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quarta-feira, 27 de março de 2019

Caindo do cavalo, levantando de novo, um frango, um croquete, uma torta de maçã, um funcho e sei lá o que mais

Passeando sobre o lago congelado. Tão congelado, que fiz até anjinho de neve, bem no meio dele, deitadona olhando pra cima, a uns 30 metros de distância da beirada.
Gnocchi se diverte horrores no inverno. Mas estou feliz que é Primavera de novo.

 Fevereiro e Março foram meses estranhos. Cansaço generalizado do inverno que nunca tem fim, com direito a palavrões e bufadas a cada abrir de janela de manhã, revelando uma nova nevasca. Chega! Chega de neve! Chega de gelo na calçada! Chega de slush, neve suja, derretida, tornando a rua (e o parque) um pântano! Vejo fotos da Europa primaveril com verde e flores e casacos leves, e a carranca de todo mundo aqui aumenta. Nos poucos dias que surgem com temperaturas positivas, 4 graus, 8 graus, saímos sem gorro e sem luvas, casaco aberto, e Laura diz contente: "parece Verão, mamãe!" Seres humanos se apinham sob os raios de sol, esquentando o rosto e fingindo que o Inverno acabou.

Depois de passar os últimos dois meses resolvendo um momento bastante turbulento relativo a trabalho, a família parece ter voltado à rotina no mesmo momento em que a última (espero) neve se foi e os primeiros pássaros retornam à cidade. A Primavera chegou enfim, ainda que apenas no calendário.

Foram dois meses de bastante... economia. De colocar à prova aquilo que havia tempos eu exercitava pelo mero prazer criativo: gastar pouco e fazer refeições renderem, coisa que nesses meses precisei fazer por necessidade e não escolha. Abri mão de muitos itens orgânicos em detrimento dos comuns, evitei repor qualquer item que não fosse absolutamente necessário (como tahini, ou azeitonas, por exemplo), e eliminei completamente as carnes, que são o elemento mais caro de qualquer cardápio. Baseando nossos pratos no bom e velho arroz e feijão, no entanto, que comprados em sacos grandes saem muito baratos, e evitando preparar sobremesas, mantive a família toda maravilhosamente bem alimentada e dentro do budget emergencial.

Arroz integral, feijão preto, abóbora assada e espinafre refogado. Uma combinação deliciosa, que fez Laura começar a gostar de abóbora E de espinafre.
Em tempo, porque acho que nunca mencionei isso antes: eu nunca refogo o feijão com bacon; o que uso para trazer defumado e complexidade é um pouco de sementes de cominho, refogadas junto com a cebola e o alho, e, recentemente, uma polvilhada de páprica picante. Logo antes de servir, tempero com uma colher de vinagre (cuja acidez aviva o sabor do feijão) e misturo a salsinha ou coentro picado, se houver.

Essa mistura de arroz integral, feijão preto, espinafre refogado com cebola e manteiga e abóbora assada (com casca ou sem, fatiada, temperada com azeite, sal, pimenta, dentes de alho e folhas de sálvia ou alecrim, e levada ao forno médio até dourar dos dois lados) virou uma de minhas favoritas de todos os tempos, e já preparei de novo umas quatro vezes desde a primeira. Allex continua torcendo o nariz para a abóbora, mas come na frente das crianças, que dão um show e raspam o prato com gosto. "Não precisa gostar, papai", diz Laura. "Só precisa experimentar."

Em momentos como esse, foi muito bom já ter no automático o hábito de comprar as frutas e verduras da promoção e de saber reaproveitar as sobras.

A foto é feia mas o sabor é muito bom.

A couve-flor, que estava baratíssima e foi cortada, temperada com sal, azeite, pimenta-do-reino e espalhada numa assadeira, para ir ao forno a 180oC e cozinhar e dourar até chamuscar as pontinhas (uns dez, quinze minutos?) Dourada, misturei  a cebolas fatiadas bem fininhas, que eu deixara marinando em vinagre e sal, e cuja marinada entrou também como tempero dessa salada quente. Eu tinha coentro, então ele entrou na dança, mas poderia ter sido salsinha. Se tivesse azeitonas pretas, teriam ficado deliciosas ali.

Num dia, essa salada quente de couve-flor acompanhou o arroz e feijão. No outro, foi jogada crua e temperada com sal e azeite sobre a massa da pizza com molho de tomates e levada para assar. No meio do cozimento acrescentei o queijo e as azeitonas pretas (que tinha poucas e escolhera não usar na salada, para complementarem a pizza), e enquanto o queijo derretia, elas terminaram de chamuscar e amaciar. Adoro pizza de couve-flor! (E às vezes substituo metade da farinha branca da pizza por integral, porque acho que fica saborosa.)

Quando há batatas (com alho e cebolas, se houver), sempre dou um jeito de preparar alguma versão desse tray bake, cujo processo já descrevi inúmeras vezes aqui: as batatas foram primeiro, a 190oC, e quando já estavam quase perfeitamente douradas, vieram os brócolis, tudo sempre previamente temperado com sal e azeite. Quando esses ficaram prontos, vieram os ovos. E quando as claras estavam já opacas, as ervilhas congeladas entraram apenas para se aquecerem. Coloco a assadeira inteira na mesa, às vezes com um vidro de mostarda ao lado, e o jantar está servido. O trabalho foi de cortar batatas e os brócolis e só, pois o forno fez todo o resto, e com o timer apitando sempre que era hora de acrescentar mais um elemento, tive tempo de cuidar de outras coisas ou mesmo sentar e ler enquanto as crianças tomavam banho. (Vantagem de deixar a pimpolhada se virar sozinha de vez em quando: criança independente é sinônimo de menos ocupações para pai a mãe.)


O que restou do tray bake entrou nessa torta. Esta é uma versão com iogurte do Mark Bittman, que resolvi testar, mas que achei muito seca em relação à de minha mãe, que continua campeã. Talvez ficasse melhor com o recheio original pretendido por Bittman, pois as verduras soltam mais líquido e a massa ficaria mais úmida. A de minha mãe é ótima para aproveitar legumes que já fora cozidos ou assados.



Uma receita, no entanto, que também veio de Mark Bittman, e valeu a pena ser anotada, foram os hambúrgueres de feijão. Eu já havia feito anteriormente pequenos hambúrgueres de grão de bico e abóbora assada que haviam sobrado do jantar anterior, mas sempre preparei tudo muito no olho, mesmo naquela época em que era de fato vegetariana. Gostei de ter uma receita básica com as proporções "corretas", para não ter que ficar brincando de cientista maluca enquanto misturo os ingredientes. 

Hambúrgueres empanados de feijão preto, com queijo derretido por cima e saladinha. Almocinho danado de bom!
HAMBÚRGUERES DE FEIJÃO E AVEIA
(Do livro How to Cook Everything Vegetarian, de Mark Bittman)
Rendimento: 4 hamburgueres grandes oi 8 pequenos

Ingredientes:
  • 2 xíc de qualquer tipo de feijão já cozido (sem o caldo - reserve para outro uso)
  • 1 cebola picada
  • 1/2 xic de aveia laminada
  • sal e pimenta-do-reino
  • (qualquer outra erva, tempero, verduras ou legumes cozidos que queira acrescentar)

Preparo:
  1. Bata o feijão e a cebola no processador até que vire um purê grosseiro. Junte a aveia (e qualquer outro tempero) e pulse algumas vezes até que vire uma maçaroca que você consegue tirar com uma colher de forma razoavelmente firme. Se estiver muito seco, junte um pouco do caldo dos feijões. Se estiver muito molenga, junte mais aveia. Acerte o tempero. 
  2. Forme hambúrgueres do tamanho que quiser (os do tamanho de sua palma, com 2cm de altura são ideais) e coloque em uma assadeira untada de azeite, para que não grudem. Você também pode empaná-los em farinha de rosca  e colocá-los na assadeira sem untar. Leve à geladeira por umas duas horas para que firmem bem antes de fritar. 
  3. Frite os dois lados por 1-2 minutos cada em um pouco de azeite e sirva quente.


Na corrida do simples, foi momento de relembrar uns clássicos de muito tempo atrás, de um livrinho que vendi há muito muito tempo (acho que se chamava As Ervas do Sítio, ou algo assim). É uma massa com molho de espinafre, simplíssima, mas que na minha parca experiência, sempre virava uma sopa rala láaaaa quando eu ainda tinha acabado de mudar para meu apartamentinho com meu então namorado. Acontece que eu nunca deixava a água do espinafre evaporar o suficiente e, ainda influenciada pelo macarrão nadando em molho dos restaurantes de São Paulo até então, sempre colocava mais creme de leite do que o necessário na receita, achando que não havia molho o bastante. Isso fazia com que o molho ficasse todo no fundo da panela e o macarrão totalmente pelado na hora de servir.

Eu tinha uma porçãozinha pequena de espinafre congelado (o equivalente a 1 xícara de espinafre congelado bem apertado na xícara) e um restinho de creme de leite fresco, restinho mesmo, acho que nem meia xícara. Refoguei cebola picada em manteiga até dourar, juntei o espinafre descongelado (que já vinha picado), temperei com sal e pimenta e mexi com uma colher de pau até que ele tivesse sequinho de toda aquela água que ele solta e tivesse absorvido bem a manteiga e o gostinho da cebola. Juntei o creme de leite, misturei bem e deixei apenas levantar fervura, o bastante para o molho engrossar levemente, e desliguei o fogo. Se o creme estiver muito líquido, ele simplesmente não vai aderir ao macarrão. Taí o pulo do gato que eu não sabia quando era jovenzinha. (Fica a dica: molho de macarrão não pode sobrar, aguado, no fundo da panela. Se sobrou, é porque tinha que ter reduzido mais. Bem reduzido, ele adere à massa corretamente e a tempera direito.)

