quarta-feira, 5 de maio de 2010

Feijões brancos com folhas de nabo feitos num horário mais que normal

Uma das coisas que mais me perguntam é o que mudaria em minha rotina de cozinha se eu tivesse um emprego normal, como a maioria, em escritório, das 9h às 18h, com trânsito e tudo a que tenho direito.

Bem... minha semana tem sido bem assim. Correr para o computador antes das 9h, porque o cliente tem telefonado logo cedo, dez minutos de hora de almoço (é, dez minutos, não 1 hora), e tanto tempo trabalhando direto, que me esqueço de fazer os lanches da tarde ou mesmo levantar para ir ao banheiro. Fecho os arquivos às 19h30, mas quase todos os dias alguns clientes têm me telefonado para resolver pepinos depois desse horário. É. Trabalhar em casa não é esse mamão com açúcar que todo mundo pensa. A única coisa que tira minha busanfa da cadeira é o cachorro, que vem choramingar passeios em horários pré-determinados. Quando levanto para pegar a coleira, minhas costas estalam em diversos pontos, emitindo sons e ondas de dor preocupantes.

Nesse ritmo, além de requentar o restodontê para o almoço, tenho ligado o fogão apenas depois das 20h. Como muitos seres humanos. E num desses dias, exausta e de olhos ardendo por ter passado as últimas dez horas focando detalhezinhos de ilustrações na tela brilhante, fiz feijões brancos com folhas de nabo, brocolis sauce mornay e de quebra, mais à noite, um pudinzinho.

Como, diabos?

Na noite anterior, antes de dormir, deixara o feijão de molho. Depois de quase 24 horas submerso em água, o feijão cozinha muito rápido, mesmo sem panela de pressão. Principalmente se não estiver velho. Escorri os feijões, coloquei-os na panela com o restante dos ingredientes (como o salsão, que tenho sempre congelado), a água e coloquei no fogo. Durante os 45 minutos que o feijão demorou para ficar pronto, quebrei o brócolis japonês (que eu adoro) em pedaços menores e cozinhei em água fervente por alguns minutinhos. Escorri, passei sob a água fria para parar o cozimento e acomodei em uma travessinha refratária. Chequei o feijão. Tudo indo bem.

Vamos ao molho Mornay, que nada mais é que Béchamel com queijo. Preparei o molho béchamel, assim, no olho, como sempre faço, juntei um belo punhado de queijo parmesão ralado na hora, rapidinho, e despejei o molho sobre o brócolis cozido. Chequei o feijão. Liguei o forno. Piquei grosseiramente as folhas de nabo que já haviam sido devidamente separadas dos nabos, lavadas, secas e acondicionadas num pote fechado no dia em que haviam sido compradas (organização compensa, viu?). Piquei o alho. Chequei o feijão. Pronto. Refoguei as folhas no alho, juntei o feijão e deixei terminando de cozinhar. Enquanto isso, a travessa de brócolis foi para o forno. Nesses últimos cinco minutos, lavei toda a louça que usara, facas, tábua, deixei tudo em ordem apenas para servir a comida.

Tudo pronto, desliguei o fogo e o forno, tampei a panela, pus a coleira no cachorro, desci-o para a última ida ao banheiro do dia, voltei, tomei um banho, vesti o pijama e apanhei meu prato para me servir de comida quentinha. Exatamente uma hora e dez minutos depois.

O marido fora para a pós e só havia reprises na TV. Querendo algo docinho, voltei à cozinha e fiz um pudinzinho rápido. Para que esfriasse logo, coloquei a tigela de pudim quente sobre uma tigela de água e gelo e mexi com um fouet por alguns minutos. Vinte minutos de geladeira depois, já estavam suficientemente firmes para serem devorados. Durante esse tempo, brinquei com o Gnocchi, que gosta de apanhar um brinquedo e sair correndo por nosso minúsculo apartamento, enquanto finjo que tento pegá-lo.

