terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Biscoitos na árvore de Natal, ou um voto de confiança para meu cachorro

É engraçado como as coisas funcionam... Quando nos mudamos da casa de nossos pais, um surto de independência nos fez querer distância de qualquer coisa que nos lembrasse família e tradição. Mas conforme os anos vão passando, a nostalgia vai crescendo, e a vontade de retomar cada costume de nossas infâncias nos domina. Essa é nossa primeira árvore de Natal. Nos anos anteriores, a falta de espaço ou a falta de vontade fez com que nos conformássemos com um alecrim de Natal: minha mudinha de alecrim (a coisa mais parecida com um pinheiro em casa) com uma única bolinha vermelha pendurada, que parecia mais um nariz de palhaço do que um enfeite natalino. Este ano, após uma arrumação da mobília da sala, finalmente conseguimos um canto para a árvore. E lá fui eu, toda empolgada.

Ao invés de gastar comprando decoração de Natal, no entando, nos limitamos às lampadinhas, e decidi completar a árvore, que até então tinha apenas três ou quatro enfeites acumulados nos anos anteriores, com biscoitos. A ideia me pareceu genial: além de ser uma tradição gostosa, não preciso reservar espaço no meu minúsculo apartamento para guardar um monte de bolinhas vermelhas durante o ano todo.

Usei uma receita de biscoitos da Nigella específica para decoração de árvore. A receita, como quase tudo o que ela faz, era para ser feita no processador, que o Sr. Noel ainda não trouxe. Lá fui eu adaptar para a batedeira, e funcionou muito bem. Aliás, excelente receita, pois mesmo dando errado, ela dá certo. Era para misturar a manteiga e o açúcar juntos, e depois acrescentar o ovo batido com o mel, mas não tudo, apenas o suficiente para dar liga. Esqueci o açúcar, joguei todo o ovo com mel e tive que colocar o açúcar depois e acrescentar mais farinha para dar liga, pois a massa ficara molenga. Mesmo assim a massa abriu bem, manteve a forma e os biscoitos assaram lindamente, além de ficarem gostosos. Tive de ficar vigiando enquanto esfriavam para que meu marido não comesse toda a decoração da árvore.

"Ué, mas não é para comer?"
"Claro que não! Esses vão para a árvore!"
"Ah, então não são comestíveis?"
"São, você PODE comê-los, mas você NÃO VAI comê-los, porque eles são os enfeites da árvore."
"Você vai pendurar biscoito na árvore???"
"Vou."
"E o que é isso?"
"A cobertura de açúcar."
"Você vai pendurar açúcar na árvore???"
"Vou."
"E essa agora..."

Agora decorá-los é sempre uma desgraça. Deus sabe que antes de nascer eu entrei na fila do talento para desenho mas quando chegou minha vez na fila do talento para decoração em confeitaria, já tinha acabado tudo. Eita, dificuldade! Algumas coisas não fazem sentido. Como eu posso desenhar bem e ao mesmo tempo ter uma caligrafia tão horrorosa, por exemplo? O que prova que não é uma questão de coordenação das mãos... :P

O melhor foi poder usar meus cortadores de biscoitos, que ficam ali, sempre meio empoeirados, uma vez que, ao contrário da Patrícia, rainha dos cookies :) , biscoitos não são muito minha praia. Não sei por quê. Adoro fazê-los, mas a não ser que sejam cookies de aveia e passas (meus favoritos), eles acabam esquecidos no pote, e acabam virando complemento de sorvete [que, aliás, é a melhor coisa para fazer com cookies e bolo de chocolate que sobram: incorporar no sorvete de creme ainda molinho antes de colocar no freezer, para seu próprio Vanilla Chocolate Chip Cookie Ice Cream, e afins...].

No fim, metade da receita abaixo foi mais do que suficiente para decorar uma árvore de um metro e meio, e os biscoitos além de tudo deixaram a sala inteira com um cheirinho suave de açúcar e especiarias... Dó é ver o cachorro sentado do lado dos enfeites, pedindo com a patinha (porque ele nunca pega nada sem pedir com a patinha antes, todo cutchi-cutchi). "Não, Gnocchi, esses biscoitos, não!" É capaz de chegar em casa e encontrar a árvore como no cartão de natal do ano passado...

BISCOITOS PARA DECORAÇÃO DA ÁRVORE DE NATAL
(do livro Feast, de Nigella Lawson)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 30-45 biscoitos


Ingredientes:
  • 300g farinha de trigo
  • 1 pitada sal
  • 1 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1 colh. (chá) canela em pó
  • 1/4 colh. (chá) cravo moído (ou 3-4 cravos inteiros moídos no pilão)
  • 1-2 colh. (chá) pimenta-do-reino moída na hora (usei a quantidade menor)
  • 100g manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 100g açúcar mascavo
  • 2 ovos grandes, batidos com 4 colh. (sopa) de mel (mais líquido, não cristalizado)
(cobertura)
  • 300g açúcar de confeiteiro, peneirado
  • 3 colh. (sopa) água fervente
  • confeitos