Acertei o tempero. Escorri o macarrão (linguini funciona bem nesse caso), juntei à panela do molho com mais um naco de manteiga e um punhado de parmesão e voi là: linguini ao molho de espinafre. Sucesso geral.

Lembrei com certa alegria e saudades daquela época em que comecei a cozinhar de fato todo dia, recém saída da casa de meus pais, e como um fettuccine com molho de tomates crus parecia o ápice da sofisticação. Logo antes de eu começar o blog, há tantos anos atrás, havia uma inocência deliciosa na cozinha, pois ela era exclusivamente para mim e para quem comia comigo. Eu tinha pouquíssimos livros de cozinha e assistia aos programas do Jamie Oliver, e aquela comida pseudo-italiana simples era o o que havia de mais complexo a que meu ego aspirava. Não havia encontrado blogs e sites de cozinha, eu era a única pessoa da minha idade de meu círculo social que gostava de cozinhar, e a aventura de testar uma receita ou uma técnica nova era uma jornada individual cujo prazer não se equipara a essa estranha ansiedade gerada pela postagem de uma foto e uma receita nas redes sociais. Às vezes simplesmente paro e volto àquela época, e cozinho para mim, e esqueço os ingredientes que usei e como preparei, e o prato fica lindo e colorido, mas o celular está desligado, e sinto um prazer imenso naquela beleza fugaz desaparecendo aos poucos a cada garfada até nunca ter existido, a não ser no sabor no fundo da língua, que se demora antes de dissolver-se para sempre.

O prazer do particular que nossa sociedade começa a desconhecer, ao transformar todo privado em público. (Sim, a ironia de escrever isso num blog a respeito de minha vida e minha comida.)

.....

Quando vieram as boas notícias e pudemos todos relaxar novamente, logo antes do Carnaval, as maçãs que eu havia comprado em promoção foram transformadas num bolo. Ou torta. Ou bolo-torta, porque "torta" em italiano quer dizer bolo, de qualquer forma. Essa receita da Tessa Kiros é facílima e deliciosa. Num primeiro momento achei até que levava pouco açúcar, mas ela é doce o bastante e acho inclusive que pode ser preparada com um pouco menos de açúcar na massa sem nenhum prejuízo. O resultado me lembrou demais os Apfelkuchen (acho que era esse o nome) que eu costumava comer na casa da avó do Allex, e eu não duvidaria se as receitas fossem de fato parecidas. A torta, ou bolo de maçã da avó alemã era maior e mais fina, baixinha, não sei se de propósito ou por razões circunstanciais. Acabamos saboreando a torta no café da manhã de um dia particularmente frio e sem graça, e as maçãs envolvidas nessa massinha macia com certeza foram bom acompanhamento para o cappuccino.


TORTA-BOLO DE MAÇÃS
(Do livro Recipes and Dreams from an Italian Kitchen, de Tessa Kiros)

Ingredientes:
  • 9 colh. (sopa) manteiga em temperatura ambiente (cerca de 130g)
  • 2/3 xic. açúcar demerara
  • 1 ovo
  • 1 2/3 xic. farinha de trigo
  • 1/2 colh(chá) fermento químico em pó
  • 1/2 colh(chá) bicarbonato de sódio
  • 1/2 colh (chá) extrato de baunilha
  • 4 maçãs (de preferência com alguma acidez) - cerca de 450g
  • açúcar de confeiteiro para polvilhar

Preparo: 
  1. Pré-aqueça o forno a 160oC. Unte com manteiga e farinha uma forma de 22-24cm de diâmetro, de mola ou fundo falso.
  2. Na batedeira, bata a manteiga com o açúcar até que fique bem cremosa.
  3. Junte o ovo e misture bem.
  4. Junte a farinha, o fermento, o bicarbonato e a baunilha e misture em velocidade baixa até que comece a ficar firme demais para o batedor. Pare e termine de sovar ligeiramente com as mãos, apenas até que todos os ingredientes estejam bem incorporados. 
  5. Ponha 2/3 da massa na forma. Pressione firmemente com as mãos a massa no fundo, empurrando-a paredes acima, até que a massa ocupe todo o fundo e cerca de 2/3 da altura da forma, mais ou menos. Pode parecer que está muito fina, mas está tudo bem. 
  6. Descasque as maçãs, retire as sementes e descarte (não jogue no lixo, guarde para fazer geleia!). Pique as maçãs e cubos de 1,5-2cm. 
  7. Distribua os cubos sobre a massa de forma uniforme, checando para não deixar nenhum espaço sem maçãs. 
  8. Esfarele o restante da massa entre os dedos, em pedaços de tamanhos variados, e espalhe esses pedacinhos de massa por sobre a maçã. 
  9. Asse por 55-60 minutos, ou até que a massa esteja dourada e firme. Lá pelo fim do tempo, cubra a massa com uma folha de papel-alumínio se estiver com cara de que começa a queimar.
  10. Remova do forno e deixe esfriar. Polvilhe com açúcar de confeiteiro. O bolo/torta se mantém em temperatura ambiente de um dia para o outro, e depois disso deve ir à geladeira.


Vida de volta ao normal, e marido viajando para o treinamento de seu novo emprego. E daí que resolvi fazer a vontade das crianças e preparar um frango assado, assim numa terça-feira, porque as crianças sempre pedem, e como Allex não gosta, nunca faço. (Também porque frango aqui não é lá muito barato, ainda mais orgânico.)

A receita que escolhi era da Marcella Hazan, simplíssima. Você apanha um limão siciliano, rola ele entre a palma e a bancada para soltar bem os sucos, e espeta todo ele diversas vezes com um palito. O limão vai assim, furado e inteiro, para dentro do frango já bem temperado com sal  e pimenta. Fecha-se a cavidade do frango com linha ou palitos de dente, e ele é colocado na assadeira, sem óleo nem nada, de peito para baixo. Assa-se no forno a 180oC por meia hora, e então com cuidado ele é virado de peito para cima e volta ao forno por mais meia hora. Aumenta-se a temperatura para 200oC e ele fica ali mais meia hora até dourar e e os sucos saírem claros quando a carne é espetada com um garfo na junção da sobrecoxa com o corpo. (Calcula-se uns 25 minutos para cada meio quilo de frango.)

Junto do frango ainda cru, coloquei batatas cortadas e temperadas com sal e azeite, para assarem junto, absorvendo os sucos que o frango libera. Nos últimos quinze minutos, acrescentei os brócolis temperados para assarem e chamuscarem também.

O frango acabou ficando super suculento, ainda que não suficientemente dourado (a pele do peito, no entanto, estava crocante), porque eu esqueci de aumentar a temperatura do forno naquela última meia hora, e ele acabou assando a 200 graus apenas nos quinze minutos finais. Mas priorizei carne suculenta à pele crocante. Frango seco é uma desgraça.

O frango já cortado em pedaços, como foi servido à mesa.

A refeição foi uma alegria, seguida de sorvete de amêndoas com cerejas em calda, que eu preparara do livro The Perfect Scoop. O sorvete ficou gostoso sim, mas também mais doce e mais intenso do que eu imaginava (Laura não gostou, porque não gosta de nada muito doce). Eu provara um sorvete de missô com cerejas em calda na Bang Bang, minha sorveteria favorita em Toronto (porque é a única que não coloca um quilo de açúcar no sorvete), e era isso o que eu tinha em mente: um sabor e uma textura mais delicada. Todo o mini-banquete de frango assado com sorvete de terça-feira acabou servindo para comemorar a queda do primeiro dentinho da Laura. Foi mesmo uma comemoração, pois depois de ter de levar Thomas duas vezes ao dentista para arrancar os dentes de leite teimosos que se recusavam a dar espaço para o permanente já nascido atrás, foi um alívio ver Laura correndo para a sala com minúsculo dente na mão, feliz, contente, e de boca sangrando. ;) A animação dela foi tanta que, no dia seguinte, ela chacoalhou tanto o dente do lado, que também estava mole, que conseguiu fazê-lo cair também, ao que ela teve uma visita dupla da fada do dente, e agora, ao invés de uma janelinha, exibe um janelão com vista pro lago. A gente brinca e pede para ela "fazer o Ogro", ao que ela empurra o maxilar pra frente, com os dentes laterais por sobre o lábio superior e envesga os olhos, meu mini-ogro que sai correndo atrás do irmão com uma espada na mão, fazendo sons de monstro.

"Laura, o que você quer ser quando crescer?" 
"Uma guerreira, mamãe."

Como eu adoro transformar tudo em bolinho, o que sobrou do frango virou croquete. Claro. Tessa Kiros ao resgate, como sempre. Já disse o quanto amo os livros dela? Claro que sim.

Do frango inteiro, eu comera uma sobrecoxa, e as crianças haviam dado cabo das duas coxas, uma sobrecoxa, as duas asinhas e meio peito. Daí que havia sobrado um peito e meio e todo aquele frango desfiado que a gente consegue esmiuçando a carcaça com os dedos, nos lugares em que a lâmina da faca não tira um corte limpo e bonito para apresentar no prato. Depois de dar uns naquinhos de frango pro Gnocchi, que estava aguando do meu lado o tempo todo em que eu mexia na carcaça, considerei que se tratava de meio frango, assim no olho, e, como a receita da Tessa pedisse um frango inteiro, fiz meia receita. Trata-se de um croquete tradicional: carne com molho bechamel grosso, empanado e frito. Renderam bem uns seis ou sete croquetes para cada um de nós, que servi com uma salada simples de cenoura e bok choy (acelga chinesa, a verdura em promoção), fatiada, refogada em alho e óleo de gergelim e temperada com shoyu. 

A parte especial foi ter Laura como ajudante, que moldou e empanou metade dos croquetes comigo. 

