quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Risoni, fagiolini e fave al pesto di basilico


Um título bem metido à besta para esse post, pois tenho uns amigos que não são chegados em coisas verdes, e talvez "risoni com vagens e favas ao pesto de castanha de caju" não soe tão apetitoso quanto o prato na verdade é.

Ontem Allex veio até a sala segurando a caixinha azul já aberta de risoni da Barilla, com um olhar bastante curioso.

"O que foi?"
"Faz alguma coisa com isso amanhã?"
"Faço. Mas isso é macarrão de sopa. Tem que ser sopa ou pode ser outra coisa?"
"Qualquer coisa tá bom."

Lá fui eu ver o que tinha na geladeira e pensar o que poderia fazer com o risoni (massa em forma de grão de arroz) que não fosse sopa, já que anda tão quente que o pobre cão tem passado o dia dormindo de barriga para cima em frente ao ventilador. Mencionei vagamente que fizera uma salada de Jamie Oliver ontem. Aliás, no espírito de terminar algum livro de receitas, fiz no dia 1º um fettuccine com molho de alho-poró e mascarpone. Gostoso, mas faltava profundidade; profundidade essa que consigo num molho já clássico aqui em casa, de alho-poró, creme de leite e manteiga, com raspas de limão, que fazem toda a diferença. Sorry, Jamie, but mine is better.

Mas voltando ao que interessa... Favas (adoro favas), vagens francesas (adoro vagens) e aspargos (adoro aspargos) com molho de mostarda e vinagre balsâmico. Parecia promissor. Mas a salada ficou... ok. Para quem adora tudo o que tem nela, acho que deixou muito a desejar. Fiquei frustrada, pois a receita é do primeiro livro dele (assim como a massa com alho-poró), e está justamente ao lado de uma de minhas saladas favoritas: espinafre, ervilhas e queijo de cabra.

Os aspargos foram todos para a salada, mas sobraram vagens francesas (vagens comuns, só que mais fininhas) e favas. Cozinhei-as separadamente, al dente, e preparei enquanto isso um pesto com manjericão, castanha de caju, alho e azeite, usando muito mais castanhas do que manjericão, pois eu queria textura no prato, e queria a doçura das castanhas não salgadas para amansar o alho. Misturei as vagens e as favas ao pesto, experimentei e, por si só, estava uma delícia. Poderia servir assim mesmo, ou fazer um purê de tudo e espalhar sobre torradas de pão ciabatta, com um fio de azeite e uma bola de mozzarella. Mas Allex pediu o risoni.

Tampei a tigela com filme plástico e levei à geladeira, para marinar, fortalecer e amalgamar os sabores, e depois misturar os feijões frios e temperados à massa fumegante. Só tive de ficar muito atenta ao cozimento do risoni, para que não virasse uma papa. Você pode (e deve) usar favas frescas ao invés das congeladas quando for sua estação. Mas lembre-se de descascar as maiores. As menores podem ser acrescentadas cruas à massa. O prato final ficou absolutamente delicioso, reconfortante e, sobretudo, leve.

RISONI COM FAVAS E VAGENS AO PESTO DE CASTANHAS DE CAJU
Tempo de preparo: 30 minutos
Rendimento: 3-4 porções


