segunda-feira, 14 de julho de 2008

PADARIA DE DOMINGO 13: o pão que quase não foi

Desde o último domingo estava com vontade de testar meu primeiro sourdough. Saí atrás, na quinta-feira, de alguma das receitas e encontrei uma versão aparentemente fácil de iogurte integral, farinha e leite desnatado. Como nunca tenho leite desnatado em casa, resolvi preparar a mistura com o integral mesmo, acreditando que não faria diferença.

Dois dias depois, desembrulhei meu pote de plástico e constatei que a mistura tornara-se aparentemente homogênea e com furos por toda a superfície, como bolhas estouradas. Bom sinal. Só não sabia se o soro amarelo despositado por cima também era... ou não. Apesar do livro que eu estava usando ter a receita do fermento natural feito com iogurte, as receitas de pão propriamente ditas indicavam outros fermentos (de maçã, de batatas, ou mesmo o básico de farinha de centeio e água) mas não o de iogurte. A não ser por uma receita específica que levava uma série de ingredientes que eu não tinha e os quais nem queria sair para comprar. De modo que, mais uma vez, liguei o adaptômetro.

[Você também não acharia que vai tudo bem, olhando para esse fermento? É... sourdough não é tão fácil quanto imaginei...]

Bem... nem sempre o adaptômetro funciona. Após oito longas horas, o pão não dera nenhum sinal de vida. Zero fermentação. Em pleno sábado à noite foi tudo para o lixo, e não sabia se teria paciência para preparar outro pão no dia seguinte. Principalmente porque minhas farinhas estavam acabando.

Na tarde seguinte, entretando, senti-me repentinamente inspirada, e resolvi manter as coisas simples, usando uma das fórmulas mais simples possíveis. Eu queria apenas um pão branco e pronto (fermento comercial mesmo), redondo e de casca quebradiça, para estrear meu banneton.

Enquanto misturava, porém a farinha branca acabou. Sem problemas, pensei, substituo o restante pela integral e adiciono um nadinha a mais de água, para que o pão não fique seco. E meu pão branco virou integral.

Deixei que o pão fermentasse por pouco mais de uma hora, quando meu marido me lembrou de que tínhamos um compromisso dentro em breve. Ok, ok, são mais 20 minutos fermentando novamente e 25 no forno, vai dar tempo, sem problemas.

Vinte minutos depois, virei o banneton sobre a assadeira forrada com o silpat, e fiquei admirando a linda espiral desenhada sobre a massa. Dei dois pulinhos de alegria.

Fiz um corte em cruz sobre o pão, e levei-o ao forno, junto com uma assadeira com água fervente, que deveria ficar ali pelos primeiros dez minutos, para auxiliar na formação da crosta dourada e quebradiça que eu tinha em mente.

Fui fazer outra coisa. E esqueci-me de tirar a assadeira.

Aos vinte minutos de forno é que me dei conta de que a esquecera, e saí correndo para tirá-la. O estrago, porém, já estava feito: o pão, que deveria estar terminando de dourar àquela altura, estava quase tão pálido quanto quando entrara no forno.

M*rda.

Marco mais dez minutos de forno.

Pálido.

Mais dez.

Pálido.

Mais... dez.

"Precisamos sair".
"Espera mais dez que está terminando!"

Pálido.

[*Suspiro*]

Não queria jogar fora mais comida. Mas precisávamos sair. Desliguei o fogo, triste, e saímos, para voltarmos muitas horas depois, já tarde da noite.

Chego em casa e ligo o forno.

"O que você está fazendo??"
"Dourando o pão. Tudo bem que ele vai ficar duro feito pedra, mas até aí, a essa altura, quem se importa?"

Deixei o fogo no máximo e fui tomar um banho. Quando voltei, pijamas e pantufas, o pão estava dourado. Não era nem de longe aquela casca dourada, brilhante, fina e quebradiça que eu tinha planejado. Mas pelo menos não tinha cara de cru. Deixei o maledetto esfriando na grade e fui dormir, culinariamente frustrada.

Hoje de manhã, atrasada, pois deixara o despertador com horário de sábado, cortei uma fatia difícil do pão, com a faca serrilhada abrindo caminho devagar pela espessa casca que o pão desenvolvera. Manteiga aviação salgada e... chomp!

Hmmm...

Ficou bom! Ficou de fato bom, apesar de tudo. Simples, macio e saboroso, apenas com a casca um pouco mais grossa e borrachuda do que eu gostaria. Tudo graças ao forno baixo dos primeiros, sei lá, quarenta minutos, que cozinhou o miolo devagar, sem que ele esturricasse com o tempo extra.

Nem tudo está perdido, afinal, e há ao menos uma história de pão a ser contada por aqui nessa mal-fadada Padaria de Domingo. A receita fico devendo desta vez, pois quero mexer nela um pouco antes, para ter certeza de que está perfeita.

