso de queijo, dá de dez a zero em qualquer lasanha congelada. :)

[E de quebra, sobrou feijão para o resto da semana, então nos dias seguintes só preciso pensar num acompanhementozinho rápido! ;) ]

FEIJÕES BRANCOS COM FOLHAS DE NABO REFOGADAS
(do livro Chez Panisse Vegetables, de Alice Waters)
Tempo de preparo: 1h
Rendimento: 6-8 porções


Ingredientes:
  • 2 xic. feijões brancos, deixados de molho por no mínimo 12 horas
  • Bouquet garni: um pouquinho de salsão, tomilho, salsinha e louro
  • 1 cebola pequena, descascada
  • 1 cenoura pequena, descascada (eu cortei em pedaços, mas não precisa)
  • 6 xic. água ou caldo
  • sal e pimenta-do-reino
  • 1 maço grande e bonito de folhas de nabo (compre os nabos na feira e não deixe o feirante tirar as folhas!)
  • 6 dentes de alho
  • 5-6 colh. (sopa) azeite
  • 1 colh. (sopa) alecrim picado
  • azeite para servir

Preparo:

  1. Coloque os feijões escorridos, bouquet grani, cebola, cenoura e água numa panela e leve à fervura. Abaixe o fogo e cozinhe semi-tampado por 45 minutos a 2 horas, dependendo da idade do feijão. Retire com uma escumadeira qualquer espuma que apareça na superfície. Tempere com sal e pimenta.
  2. Enquanto isso, pique grosseiramente as folhas e pique fininho o alho. Escorra os feijões sobre uma tigela grande, para guardar o caldo. Retire o bouquet garni, a cebola e a cenoura e descarte. Refogue o alho e o alecrim no azeite por 1 minuto.
  3. Junte os feijões escorridos com 1 xic. da água do cozimento e deixe em fervura branda por 5 minutos. Junte as folhas de nabo e cozinhe, sem tampa, até que as folhas estejam macias e tenham perdido sua textura áspera. Junte mais água dos feijões, se necessário, pois a mistura deve ter quase consistência de ensopado. Tempere a gosto. Sirva com um fio de azeite sobre a porção no prato. (Você pode reaquecer as sobras, amassando parte dos feijões com um garfo e servindo como molho de macarrão – penne, por exemplo – com queijo.)

Cozinhe isso também!

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