Ingredientes:
  • 350g de risoni
  • 200g de favas congeladas
  • 200g de vagens francesas orgânicas
  • 1 xíc. de castanhas de caju
  • 1/2 xíc. de folhas de manjericão fresco
  • 1 dente de alho pequeno
  • 1 pitada de sal grosso
  • 1/4 de xíc. de azeite extra-virgem
  • 1 xíc. de queijo parmesão ralado grosso
Preparo:
  1. Em um pilão, amasse o alho e o sal grosso até obter uma pasta. Junte as castanhas e amasse com força, até que elas estejam bem misturadas à pasta de alho e bem trituradas. Acrescente o manjericão e faça o mesmo. Junte o azeite e misture bem.
  2. Corte as pontas das vagens, jogando-as fora. Corte as vagens em pedaços de 2 cm.
  3. Ferva 1,5l de água em uma panela grande. Não salgue. Coloque as favas na água fervente e cozinhe por 5-7 minutos, até que fiquem tenras mas ainda verdes e com gosto fresco. Se cozidas demais, suas cascas ficam cinza. Retire com uma escumadeira e reserve-as em uma tigela. Misture-as com metade do pesto.
  4. Junte as vagens na mesma água e cozinhe-as até que fiquem macias, mas al dente e ainda de um verde bem vivo. Retire-as com uma escumadeira e junte-as às favas, misturando o resto do pesto. Mexa bem com uma colher, para que todos os feijões estejam bem recobertos de molho.
  5. Na mesma panela, junte mais 1-1,5l de água e leve novamente à fervura. Salgue com 1 1/2 colh. (sopa) de sal. Junte o risoni e cozinhe até estar al dente. Cuidado, pois alguns segundos a mais pode tornar o risoni uma papa. O ideal é tirar um pouco antes de estar no ponto, pois ela continuará cozinhando no prato.
  6. Escorra a massa e misture os feijões, acrescentando mais um fio de azeite e o queijo parmesão. Misture bem com um garfo e sirva imediatamente.

Larousse do Chocolate e um chuchu de bolo: redenção, talvez...? (Updated)

Desde o fiasco do rocambole de natal que eu estava louca para acabar com os doces da casa e tentar uma nova receita do livro. Pesquisei um bocado e descobri várias críticas positivas sobre o livro e receitas que haviam dado certo. Não havia por que apenas na minha mão as coisas degringolarem... Ou havia?

Fui cuidadosa: escolhi a receita de bolo mais fácil de todo o livro: "Bolo Fofo". Era derreter a manteiga e o chocolate, juntar com todo o resto, bater no liqüidificador, botar na forma e assar. Não há margem para erros aqui. A não ser erros de tradução.

Quando vocês olham para o bolo da fotografia, qual descrição é a melhor na sua opinião: bolo mousse ou bolo fofo? Porque no How to be a Domestic Goddess, de Nigella, há uma foto muito semelhante, e o título é "chocolate mousse cake". Ambos tratam-se do mesmo princípio: uma casquinha assada por fora e massa quente semicrua macia e escorrendo por dentro. Quem foi o panaca que traduziu isso como bolo "fofo"? Talvez o tradutor tenha achado o bolo "uma gracinha"...

Bom, frustrações etimológicas à parte, já que eu poderia (*suspiro*) ter pesquisado sobre a receita antes de fazê-la... A receita DEU certo. Em partes. Nunca pensei que encontraria dificuldades em uma massa tão simples, mas havia uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho havia uma pedra. A primeira pedra era um monolito, chamado "liqüidificador de quinta categoria". O bolo de Nigella que fizera da mesma forma há um tempo era assustadoramente líquido, e por isso bateu sem problema nenhum, ficando completamente uniforme em pouco tempo. Esta massa, entretanto, não é do tipo "despeje" (mais uma vez, esse tradutor mostra que tem chocolate no lugar de miolos); é do tipo "coloque a colheradas". Ela é muito densa. Tão densa, que você tem de espalhá-la na forma com uma espátula e alisá-la, ou ela corre o risco de não ter um tamanho uniforme. E, de fato, os pequenos picos e marcas da espátula que tinham ficado na massa ao ir para o forno permaneceram, mesmo depois de assados. Sou capaz de de apostar dinheiro como, ou Hermé tem um liqüidificador potentíssimo e esqueceu que nós mortais não temos, ou a receita original usava um processador de alimentos e o tradutor abrasileirou-o para "liqüidificador".

O resultado: quase fundi o coitadinho. O liqüidificador começou a andar pela bancada, a despeito das ventosas nos pés, fazendo um barulho assustador e exalando um cheiro de óleo de motor esquisitíssimo, seguido do suave odor de peças de metal superaquecendo. Não consegui deixar o bichinho ligado pelos enormes 3 minutos que a receita pedia, e tive de misturar tudo com uma espátula, até ficar homogêneo.