CROQUETE DE FRANGO
(ligeiramente adaptado do Livro Apples for Jam)
Faz cerca de 25-30 croquetes, dependendo do tamanho.
 
Ingredientes:
  • carne de 1 frango inteiro, picada
  • 3 colh. (sopa) manteiga
  • 1 cebola pequena, picada
  • 1 1/2 colh (sopa) folhas de salsão, picadas (eu não tinha salsão e usei um talinho de erva-doce)
  • 1 1/2 colh (sopa) folhas de salsinha, picadas
  • 2 dentes de alho pequenos, picados
  • 1 tomate, picado
  • 1 1/2 colh. (sopa) farinha de trigo
  • 1 xic. leite
  • 1 ovo
  • sal
  • farinha de rosca
  • óleo para fritar

Preparo:
  1. Derreta metade da manteiga numa frigideira e junte a cebola e uma pitada de sal, mexendo até começar a dourar. 
  2. Junte o salsão, salsinha e alho e misture bem, até que sentir o aroma do alho.
  3. Junte o tomate, amassando bem com a colher e misturando, até que ele se dissolva bem.
  4. Junte o frango picado, misture muito bem, acerte o tempero e transfira para uma tigela. 
  5. Em outra panela, derreta o resto da manteiga. 
  6. Junte a farinha, misturando bem, e então o leite, aos poucos, misturando com um fouet, até formar um molho branco, espesso e liso. Tempere com sal e pimenta e transfira para a tigela com o frango.
  7. Junte o ovo, misture bem, acerte o tempero e leve a tigela à geladeira por pelo menos meia hora, até que tudo firme o bastante para que você consiga formar os croquetes. 
  8. Se ainda estiver mole demais, junte um pouco de farinha à mistura. 
  9. Apanhe colheradas da mistura, e forme os croquetes, do comprimento do seu dedão e com não mais que dois dedos de espessura (achei esse tamanho fácil de manusear - até a Laura conseguiu). Passe o croquete na farinha de rosca, e deixe num prato. Repita com o restante da mistura até ter todos os croquetes estejam formados. Leve à geladeira enquanto esquenta o óleo (uns 2 dedos de óleo na panela). 
  10. Frite os croquetes até que dourem por igual, alguns por vez, em óleo a 180oC. Deixe escorrer sobre papel-toalha e sirva ainda quente.
 

Só eu achei isso lindo?

No dia seguinte, eu ainda tinha farinha de rosca e óleo de fritura, e resolvi dar cabo de tudo com esse funcho empanado da Marcella Hazan. Taí uma vantagem de ter menos livros de cozinha: tantos anos na minha estante, e eu NUNCA preparara essa lindeza. Você coloca o bulbo em pé e corta dele fatias de 1,5cm de espessura, tentando manter a raiz firme para que as camadas não se soltem. Como meu funcho era bem grande, cortei também ao meio, para facilitar na hora de empanar e fritar. Cozinhe as fatias de funcho na água fervente com sal por alguns minutinhos, apenas até o miolo próximo à raiz pareça macio, mas ainda resistente, ao ser espetado por um garfo. Escorra bem, passe as fatias cozidas em ovo batido, depois farinha de rosca, apertando para que os farelos de pão grudem, e frite normalmente, até dourar dos dois lados. 

As crianças e eu comemos o bulbo de funcho frito inteirinho, e houve até briga pelos dois últimos pedaços, que consegui guardar para meu almoço do dia seguinte. Para acompanhar, no jantar, arroz cozido com talos de brócolis e temperado com salsinha, e uma saladinha simples de tomates.  No dia seguinte, em meu almoço solitário, cobri os dois pedaços de funcho empanado com fatias grossas de tomate, orégano e mozzarella, e esquentei no forno minha parmiggiana vegetariana, que acompanhei com uma saladinha de alface.
Meu prato.
Prato to Thomas, que me pediu para fotografar a montagem sua montagem super criativa.

Agora, de volta à vida normal, que depois de dois meses de incertezas, visitas durante o Carnaval (que não existe aqui, by the way), March Break (uma semana de férias escolares) e uma semana com marido fora de casa, eu preciso literalmente sair correndo, e retomar minha rotina: minha meditação, meus exercícios físicos, minha escrita, minha pintura... e veja só: semana que vem meu Matador de Dragões faz 8 anos e eu ainda tenho que descobrir que bolo ele vai querer. :)



terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Um mês sem (com menos) açúcar e mousse de chocolate, porque a coerência, né?!

O Inverno de verdade demorou para chegar, mas quando chegou, chegou chegando.
Sabe resolução de ano novo? Eu detesto resolução de ano novo, e não me invento uma desde a minha adolescência. Porque, né? eu gosto de ser do contra. Foi meio sem querer que Janeiro acabou virando um mês que teve feeling de resolução de ano novo, mas foi engraçado por isso mesmo: porque não foi uma resolução de ano novo. Muitas transformações aconteceram, no meio do clima louco que despencou dos 5 graus positivos para os 36 negativos durante duas semanas, inclusive minha primeira exposição em Toronto, no Starving Artist Café, que exibiu minhas aquarelas durante 8 semanas. :)



Acordei no dia primeiro do ano incomodada. Muita coisa passara pela minha cabeça durante o mês de dezembro, e quando me levantei da cama para tomar o primeiro cappuccino do ano, conseguia sentir minhas caraminholas se movendo no meu cérebro.

Mamãe, quer waffle? perguntaram as crianças. Não, respondi. Acho que quero dar um tempo do açúcar. Quero ver o que acontece.

Não era dieta, não era modismo, era mera curiosidade. Eu achava que era uma pessoa que já não consumia lá muito açúcar mesmo (vide o post do que como num dia normal), mas fiquei curiosa em saber se eu conseguiria ficar sem o pouco que a que eu me acostumara. Sabia que o ponto fraco era o goró, meu tipo de açúcar preferido, e eu acreditava que a experiência me ajudaria a ter mais clareza dos gatilhos emocionais e circunstanciais que me faziam comer uma fatia de bolo ou abrir uma cerveja.

Minha pele andava mais manchada do que o normal, sentia meu corpo inchado, e meu padrão de sono havia um tempo parecia errático, e intuí que deveria ter a ver com o quanto de álcool e açúcar que andava ingerindo (não a quantidade, porque não sou de exagerar há já uns anos, mas a frequência). Pois ainda que a "regra" aqui em casa seja de não beber durante a semana (até porque bebida alcoólica aqui em Ontario é cara), eu pareço sair do eixo toda vez que temos visitas, pois a visita está de férias e você entra no ritmo do convidado mesmo que sem se dar conta, aproveita para relaxar também... e nós tivemos um bocado de visitas no segundo semestre de 2018, e eu claramente não conseguira voltar a meu ponto de equilíbrio desde então.

Além disso, numa terça-feira em que as crianças perguntaram se havia sorvete de sobremesa do jantar, surpreendi-me com a resposta contundente de meu marido: "Ué, por que teria? É terça-feira!", E naquele momento me dei conta de que por boa parte da vidinha dos meus filhos, essa fora a regra de casa: podia até ter um bolo ou biscoito indo de lanche da escola, mas o conceito de "sobremesa", de "doce depois das refeições", sempre foi meio que coisa de fim de semana apenas. Sobremesa durante a semana é fruta. Ponto. Se quiser. Se não quiser fruta, vai escovar os dentes e xô.

Acontece que durante o verão, com a Saga-do-Sorvete-de-Fruta-Para-Fazer-Thomas-Comer-Mais-Fruta, continuei o embalo e quando me dei conta, todo mundo estava terminando o dia com sorvete. Mas agora de chocolate, de baunilha, de iogurte, de cheesecake, do que fosse.

"Ok, papai tem razão. Acabou a festa do doce e estamos voltando à normalidade. Sobremesa é só de fim de semana."

Antes que alguém revire os olhos e me xingue nos comentários, as crianças reclamaram no primeiro dia. Perguntaram da sobremesa no módulo automático no segundo dia. No terceiro já pediram licença da mesa e foram escovar os dentes e brincar. E quando chegou a sexta-feira, vieram felizes da vida perguntar qual era a sobremesa do fim de semana e está todo mundo contente e tranquilo. Esperar faz bem. (Tempo de tela é a mesma coisa aqui em casa: tv e video-game é só de fim de semana, e ninguém está sofrendo por isso.) E os dois sempre foram acostumados com uma casa que não tinha um monte de biscoito e chocolate dentro do armário.

Enfim.

No mesmo dia em que decidi cortar o açúcar (ou pelo menos diminuir, sabendo que o aniversário da Laura viria e que eu me permitiria alguma bebida durante os eventos já marcados com amigos, só pra evitar encheção de saco), também foi o dia em que propus a meu marido que começássemos a exercitar melhor nossa frugalidade. Sentei com nossas finanças e esmiucei todas os gastos do último ano, que agora finalmente haviam entrado num ritmo estável depois da mudança de país,e poderiam ser melhor avaliados. Saímos fazendo cortes onde podíamos, e estabelecemos algumas novas metas. Cortar cabelo em casa (um corte besta de máquina no barbeiro por aqui sai bem uns 50 dólares com gorjeta!! - e sim, cortei meu próprio cabelo e ficou muito bom, diga-se de passagem), ficar de olho nos horários mais baratos da companhia elétrica (aqui você tem horários e dias em que o preço da energia cai quase que pela metade), e mais várias outras pequenas e grandes mudanças, inclusive... tentar pela primeira vez realmente se manter dentro da meta de supermercado, que em muitos meses estourava em uns 20 a 30%, principalmente por aquelas autoindulgências típicas da nossa geração "eu mereço (item), porque...(insira seu motivo aqui)". Ou porque esquecíamos de deixar guardado aquele tanto para gastar no produto de limpeza que estava acabando, ou na ração do cachorro, que incluímos na categoria Groceries para simplificar nosso orçamento.
A comida do cachorro entra na nossa lista de comida porque, né? cachorro também é gente.
Um site que me ajudou um bocado nesse pensamento frugal esse mês foi o https://www.frugalwoods.com/ . Recomendo.