Fui à geladeira, apanhei meu pudinzinho reconfortante, e voltei para o sofá, terminando de aproveitar minha noite, com o cachorro deitado ao meu lado.

Poderia ter pedido comida chinesa, ou esquentado uma lasanha congelada em dez minutos ao invés de gastar 1 hora e meia cozinhando? Poderia. Mas o que eu faria com essa hora e meia? Ficaria na frente da TV vendo reprises? Jura? Neh. Nos dias em que o marido não tem pós, prefiro ficar com ele na cozinha, conversando enquanto preparo o jantar, coisa que não aconteceria se eu corresse para a TV e ele para o computador. Estava exausta depois de trabalhar o dia todo? Estava. Mas meu corpo pedia pelo conforto que só a comida caseira provê. Com um pouco de planejamento e organização, o resultado final compensa, e garanto que um prato de feijões brancos fumegantes, adocicados, com folhas de nabo, picantes e saborosas, perfumadas de alho e alecrim, e uma bela porção de brócolis al dente, cobertos por um molho cremoso de queijo, dá de dez a zero em qualquer lasanha congelada. :)

[E de quebra, sobrou feijão para o resto da semana, então nos dias seguintes só preciso pensar num acompanhementozinho rápido! ;) ]

FEIJÕES BRANCOS COM FOLHAS DE NABO REFOGADAS
(do livro Chez Panisse Vegetables, de Alice Waters)
Tempo de preparo: 1h
Rendimento: 6-8 porções


Ingredientes:
  • 2 xic. feijões brancos, deixados de molho por no mínimo 12 horas
  • Bouquet garni: um pouquinho de salsão, tomilho, salsinha e louro
  • 1 cebola pequena, descascada
  • 1 cenoura pequena, descascada (eu cortei em pedaços, mas não precisa)
  • 6 xic. água ou caldo
  • sal e pimenta-do-reino
  • 1 maço grande e bonito de folhas de nabo (compre os nabos na feira e não deixe o feirante tirar as folhas!)
  • 6 dentes de alho
  • 5-6 colh. (sopa) azeite
  • 1 colh. (sopa) alecrim picado
  • azeite para servir

Preparo:

  1. Coloque os feijões escorridos, bouquet grani, cebola, cenoura e água numa panela e leve à fervura. Abaixe o fogo e cozinhe semi-tampado por 45 minutos a 2 horas, dependendo da idade do feijão. Retire com uma escumadeira qualquer espuma que apareça na superfície. Tempere com sal e pimenta.
  2. Enquanto isso, pique grosseiramente as folhas e pique fininho o alho. Escorra os feijões sobre uma tigela grande, para guardar o caldo. Retire o bouquet garni, a cebola e a cenoura e descarte. Refogue o alho e o alecrim no azeite por 1 minuto.
  3. Junte os feijões escorridos com 1 xic. da água do cozimento e deixe em fervura branda por 5 minutos. Junte as folhas de nabo e cozinhe, sem tampa, até que as folhas estejam macias e tenham perdido sua textura áspera. Junte mais água dos feijões, se necessário, pois a mistura deve ter quase consistência de ensopado. Tempere a gosto. Sirva com um fio de azeite sobre a porção no prato. (Você pode reaquecer as sobras, amassando parte dos feijões com um garfo e servindo como molho de macarrão – penne, por exemplo – com queijo.)

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Potinhos de cheesecake de chocolate

Quando você coloca um lindo prato com um enorme e redondo cheesecake na frente de seres humanos normais, a reação é sempre mais ou menos a mesma... Os olhos crescem, normalmente maiores que a barriga. Vem aquela vontade imensa de comer o cheesecake inteiro, você saliva de antecipação, e corta um pedaço digno de um morto de fome, imenso, pesado na espátula de servir. A fatia-monstro tomba no prato com um ruído surdo e ligeiramente úmido, e lá vai você para a primeira garfada. Hmmmm... tão bom. Segunda garfada. Hmmm... gostoso... Terceira garfada. Doce, né? Quarta garfada. Você sente aquela tristeza se instalando. Percebe que o queijo vem por último na refeição para dar saciedade, e quando misturado a ovos, açúcar, creme de leite bem gordo e chocolate, essa saciedade vem bem antes do que você imaginava. Mas lá está a fatia-monstro, ainda sequer na metade, e você é educado demais para voltar um pedaço para a travessa do anfitrião. Bate um desespero empapuçado, e você está certo de que o cafezinho que virá depois o fará, enfim, explodir.