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 170ºC e forre duas assadeiras grandes com papel-manteiga ou silpat.
  2. No processador, ou na batedeira planetária com a pá, combine a farinha, o sal, fermento, canela, cravo e pimenta.
  3. Com o aparelho ligado (batedeira na velocidade 2), junte a manteiga e o açúcar, misturando bem. Junte o ovo batido com mel devagar, apenas o suficiente para que a massa tome corpo. Ela deve ficar mais firme e sequinha.
  4. Divida em 2 discos, embrulhe um deles em filme plástico e leve à geladeira enquanto trabalha com o outro.
  5. Enfarinhe a bancada e o disco de massa e abra numa espessura de 5mm. Corte os biscoitos com os cortadores (os meus tinham de 4-7cm) e disponha-os na assadeira. Com um palito ou a ponta de um bico de confeitar pequeno, abra os furos por onde vai passar o cordão. O biscoito cresce muito pouco enquanto assa, então pode dispô-los mais juntinhos, com 1cm de espaço entre eles.
  6. Junte os restos de massa, abra de novo e corte de novo, até usar todo o disco. Leve ao forno por 20 minutos, ou até que a parte de baixo dos biscoitos esteja bem sequinha e firme (os meus douraram ligeiramente nas beiradas). Enquanto eles assam, abra e corte o segundo disco de massa.
  7. Retire os biscoitos da assadeira assim que saírem do forno e os disponha numa grade para esfriar. Prepare a cobertura misturando o açúcar peneirado à água até formar uma pasta lisa e brilhante. Decore os biscoitos como quiser, quando estiverem frios.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

UMA SEXTA FEIRA FRUGAL 6: Caldo de legumes

De novo??? De novo. Porque quando tentei começar a fazer caldo de legumes em casa, achei uma chatice e um desperdício. Como assim, vou colocar na panela esse monte de comida boa, ferver por horas, jogar tudo fora e terminar com, sei lá, dois litros de caldo, que não dá para nada?

Desisti.

Então, descobri que não precisava usar apenas legumes inteiros e novos, mas aparas. Bem melhor, mas incorri em muitos erros que tornavam os caldos turvos, sem sabor ou amargos.

Desisti.

Finalmente, hoje, posso dizer que peguei a manha, que consegui inserir na minha rotina o hábito de fazer caldos, e desde o começo do ano não compro caldo de legumes em pó ou cubinhos ou o que for. E ainda que esse post seja um belo apanhado de todos os outros posts que já escrevi a respeito, acho que o tema merece um bom resumo e um post definitivo.

Costumo ir à feira duas vezes por mês, e faço caldo uma vez. Assim que volto da feira e lavo meus legumes e verduras, separo o maior tupperware da minha cozinha e começo a colocar lá dentro tudo o que é material para caldo: tudo o que normalmente iria para o lixo, e agora ficará acondicionado na geladeira, esperando. O enorme maço de salsinha é o primeiro: lavo, seco, e corto ao meio, já separando as folhagens, que vão para um potinho para que eu use as folhas durante a semana, das hastes fibrosas, que vão para o tupperware de caldo. Só tenho o cuidado de tirar qualquer folhinha, pois são elas que estragam rápido; as hastes duram o mês inteiro no tupperware sem estragarem, e podem esperar o dia de fazer caldo. Faço o mesmo com os alhos-poró, separando a parte verde escura para o caldo, e deixando apenas a parte branca na gaveta, inteira.

Ao longo da semana, se descasco batatas, abóboras, abobrinhas, jogo as cascas no tupperware. Talos de cogumelos? Opa! Eles dão um gosto maravilhoso ao caldo! Se eu fiz algum feijão, grão-de-bico, lentilha, qualquer desses grãos que se serve sem o caldo, escorro e guardo o caldo no freezer, para juntar o caldo congelado à panela depois. Se uso ervas como alecrim ou tomilho, de galhos lenhosos, uso as folhas e guardo os galhos no tupperware, pois eles também liberam sabor. O mesmo para os talos verdes de manjericão.

Quando o tupperware enche, jogo tudo na maior panela que tenho e acrescento uns dois dentes de alho inteiros, quaisquer outras ervas secas que eu tenha, pimenta, sal, e, se houver, uma cenoura pequena picada e um ou dois tomates desidratados. Encho de água e deixo ferver por apenas meia hora. Retiro os legumes com uma escumadeira e encho meus potinhos de 500ml com o caldo, que vai direto para o freezer.

É tão rápido e fácil que é quase uma vergonha comprar caldo pronto. E fica uma delícia. E eu não me sinto culpada por jogar fora aparas que normalmente iriam para o lixo logo no dia da feira, mas que agora têm um destino mais nobre.

