sexta-feira, 17 de abril de 2009

Salada de maçã, brie e trevo colhido em casa

Uma das características que herdei de minha mãe foi dar valor a qualquer pedacinho de terra disponível, seja ele um quintal ou um copinho plástico: plantamos qualquer semente que caia em nossas mãos. De vasos minúsculos no apartamento de meus pais saíram mangueiras enormes que nos proveram de mangas durante anos em nossa extinta chácara. Em casa, meu maior sucesso foi a pimenteira de um metro e meio, abarrotada de pimentas, destruída pelo Gnocchi numa tarde qualquer e transformada apenas em lembrança. Tenho um maracujá lindo ao lado da televisão, mas que se recusa a florir enquanto eu não lhe der mais espaço. Plantei um feijãozinho corado há um mês que já tem mais de um metro e meio de altura, e uma dezena de mudinhas de pimentas variadas crescem no mesmo vaso de meu pé de sálvia. Meu alecrim me acompanha desde que me casei, sendo o responsável por todas as batatas assadas que meu marido adora e que tanto me lembram de minha avó materna.

No entanto, meu tomilho morreu. Secou e morreu, assim, puft. As cebolinhas que vêm no cheiro verde da feira vão direto para a terra (quando não vão para o prato), e ali se multiplicam por algum tempo, e então perecem. A alfazema vai de vento em popa, mas esse ano ainda não floriu nenhuma vez. O manjericão é sempre o mais chatinho, uma hora com pulgões, uma hora com cochonilhas, outra hora com aquelas microscópicas aranhinhas. Minhas batatas tiveram podridão na base do caule e não deram batata nenhuma e meu tomateirozinho deu cinco tomates do tamanho de azeitonas, mofou e implodiu.

Cansada de tratar minhas plantas como filhos, resolvi dar-lhes um tratamento "que o mais forte sobreviva". Tudo por ter visto um vídeo no site da revista Gourmet, em que um produtor de trigo orgânico no interior dos Estados Unidos dizia deixar crescer qualquer coisa em meio ao trigo, pois a competição fortalecia o grão e a variedade de nutrientes no solo tornava-o mais saboroso.

Polvilho sementes sem olhar muito – morango, escarola, pimenta, feijão, dente-de-leão, o que tiver em mãos, tudo junto – e deixo que as plantas briguem entre si e saiam mais fortes do conflito. Quem morrer no meio do caminho morreu. Não agüenta, bebe leite. "Finjam que estão no meio do mato", sussurro a elas. E mato foi o que de fato começou a aparecer. Antes saía catando cada erva daninha indesejada em meus vasinhos bem cuidados. Mas desta vez, quando os trevos despontaram ao lado do manjericão, pensei: "oba! Salada!".

E salada eles viraram.

Colhi meus trevos novos e verdinhos e misturei-os a uma maçã Gala fatiada fina [as maçãs Gala estão fantásticas esse mês, e quem me disse em outro post que elas só são farinhentas fora de época estava completamente certo!], um pouco de queijo Brie em pedacinhos, e um vinaigrette de 1 colh. (sopa) de azeite, 1 colh. (chá) de excelente vinagre balsâmico e uma pitada de sal. Eu não pretendia escrever sobre mais uma salada, ainda mais com maçãs, mas essa com certeza valia a pena ao menos uma menção.

[A receita vem do último livro de Heloísa Bacellar, que seria ótimo não fosse a ausência de um índice remissivo, o que dificulta um bocado na escolha das receitas. A receita original usa queijo Camembert.]

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Salada de escarola e maçã para neutralizar o chocolate

Eu não sou lá muito de chocolate. Já fui. Fui viciada. Devorava tudo como se fosse a última barra de chocolate da minha vida. Quando criança, pelo menos. Conforme fui crescendo e, principalmente, conforme fui aprendendo a cozinhar, comecei a achar mais interessante comer doces – não muito doces – feitos com chocolate do que simplesmente uma barra de chocolate assim, simples. Talvez seja por ter começado a olhar para aquela barra como "ingrediente" ao invés de "sobremesa". Não sei. Aceito teorias.

O caso é que veio a Páscoa, e com ela, uma enxurrada de chocolate. E eu sempre digo a todos: "Não me dêem chocolate; eu não quero." Isso é sempre interpretado, porém, como uma manifestação de educação e delicadeza da minha parte – como quem diz que não quer presente de aniversário – ao invés da ordem que de fato é. Minha cozinha vira, então, todos os anos, um depósito de chocolate, e eu fico olhando para aquilo tudo sem saber o que fazer. Uma parte saio distribuindo por aí. Outra, que me atiça um pouco mais o paladar, fica ali me encarando, lembrando-me de que o chocolate está ocupando espaço nas prateleiras, e que por isso não posso preparar outra sobremesa. Seu triste fim acaba mesmo sendo meu estômago: pedacinho após pedacinho, vou comendo, entre suspiros conformados, esperando pelo dia em que poderei preparar alguma coisa, qualquer coisa, sem chocolate.

Enquanto isso, dou um tempo nos sopões cheios de feijões e batatas, nas massas e pizzas da vida, e me mantenho firme nas saladas que adoro. Pelo menos enquanto o tempo está ainda ameno o bastante para um almoço frio.

Coração de escarola (as folhas claras e tenras do centro da escarola)
+ maçã gold (nacional)
+ queijo feta (ou qualquer outro de cabra)
+ avelãs levemente tostadas na frigideira
+ azeite, vinagre branco, sal e pimenta-do-reino
= Delícia (inspirada em uma salada do livro Chez Panisse Vegetables, de Alice Waters).

Cozinhe isso também!

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