E lá fui eu.

Como mostrei no post anterior, sobre as compras de mercado, a primeira coisa que fiz foi verificar meu inventário: tudo o que havia de comida, bebida, ingredientes, produtos de limpeza, comida de cachorro, para verificar o que de imprescindível precisaria ser comprado aquele mês e para o qual eu teria de deixar uma "verba alocada". Montei na minha lousa da geladeira a maior quantidade possível de refeições com o que eu tinha em casa, indo de coisas bonitas como "quiche de abóbora e salada verde com rabanetes" até pratos tão absurdamente simples que pareciam saídos de uma verdadeira economia de guerra, como o dia da "Sopa Daquilo Que Sobrou", das fotos aqui em baixo. O objetivo era usar a criatividade para de fato esmiuçar a despensa e a geladeira até o último ingrediente disponível. E aproveitar para colocar à prova aquela minha teoria do último post de que você aprende a cozinhar de verdade com os ingredientes básicos, e não com com ingredientes caros.

Como transformar uma cenoura, uma cebola, um talo de salsão, um ramo de salsinha, borda de pizza de ontem, uma casca de parmesão e 1/4 xic de arroz para risotto em uma refeição para quatro pessoas?
Faça uma SOPA.
A sopa é simples e intuitiva: refogue em azeite a cebola, a cenoura e o salsão picadinhos, junte o arroz como se fosse fazer um risotto, tempere com sal  e a salsinha picada, e cubra com o dobro de água quente que você usaria para fazer um risotto (no caso, eu usei a água do cozimento do grão de bico, pois usara o grão de bico para fazer hommus e guardei o caldo no freezer - eu guardo água de cozimento de QUALQUER coisa no freezer pra incrementar sopas ou tornar um arroz simplesinho em algo mais nutritivo). Junte a casca de queijo, que vai cozinhar junto, e dar sabor e complexidade à sopinha e deixe cozinhar até o arroz estar macio. Não tem problema se passar do ponto. Se o arroz tiver absorvido muita água, junte mais e acerte o tempero. Doure a borda da pizza ou pão velho em cubinhos em azeite com uma pitada de sal e sirva com a sopa. Ficou com fome depois do jantar leve? Come uma fruta. Aqui, ninguém ficou com fome. Estava uma delícia e alimentou todo mundo muito bem. ;)

Enquanto isso, lá ia eu sem açúcar.

A manhã começou bem: eu nunca coloco açúcar no meu cappuccino, pois gosto de sentir a doçura da gordura do leite e o amargo do café. Para mim, açúcar adicionado só atrapalha. E prefiro um pão com manteiga e sal a qualquer outra coisa doce quando acordo. Foi no lanche das dez que a coisa entornou um pouco. Voltei da corrida, e quando fui montar meu potinho de iogurte e fruta, percebi que não usaria o mel de sempre. O iogurte que eu comprara aquele mês, mais barato que o meu habitual, era também mais ácido, e a fruta cortada em pedaços não foi um contraponto doce o bastante. Mas logo percebi que se RALASSE a fruta dentro do iogurte, ela soltaria seus sucos, distribuindo doçura mais uniformemente e tornando o mel desnecessário. #ficaadica.

O almoço, por sua vez, manteve-se igual.

Pão caseiro, abacate, o queijo feta que sobrara do reveillon, salsinha, cebolinha, azeite, limão e sal. Clementinas de sobremesa. Tudo, como sempre, no prato lindo da minha amiga Marina, do @ateliegaroa
Foi de novo no lanche que eu me vi mudando hábitos. Onde antes eu cataria um pedaço de bolo, ou uma das goiabinhas que minha mãe trouxe do Brasil, e correria para fora para buscar as crianças em mais uma deliciosa (note o sarcasmo) nevasca de janeiro, eu me vi catando uma banana.

 *** Aliás, uma curiosidade: não sei por que cargas d'água, mas é impossível separar as bananas canadenses do cacho com as mãos. As cascas são tão fortes, que preciso de uma faca para cortar a banana fora do cacho, como se estivesse tirando o cacho inteiro da bananeira. BIZARRO. Fim da curiosidade. De volta ao post. ***

Hora do jantar. Tudo corre normalmente, apenas evitando receitas cujo tempero envolvesse açúcar ou mel no preparo.

E aí veio o snack da noite. Aquele, que eu andava querendo evitar. Num dia uma banana bastou. Em outro, que desejava algo salgado, me vali dos legumes com hommus, que sempre tenho na geladeira. Mas meu snack da noite favorito, descobri, são fatias de maçã mergulhas em manteiga de amendoim e um bocado de canela. Parece estranho mas é na verdade delicioso e muito satisfatório.

Então quer dizer que foi muito fácil ficar sem açúcar e deu tudo muito certo?

Sim e não.

Como eu já comia pouco açúcar e eu já tinha um mindset de tentar buscar coisas mais saudáveis para beliscar, não foi difícil mudar o HÁBITO, porque foram poucos os momentos do meu dia em que eu precisei buscar uma alternativa. Eu nunca como sobremesas logo depois das refeições, então eu não me vi em momento nenhum "procurando um docinho".

O que eu vi foram algumas "condições de temperatura e pressão" em que eu ficava sim buscando desculpa para terminar o dia com alguma coisinha alcoólica. Não todos os dias. Eram alguns específicos. Normalmente no fim dos dias difíceis. Ou nas sextas-feiras, por exemplo, quando eu começava a preparar a pizza. Foi quando senti falta do meu vinhozim. Mas muito rapidamente, e aí foi a parte interessante, percebi que não era do gosto ou do buzz que eu sentia falta. Era de ter o copo na mão. Então assim como fiz durante aquele um ano e meio em que fiz dieta com nutricionista antes de engravidar, troquei o copo de vinho por uma xícara de chá. E tudo correu bastante bem.

Então foi tudo tranquilo e maravilhoso?

Não.

Assim como eu havia pesquisado, no terceiro dia sem açúcar minha energia e meu humor foram para o buraco. Eu queria gritar com todo mundo, tudo parecia difícil e horrível, todos estavam no meu caminho, e minha cabeça doía, não pela falta de açúcar, mas pela quantidade de tempo que mantive o cenho franzido, cultivando o ranço dentro mim. Esse foi o único dia em que não comi um snack da noite: porque fui dormir às oito e meia, enfurecida e exausta com o universo.

Um amigo do Allex, que fizera essa mesma desintoxicação de açúcar na época em que tentava descobrir a que diabos tinha alergia (a fermentos, no final ele descobriu), explicou a ele: Ih, o terceiro e o sétimo dia são os piores, e depois passa.

Dito e feito. No sétimo dia eu parecia igualmente confusa e mal humorada. Mas o que se seguiu depois foi sensacional.

"Minha cabeça está funcionando!", eu disse a Allex, que me olhou sem entender. "Sério, é como se tivessem passado um limpa-vidros no meu para-brisa sujo pela primeira vez."

O que eu sentia era clareza mental. Andava acordando mais facilmente e com muito mais foco. Eu sabia o que precisava ser feito e estava fazendo. Foi nesse momento, inclusive, que corri atrás e consegui minha primeira exposição de arte em Toronto. Foi quando voltei a produzir mais. Foi quando comecei a enxergar melhor algumas coisas acontecendo no meu dia-a-dia que poderiam ser melhoradas.

E meu corpo?
Ao final de duas semanas eu havia desinchado visivelmente e as manchas vermelhas em meu rosto haviam sumido. E a melhor parte de tudo, e que mais me chamou a atenção, é que pela primeira vez em minha vida, eu não tive NENHUMA TPM. Há dois dias por mês em que eu viro um monstro descontrolado, em que grito com as crianças sem motivo e fico procurando pêlo em ovo para arrumar briga: o da ovulação e o dia antes da menstruação descer. É tão certeiro, que uso isso até como guia para saber quando as duas coisas estão acontecendo ou vão acontecer. Nesse mês... não teve... NADA.

Outros efeitos interessantes:

- a partir da segunda semana, eu parei de ter vontade de beber. Quando Allex me perguntou se queria uma cerveja, respondi que SIM, mas logo em seguida mudei de ideia, porque me dei conta de que respondera automaticamente, e não de fato porque tinha vontade.
- nos momentos em que bebi, foi muito mais fácil parar ainda na primeira ou segunda, sem me sentir sequestrada emocionalmente por qualquer espécie de pressão social.
- os efeitos da bebida (mesmo que tão pouca) no dia seguinte ficaram MUITO mais evidentes, principalmente a quantidade de tempo que meu corpo levou para voltar ao normal depois. Essa velocidade de reparação parecia sempre mascarada pelo consumo de outros açúcares no meu dia-a-dia e não me permitia entender meu corpo.
- a vontade de comer doce sumiu. Mas quando eu comi açúcar, tive os mesmos sintomas de uma ressaca. No fim de semana do aniversário da Laura, em que tive 2 eventos em que bebi (pouco) e comi bolo, toda aquela clareza mental DESAPARECEU por uns 3 dias e meu humor voltou a ficar instável.

