[*Suspiro*].
Finalmente é sexta-feira. Graças aos deuses. Depois de uma semana decididamente infernal, tudo o que posso desejar é um fim de semana tranqüilo. Hoje, pela primeira vez, consegui navegar pelos blogs que costumava visitar diariamente. Consegui também sentar e de fato ler um pouco de um dos livros novos que comprei. Consegui almoçar com calma e até procrastinar um pouco do trabalho para segunda-feira. Porque ninguém é de ferro.
Estou com sérias dificuldades para escolher que pão fazer neste fim de semana. São tantas as opções de Bertinet... Mas decerto fico maravilhada com a capacidade que o mundo culinário tem de me fazer sentir ligeiramente idiota às vezes. Tem tanto que ainda preciso aprender... Achava que a técnica bizarra de sova de Bertinet fosse exclusiva para massas mais grudentas, e eis que leio, atônita, que é ele quem se surpreende quando chefs ensinam a sova comum, com a base das palmas das mãos. Os padeiros franceses, segundo ele, sempre manipulam a massa daquela forma difícil, grudenta, úmida. Daí a qualidade dos pães franceses, tão leves.
Estou absolutamente apaixonada. Suas explicações são exatas sem serem demasiado técnicas. Ele transmite verdadeira paixão nos textos e nas fotografias por todo o livro. Sua "tabela de cores", com fotos dos vários estágios de cozimento do pão, com legendas como "light golden brown" e "dark golden brown", até "burnt", além de uma página dupla comparativa com fotos e ingredientes de um pão de forma caseiro e um industrial, me ganharam definitivamente. Sequer preparei ainda um de seus pães e sou já fã incondicional de Richard Bertinet.
Para quem não se incomoda com instruções em inglês, recomendo seus livros. Ambos. Pois, ao contrário de outros chefs-celebridade por aí, não há reciclagem de receitas, ao contrário do que eu imaginaria em dois livros sobre pães. Um é claramente continuação do outro, apenas com breves explicações no segundo livro, para quem de fato pulou seu predecessor.
Aaaaaaah... isso com certeza acalma meus nervos. Espere... espere... Opa! Os músculos de meus ombros acabaram de relaxar um pouco.
A semana que vem será melhor. Com certeza.
sexta-feira, 4 de abril de 2008
quinta-feira, 3 de abril de 2008
Bolo de cenouras dummy-proof de minha mãe

"O que que é isso?", perguntei, muito desconfiada.
"Chocolate", respondeu meu pai.
Não sei dizer exatamente por quanto tempo resisti a experimentar aquela coisa de aparência pouco apetitosa. Meu pai gostava de pregar peças em mim desde pequena, e por isso eu olhava para aquilo como algumas crianças olham para uma couve-de-bruxelas. Recusei.
Num outro momento, não sei nem se no mesmo dia ou no mesmo ano, pois a memória é boa mas não tanto, meu pai se aproveitou do fato de estar completamente hipnotizada pela televisão, e aproximou-se sorrateiramente, dizendo "abre a boca!". Obedeci sem pensar nem olhar o que ele tinha na mão, e quando mastiguei, senti todo um mundo de novos sabores se abrindo diante de mim. Imediatamente a televisão perdeu o encanto. "Hmmmm! Que é isso???" Chocolate. Foi paixão à primeira mordida.
Claro, em outra ocasião, só para provar que televisão não fazia bem para meu cérebro, meu pai aplicou a mesma técnica e colocou uma rolha de garrafa na minha boca, que cuspi imediatamente, revoltadíssima, em meus sei lá quantos poucos anos.

"Do que que é esse bolo?"
"Cenoura", disse minha mãe.
"Ah, vá? Cenoura é legume! Do que que é? Fala a verdade!"
"Cenoura, juro! Olha aqui os pedacinhos!"
A verdade é que já testei diversos bolos de cenoura; com farinha de amêndoas, com nozes, com laranja, com cobertura de cream-cheese, versões italianas, inglesas, receita de tia, de amiga... Mas nunca nenhum bateu a simplicidade, a doçura e a infalibilidade do bolo de minha mãe. Porque mesmo quando ele dá errado, ele dá certo. Desta vez mesmo, atrapalhada por ter esquecido de marcar o tempo de forno e ter ido trabalhar, fui confundida pelo aroma doce que invadia a sala e o princípio de casquinha dourada por sobre o bolo, e abri o forno para testá-lo com o palito, ao que o danado respondeu imediatamente desinflando como um soufflé fracassado. Feiúra solucionada virando-se o bolo de ponta-cabeça, escondendo-se a parte em colapso.
Este é o bolo de cenoura mais fácil, mais rápido e também o mais gostoso que já fiz ou comi em minha vida. Seu miolo é muito macio e úmido, contido por uma ligeira crosta quase caramelizada que nunca vi repetida em receitas mais sofisticadas. Deixo aqui, então, essa simples mas carinhosa "herança de família", que foi para o meu caderno, acompanhado de uma ilustração, para que eu ache a receita mais facilmente, dentre tantas outras.

BOLO DE CENOURA (Updated)
Tempo de preparo: aprox. 1 hora
Rendimento: 8-10 porções
Ingredientes:
- 2 cenouras médias raladas bem fino
- 3 ovos
- 1 xíc. de óleo (canola ou girassol)
- 2 xíc. de açúcar
- 2 1/2 xíc. de farinha de trigo
- 1 colh. (sopa) de fermento químico em pó
Preparo:
- Em um liqüidificador muito potente ou um processador, bata todos os ingredientes até que fique homogêneo.
- Coloque em uma forma de cerca de 20cm de diâmetro com furo no meio, untada e enfarinhada, e leve ao forno médio (180ºC) pré-aquecido por 45-50 minutos, até que fique dourado e um palito saia limpo quando inserido no bolo (insira o palito na rachadura central, em que se pode ver o miolo, pois muitas vezes ele está pronto nas laterais mas cru nesse meio, apesar da casquinha dourada em volta).
- Deixe esfriar completamente numa grade antes de desenformar. Se quiser, cubra com ganache, mas ele é perfeito assim, sem nada.
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