domingo, 29 de junho de 2008

PADARIA DE DOMINGO 11: retorno com muffins ingleses

É com imensa felicidade que declaro o retorno da Padaria de Domingo!

Desde que voltei da Califórnia não conseguia parar de pensar nos muffins ingleses, aqueles pãezinhos de panela, pequenos, achatados e macios, ótimos para tostar e chafurdar na manteiga. Mas batia a preguiça. Todo domingo ela vinha, como quem não quer nada, e sobrepujava meu desejo por english muffins.

Fui salva pelo texto de um blog de que gosto muito, Not Eating Out in New York, que falava sobre o preço crescente da comida nos Estados Unidos e como a autora pretendia gastar menos dinheiro com supermercado. "Fazer meu próprio pão" era um dos itens. De fato, já fiz essa conta: 300-350g de farinha dão, normalmente, para um pão de bom tamanho que mata a fome de um casal no café-da-manhã durante uma semana. Cada quilo de farinha produz, logo, três pães. Cada um desses pães costuma usar por volta de 5g de fermento ativo seco. Cada embalagem vem com dois envelopes de 10g cada. Já fiz as contas com pães básicos, sem gordura, como o italiano, e com leite e manteiga, como o de forma. E o resultado é sempre o mesmo: o pão caseiro costuma custar 1/3 do preço do industrializado (aqui na minha vizinhança, pelo menos).

Com isso, volto de uma vez por todas com o Padaria de Domingo, para garantir o pão nosso de cada dia mais saudável e mais barato. Para começar, então, muffins ingleses.

Decidi fazê-los não apenas devido à voz que sussurrava dentro de minha cabeça, mas também por sua praticidade. Eu costumava ter uma receita recortada de uma Cláudia Cozinha, mas joguei-a fora pensando "nunca vou acordar às 5h da manhã para fazer isso...". Após pesquisar um pouquinho, porém, descobri que eles podem ser congelados e descongelados na própria torradeira. O que poderia ser mais prático? Lá vem o arrependimento por ter jogado a receita fora, que parecia mais simples e mais fácil do que a que resolvi fazer...

Acabei adaptando uma receita do Professional Baking, pois não tinha leite em pó desnatado e não gosto de gordura hidrogenada. A receita, como sempre para batedeiras planetárias, pedia para que a massa fosse sovada com o gancho por quase 25 minutos. Aos 20, resolvi esparramá-la sobre a bancada e terminar de sová-la à mão. Simplesmente porque a massa era uma das mais grudentas com as quais já lidei, e imaginei que talvez o método de Bertinet funcionasse bem nesse caso.

É nesses momentos que acredito que fazer pão é um ato de amor. Porque é preciso muito amor no coração para não surtar ao ver pedaços grudentos de massa voando por cima dos seus ombros e espatifando-se contra a parede da cozinha. De qualquer forma, o método de fato tornou a massa um pouco mais manipulável, ainda que muito MUITO grudenta.

Minha maior dificuldade foi não em moldar os pãezinhos, mas em transferi-los da assadeira onde fermentaram para as frigideiras quentes. Quando li no livro a instrução de fermentar os muffins sobre travessas "covered with cornmeal", não me dei conta da diferença de "dusted with cornmeal". Deveria ter exagerado mesmo na quantidade de farinha de milho, pois os muffins redondos e fofos grudaram na assadeira nos pequenos espaços sem farinha, e caíram desajeitadamente nas frigideiras, deformando-se.

Nada, porém, que influencie no sabor. Os muffins agradaram saídos da frigideira e, hoje de manhã, fiquei extasiada ao ver que eles realmente descongelam e se aquecem sob as resistências da torradeira, tornando-se novamente macios e exalando aquele delicioso perfume de pão fresco quentinho, que apenas um louco não quereria em sua cozinha de manhã cedo.


MUFFINS
INGLESES
(adaptado do livro Professional Baking)
Tempo de preparo: 25 minutos + 3 horas e meia + 40 minutos para cozinhar
Rendimento: 18 muffins ingleses


