sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

(De)Soufflé de amaranto


Desde que comprara o livro Super Natural Cooking estava louca para experimentar o soufflé de amaranto. Para dizer a verdade, eu queria qualquer coisa de amaranto, depois dos louvores dispensados pela autora à semente. Quando encontrei-a à venda no mercado, confesso que dei alguns pulinhos, ali mesmo entre as gôndolas de produtos naturais.

Hoje decidi que usaria meu amaranto pela primeira vez.

Não tenho medo de soufflés. Já os fiz antes (apesar de não ter escrito nada a respeito por aqui) e acredito que quem faz bolo faz soufflé. Tinha como único fator complicante na receita o uso das sementinhas, pois não as conhecia.

Tosta na frigideira, cozinha em água quente, como arroz. Faz o molho branco com pimenta caiena. Vou pegar minha pimenta e... ela mofou. Hein??? Eu nem sabia que pimenta em pó podia mofar! Mas como o potinho tinha uma rolha como tampa, lembrei-me do mofo que vinho pega da mesma forma, e xinguei a danada, jogando um vidro inteirinho de pimenta em pó no lixo. Resolvi usar pimenta calabresa em flocos, que não fica tão bonito, mas... Mistura a pimenta, tempera, junta o queijo e o amaranto cozido, tudo no soufflé. Bota nas forminhas chamorsamente forradas de amaranto. (!!!) Bota nas forminhas?? A receita indicava quatro porções. E como qualquer receita de soufflé individual que se prese usa ramequins de 150ml, nem me dei ao trabalho de fazer a conversão da medida em ounces fornecida. Simplesmente fiz metade da receita, porque eram apenas dois comensais e, principalmente, porque só tenho dois ramequins desse tamanho.

Ten ounces
. 300ml. Ahn...

"Aaaaaalleeeeeeeex!!", gritei da cozinha, enquanto terminava de incorporar as claras em neve ao creme. "Rápido! Seca essa forma de soufflé grande e esfrega um monte de manteiga nela!!", ordenei, como um médico tentando salvar uma velhinha que enfartou no metrô na hora do rush. Bom, eu estava tentando salvar meu soufflé, e isso é urgente o bastante para mim.

Desajeitadamente, tentei descolar o que restara do amaranto tostado dos ramequins pequenos e espalhá-los na forma grande. Não preciso descrever o desastre resultante. É claro que as sementinhas agora bezuntadas em manteiga não rolam graciosamente pelas paredes da forma, grudando-se umas ao lado das outras com perfeição. Não, elas formam bolinhas revoltosas, aliciando umas às outras a unirem-se a seu motim contra minha vontade irredutível de espalhá-las na forma.

Já num clima "o que será, será", transferi a mistura para a forma, que agora parecia um pedaço de louça branca com um caso muito grave de peste, e levei ao forno. Enquanto isso, pus-me a preparar uma salada, para o caso de não termos soufflé no jantar.

Minha mãe me ensinou que o bolo não cresce se você ficar olhando. Como era um soufflé, no entanto, e não um bolo, tratei de vigiar o bendito de cinco em cinco minutos, como numa tentativa de antecipar a frustração e a desistência, para que não precisasse esperar trinta minutos para pedir uma pizza. Porém, contra todas as expectativas, o bendito inflou. E o cheiro começou a ficar bom. E então começou a cheirar queimado. Tive de tirá-lo do forno quase dez minutos antes do que o indicado na receita, e fiquei imaginando o desastre que teria sido caso tivesse prosseguido e feito as versões menores.

Não deu nem tempo de tirar meia dúzia de fotos fora de foco e o soufflé já desinflara. O que não é exatamente um problema quando o que você quer é apenas jantar, e não impressionar algum convidado (se bem que impressionar gente com soufflé é muito anos 80... Aliás, soufflé e fondue deveriam ter entrado na lista do post da modinha; junto com panna cotta, que é a sobremesa da vez — e que não se encontra bem feita em lugar nenhum). No fim das contas, a textura do prato estava ok. Macio, leve e tudo o mais que se espera dele. O gosto... estava... ok também. Já comi melhores. Foi um pouco decepcionante, pois eu esperava que o amaranto desse um sabor ligeiramente exótico ao soufflé, mas, além da textura meio crocante, ele acrescentou muito pouco (senão quase nada) ao sabor. Era um soufflé de queijo. Crocante.

Mais um "super alimento dos Andes" indo para a lista do "nhé". "Você gosta de amaranto?" "Nhé...", responde um transeunte, dando de ombros.

Doce sopa de cenouras para acalmar os nervos






Ê, fase, viu?! Primeiro marido doente, depois excesso de trabalho, agora cãozinho resolveu ficar borocochô (eis uma palavra que nunca pensei que escreveria — será que é assim??). O coitado do bichinho empipocou todo de calor e está sendo entuchado de antibióticos e antialérgicos. Lá vou eu parar de trabalhar e levar o Gnocchi no veterinário (que, ainda bem, é aqui do lado). Toma remédio e... passa mal do estômago. Lá vai a Ana limpar a sujeirada, morrendo de dó do cãozinho, mas simultaneamente pensando no prazo. Ai, o prazo. Tem que terminar a estrutura do painel, tem que ilustrar os edifícios, os veículos, tem que converter os gráficos, e ilustrar as pessoinhas... Ai, as pessoinhas! Tem que escanear e enviar para o cliente para que ele aprove o traço! Mas eu ia fazer isso no fim de semana! Droga. Volta tudo. Refaz o cronograma. Não vai dar tempo, não vai dar tempo...

AAAAAARGH!!!

Preciso de algo gostoso no almoço, pensei. Não quero salada, não quero sanduíche. O que dá prá fazer rapidinho, que seja reconfortante, e que não exija que eu fique muito tempo longe do computador?

Apanhei duas cenouras pequenas, descasquei-as e fatiei-as, cortando também um tomate em bocados. Misturei-os, em uma assadeira, a um pouco de azeite, sal, pimenta moída na hora, uma pitada de cominho em grão, 1/2 colher (chá) de mel e levei ao forno quente, a 220ºC por uns 20 minutos, até que as cenouras estivessem caramelizadas e o tomate, murchinho. (Enquanto isso, volta para o computador e reescreve os contratos para o outro cliente.) Bati tudo no liqüidificador com 125ml de caldo de legumes e 1/4 de xícara de creme de leite fresco. Acertei o tempero, e comi acompanhado de lascas finas de polenta assada, crocantes depois de salteadas no azeite.

Aaaaaaaaaaaah... que booooom... Suquinho de maracujá para acompanhar e terminar de acalmar os nervos.

Agora de volta ao buraco negro que me engole para dentro do universo chamado trabalho.

Cozinhe isso também!

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