Era aniversário da Laura, e como ela pedira para chamar umas amiguinhas em casa no sábado, disse a ela que haveria bolo apenas no dia da festa, ao que ela concordou. No entanto, sem que ela soubesse, preparei esse bolo simplíssimo de baunilha da Alice Medrich, apanhei as framboesas congeladas, e fiz uma geleia rápida e azedinha. Depois da escola, enquanto Laura tomava seu banho compriiiiido de banheira, Thomas me ajudou a cortar o bolo ao meio, recheá-lo, e cobri-lo com chantilly recém-batido. Ele decorou com mais algumas framboesas e posicionou as velas. E Laura ficou felicíssima depois do jantar, quando anunciamos que, apesar de ser uma quarta-feira, teríamos sobremesa.

Thomas recheou e decorou o bolo-surpresa da Laura, que achava que só cantaria Parabéns no dia em que as amigas viessem.

Foi unânime que esse tem que ser o novo bolo oficial de aniversário, pois ficou infinitamente mais gostoso que o de chocolate.
O bolo estava delicioso. Leve e fresco. As crianças adoraram, Allex que não gosta de bolos se serviu mais de uma vez, e eu comi uma fatia gordinha e satisfatória.

O jantar também fora especial: pão de queijo e pastel, a pedido da aniversariante. Usei a receita da massa da Rita Lobo. A receita diz para abrir a massa até a espessura 3 da máquina de macarrão, mas o pastel acabou saindo mais com textura de panzerotti que de pastel de feira. Tive de abrir novamente toda a massa depois do primeiro teste, até uma espessura quase transparente, se não me engano, no nível 8. Preparei o dobro e deixei guardado o que sobrou para fazermos mais pastel no fim de semana.



O sabor escolhido pela aniversariante foi Pastel de Pizza. Essa foto foi da massa teste, que saiu muito grossa.
No sábado, preparei o bolo de aniversário clássico de chocolate, que nunca me parecera excessivamente doce até aquele momento. Quando também Laura e Thomas comentaram que preferiam o de baunilha. Metade de uma fatia bastou para mim, e deixei o restante para as crianças comerem de sobremesa durante o fim de semana.

E no fim de semana seguinte, quando Allex resolveu preparar sozinho um pudim de leite, e pesquisou uma receita do "melhor pudim de leite do Brasil", que levava uma tonelada de leite condensado e uma quantidade brutal de gemas de ovos, também um pedaço para mim bastou. Estava uma delícia. Mas depois de uma colherada gorda, eu sentia REALMENTE que eu já tinha matado a vontade.
Tudo isso me fez pensar a respeito da minha relação com açúcar, seja em forma de doce ou de álcool. Desde como somos ensinadas a enfiar o pé no doce para compensar nossas frustrações (pense na cena clássica da mulher rejeitada, chorando, comendo um pote inteiro de sorvete, ou na frase também clássica "ai, estou de TPM, tô precisando de um chocolatinho"), até na minha relação a cozinha.

Porque se eu não como doce, eu não faço doce (exceto pelo aniversário da Laura). E se eu não faço doce, ninguém em casa come doce. De novo, a não ser pela uma goiabinha que mando no lanche da escola e pelas sobremesa do fim de semana, todo mundo aqui em casa começou a comer MUITO MAIS FRUTAS. Inteiras, in natura. Não dentro de sorvete, pudim ou bolo. Dá pra contar nos dedos das mãos quantos doces a família toda comeu esse mês. E eu não enchi o saco de ninguém, nunca falei que era para a família inteira cortar doce, eu deixei bem claro que era uma experiência MINHA.

Mas acabou sendo melhor para todo mundo.

O que sobrou da quantidade BRUTAL e bananas, maçãs e clementinas que eu comprara no começo da semana.

 Na minha busca por uma vida tranquila, tem entrado muito a MME: Maternidade do Mínimo Esforço. Um termo que vou acabar cunhando, marca registrada, fui eu que inventei (hahaha), porque me deu um bode geral de soluções complicadas para problemas simples. Comida simples. Direta ao ponto. Fruta de sobremesa. Tem sido meu novo lema. Agora, mais ainda.

Maaaas...na minha primeira semana sem açúcar, saí correndo internet afora atrás de receitas de sobremesa sem açúcar para toda a família. Comprei chia para fazer geleia sem açúcar para as crianças. Compilei receitas usando bananas e abacates e tâmaras. DE NOVO.

DE

NOVO

AFE

*Suspiro*.

Cara, eu já fiz isso quantas vezes? QUANTAS??

Benzadeus pela clareza mental.

Parei. Apaguei tudo.

Quero mesmo passar meu dia fazendo bolinha de tâmara? Eu quero ficar preparando mousse de abacate com cacau quando posso só morder uma pera?

Qual é a solução mais simples? Se você não quer comer açúcar mas quer comer algo doce, QUAL É A SOLUÇÃO MAIS SIMPLES? Um mousse de abacate com tâmara e cacau... ou uma maçã?

Uma maçã basta. E que o mais complicado seja uma polvilhada de canela.

No meu mês frugal, o arroz e feijão voltou com tudo. Jantar de ontem foi arroz integral, feijão preto, brócolis refogado e abóbora assada, e o prato estava tão lindo que me arrependi de não ter fotografado. Assim, simples. Sem temperos complicados. Laura resolveu ontem que gosta de abóbora (então agora são 3 contra 1 aqui em casa! hahaha!). Simples. Comida boa e gostosa. Com cara de casa, não de restaurante.

Quando Allex me disse que queria dar um tempo da carne novamente e voltar a fazer hambúrguer vegetariano, a primeira coisa que fiz foi pegar na bilioteca de novo todos os livros do Green Kitchen Stories e aqueles vegetarianos que eu tinha no Brasil. E depois de folheá-los extensamente, suspirei e me dei conta de que não queria fazer nada daquilo. Não queria criar de novo aquela despensa imensa que eu tivera no Brasil. Não queria de novo ficar seguindo receitas para combinar vinte e sete ingredientes. Sabe o que é vegetariano? Arroz, feijão, legumes deliciosamente refogados em azeite e uma salada muito bem temperada. E lá vinha o bode outra vez. Bode desse hábito de se complicar, bode do FOMO que faz com que eu acredite que preciso tentar coisas novas O TEMPO TODO.

Bode, bode, bode. 

O resultado do mês é que passei menos tempo na cozinha. Eu voltei a fazer pães com regularidade, mas não fiquei me sentindo pressionada a fazer bolo ou biscoito toda semana para as crianças levarem para a escola. A comida mais simples e mais previsível é mais fácil de preparar e de reaproveitar. Cortei as idas semanais no supermercado e comecei a ir realmente apenas quando itens imprescindíveis acabassem (como leite, ovos e farinha), ou quando não conseguisse mais produzir nenhuma refeição com o que havia na despensa. O que quer dizer que também passei menos tempo indo a supermercados.

Ainda que eu continue encucada com a nutrição das crianças na escola, principalmente nesse ambiente norte-americano meio trash, confesso que fiquei menos paranoica com o valor nutricional dos pratos que cozinhei. Se é comida de verdade e compõe uma refeição decente, tá bom, obrigada. Hoje em dia sou feliz com essa cozinha simples de dia-a-dia. Sou feliz com banana com canela, sou feliz com o mesmo bom e velho bolinho de iogurte, com minha torrada de abacate e com spaghetti com molho de tomate. Sou feliz com brócolis no alho e azeite e com batatas assadas com alecrim. Com feijão e ovo frito e com tapioca com queijo.

Se um dia eu me fartei de cozinhar panquecas de todos os jeitos e scones e biscuits e toda sorte de itens diversos de café da manhã, minha felicidade hoje reside em pão com manteiga e café quente.

Simples.

Eu tenho certeza que essas pessoas que a gente acaba seguindo internet afora devem ser muito felizes com as soluções que elas encontraram para a vida delas. Que dão certo no contexto delas. Mas para mim o diagnóstico é sempre o mesmo: basta desligar a internet um pouco para a paz de espírito retornar.

Cada vez mais, todas as soluções complicadas são as soluções erradas para mim, para o meu contexto, para minha vida e para minha família.

.....

No último fim de semana do mês, comemorei o fato de ter ficado, PELA PRIMEIRA VEZ desde que chegamos ao Canadá (ou pela primeira vez desde que saí da casa dos meus pais) ABAIXO da meta de supermercado (e de bebida alcoólica!). A comemoração veio de uma forma bastante frugal: usando todas as claras de ovos não utilizadas no pudim de leite do Allex para produzir um Mousse de Chocolate. Porque meu filho disse que não sabia o que era mousse, e isso me desconcertou. Mousse de chocolate era minha sobremesa favorita de infância. E eu fiz tanta sobremesa complicada ao longo dos meus anos, e tantas sobremesas com substituições "saudáveis", e tantas sobremesas com ingredientes exóticos, que eu sequer tinha uma receita "oficial" de mousse de chocolate, daquelas testadas e aprovadas repetidamente.

Fui direto ao meu livrão de todas as coisas francesas, o I Know How to Cook, da Ginette Mathiot.

Esse mousse de chocolate é muito leve e muito fácil, e foi unanimemente aprovado na família. Além de tudo, é simples e doce na medida, e me deixou felicíssima em saber que finalmente tenho outra coisa para fazer com o mar de claras congeladas que sempre tenho no freezer, além de Angel Food Cake.

 
A receita pede apenas 2 colheres de sopa de açúcar e não especifica o teor de cacau do chocolate. Usei 70% da Callebaut, que é mais suave do que o Lindt, que tem um final mais amargo. Mas, temendo que as duas colheres somente produzissem um mousse muito "francês" e "adulto" (porque Allex disse que gosta muito do meu pudim de leite, mas que é muito "adulto", e que o dele alimentava a criança gordinha dentro dele. Hahaha), acabei aumentando a quantidade aos poucos, e usando 4 colheres de sopa (ou seja, 1/4 xic.). Mas pretendo fazer novamente apenas com duas. O mousse não ficou muito doce, o chocolate amargo ainda era o principal sabor. Aliás, para esse chocolate, acho que ficou perfeito. Mas recomendo que você experimente o seu chocolate e decida se prefere a quantidade original de açúcar ou um pouco mais.

