quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Do creme de papaia à lavanda: comida vai, comida vem.

Quando era adolescente, não podia ir a um restaurante, do mais fuleiro ao mais pretensioso, sem encontrar no cardápio creme de papaia com cassis. Nunca fui muito fã, na verdade, mas adorava a versão em sorvete de palito feita pela Kibon na época (você sabe o que um doce é moda quando a Kibon faz sorvete dele). Depois do creme, veio a hoje infame tríade mozzarella de búfala-rúcula-tomate seco. Pizzas, sanduíches, esfihas, risottos, massas, saladas, todas as versões do que hoje acabou caindo no reino das breguices culinárias (o que não quer dizer que eu não continue adorando). Então, foi a vez do petit gâteau. O pobre bolinho (chamado carinhosa e espirituosamente por minha cunhada de "gatinho") teve vez em padarias e em versões industrializadas da Sadia. Testemunhamos uma verdadeira invasão de petits gâteaux por toda a parte, até a exaustão, com sorvete, com calda de frutas vermelhas, e até bolinhos que não mereceriam o nome, recheados de goiabada depois de prontos, ou simplesmente brownies disfarçados. Vimos histórias e mais histórias em diversas revistas a respeito da sobremesa, e o alarde foi tanto que houve até briga de chefs reivindicando a autoria.

Então o petit gâteau foi juntar-se à rúcula com tomate seco e ao creme de cassis.

Ratatouille não tem nem graça. Entrou na moda rapidinho, e despontou, de repente, no menu de muito bistrozinho.

O que ando achando de mais interessante desde que comecei o blog (e conseqüentemente comecei a ler outros), é observar esses modismos indo e vindo cada vez mais rapidamente.
Há épocas em que você vê blogs nacionais e internacionais publicando textos e mais textos a respeito de macaroons. Em especial os do Pierre Hermé. Todo mundo fala a respeito, cozinha, tira foto, discute qual versão é a melhor. De repente, pára tudo: a moda são madeleines. E vê-se as mais "inovadoras" versões, até discussões "forma de alumínio contra forma de silicone": qual é a melhor para dourá-las e formar aquela ligeira casquinha por fora?! Passou-se pela moda do chá verde (que chegou agora aqui no Brasil mas já é quase datado lá fora) e fazem-se as mais bizarras experiências com chá verde, de bombas, passando por trufas e chegando aos sorvetes. A lavanda vem juntinho, já dando as caras esporadicamente por aqui, apesar de ter também pipocado em todas as confeitarias lá de fora.

Outras modas surgiram por aqui mesmo, sem ajuda do "pessoar dos estrangeiro". Foi o caso do cupuaçu. Houve uma época que eu pularia da janela se me oferecessem mais um bombom de chocolate com cupuaçu. O açaí também teve seus áureos dias de glória, e até muita polêmica por causa daquele grupo japonês que "patenteou" a fruta. Hoje tem açaí até no livro da Heidi Swanson.

E aí? O que será que é a modinha hoje? Estou tentando pensar num prato ou ingrediente salgado que esteja já cansando nossa beleza. O que é que se vê em todo restaurante, até lanchonete de rodoviária? Qual é o ingrediente da vez que comeremos até nunca mais querermos vê-lo?

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

(Mais uma) Torta para desestressar

Quando o cliente me chama para uma reunião completamente desnecessária, enquanto eu tenho dois projetos que precisam desesperadamente de minha presença constante e ininterrupta em frente ao computador, eu encaro isso como uma licença para tirar uma folga. Porque obviamente o cliente não está ligando muito para prazos. Então por que eu deveria?? [*Suspiro.* Eu vou pagar por isso, não vou?!] Esses últimos dias não consegui correr, mal tive tempo de passear com o cachorro, e almocei e jantei porcarias. Chega! Precisava desestressar e, voltando às 18h da reunião, decidi que não ligaria mais o computador hoje (bom, pelo menos não para trabalhar no meu painel que já tem quase 1 giga e, pasme, mais de 1500 layers com minúsculas arvorezinhas de 3cm ocupando um espaço de um metro e meio... Já agradeci por não ter de trabalhar num PC? Obrigado, Apple, por criar um computador que funcione.)

Ao abrir a geladeira, lembrei-me de uma torta flamenca que fizera há mais de um ano atrás, com uma receita de um livro de minha mãe. A torta levava cenouras, nabos e cogumelos, cobertos por creme de leite e ovos com noz moscada. Para falar a verdade, a original não fizera tanto sucesso aqui em casa, pois ficara um pouco sem gosto. Faltavam ervas, faltava tempero. Por isso, usei o que havia na geladeira para recriar a torta e melhorá-la, usando a massa de sempre, pois não me lembrava da receita do livro.

Cortei em tiras muito finas (cerca de 3mm por 7cm) 4 cenouras pequenas e 2 rabanetes, piquei um maço de cebolinhas e fatiei um dente muito gordo de alho. Dourei o alho em azeite de oliva, juntei as cebolinhas, e em seguida, as cenouras e os rabanetes. Salguei generosamente, temperei com pimenta moída na hora, e tampei, deixando que os legumes murchassem sob seu próprio vapor. Quando estavam macios, mas ainda al dente, acertei o tempero e juntei um punhado substancial de salsinha picada e uma colher exagerada de manteiga. Pré-assei a massa, espalhei os legumes e cobri com uma mistura de 1 xícara de creme de leite fresco, 3 ovos, sal, pimenta e muita noz moscada. Foram 25 minutos em forno médio, e o resultado merece com certeza um "nham-nham". Muito mais saborosa que a receita original, com as cenouras ligeiramente caramelizadas em seu próprio açúcar, o picante do alho, a salsinha refrescante e o gosto diferente dos rabanetes cozidos ao invés de crus.

Ok, ok, sei que ando exagerando, e prometo que deixarei as tortas de lado por um tempo...

Cozinhe isso também!

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