sábado, 5 de julho de 2008

A 3ª coisa da Califórnia de que sinto falta: pão, maravilhoso, sensacional pão







Quem passa por aqui desde os primórdios do La Cucinetta sabe de minha enorme cisma e frustração a respeito de pão. Não importa o quanto eu procure, não encontro em São Paulo um pedaço de pão que de fato me satisfaça. Outro dia gastei 7 reais num pão de forma multigrãos na famosíssima Benjamim Abrahão, lindo, perfumado, promissor. Como algo com tantos ingredientes pode ser tão... insosso? E para dizer que não tinha sabor nenhum ele apresentava um sutil retrogosto amargo muito pouco agradável. Doeu no bolso e no estômago.

Não que não haja lugares especiais com bons produtos. Há, de fato. Mas se você for pagar mais de 4 reais num ciabatta ou 18 reais num pão de centeio de 500g, é bom que eles sejam EXCELENTES, e não apenas bons.

Talvez seja o fato de termos perdido qualquer tradição de panificação para os processos industriais e as misturas pré-prontas para padaria, encontradas em grandes atacados. Talvez o padeiro queira apenas o dinheiro no fim do dia e tenha perdido o amor pela profissão. O caso é que os poucos lugares que produzem um pão semi-decente tornam impossíveis para pessoas como eu (não milionárias) comerem um excelente pão rústico no café-da-manhã.

Nunca imaginei que comeria o melhor pão de minha vida justamente na terra do pão de forma branco industrializado. Mas a verdade é que fui maravilhosamente surpreendida pela miríade de "boulangeries" na Califórnia. Lugares especiais, como o D´Angelo, em Santa Barbara, ou o Boudain, em San Francisco, me conquistaram, além do Trader Joe´s e os inúmeros farmer´s markets pelas cidades pequenas, com pães artesanais frescos que parecem pedir por acompanhamentos especiais, e não apenas a boa e velha manteiga comprada no supermercado.

Boudain foi onde comi o melhor pão de minha vida. [Em tempo: ainda não estive na França.] O aspecto do lugar, a meus olhos preconceituosos, não era muito promissor: um complexo razoavelmente grande (lembrando as padarias brasileiras com buffet de sopa que eu tanto detesto), composto de padaria, loja de souvenirs, café e bistrot, no andar de cima. Além do jeitão "fazemos um pouco de tudo e somos atração turística" que normalmente já me afastaria, a padaria possuía uma enorme vitrine para a rua, através da qual os passantes podiam observar os padeiros em ação: um dos quais usava um microfone com saída de som para a rua, para que ele pudesse interagir com a "platéia". [Sim, aquilo É um pão em forma de jacaré; você também podia comprar pães-tartaruga, se quisesse.]

Um pouco Disney, não?

Quando minha tia sugeriu que comêssemos no bistrot do andar superior, confesso ter aceitado apenas por exaustão. Já havíamos andado um bocado, aquele dia, e tudo o que eu queria era sentar e tomar uma cerveja.

O pão do couvert era produzido diariamente na padaria abaixo de nossos pés, e ele era trazido em cestos de metal presos a um cabo movimentado por roldanas, no melhor estilo Fábrica de Chocolate, e pensei se não seria justamente influência do clima da Ghirardelli.

Acredito que a foto fale por si só, mas, se me permitem, posso dizer que nunca houve um pão tão macio, saboroso, úmido na medida certa, de casca leve e quebradiça, estalando sob os dentes e derretendo na língua como aquele. Eu estava incontestavelmente feliz. Tanto, que logo após o almoço descemos as escadas e compramos um sourdough inteiro, para comermos depois. E nada de pão de 18 reais.

O que mais me impressionou é que eu não precisava ir a uma dessas padarias para comer um pão honesto. Os mais simples dinners onde comemos café-da-manhã tinham uma boa seleção de pães sourdough integrais, de centeio, etc, para acompanhar os ovos. Enquanto isso, muitos lugarezinhos por aqui que se prezam por seus cafés-da-manhã salgadinhos não têm mais do que pão de forma, francês, sírio e, quando muito, um ciabatta duvidoso.

E é por isso, pelo baguette sourdough com alecrim do Trader Joe´s, pelo sourdough de centeio do D´Angelo e pelo lindíssimo pão integral artesanal comprado numa feira na praça central de Sonoma, é que a 3ª coisa de que mais sentirei falta da Califórnia são os pães, gloriosos pães.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Minha nova salada favorita


Minha intenção essa semana era preparar pratos que rendessem, e por isso colocara um bocado de feijão preto na panela de barro, junto de um dente de alho, tomate, pimenta e sálvia. Não queria fazer nada sofisticado: o jantar seria mesmo arroz, feijão, salada e ovo frito, no melhor estilo PF sem bife. No entanto, eu sou humana (e como sou!), e se tenho um grande defeito é a distração. Ou, como eu gostava de falar na época do colégio, não tenho nenhum problema de concentração: concentro-me muito bem, mas nem sempre naquilo que os outros querem.

Coloquei a panela no fogo baixo, com bastante água, e fui à sala fazer outra coisa. Uma coisa, digamos, importantíssima, vital, que requeria minha total e absoluta atenção: organizar todos os recortes de revistas culinárias que eu guardara nos últimos anos e colar as mais interessantes em meu caderno de receitas.

Shoot me now.

De repente, sinto cheiro do feijão. Hmmm... feijão... não, esse não é cheiro de feijão.

F*ck!

A pobre panelinha de barro estava encrustada de feijão queimado, exalando uma fumaça escura e fedida que empesteou, aos poucos, todo o apartamento.

Oooook. Queimei o jantar.

...

Eu poderia ter ficado irritada. Triste. Miserável. Mas resolvi que era um sinal dos deuses me mandando jantar apenas salada.

A intenção original era preparar uma saladinha de espinafre de Nigella, em que ela faz quase um molhinho de tomates crus e alho para cobrir as folhas e servir com carne de porco. Ao invés disso, apanhei um english muffin do freezer, aqueci-o na torradeira e usei-o como base para as folhas de espinafre e tomates cereja fatiados muito fino (quase chorei de alegria e beijei minha faca nova), cobertos por queijo feta esmigalhado, pimenta-do-reino e um molho de azeite e limão.

Muito, muito simples.

Minha nova salada favorita.

Cozinhe isso também!

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