Enfim.

O mês com menos açúcar foi uma experiência excelente. Eu descobri que me sinto infinitamente melhor com nenhum açúcar durante a semana, inclusive álcool. Descobri que continuo precisando do meu snack à noite, não para acompanhar a cerveja ou porque quero açúcar, mas porque de fato TENHO FOME. Descobri que consigo ficar sem beber álcool tranquilamente, e agora sei quando realmente quero e quando é meu emocional pedindo compensação, quando nesse caso, volto pro meu chá e tento de fato resolver meu problema ao invés de entorpecê-lo de açúcar. Descobri que a família toda se beneficia dos caminhos mais simples. Redescobri meu amor pelas frutas. Descobri que consigo sim economizar no supermercado sem fazer ninguém sofrer por isso. Descobri que esse desafio foi fácil não porque eu já não comia muito açúcar, mas porque eu não entrei nele com uma mentalidade de restrição: eu nunca disse EU NÃO POSSO comer açúcar, mas EU NÃO QUERO. Entrei nessa com curiosidade científica, com vontade de explorar minhas possibilidades, e não querendo me punir. E com isso, consegui o presente de me entender melhor.

Vou continuar fazendo sobremesas com açúcar. Quando eu tiver vontade. Para o fim de semana. Porque esperar o fim de semana para ver seu desenho e comer mousse de chocolate é gostoso. Assim como sei que é gostoso esperar o domingo para sentar no sofá com uma caipirinha. Assim como esperamos a pizza de sexta-feira. E da mesma forma como faço a pizza de forma relaxada, porque está inserida como algo bom na minha rotina, começo a ficar contente pensando qual será o doce da vez. E é só ele, e não precisa ser complicado. Não precisa ter cara de especial, porque por ser raro, é especial em si mesmo.

Mas nesse mundo internetístico em que as pessoas querem ver receitas mais gourmet, preparos mais complexos, pratos com temperos exóticos, saladas nutricionalmente perfeitas, novidades incríveis para seu paladar, variação infinita... fico me perguntando qual será o futuro desse blog. Com os legumes refogadinhos e os mesmo bolo de sempre. No espaço virtual, há espaço para uma cozinha simples? Quão instagramável é uma clementina?

MOUSSE DE CHOCOLATE
(do livro I Know How to Cook, de Ginette Mathiot)

Ingredientes:
  • 200g de chocolate amargo
  • 6 claras de ovo
  • 2 colh (sopa) de açúcar

Preparo:
  1. Em banho-maria, derreta o chocolate picado, misturado a 2 colheres (sopa) de água, mexendo de vem em quando com uma colher para que derreta uniformemente. 
  2. Enquanto isso, bata as claras até picos moles. Junte o açúcar e continue a bater até que fiquem bem firmes (mais do que você faria para um bolo). 
  3. Junte 1/3 das claras ao chocolate e misture energicamente, para que fique homogêneo e o chocolate misture mais fácil ao restante das claras. 
  4. Incorpore o restante das claras, agora com delicadeza, e, quando o creme estiver homogêneo, coloque em uma tigela ou potinhos individuais, cubra com filme plástico e deixe firmar por várias horas, no mínimo quatro.



 


   


sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Outubro, planejamento às avessas, sopas econômicas, molhos franceses




Caminho pelo parque com o cachorro, segurando a coleira enrolada na mão enluvada, afundando os pés em pilhas de folhas multicoloridas que craquelam e farfalham ao serem pisoteadas e movimentadas, sentindo o vento gelado na ponta do nariz, nas bochechas que se avermelham, nos cabelos ainda livres dos futuros gorros de lã. E nem acredito que o Outono já chegou novamente.

Depois de um veranico nas últimas semanas, que nos possibilitou andar por aí de camiseta e até suar um bocado durante as corridas matinais, as temperaturas despencaram outra vez e prometem continuar em queda livre pelos próximos meses.

De um dia para o outro, os caixotes de melancias nos mercados foram substituídos por caixotes de variados tipos de abóbora, as abobrinhas e os pêssegos dobraram de preço, e as peras e as romãs ressurgiram das cinzas.

OUTONO!
Voltamos de fato à velha rotina dos lanches escolares, e da eterna busca pela boa alimentação das crianças na escola, tentando não enlouquecer muito quando seu filho passa o verão inteiro pedindo por maçãs, e quando elas chegam, ele diz que não gosta de comer maçã na escola.

Dai-me paciência.

Quem passa por aqui desde os primórdios desse inglório blog já acostumou com meus infindáveis posts falando que estou buscando (ainda mais) um jeito de diminuir a conta do mercado e tornar a vida na cozinha mais fácil. Fazer o quê? Eu sou assim mesmo, estou sempre buscando um jeito novo de fazer as coisas e procurando melhorar como ser humano-pessoa-mãe-mulher-indivíduo-sujeito-transeunte.

Em tempo: quem lê pode achar que estamos sempre endividados com a conta do mercado, com essa minha nóia de diminuir a conta. A verdade é que sempre estivemos bem abaixo da média de consumo de mercado de uma família de quatro pessoas de classe média, tanto em São Paulo quanto aqui em Toronto, mas principalmente aqui, onde a média é de 200 dólares canadenses por semana SÓ em comida, segundo pesquisa do governo. Gasto menos do que isso, incluindo produtos de limpeza e comida do cachorro. Só bebida alcoólica que não entra na conta, pois como aqui só se compra bebida em loja especializada, fica fácil dividir a categoria no orçamento. (Alguém tem interesse em post sobre supermercado e da transformação da compra em refeições? Se sim, levanta a mão).

Enfim.

O ponto é que acredito que sempre haja espaço para melhorias.

E na minha infindável pesquisa internet afora por ideias para variar a lancheira da criançada (meu marido rola de rir de ver meu histórico de YouTube cheio de video de lancheira), caí nos videos de Meal Planning. Meu Eu Curioso e Filha de Engenheiro imediatamente pensou: ok, por que não?

Eu gosto de planejar bem as compras, e tenho uma lista no Keep com todos os itens de consumo regular mensal com os preços médios ao lado, devidamente compartilhada com o marido para que nenhum dos dois compre a mais coisa que não precisa ou compre mais caro do que o preço usual. Lembra? Filha de engenheiro e casada com homem de marketing. É muita planilha à minha volta me influenciando.

Enfim, de novo.

Como dizia, gosto de planejar, mas não a ponto de ter porcionado até o lanchinho da meia-noite depois da cerveja, e por isso mesmo resolvi testar o método mais hard core. Vai que funciona!

Fui lá feliz e contente, avaliei o conteúdo da despensa e da geladeira, e escolhi os jantares da semana, os almoços das crianças, os snacks deles, e meus almoços e snacks, fiz a lista e fui às compras. Naquele início de outono, com os últimos tomates em promoção, os últimos pêssegos, foi uma luta brutal contra minha vontade de encher o carrinho com tudo aquilo que eu não veria de novo pelos próximos seis meses e de fato me ater à lista. Mas consegui. Pelo menos naquela semana.

Os snacks foram todos fáceis, pois eu vario os lanches das crianças sempre pensando em algo doce, algo salgado, um legume, uma fruta, e eu meio que como sempre a mesma coisa todo dia quando estou sozinha. (Alguém tem interesse numa versão escrita de um daqueles videos de you tube "o que eu como em um dia?" hahaha, se sim, levanta a mão de novo.)

E os jantares escolhidos, considerando que nos fins de semana normalmente improvisamos, comemos fora ou fazemos alguma espécie de sanduíche, foram:
  • Pimentões recheados, porque eu tinha arroz já pronto e uns pimentões que já começavam a querer murchar. 
  • Curry de lentilhas com couve e arroz, porque eu tinha lentilhas congeladas, leite de coco, e um maço de couve precisando ser preparado. 
  • Risotto de alho-poró
  • Farfalle al pesto, porque eu tinha CERTEZA ABSOLUTA de que havia uma porção de pesto ainda congelada.
  • Pizza, porque toda sexta-feira tem pizza
 Deixei a lista das receitas na geladeira, e me senti muito virtuosa com minha diminuta lista de compras. E então a semana começou.

Calhou que durante o fim de semana sobrara pizza e não me lembro mais o quê, e acabei não preparando os pimentões recheados. O arroz e os pimentões continuavam sobrando ali, murchando e implorando uso. No dia que eu reservara para fazer o curry de lentilhas, resolvi que ao invés de colocar a couve no curry, colocaria os pimentões que precisavam ser usados, mas considerei que eles não combinariam tão bem com as lentilhas e, de supetão, voltei as lentilhas ao congelador e tirei para bancada o pote de grão-de-bico. O arroz que eu tinha na geladeira não era o bastante para acompanhar o curry, e já que teria de preparar mais, resolvi já de cara preparar bastante outra vez e dar outro uso para o arroz velho.

E a primeira refeição da semana foi um panelão imenso de curry de grão-de-bico e pimentão, preparado com a refoga de cebola, alho e gengibre no azeite, com canela, cardamomo, pimenta-calabresa, pimenta-do-reino, cúrcuma, grãos de cominho, de coentro, de mostarda, folha de louro, tudo até dourar. Entra o pimentão em cubos até amaciar, e então o grão de bico com seu caldo, cozinhando até reduzir o caldo um pouco. Entra o leite de coco e cozinha até apurar. Um punhado generoso de coentro cobre tudo e sirvo com arroz e uma colherada de iogurte, que as crianças adoram colocar em tudo o que é apimentado para aliviar o ardor. Já falei sobre meus curries AQUI.