Por isso, achei fantástica a oportunidade de produzir cheesecakes individuais. Assim, pequerruchos. O potinho da foto é de exatos 150ml, transbordando. Assim, sobre um pires, servido com colherinha de café, parece fruto de muquiranice de anfitrião. Mas é a porção ideal de cheesecake para um ser humano que não queira ser empurrado rolando para fora da mesa. Por ser pequeno, comporta até mesmo uma colherada de chantilly feito na hora e algumas raspinhas de chocolate. E como a receita faz oito unidades, quem tiver síndrome de avestruz pode sempre comer mais um.

Esses pequenos cheesecakes são muito fáceis, e não requerem ingredientes em temperatura ambiente, pois levam mascarpone no lugar de cream cheese. Também são rápidos de serem feitos, pois as porções pequenas cozinham e esfriam rápido, podendo ir logo para a geladeira, onde podem esperar pelo dia da comilança por até 2 dias. Foram a porção perfeita de algo doce e reconfortante depois de um jantar substancial.

POTINHOS DE CHEESECAKES DE CHOCOLATE
(do livro Sticky, Chewy, Messy, Gooey, de Jill O' Connor)
Tempo de preparo: 40-50 minutos + 4 horas de geladeira
Rendimento: 8 porções


Ingredientes:
  • 1 xic. creme de leite fresco
  • 115g chocolate meio amargo (54-60%), picado
  • 225g queijo tipo mascarpone
  • 1/4 xic. açúcar cristal orgânico
  • 3 ovos grandes, orgânicos
  • 1 colh. (chá) de essência de baunilha
  • 1 pitada de sal
  • 1 colh. (sopa) rum escuro, conhaque ou Grand Marnier
  • Chantilly feito na hora para guarnecer
  • Raspas de chocolate para decorar

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 160ºC. Numa panela, aqueça o creme até quase a fervura. Remova do fogo e misture o chocolate picado, mexendo com uma colher de pau até que fique homogêneo. Deixe esfriar até temperatura ambiente.
  2. Numa tigela grande, bata com um fouet (batedor de arame) o queijo mascarpone e o açúcar, até ficar homogêneo. Adicione os ovos, um por um, misturando bem a cada adição. Adicione a baunilha, o sal e o rum e bata até ficar homogêneo.
  3. Despeje o chocolate sobre o queijo e misture bem.
  4. Posicione 8 potinhos refratários com capacidade para 150ml em uma assadeira de uns 23x33cm. Divida a mistura entre os potinhos, até quase a boca (deixe 1mm, para que o papel alumínio depois não grude na superfície dos cheesecakes). Coloque a assadeira no forno e, cuidadosamente, despeje água fervente na assadeira, suficiente para cobrir metade da altura dos potinhos. Cubra com papel alumínio, feche o forno e asse por 30-40 minutos. Aos 30 minutos, dê uma olhadinha: a consistência deve ser cremosa, mas não líquida, balançando um pouco como gelatina. Se estiver pronto, retire cuidadosamente os potinhos da água e os coloque em uma grade para esfriarem até temperatura ambiente. Os cheesecakes firmam depois de esfriarem.
  5. Cubra os potes com filme plástico e leve à geladeira por no mínimo 4 horas e até 2 dias. Na hora de servir, cubra com chantilly (bata 1 xic. de creme de leite fresco, 1 colh. (sopa) açúcar e algumas gotas de essência de baunilha até formar picos suaves) e raspas de chocolate.

Cozinhe isso também!

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