terça-feira, 19 de junho de 2007

Todo mundo erra

Nesse fim de semana, Allex pediu que eu preparasse duas dúzias de muffins para um café da manhã da empresa. Ok, sem problemas. Passei na casa de minha mãe para pegar emprestado um forma extra de muffins e, no domingo à noite, depois de um fim de semana bastante corrido, lá fui eu para a cozinha. Ele ficou ao meu lado, acompanhando o processo e tentando aprender alguma coisa e, quando a massa foi para as formas e estas ao forno, tudo parecia ir às mil maravilhas. Qual não foi a decepção ao retirar das formas 24 muffins achatados, pesados, farinhentos e assados desigualmente. Não preciso dizer que foram todos para o lixo.

Conto isso porque freqüentemente escuto a frase "tudo o que eu cozinho dá errado, então parei de tentar". Bom, pergunte à sua mãe, sua avó ou mesmo a qualquer bom chefe de cozinha: todo mundo erra. Muito. Mesmo gente com muita experiência ainda joga bolo no lixo. São tantas coisas que podem dar errado, desde a receita não testada, passando pelo forno diferente, até o fato de você simplesmente não estar no clima para cozinhar, que é uma grande bobagem concluir que o problema seja falta de talento.

É horrível desperdiçar tempo e comida, mas, fazer o quê?! Bola prá frente, tente de novo. Não jogue fora a receita. Compare sua base com outras semelhantes para verificar se a original contém erros de medidas, tempos, temperaturas ou ordem. Verifique se você de fato seguiu o passo-a-passo corretamente e se não infringiu nenhuma regrinha básica que possa ter arruinado seu almoço. Se a receita estiver errada, conserte-a ou jogue-a fora. Senão, dê uma outra chance. Num momento melhor, ela pode surpreendê-lo com bons resultados. Se o prato que você tentou fazer exigia alguma técnica nova para você, corra atrás e informações mais precisas, com fotografias, que possam guiá-lo mais detalhadamente numa próxima vez. Meu livro do Culinary Institute of America mostra até mesmo a cor a que devem chegar as cebolas em uma sopa de cebolas clássica francesa. É só comparar o que está na panela com a foto, e não há como errar nunca. Talvez, no entanto, você tenha sido apenas ambicioso demais. Comece com algo mais simples e vá complicando aos poucos.

O caso é, essa não será a última vez que prepararei muffins nem a última vez que eles irão para o lixo. Isso é normal, principalmente quando se começa a adaptar receitas para criar suas próprias. Ninguém acerta sempre.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Eu adoro feira!


Ufa! É sempre ótimo dizer que não tive tempo de escrever no blog, pois isso quer dizer que andei trabalhando um bocado, o que para um freelancer é o paraíso! Mas cá estou de volta. Desta vez tentando convencê-los a afastarem-se das estéreis geladeiras de seus supermercados e darem uma voltinha na feira semanal mais próxima de sua casa. Não, não adianta tentarem me enganar com a conversa da falta de tempo: existem feiras de domingo. A da Alameda Lorena, nos jardins, é minúscula, de um quarteirão só, mas excelente (ótimo pastel, por sinal).

Na última quarta, voltando da feira — praticamente arrastando meu sacolão vermelho até em casa — brinquei, dizendo que sou em uma feira livre como a maioria das mulheres é em uma liquidação de sapatos. Meus olhos não param quietos, tentando identificar nas barracas que parecem todas iguais, os melhores produtos da estação. Sou invasiva, quero encostar em tudo, apertar tudo, escolher cada tomate, cheirar as frutas, experimentar. Fico constantemente inebriada pela variedade de tons de verde no imenso paredão de hortaliças de minha banca favorita. Existe coisa mais linda que o rubi intenso de uma beterraba? E suas folhas, que mantém no talo o cor de vinho forte e esmaecem até um verde-bandeira lustroso. "É uma pena que eles vão para o lixo", você deve ter pensado. Ledo engano. Se você tem livros de culinária metidos a besta, deve já ter visto menção a uma folhagem deliciosa chamada "swiss chard". Tchanans: folhas de beterraba. Você as come como comeria espinafre, refogadas com alho e azeite, talos e tudo o mais, ou rapidamente cozidas (1 minuto apenas) em água fervente com sal, deixando os talos o dobro do tempo.

Outro dia fiquei em choque ao ouvir uma colega comentar que nunca vira folhagem de cenouras na vida a não ser em desenhos do Pernalonga. Bem, você pode comprar ramos maravilhosos de cenouras (com as folhas, que dão ótimos bolinhos) na feira. Assim como funcho (erva-doce), com lindos ramos de folhinhas verde-água minúsculas, com um delicioso perfume de anis. Estas folhinhas ficam ótimas em saladas, massas ou finalizando qualquer prato em que o funcho seja utilizado cozido, para evocar novamente o elemento fresco do bulbo.

Mas, e se eu não quiser comer esse monte de folha, você me pergunta, qual a vantagem? As folhagens de raízes e bulbos consomem a energia dos mesmos. Se não forem cortadas, as cenouras, por exemplo, murcharão. Mas sem os bulbos e raízes, são as folhas, por sua vez, que enfraquecem e morrem em pouco tempo. De modo que, ao comprar uma cenoura com a folhagem, você tem a garantia de estar comendo algo que foi colhido no dia anterior! Não poderia ser mais fresco do que isso! Isso também implica em uma durabilidade muito maior em sua geladeira do que a cenoura comprada no supermercado em bandejas de isopor. Sem contar toda a pataquada ecológica que eu adoro: usar as folhas das suas raízes e bulbos quer dizer maior aproveitamento do alimento e menor geração de lixo. Além do fato de que você estará levando dois vegetais pelo preço de um!!!

Vá à feira! As frutas fora da geladeira têm mais cheiro: você consegue diferenciar mais facilmente o que está bom do que não está. Pergunte ao feirante o que está na época, o que está bom, como preparar. Ele vai reponder com gosto. E se vier uma lagarta no meio da sua couve-flor, ou uma aranhinha no meio das suas uvas, comemore: o produto que você comprou tinha menos agrotóxicos (ou nenhum). Lembre-se de comprar vegetais menores: alho-poró mais fino, cenouras de no máximo 15 cm, funchos redondos e compactos; eles têm mais sabor do que seus irmãos super-crescidos. É importante também, assim que chegar em casa, separar as folhagens de suas respectivas raízes ou bulbos, e guardá-las em saquinhos. Use as folhas antes, pois o que fica embaixo da terra costuma durar mais.

Como queria adornar esse post com uma foto bonita de feira mas não tenho nenhuma local, vai aqui uma feira linda em Bolzano, na Itália. Aliás, culinária italiana é a melhor fonte de receitas de baixo orçamento para aproveitar cada pedacinho negligenciado de absolutamente qualquer vegetal.

Cozinhe isso também!

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