O que sobrou do curry com arroz já deixei em potes, garantindo a marmita do marido pela semana toda.

Vai comer curry até enjoar.

Ok, o planejamento começou mal.

O dia seguinte era o dia do Risotto de Alho-poró. Que no frigir dos ovos me deu uma preguiça, porque já havíamos comido arroz no dia anterior e eu ainda tinha arroz velho na geladeira esperando um destino. Suspirei, joguei fora aquela ideia e resolvi preparar uma sopa francesa de alho-poró, ervilhas (que sempre tenho no freezer) e alface (que eu comprara para preparar uma salada de almoço mas que acabara não usando ainda).

 

A sopa não poderia ser mais simples, pois basta colocar tudo na panela de uma vez, cozinhar e bater no liquidificador. Gostosa e leve, ótima para aquele friozinho que vinha e não vinha.

POTAGE SAINT-GERMAIN
(Do livro I Know How to Cook, the Ginette Mathiot)
Rendimento: 6 porções

Ingredientes:
  • 60g alho poró fatiado (cerca de metade de um pequeno)
  • 1 pé de alface, rasgado em pedaços pequenos ou fatiado grosso
  • sal
  • 500g ervilhas (pode ser congelada)
  • 1 gema de ovo
  • 4 colh. (sopa) de creme de leite ou sour cream
  • 2 colh. (sopa) generosas de manteiga

Preparo:
  1. Coloque na panela o alho poró e o alface e cubra com 6 1/3 xic. de água. Tempere com uma pitada de sal e leve à fervura, fervendo em fogo baixo por 10 minutos, sem tampa.
  2. Junte as ervilhas e cozinhe por mais 10 minutos.
  3. Num potinho, misture a gema ao creme e reserve. 
  4. Na hora de servir, bata a sopa num liquidificador ou com hand blender até a consistência desejada (pode ser lisa ou pedaçuda - fiz lisa desta vez, mas acho que deixaria mais pedaçuda na próxima). Desligue o fogo, junte o creme reservado e a manteiga, acerte o sal e sirva imediatamente.   

Os croûtons, acredite ou não, foram feitos com as bordas da pizza que minha filha e meu marido nunca comem. Ao invés de jogar fora, corto, torro e guardo num pote. Na eventualidade de uma sopa ou de uma salada, basta dourar em azeite e alho. Afinal, como diz minha filha, pizza é só um pão com cobertura. A borda, que não tem cobertura, é só pão e ponto. Vira croûton e dos bons.

Já que eu ia fatiar alho-poró e lavá-los para a sopa, pois eles vieram bem cheios de terra, achei que seria inteligente já fatiá-los e lavar todos os três logo de uma vez, apesar de usar apenas metade de um para aquele jantar. Enquanto a sopa fervia, botei o restante do alho-poró fatiado na panela com azeite, manteiga e tomilho, e deixei ali, até quase desmanchar, deglaceando a panela com um pouco de água, tampando e deixando que cozinhasse até quase virar purê. Então guardei num pote para que virasse recheio de torta depois. Na empolgação, resolvi fazer o mesmo com a maior parte do enorme pé de couve crespa que eu comprara, antes que começasse a murchar e melar. Refogadinha com alho, foi também para um pote.


E pronto, mais uma refeição do meu planejamento fora para a cucuia.

No dia seguinte, é claro, como eu já tinha o recheio para uma torta pronto, resolvi fazer a massa para estrear a forma de quiche, que não aguentei e acabei comprando na Ikea. Confesso, eu poderia continuar usando a assadeira retangular, mas eu ficava doida na hora de servir os pedaços e ver que os pedaços dos cantos tinham mais bordinha (parte favorita das crianças, ao contrário da borda da pizza) do que os das retas. Pet Peeve novo revelado: quiche tem que ser redondo pra todo mundo ter a mesma quantidade de borda e recheio. Egalité na quiche francesa, CLARO!

Para acompanhar o quiche de alho-poró, uma salada de alface, salsão e o último tomate da geladeira.


  
 E o que fazer com aquela couve preparada e aquele arroz fazendo aniversário? Coloquei no processador com ovos, parmesão, mozzarella ralada, salsinha, cebola picada, e um pouco de farinha para dar liga, temperei e pulsei umas duas ou três vezes, só para misturar e triturar uma parte do arroz, bem pouco, apenas para que os grãos grudassem e eu conseguisse transformá-las em bolinhas. Temperei-as com um fio de azeite e levei-as à AirFryer (marido continua na Philips e trouxe uma para casa, e hoje mordo a língua, pois a danada é ótima para fazer bolinhos como esse).

Os bolinhos da foto são de outra semana, que eu preparara usando talos de dente de leão. Como as crianças adoraram, apesar do amargor dos talos, escondidinho sob a doçura do queijo, achei que com couve também iriam bem, e o que havia de arroz e couve foi o bastante para que os dois levassem de almoço escolar cinco bolinhos cada por dois dias seguidos, para chuchar no ketchup.


Vou sentir saudades desses tomates. Tchau, tomates!!
Mas nem tudo estava perdido. Havia ainda UMA refeição para cumprir à risca e acreditar que meu Meal Planning funcionara afinal:o macarrão com pesto. Abro meu freezer contente apenas para constatar que... tipo... não. Não era pesto, era clara de ovo congelada. 

F*ck.

Cato os tomates-cereja que eu comprara para Laura levar de lanche e transformo em molho, refogando em azeite e um punhado de cebolinhas picadas (que também sempre tenho no freezer), incrementando com ervilhas no final. 

 

A única coisa que ficou no lugar foi a pizza mesmo.

Nos almoços das crianças ainda consegui me manter mais ou menos dentro do planejado, mas os snacks acabaram sofrendo imensa influência dos quereres de cada um e do que tinha disponível no fim das contas, Laura comera no café da manhã todos os kiwis que eu reservara para o lanche, eu usara os tomates-cereja no jantar, nenhum dos dois quis levar hommus com salsão, e foi isso aí. Eu queria ter feito crepes para mandar enroladinho em bananas e uma "Nutella" de sementes que achei no mercado (porque as crianças não podem levar Nutella de verdade para a escola, já que é uma Nut-Free School - meus olhos rolando enquanto escrevo isso, que eu sei que povo aqui tem alergias, mas isso de Nut Free me atrapalha horrores). Mas, claro, não fiz, não deu tempo, porque estávamos com visitas em casa, e acabei transformando as bananas em bolo - um bolo MUITO bom, por sinal, e esse canal também foi responsável pela nova receita de pão de queijo que ando fazendo, já que é uma bela adaptação com ingredientes canadenses. 



O que foi que nós aprendemos essa semana, amiguinhos?

Que meu negócio é mesmo o improviso, e que na minha cozinha a comida sai mais gostosa quando eu preparo o que quero comer aquele dia. Que sim, é MUITO prático você deixar já prontos os ingredientes que você sabe que se preparam sempre da mesma forma, como a couve e o alho-poró, ou ter leguminosas cozidas no freezer, ou preparar arroz de batelada, até como comentei no último post. Mas que é muito difícil, sem saber como vai ser seu dia durante a semana, se comprometer a um determinado cardápio assim, sem arredar pé. Já fiz isso na minha vida, e sempre me lasquei, pois ficava estressada por querer preparar um cozido de três horas nos quarenta minutos que haviam sobrado, ou me frustrava quando todo mundo queria pedir pizza em dia que eu planejara fazer torta.

Cada cozinheiro, no fim, tem um ritmo e um jeito diferente, e TÁ TUDO BEM. Eu, aparentemente, faço mais o estilo Rapa de Geladeira. Sou ótima de planejar, mas péssima pra implementar o plano (na cozinha e na vida, aliás). Mas me dá uma geladeira cheia de resto que parece não ter lé com cré, e eu crio uma refeição para quatro pessoas. E eu adoro isso! :)

No fim, foi uma semana divertida, mas descobri que meal planning rígido assim não é mesmo para mim.

Em contra partida, o que ficou evidente, com minha diminuta lista de compras para essas refeições da semana, é o quanto tendemos a overbuy. Seja por FOMO (Fear of Missing Out), que nos faz querer ter aquele ingrediente "pro caso de...", ou seja por falta de conhecimento detalhado de seu próprio padrão de consumo... toda vez que uma fruta estraga na fruteira ou uma garrafa de creme de leite vence na geladeira, pode não ser fruto de sua inabilidade de cozinhar ou reaproveitar alimentos, mas simplesmente porque você não precisava ter comprado aquilo aquela semana. O fato de eu saber que toda semana teremos duas noites de macarrão e uma noite de pizza, que uma noite pelo menos arroz será o acompanhamento, coisa que era impensável para meu estilo de cozinha no Brasil, me ajuda a não comprar a mais, salvo naquela semana louca de verão em que fui hipnotizada pela abundância e variedade do mercado. E esse semana de planejamento, mesmo não tendo seguido à risca NENHUM prato planejado, me fez ver que, de fato, é preciso MUITO POUCA comida por semana para manter minha família. Bem menos do que eu comprava no Brasil.

Lembro principalmente da minha época confeiteira-louca, em que passava os fins de semana preparando bolos e biscoitos e pães e tortas e sorvetes, e achava que tinha de ter sempre na despensa diversas farinhas e chocolates e toda sorte de ingredientes especiais...

Meu deus, como eu comprava mais do que precisava! E COZINHAVA mais do que precisava. Consequentemente, todo mundo comia a mais também.

Hoje, NUNCA tenho chocolate em casa. Quando quero um doce com chocolate, coloco na lista da semana e compro a quantidade exata de chocolate quando for o dia de mercado.
Tipo meu bolo de aniversário de sempre. O clássico.

