domingo, 22 de junho de 2008

Bolo de limão siciliano e mirtilos: parabéns para mamãe!


Certo dia minha mãe me telefonou com a pergunta: "Ana, o que é mirtilo?"

"É uma fruta mãe. Blueberry."
"Aaaaaah... Tem chá disso?"
"Acho que tem, mãe. Já vi dessas marcas tchanchantrans."

Pausa.

"Por quê, mãe?"
"Ah, sonhei que me diziam que eu tinha de tomar chá de mirtilo."

Bizarrices à parte, desde então minha mãe passou a comprar o tal chá de mirtilo, e potes da fruta congelada, uma vez que as frescas são excessivamente caras. Foi mera coincidência termos descoberto, logo em seguida, que a danada da fruta é considerada um (detesto o termo) "super-alimento", por causa da quantidade vasta de vitaminas e nutrientes e por conter antioxidantes.

Mas chega disso, pois detesto todo esse aspecto científico-nutricional que tira o gosto da comida e transforma tudo em remédio.

De qualquer forma, foi por conta desse episódio que, no aniversário de minha mãe, achei apropriadíssimo preparar-lhe um bolo de limão e mirtilos, extraído do livro Sky High. No entanto, a ausência de uma terceira forma e a presença de poucas bocas para devorar o bolo mais uma vez me obrigaram a adaptar a receita para apenas duas camadas. E, desta vez, foi de fato adaptado, e não apenas diminuída respeitando as proporções, já que a quantidade de ovos era um diabo de um número primo, e a autora usava extrato de limão. Nunca encontrei extratos naturais no supermercado, e como não queria que o bolo de minha mãe tivesse gosto de detergente de limão, usei suco na quantidade que me pareceu mais interessante.

O bolo resultou numa massa incrivelmente perfumada de limão, macia, com desenhos lilazes ressindindo ligeiramente aos mirtilos (infelizmente aquela batelada dos congelados não estava lá essas coisas). A geléia no centro talvez eu cozinhasse menos numa próxima vez, para que ficasse um pouco mais líquida, mas seu sabor ficou doce na medida e um tantinho ácido, por conta do suco de limão que usara para diluí-la antes de expalhá-la sobre o bolo. O buttercream de limão, no entanto, como eu temia, achei um pouco pesado. Mas é uma questão de gosto, pois nunca fui (nem o pessoal de casa) muito fã de buttercream. Sou uma garota mais glacê ou ganache, quando muito uma cobertura de chantilly. Acho que o bolo ganharia uma nota a mais com uma cobertura de chocolate branco aromatizada com limão no lugar do creme de manteiga.

A alegria extra é devida ao fato de minhas habilidades bolísticas estarem melhorando, e fiquei realmente orgulhosa pela aplicação da cobertura. A dica crucial do livro, usada para melhorar o visual do bolo, foi banhar a espátula em água fervendo e secá-la rapidamente, passando-a sobre a superfície da cobertura, que derrete ligeiramente, tornando-se lisa, uniforme e brilhante. Com certeza o bolo mais bonito que já fiz, considerando que faço muito poucos bolos com cobertura.

Para quem gosta de buttercream, fica a receita. Acredito que, num dia de pressa, o recheio possa ser substituído por boa geléia de mirtilos comprada, apenas misturada a um pouco de suco de limão e uma pitadinha de gengibre em pó.


BOLO DE LIMÃO SICILIANO E MIRTILOS

(Ligeiramente adaptado do livro Sky High)
Tempo de preparo: afe! Uma manhã inteira.
Rendimento: 8-16 pedaços dependendo da gula


Ingredientes:

(bolos)
  • 150g de manteiga em temperatura ambiente
  • 1 1/2 xíc. de açúcar cristal orgânico
  • casca ralada de 1 limão siciliano
  • 3 colh. (sopa) de suco de limão siciliano
  • 5 claras de ovo
  • 2 xíc. de farinha de trigo
  • 2 1/2 colh. (chá) de fermento químico em pó
  • 1/3 colh. (chá) de sal
  • 3/4 xíc. + 1 colh. (sopa) de leite
(recheio)
  • 1 1/2 xíc. de mirtilos frescos ou congelados
  • 1/4 xíc. + 2 colh. (sopa) de açúcar cristal orgânico
  • 1 colh. (sopa) de suco de limão siciliano
  • casca ralada de 1/2 limão siciliano
  • 1/2 colh. (chá) de gengibre fresco ralado
(cobertura)
  • 2/3 xíc. de açúcar cristal orgânico
  • 1/6 xíc. de água
  • 1 ovo + 1 gema
  • 225g de manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 1 1/2 colh. (sopa) de suco de limão siciliano
Preparo:
  1. Coloque as frutas, o açúcar, o suco de limão e o gengibre em uma panela de fundo grosso de inox e leve ao fogo médio, levando à fervura, mexendo freqüentemente para dissolver o açúcar. Continue cozinhando por 15 a 20 minutos, até que engrosse e reduza a 1/2 xíc. Mexa sempre, para que não queime. Retire do fogo e deixe esfriar.
  2. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte com manteiga duas formas redondas de 20cm. Forre os fundos com papel manteiga e unte novamente.
  3. Em uma batedeira, bata a manteiga, o açúcar, a casca de limão e o suco até que fique leve e fofo (lembre-se de ir aumentando a velocidade da batedeira aos poucos, e deixar bem uns 10 minutos até ficar bem fofo, pois a manteiga batida muito rápido pode talhar quando os ovos forem acrescentados).
  4. Junte as claras, duas por vez, batendo bem a cada adição.
  5. Peneire a farinha, o sal e o fermento e junte-os à mistura, em 3 vezes, alternando com o leite e deixando misturar bem antes do próximo acréscimo. Bata em velocidade média-alta por 1 minutos, até que fique bem homogêneo.
  6. Separe 1/2 xíc. da massa em uma xícara. Divida o restante entre as formas, alisando a superfície com uma espátula. Junte 1 1/2 colh. (sopa) da geléia de mirtilo à massa reservada e misture bem, até que fique homogêneo. Espalhe essa massa roxa às colheradas sobre os bolos e, com um palito ou a ponta de uma faca, faça desenhos, sem misturar completamente as duas massas.
  7. Leve ao forno por 20 minutos, na grade central, ou até que um palito saia limpo e o bolo comece a se desprender das laterais das formas. Deixe esfriar nas formas por cerca de 10 minutos, então desenforme, retire o papel das bases com cuidado e deixe que esfriem sobre grades por no mínimo 1 hora.
  8. Para a cobertura, leve a água e o açúcar à fervura em uma panelinha sobre fogo médio. Deixe fervendo sem mexer, até que forme um xarope grosso mas ainda claro (115ºC no termômetro para doces). Retire do fogo.
  9. Na batedeira, bata os ovos ligeiramente. Com a máquina ligada, tomando cuidado para não atingir a pá, despeje o xarope ainda quente em um fio constante. Quando todo o xarope tiver sido absorvido, aumente a velocidade para médio-alta e bata por 15 a 20 minutos, até que a mistura esteja leve, fofa e em temperatura ambiente.
  10. Reduza a velocidade para médio-baixa e adicione a manteiga amolecida em 2 ou 3 vezes, batendo bem entre adições. Junte o suco de limão e misture bem.
  11. Coloque o primeiro bolo em um prato, de ponta cabeça. Com um pincel, retire migalhas soltas. Se a geléia estiver muito firme, dilua-a com uma colher de água ou suco de limão, e espalhe-a sobre o bolo, deixando 0,5cm de borda. Posicione o segundo bolo, base para baixo, e coloque um pouco de cobertura em cima, no centro, Vá puxando para fora com a espátula, até as bordas, e depois para baixo, passando a espátula em torno, sempre no mesmo sentido. Quando todo o bolo estiver com uma cobertura fina, leve o bolo à geladeira por meia hora. Então comece tudo de novo, com mais cobertura, até que todo ele esteja uniformemente coberto. Reserve um pouco de cobertura para aplicar com o bico de confeiteiro, se quiser decorá-lo. O bolo pronto precisa ser mantido na geladeira até a hora de servir.

sábado, 21 de junho de 2008

Ovo poché 101: para nunca mais errar




Eu nunca soube fazer ovos pochés. Mesmo com meu super-mega-ultra livro de técnicas, com fotos do passo-a-passo e explicações científicas, eu nunca soube fazer ovos pochés. As claras estouravam em mil pedacinhos e, ao fim do cozimento, as gemas estavam duras e as claras pareciam um grave acidente numa fábrica de rendas.

Tudo mudou em minha primeira manhã em Los Angeles, na casa de minha tia, quando ela me acordou com café espresso quentinho e a pergunta: "Quer um ovo poché com aquele pãozinho de alecrim e queijo de cabra?"

Você seria louco de dizer "não"?

Disse-lhe que era absoluta e irremediavelmente incapaz de preparar um ovo poché, ao que ela respondeu me chamando para observá-la. "Foi assim que minha mãe me ensinou", disse, e notei uma foto esmaecida de minha avó materna, falecida há mais de 10 anos, pregada na geladeira, com um sorriso simples e óculos fundo-de-garrafa. Não haveria melhor lugar para deixar uma foto sua, pensei.

OVO POCHÉ PARA NUNCA MAIS ERRAR
Tempo de preparo: 5 minutos
Rendimento: 1 porção


Ingredientes:
  • 1 ovo extra-grande orgânico ou, no mínimo, capiria, de uma granja confiável
  • vinagre branco
  • sal
  • pimenta-do-reino moída na hora

Preparo:
  1. Leve a ferver cerca de 1 litro de água em uma panelinha pequena. Abaixe o fogo para o mínimo. Junte uma colherinha de vinagre e uma pitada de sal. O vinagre e o sal não vão temperar o ovo, mas ajudarão a mantê-lo inteiro.
  2. Com uma colher, mexa o centro da panela, eliminando as bolhas no fundo da panela, como que para criar um bolsão protetor para o ovo.
  3. Quebre o ovo diretamente na panela, o mais perto possível da água, de uma vez. Com a colher, delicadamente empurre as pontas soltas da clara para o centro do ovo. Deixe cozinhando em fogo mínimo por 3 minutos para uma gema molinha e 5 para uma mais ao ponto.
  4. Retire com uma escumadeira, com cuidado, escorra e coloque sobre papel absorvente, dando leves tapinhas com o papel para retirar o excesso de água. Transfira para o prato, tempere com sal e pimenta e sirva com fatias de pão, queijo, manteiga ou geléia, se for café-da-manhã.
  5. O ovo poché bem feito precisa ter formato arredondado, ter a clara firme e brilhante e a gema parcialmente cozida por fora e ainda líquida por dentro.

Nunca mais errei meus ovos pochés.

Cozinhe isso também!

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