Ufa. Tenho pão essa semana...

domingo, 13 de julho de 2008

A 4ª coisa da Califórnia de que sinto falta: piqueniques, ou farofada com classe

Desde que comprei, há uns dois anos atrás, o livro de Heloísa Bacellar, abro a mesma página para olhar a mesma foto: a linda cesta de piquenique de vime, um pequeno baú forrado de tecido vermelho e branco, com um bonito e dourado pão caseiro, quitutes, pratos e talheres. Quero uma, penso sempre. Mas, ao mesmo tempo, penso quantas vezes em minha vida de fato saí em um piquenique, e me convenço de que não, não preciso de uma.

Vivo jogando essa idéia para meu marido, minha irmã, meus amigos: ir ao parque fazer um piquenique num dia de sol. As respostas são sempre as mesmas, desentusiasmadas, preguiçosas, não entendendo o propósito de fazer comida em casa e levar para comer longe, num gramado qualquer. Será preconceito? Afinal passei minha vida inteira dando risada daquele pessoal do frango com farofa na praia. Mas... existe piquenique e existe farofa, certo? Ou estarei eu me enganando, tentando me convencer de que o sangue farofeiro não corre em minhas veias?

Ah, mas ele corre.

Estávamos em Sonoma, no norte da Califórnia, quando nos deparamos com o finzinho de um Farmer´s Market, na praça principal. Havia apenas algumas barracas ainda montadas, com cerejas, cebolas novas ainda com suas partes verdes (coisa impossível de se encontrar nas feiras de São Paulo), pães integrais artesanais e uma banca de uma robusta mulher francesa, de sotaque carregado, produtora de manteiga e queijos orgânicos que me fizeram querer morar em Sonoma pelo resto de minha vida.

Não pretendíamos comprar nada, uma vez que era já fim de tarde e ainda sairíamos para jantar, mas não conseguimos resisitir. Compramos um queijo brie de leite de cabra e um cheddar com ervas e voltamos à banca de pães para comprar um dos últimos que restara na cesta, e decidimos que no dia seguinte juntaríamos isso a todas as outras guloseimas do carro, inclusive as cerejas compradas na beira da estrada, e faríamos um piquenique em algum lugar.

Antes de voltar ao hotel, demos ainda algumas voltas pela deliciosa praça, ainda repleta de gente depois de um pequeno festival de jazz que acontecera durante a tarde, e não pude deixar de notar as famílias e grupos de amigos em volta de mesas de madeira cobertas de toalhas coloridas, terminando de comer ou já guardando potes vazios em suas cestas de piquenique, bebericando a última taça de algum vinho regional. Tive inveja. Uma invejinha saudável, daquelas que lhe dá saudades doídas de uma vida que você nunca teve.

No dia seguinte, assim que chegamos a San Francisco, estacionamos o carro junto ao Palace of Fine Arts Theatre, e resolvemos que ali almoçaríamos, debaixo de uma árvore antiga, no gramado pontilhado de minúsculas florzinhas brancas. Tia R. sacou do porta-malas o que parecia um pequeno edredon listrado de azul e branco, e me explicou que sempre carrega consigo sua manta de piqueniques, pois nunca se sabe quando se precisará de uma. Fiquei tentando me lembrar de quantas vezes em minha vida me vi, no meio de São Paulo, na extrema necessidade de uma manta de piquenique. Fiquei triste ao constatar que a resposta era nenhuma. Não se fazem piqueniques em São Paulo.

Abrimos a manta e espalhamos nossos queijos, cerejas, pão, chocolates aromatizados com vinho comprados em uma doceria de Sonoma, e, infelizmente, coca-cola, pois era proibido beber no parque, mesmo escondendo as garrafas em sacos de papel. Um vinho teria caído maravilhosamente bem naquele momento.

Foi delicioso ficar ali, petiscando e olhando as garças e as gaivotas no bonito mas estranhamente azul lago artificial do parque. E pus-me a desejar que pudesse fazer mais piqueniques em São Paulo, em locais tranqüilos como aquele, comendo boa comida, em boa companhia, ouvindo o canto de pássaros e simplesmente relaxando. Claro que essa não é exatamente a paz que eu teria no Parque Ibirapuera num domingo, por exemplo, o que dificulta um pouco as coisas. Adoraria ir ao Jardim Botânico, mas o cão não pode entrar, o que invalida todo o conceito de tarde gostosa ao ar livre com as pessoas (e cachorros) que eu amo.

Então encerro esse post dizendo que a 4ª coisa de que sinto falta da Califórnia são os piqueniques, ou a possibilidade de fazer um piquenique sem ser chamada de farofeira, e deixo uma pergunta: vocês fazem piqueniques? Se sim, onde?

Cozinhe isso também!

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