Ingredientes:
  • 500g de farinha de trigo
  • 1 1/2 xíc. de água fria
  • 8g de fermento fresco
  • 1 1/2 colh. (chá) de sal
  • 1 1/2 colh. (chá) de açúcar cristal orgânico
  • 2 colh. (chá) de leite
  • 1/2 colh. (sopa) de manteiga em temperatura embiente
Preparo:
  1. Esfarele o fermento junto com a farinha, junte o açúcar, o sal e a manteiga, e derrame a água e o leite, sovando com o gancho de uma batedeira planetária por 20 a 25 minutos na velocidade 2. A massa será MUITO mole. O longo tempo de mistura e de fermentação é o que dará ao muffin sua textura tradicional.
  2. Deixe fermentando por 2 horas e meia a 3 horas, em local fresco (21ºC).
  3. Retire o ar da massa, afundando-a, e derrame-a em uma superfície com muita farinha. Divida em porções de 45g cada e forme bolas com elas. Deixe descansar por 5 minutos.
  4. Achate as bolinhas de massa com as palmas das mãos e coloque em assadeiras bem cobertas de farinha de milho. Deixe fermentar novamente, por cerca de meia hora.
  5. Aqueça bem tantas frigideiras quantas puder manusear simultaneamente, e deixe-as em fogo baixo. Coloque os muffins nas frigideiras (quantos couberem, sem que se apertem) e cozinhe por 5-8 minutos de cada lado, até que estejam com marcas dourado-escuras.
  6. Sirva imediatamente, ou espere que esfriem, corte-os ao meio e congele-os. Para comê-los, leve do freezer direto para a torradeira por um minuto ou dois.

domingo, 22 de junho de 2008

Bolo de limão siciliano e mirtilos: parabéns para mamãe!


Certo dia minha mãe me telefonou com a pergunta: "Ana, o que é mirtilo?"

"É uma fruta mãe. Blueberry."
"Aaaaaah... Tem chá disso?"
"Acho que tem, mãe. Já vi dessas marcas tchanchantrans."

Pausa.

"Por quê, mãe?"
"Ah, sonhei que me diziam que eu tinha de tomar chá de mirtilo."

Bizarrices à parte, desde então minha mãe passou a comprar o tal chá de mirtilo, e potes da fruta congelada, uma vez que as frescas são excessivamente caras. Foi mera coincidência termos descoberto, logo em seguida, que a danada da fruta é considerada um (detesto o termo) "super-alimento", por causa da quantidade vasta de vitaminas e nutrientes e por conter antioxidantes.

Mas chega disso, pois detesto todo esse aspecto científico-nutricional que tira o gosto da comida e transforma tudo em remédio.

De qualquer forma, foi por conta desse episódio que, no aniversário de minha mãe, achei apropriadíssimo preparar-lhe um bolo de limão e mirtilos, extraído do livro Sky High. No entanto, a ausência de uma terceira forma e a presença de poucas bocas para devorar o bolo mais uma vez me obrigaram a adaptar a receita para apenas duas camadas. E, desta vez, foi de fato adaptado, e não apenas diminuída respeitando as proporções, já que a quantidade de ovos era um diabo de um número primo, e a autora usava extrato de limão. Nunca encontrei extratos naturais no supermercado, e como não queria que o bolo de minha mãe tivesse gosto de detergente de limão, usei suco na quantidade que me pareceu mais interessante.

O bolo resultou numa massa incrivelmente perfumada de limão, macia, com desenhos lilazes ressindindo ligeiramente aos mirtilos (infelizmente aquela batelada dos congelados não estava lá essas coisas). A geléia no centro talvez eu cozinhasse menos numa próxima vez, para que ficasse um pouco mais líquida, mas seu sabor ficou doce na medida e um tantinho ácido, por conta do suco de limão que usara para diluí-la antes de expalhá-la sobre o bolo. O buttercream de limão, no entanto, como eu temia, achei um pouco pesado. Mas é uma questão de gosto, pois nunca fui (nem o pessoal de casa) muito fã de buttercream. Sou uma garota mais glacê ou ganache, quando muito uma cobertura de chantilly. Acho que o bolo ganharia uma nota a mais com uma cobertura de chocolate branco aromatizada com limão no lugar do creme de manteiga.

A alegria extra é devida ao fato de minhas habilidades bolísticas estarem melhorando, e fiquei realmente orgulhosa pela aplicação da cobertura. A dica crucial do livro, usada para melhorar o visual do bolo, foi banhar a espátula em água fervendo e secá-la rapidamente, passando-a sobre a superfície da cobertura, que derrete ligeiramente, tornando-se lisa, uniforme e brilhante. Com certeza o bolo mais bonito que já fiz, considerando que faço muito poucos bolos com cobertura.

Para quem gosta de buttercream, fica a receita. Acredito que, num dia de pressa, o recheio possa ser substituído por boa geléia de mirtilos comprada, apenas misturada a um pouco de suco de limão e uma pitadinha de gengibre em pó.