"Coloquei às colheradas" na forma, espalhei bem, alisei o mais que pude, e levei ao forno que estava exatamente a 180ºC pelos 15 minutos (e nem um segundo a mais) indicados na receita. "Retire do forno e desenforme no prato de servir", dizia. Assim, logo de cara...? Ok, lá vai, então. Virei o bolo, tirei a forma e... o bolo quebrou. Alguns pedacinhos estavam muito delicadamente grudados na forma. E olha que eu sou a senhora unta-forma: não havia um milímetro da desgraçada da forma antiaderente que não estivesse coberta de manteiga e farinha. Meus bolos nunca grudam. NUNCA GRUDAM. E esse grudou mesmo assim.

Retirei com uma faquinha as partes grudadas, colocando-as novamente sobre o bolo como um quebra-cabeça. Polvilhei o cacau por cima e deixei o bolo amornando na cozinha, enquanto almoçava o resto da salada de aspargos, vagens francesas e favas de Jamie Oliver, que fizera na noite anterior (salada decepcionante; nada de mais). Depois de comer, tirei-lhe um pedaço, fiz as fotos e experimentei-o.

Ahn... é, ficou gostoso. Para quem gosta do tipo. Ainda que eu tenha usado chocolate amargo da Callebaut a 50% de cacau, ao invés dos 60% indicados na receita, o bolo ainda apresentou aquele amargo-doce que evito em bolos. O que quero dizer com isso é que tenho a impressão, enquanto o saboreio, de que minha língua está sentindo o amargo do chocolate e o doce do açúcar separadamente, ao invés de dois sabores se complementando. É difícil descrever. Mas é o mesmo motivo pelo qual não fiquei maluca pelo bolo do "O melhor bolo de chocolate do mundo". Mas se você gostou, tenho certeza de que gostará desse também. É uma sobremesa rapidíssima para quando se tem convidados de última hora, mas é para se comer com uma jarra de água gelada do lado...

Lógico que parte da frustração foi a textura inesperada. Achava que teria um bolo muito denso e úmido, como são normalmente os bolos sem fermento e que levam amêndoas moídas, mas não... derretido.

Então, fica assim: o livro está parcialmente redimido. Terá valido a pena quando produzir algo de chocolate de que eu goste. Eu não sou uma chocólatra. Prefiro bolos e doces com frutas. Acho que compro barras de chocolate para comer, e não para cozinhar, umas 2 vezes por ano, se tudo isso. De vez em quando me vem uma vontade louca de comer bolo de chocolate, muffins de chocolate, brownies, etc e tal. Só que não serve qualquer receita: precisa ser aquela de que eu tinha vontade. E não era desse bolo que eu tinha vontade. Eu queria um bolo fofo.

[UPDATE: Levei metade do bolo-não-fui-muito-com-a-cara à casa de minha mãe, onde deixei-o, na geladeira, com um post-it cor-de-rosa dando-lhes boas-vindas (ela e minha irmã voltam de Fortaleza hoje). Não que eu esteja dando comida que não gostei, porque geralmente não faço isso; mas porque somos em apenas dois por aqui, e elas estão também em duas por lá (com meu pai fora a trabalho), e Allex e eu não conseguimos comer um bolo inteiro sozinhos, nem quando o adoramos. Por isso, sempre saio distribuindo as gostosuras. [Vocês acabaram de descobrir o segredo de porque não somos dois elefantes, apesar de eu preparar tantos doces. Ok, talvez não o Allex, mas eu preciso eliminar alguns excessos de Ana Elisa que andam sobrando na cintura.] O caso é que o livro diz que o bolo deve ser servido morno. E elas o comerão gelado. Pensei nisso e, voltando para casa, apanhei uma faquinha e tirei um pedacinho de nada do bolo que já estava na geladeira desde que escrevera esse post (não me atrevo a deixá-lo fora, com esse calor). E não é que o danado fica bem melhor gelado? Aquela melação toda de chocolate adquiriu uma textura de brigadeiro molinho, bem mais apetitosa (para mim, pelo menos), e o fato de estar geladinho torna seu sabor denso mais interessante nesse dia quente. Vou comê-lo depois do jantar com uma bola de sorvete de mascarpone, que ficou com um gosto muito amanteigado para ser comido sozinho, mas perfeito para affogatto (como sugere David em seu livro, de onde tirei a receita) ou para acompanhar um bolo como esse. Ok, ok, livro 90% redimido.]

Cozinhe isso também!

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