O truque do tupperware de caldo foi o que me ajudou, pois nem sempre eu conseguia juntar num dia só todos os ingredientes que eu queria no caldo. Desde que você não coloque nenhuma folha fresca ou legume úmido (os miolos) no pote, todas as cascas, talos e afins (mesmo os de cogumelo) vão ficar ali esperando por um mês sem problemas, o que lhe dá tempo suficiente para juntar muitas aparas e fazer uma quantidade grande de um caldo muito rico e variado apenas uma vez por mês, juntando qualquer coisa mais fresca e perecível apenas na hora de botar tudo na panela. Costumo fazer de 3l a 3,5l de caldo, o que no inverno foi rapidinho por conta das sopas e ensopados. No verão, convém produzir menos. Neste mês fiz apenas 2l.

Ao invés dos cubos de gelo, guardo em potes de 500ml, pois é sempre essa a quantidade mínima de caldo para uma sopa, risotto ou ensopado para duas pessoas. Acho mais fácil de medir (e estocar) do que cubos.

O que de fato mudou minha rotina dos caldos foi um guia de Deborah Madison, em seus livros The Greens Cookbook e Vegetarian Cooking For Everyone. Fica aqui um apanhado para que vocês também comecem a guardar um "pote de restos" na geladeira e produzir bons caldos caseiros...

GUIA PARA CALDO DE LEGUMES
  • Proporção: 7 xic. de legumes e verduras para 8 xic. de água e 1colh. (chá) de sal, para obter cerca de 4-6 xíc. de caldo, dependendo de quanto tempo ele passou reduzindo. Sem pensar muito, costumo apenas cobrir os legumes com 2-3 dedos a mais de água do que o suficiente para cobri-los.
  • Lave bem os ingredientes antes de usar e corte-os em pedaços de 2-3cm, para aumentar a superfície de exposição e garantir que todo o sabor e nutrientes de fato passem para a água.
  • Se não tiver certeza sobre um ingrediente, ferva um pedaço em um pouco de água e experimente essa água antes de colocar o ingrediente no caldo.
  • Não use nenhum ingrediente que não esteja limpo ou fresco. Verduras muito murchas e machucadas não terão um gosto bom.
  • Coloque os ingredientes em água fria. Leve à fervura e cozinhe por 30-45 minutos (depois disso, os legumes não têm mais nada para liberar). Se quiser um caldo mais concentrado, retire os legumes e então reduza, em fervura branda, sem tampa.
  • Assim que o caldo estiver pronto, retire os vegetais, pois alguns deles se tornam amargos se ficam na água por muito tempo.
  • Você pode refogar os legumes em óleo ou manteiga antes, mas não é necessário. Na verdade, você não precisa colocar nenhuma gordura no caldo se não quiser. Eu não coloco, e isso também ajuda o caldo a ficar mais cristalino.
  • Aparas e "restos" que você pode colocar no caldo: raízes e partes verdes de alho-poró, talos verdes de ervas, galhos lenhosos de ervas como alecrim ou tomilho, cascas de batata (não as que parecerem velhas, e lave-as antes, para que o amido da batata não torne o caldo turvo), cascas de abóbora, abobrinha e berinjela, sementes e fiapos de abóbora, talos de cogumelos frescos ou migalhas de cogumelos secos (aqueles pedaços quebrados), folhas maiores e mais ásperas de salsão, talos de couve, pontas e aparas de vagens, caldo de feijões, miolo da espiga de milho (o que sobra quando você tira os grãos cozidos), folhas externas muito grandes ou espessas para saladas de alface, escarola, acelga, sementes de tomate (quando você as tira aqueles molhos que pedem os tomates sem sementes)... Se você fizer aquela salada de abobrinha e aspargos, pode usar o miolo esponjoso da abobrinha!
  • Legumes para serem usados inteiros: alho (1-2 dentes) e cebola (1/2 xic) sem cascas, pois elas têm um sabor desagradável; cenouras (1 basta), de preferência sem casca, tomates frescos ou secos (gosto mais do sabor concentrado dos tomates secos - 1 ou 2 é suficiente para 3l de caldo). Qualquer um dos citados acima, também, mas como o objetivo é fazer um caldo muito barato, o melhor é usar aparas e deixar os legumes inteiros para de fato comer! :)
  • Ingredientes saborosos mas que deixam um sabor muito forte; melhores se usados em caldos de receitas em que o ingrediente reaparece: cascas e folhas de beterrabas deixam o caldo vermelho; erva-doce/funcho (parte externa, raiz e folhas), aparas de aspargos, ervilhas, cascas de nabo, repolhos, folhas de brócolis e couve-flor são todos sabores muito dominantes que encobrirão o resto do caldo.
  • Ingredientes que NÃO devem ser usados: couve-flor, couve-de-bruxelas, alcachofras, espinafre (fica ruim se cozido por muito tempo), casca de alho e cebola, folhas de cenoura. Todos esses dão um gosto estranho ou ruim ao caldo.
  • Ingredientes para caldos específicos: miso (vermelho, pois o branco é muito doce), diluído em água quente e adicionado ao caldo dá um gosto de "carne", shoyu (reduza a quantidade de sal), gengibre, canela, cominho, cardamomo, coentro em grão...

Cozinhe isso também!

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