quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Eu não me agüento...


Nessa manhã de chuva, dei-me folga na corrida e na recém-começada musculação. Aproveitei para acordar com calma, brincar com o cão e bater papo com o marido. Ele quis que eu o acompanhasse por metade do caminho até a garagem onde guarda a moto, e que aproveitássemos e tomássemos café-da-manhã na nova padaria local. Bebi um espresso puro (gostoso) e comi uma pequena trança adocicada salpicada de passas úmidas e frescas (saborosa, mas eu bem que gostaria de uma manteguinha salgada para acompanhar). Comentei que estava chovendo?

Acabei acompanhando-o até a garagem, e, estando já no meio do caminho, resolvi subir até a livraria Cultura, só para fuçar e passar o tempo. Ai, ai, ai... Como se eu não me conhecesse. Saí de lá com o novo livro do Jamie Oliver debaixo do braço e uma encomenda que chega daqui a 3 dias. Quando saí da livraria, a chuva apertara e... comentei que não levara guarda-chuva?

Coloquei o livro dentro da mochila e saí andando pela rua, sem pressa, deixando que a chuva gelada me encharcasse como se eu não me importasse. E a verdade é que de fato não me importei. Fazia tanto tempo que não tomava chuva, e esta me fez tão bem, despertando os sentidos e as lembranças de infância, lavando embora todas as minhas preocupações...

Não existe sensação mais reconfortante do que chegar em casa, trocar as roupas molhadas por um moletom quente e seco e tomar um chá de gengibre fumegante no sofá da sala, lendo um livro novo e rindo do cão brincando sozinho, pululando pela sala.

O novo livro está lindo, do jeito que gosto de meus livros de cozinha: lotado de fotografias. Concordo com alguns chefs que acham que Jamie Oliver é um pouco canastrão, no sentido de que sua comida não é nem um pouco revolucionária. It´s all been done before. No entanto, simplesmente adoro o estilo de vida que ele promove, e suas receitas são, de fato, perfeitas para o dia-a-dia. Estas, então, acompanhadas de dicas de jardinagem, parecem ter sido escritas para malucas como eu. Não consigo deixar, porém, de sentir alguma melancolia ao ver as fotos de seu jardim e tudo o que nele é produzido... Pergunto-me se um dia terei condições de ter um espaço assim, cercado de verde, onde possa plantar meus tomates e criar minhas galinhas (pelos ovos, apenas pelos ovos!).

Pãozinho caseiro ainda é o melhor que existe

Nova padaria no bairro: Benjamin Abrahão, um ponto famosinho no Higienópolis, agora tem filial na minha rua. Lá fui eu experimentar — porque eu não consigo ver nada relacionado a comida abrindo perto de casa sem enfiar meu nariz para dentro da porta e fuçar (às vezes entro em restaurante que nem abriu ainda, só prá dar uma olhada na reforma e conversar com o dono).

O lugar é uma graça, todo branquinho e clean, bem diferente das padarias-serve-sopa-à-meia-noite que costumam ser cheias de fotografias de gosto duvidoso e materiais de ponto-de-venda de marcas de presunto e refrigerante. O ambiente é muito calmo e agradável, corrompido apenas por uma enorme geladeira de sorvetes Nestlé, um monstrengo azul num mar de tranquilidade pálida.

Os pães são todos muito bonitos, e satisfazem em parte minha necessidade de ver mais pães do que chocolates numa padaria. A única fonte de decepção foi a listagem de ingredientes de cada produto, onde eu podia ler, entristecida, as palavras "margarina" e "gordura hidrogenada". Lá fui eu fazer perguntas ao jovem chef responsável, que me garantiu que usam manteiga em alguns produtos onde ela é prioritária para o sabor e qualidade. Ok, para mim, qualquer receita onde originalmente se use manteiga tem como prioridade a mesma. No entanto, sei que é um fator que encarece demais os produtos... Hum...

Comprei pães franceses, pois são bastante básicos, e, para mim, um bom indicador de qualidade de uma padaria. Se o pão francês é uma droga, que dirá uma ciabatta?? O pãozinho passou no teste: não tinha gosto de mistura pronta comprada em atacadista. A ciabatta, comprada depois pelo Allex, também era saborosa. Mas faltava alguma coisa... O quê? A textura estava boa, o sabor estava bom, a cor perfeita, o molde ótimo. Ouso dizer, no melhor estilo Sazon (eca!) da coisa, que falta aquele amor que a gente coloca na massa quando faz o pão. Talvez, apesar da visível qualidade dos produtos da padaria, eu esteja muito mal acostumada às minhas farinhas orgânicas e/ou italianas, minha manteiga branquinha, meu azeite de oliva extra virgem, meu açúcar orgânico. Acho que, depois de um tempo, assim como a língua sente fácil a diferença entre a manteiga e a gordura hidrogenada, nada mais substitui o gosto do pão feito em casa, por nossas próprias mãos.

(Mesmo assim, vale a visita.)

Cozinhe isso também!

Related Posts with Thumbnails