BOLO DE LIMÃO SICILIANO E MIRTILOS

(Ligeiramente adaptado do livro Sky High)
Tempo de preparo: afe! Uma manhã inteira.
Rendimento: 8-16 pedaços dependendo da gula


Ingredientes:

(bolos)
  • 150g de manteiga em temperatura ambiente
  • 1 1/2 xíc. de açúcar cristal orgânico
  • casca ralada de 1 limão siciliano
  • 3 colh. (sopa) de suco de limão siciliano
  • 5 claras de ovo
  • 2 xíc. de farinha de trigo
  • 2 1/2 colh. (chá) de fermento químico em pó
  • 1/3 colh. (chá) de sal
  • 3/4 xíc. + 1 colh. (sopa) de leite
(recheio)
  • 1 1/2 xíc. de mirtilos frescos ou congelados
  • 1/4 xíc. + 2 colh. (sopa) de açúcar cristal orgânico
  • 1 colh. (sopa) de suco de limão siciliano
  • casca ralada de 1/2 limão siciliano
  • 1/2 colh. (chá) de gengibre fresco ralado
(cobertura)
  • 2/3 xíc. de açúcar cristal orgânico
  • 1/6 xíc. de água
  • 1 ovo + 1 gema
  • 225g de manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 1 1/2 colh. (sopa) de suco de limão siciliano
Preparo:
  1. Coloque as frutas, o açúcar, o suco de limão e o gengibre em uma panela de fundo grosso de inox e leve ao fogo médio, levando à fervura, mexendo freqüentemente para dissolver o açúcar. Continue cozinhando por 15 a 20 minutos, até que engrosse e reduza a 1/2 xíc. Mexa sempre, para que não queime. Retire do fogo e deixe esfriar.
  2. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte com manteiga duas formas redondas de 20cm. Forre os fundos com papel manteiga e unte novamente.
  3. Em uma batedeira, bata a manteiga, o açúcar, a casca de limão e o suco até que fique leve e fofo (lembre-se de ir aumentando a velocidade da batedeira aos poucos, e deixar bem uns 10 minutos até ficar bem fofo, pois a manteiga batida muito rápido pode talhar quando os ovos forem acrescentados).
  4. Junte as claras, duas por vez, batendo bem a cada adição.
  5. Peneire a farinha, o sal e o fermento e junte-os à mistura, em 3 vezes, alternando com o leite e deixando misturar bem antes do próximo acréscimo. Bata em velocidade média-alta por 1 minutos, até que fique bem homogêneo.
  6. Separe 1/2 xíc. da massa em uma xícara. Divida o restante entre as formas, alisando a superfície com uma espátula. Junte 1 1/2 colh. (sopa) da geléia de mirtilo à massa reservada e misture bem, até que fique homogêneo. Espalhe essa massa roxa às colheradas sobre os bolos e, com um palito ou a ponta de uma faca, faça desenhos, sem misturar completamente as duas massas.
  7. Leve ao forno por 20 minutos, na grade central, ou até que um palito saia limpo e o bolo comece a se desprender das laterais das formas. Deixe esfriar nas formas por cerca de 10 minutos, então desenforme, retire o papel das bases com cuidado e deixe que esfriem sobre grades por no mínimo 1 hora.
  8. Para a cobertura, leve a água e o açúcar à fervura em uma panelinha sobre fogo médio. Deixe fervendo sem mexer, até que forme um xarope grosso mas ainda claro (115ºC no termômetro para doces). Retire do fogo.
  9. Na batedeira, bata os ovos ligeiramente. Com a máquina ligada, tomando cuidado para não atingir a pá, despeje o xarope ainda quente em um fio constante. Quando todo o xarope tiver sido absorvido, aumente a velocidade para médio-alta e bata por 15 a 20 minutos, até que a mistura esteja leve, fofa e em temperatura ambiente.
  10. Reduza a velocidade para médio-baixa e adicione a manteiga amolecida em 2 ou 3 vezes, batendo bem entre adições. Junte o suco de limão e misture bem.
  11. Coloque o primeiro bolo em um prato, de ponta cabeça. Com um pincel, retire migalhas soltas. Se a geléia estiver muito firme, dilua-a com uma colher de água ou suco de limão, e espalhe-a sobre o bolo, deixando 0,5cm de borda. Posicione o segundo bolo, base para baixo, e coloque um pouco de cobertura em cima, no centro, Vá puxando para fora com a espátula, até as bordas, e depois para baixo, passando a espátula em torno, sempre no mesmo sentido. Quando todo o bolo estiver com uma cobertura fina, leve o bolo à geladeira por meia hora. Então comece tudo de novo, com mais cobertura, até que todo ele esteja uniformemente coberto. Reserve um pouco de cobertura para aplicar com o bico de confeiteiro, se quiser decorá-lo. O bolo pronto precisa ser mantido na geladeira até a hora de servir.

Cozinhe isso também!

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