De novo, menos opções em casa baixam minha ansiedade, menos comida estraga, é mais fácil decidir o que preparar no dia.Vamos então voltar para o que estava funcionando. Eu adoro mexer em time que está ganhando, mas não tenho nenhum problema em admitir que fiz porcaria e voltar atrás. Seja gerenciando cozinha ou criando filho, não existe solução mágica nem fórmula única: você sabe o que funciona para você, e se não estiver funcionando, tem toda a liberdade de tentar outros caminhos.

E O QUE MAIS SAIU DESSA COZINHA ESSE MÊS?

Tenho feito muitos poucos doces merecedores de um post. Desde que me mudei sinto que uma das coisas das quais me desapeguei foi da Ana-Confeiteira-Louca-Obcessiva. Principalmente porque as crianças estão fora o dia todo, prefiro mandar um bolo com frutas do que um bolo de chocolate para a escola, e durante o verão meio que tentei mandar apenas frutas mesmo, sem nenhum doce. Ninguém fica chateado se não tem sobremesa depois do jantar, e de fim de semana costumávamos levar as crianças para tomar sorvete, então parece que não teria muito bem motivo para ficar fazendo bolos e biscoitos e tortas e pudins dia sim, dia não, como era no Brasil. Converso sempre com uma amiga que acredita na influencia do ambiente: uma cozinha te dá mais vontade de cozinhar isso ou aquilo do que outra. E acho que ela tem razão. Tudo aqui me impele à praticidade. Não sinto falta de preparações complexas, nem no fazer, nem no paladar. É estranho, mas é bom. O bolo de sempre está bom. Às vezes faço algo diferente, mas desde que seja super simples, e de preferência que as crianças possam fazer junto.

No entanto, tenho me arriscado a voltar a algumas técnicas básicas que eu sentia que não havia dominado completamente ainda. O ventinho gelado no rosto e nas mãos me joga de volta às carnes. Mas mesmo elas acabo não preparando muito. Primeiro porque carnes boas são caras. Segundo, porque não tenho tempo de preparar um assado durante a semana, ou os pratos que realmente gostaria de tentar, e durante o fim de semana minha vontade de ir para a cozinha desaparece. Nesse momento, o marido que aprendeu a fazer waffles e é o responsável pelos cachorros-quentes de linguiça e pelos hambúrgueres caseiros, toma conta. Eu entro na cozinha para tomar meu café e bater uma porção de maionese fresquinha para os sanduíches.


Isso de voltar a fazer maionese começou a me empolgar, no entanto. Vi um episódio de Mind of a Chef, com a chef Gabrielle Hamilton, em que ela preparava meu café da manhã favorito, Eggs Benedict, e dizia: o que faz esse molho funcionar é a acidez; tem acidez suficiente no início para estabilizar as gemas para receberem toda essa manteiga. E seu método para molho Hollandaise era completamente diferente de tudo o que eu vira até então. Primeiro, tentei aplicar isso à maionese, que andara talhando miseravelmente nas últimas trinta e duas vezes que eu a preparara. Eu achava que era o tipo de óleo, que era o ovo gelado de geladeira... nunca pensei que fosse simplesmente pouca mostarda. Olhei para a gema na tigela e coloquei uma colher de sopa de mostarda de Dijon, quase do tamanho da gema, ainda gelada de geladeira. E comecei a incorporar o óleo (3/4 xic - 1 xic, dependendo do tamanho da gema), uma colher de sopa por vez. E foi assim que comecei a acertar a maionese SEMPRE. Tenho feito toda semana e fica sempre perfeita. Limão para temperar, sal e pimenta do reino e NHAM! Enquanto havia tomates, meu almoço foi uma fatia de pão dourada no azeite, uma passadela generosa de maionese caseira e fatias de tomate bem maduro e doce, temperado com sal e pimenta. Perfeição.

Isso me animou a tentar seu Hollandaise. Eis um molho que eu NUNCA conseguira acertar, principalmente porque todo mundo dizia que só funcionava em grande quantidade. Nada de fazer só uma xícara de hollandaise, como faço com a maionese. Afe. Mas O MÉTODO DELA parecia ótimo para pequenas porções, além de ser menos cheio de fricote, sem bater tigela em banho-maria e afins. Numa manhã de sábado em que o marido fora viajar a trabalho, resolvi me aventurar e preparar eggs benedict para as crianças. Ok, eu não tinha english muffins nem bacon canadense (ironicamente), então usei metades de bagels e Black Forest Ham. Há um tempo já que tenho me aperfeiçoado na arte do ovo poché, e descobri que o ovo grudado no fundo e espalhado era mera culpa da água em temperatura errada. Ela tem que estar realmente quase naquele ponto de começar fervura brava, quando as bolhas começam a fazer pequenas torres finas subindo à superfície. Se as bolinhas no fundo da panela estiverem muito pequeninas, a água não está quente o bastante e o ovo vai espalhar no fundo. Na temperatura certa, ele não encosta no fundo e o próprio movimento de ebulição leve da água envelopa o ovo na própria clara. Não precisa nem fazer o redemoinho. Uso uma caçarola larga, e coloco vários ovos ali, em sentido horário para saber qual tirar primeiro, e todos saem perfeitos.


Fiz um terço da receita do Hollandaise, que achei suficiente para nós três, com um pouco de sobra. E funcionou tão maravilhosamente bem, o molho ficou tão incrivelmente sedoso e saboroso, que as crianças acharam graça dos meus pulinhos e minha risada. Os bagels, no fim, ficaram muito grandes para esse preparo, mas as crianças pediram o resto do molho e chucharam não apenas o resto de seus bagels mas os outros que surrupiaram de cima da bancada, até que não houvesse mais molho. 

Por conta desse sucesso, num almoço solitário, resolvi fazer ainda um ovo que eu nunca preparara antes, e que de tanto aparecer nos últimos Masterchefs, me causara curiosidade: o ovo Mollet. Lembrei na hora de uma receita do livro da Heloísa Bacellar, de ovo mollet com molho Meurette, que na época em que eu comprei o livro (há mais de dez anos) me parecia tão trabalhoso, que nunca me aventurei a tentar. Como não tinha mais o da Heloísa, catei meu livro francês I Know How to Cook, dividi mentalmente a receita de sauce Meurette para compor apenas meu prato, e pus-me ao trabalho. E trabalho que nada! Você coloca a água dos ovos para ferver em uma panela e o molho em outra. Enquanto o molho cozinha, você descasca os ovos e doura os pães, e em quinze a vinte minutos o prato está pronto, dependendo de quantos ovos está fazendo e da sua destreza na cozinha.


Servi meu sauce Meurette sobre o ovo Mollet e cogumelos refogados sobre uma torrada integral esfregada com alho, e digo que foi uma refeição simples e sensacional. Meu molho não ficou vermelho porque o único vinho que tinha em casa naquele  momento era o Marsala. É o tipo de prato que quero preparar para as crianças, que amam ovos moles e cogumelos. Nham, nham, nham.

OEUF MOLLET EN MEURETTE 
(Ligeiramente adaptado do livro I Know How to Cook, de Ginette Mathiot)
Rendimento: 6 porções

Ingredientes:
  • 6 ovos
  • 3 xic. vinho tinto 
  • 1 cebola pequena, picada
  • 1 galho de tomilho
  • 1 folha de louro
  • 2 ramos de salsinha
  • 1/3 xic. manteiga em temperatura ambiente, mais um pouco para dourar o pão
  • 1 1/2 colh. (sopa) farinha de trigo
  • sal e pimenta do reino
  • 6 fatias de pão
  • 1/2 dente de alho

Preparo:
  1. Cozinhe os ovos: leve uma panela pequena com água bastante para cobrir os ovos à fervura, tempere com uma pitada de sal, e deixe uma tigela com água gelada reservada ao lado. Coloque os ovos na água com uma escumadeira e cozinhe por 5 minutos. Retire com a escumadeira e coloque imediatamente os ovos na água gelada, para parar o cozimento. Quando estiverem frios o bastante para tocá-los, descasque CUIDADOSAMENTE, pois eles estarão bem mais moles do que um ovo cozido normal. Reserve num prato. 
  2. Numa frigideira, coloque o vinho, cebola e as ervas e leve à fervura. Abaixe o fogo e cozinhe até que reduza pela metade (se estiver fazendo uma quantidade menor do que a receita, isso acontece MUITO rápido).
  3. Misture 2 colh. (sopa) da manteiga com a farinha para formar uma pastinha e junte ao molho, misturando com um fouet para incorporar e não formar bolotas. Ferva por 1 minuto até que engrosse.
  4. Com o fouet, misture o restante da manteiga e passe por uma peneira para uma tigela, descartando os sólidos. (Eu apenas tirei as ervas e servi com as cebolas, porque, convenhamos, eu queria comê-las.) Tempere com sal e pimenta e reserve.
  5. Em outra frigideira, derreta um pouco de manteiga e e doure os pães. Esfregue o dente de alho nas fatias douradas, e coloque uma em cada prato. Coloque o ovo descascado cuidadosamente por cima e cubra com o molho.(Salsinha picada por cima foi fricote meu.)

E o que mais?

Teve ESSE PÃO integral com aveia da Deb do Smitten Kitchen que foi devorado sumariamente, tão bom. Pense num pão macio.
Também para quem não gosta de desperdiçar nada... Havia comprado um saco imenso de peras, pois elas surgem e vão embora tão rápido quanto o sol do inverno Norueguês. As peras daqui são super doces e saborosas, mas por algum motivo, Laura decidiu que não gosta de pera e Thomas... bem, Thomas não gosta de fruta. Ê fase. Quem lembra de foto do Thomas se esbaldando com tudo quanto é fruta quando pequeno não reconheceria o menino hoje. 

Como já tinha bolo pronto e eu não queria desperdiçar as peras, transformei-as nessa compota da Alice Medrich, e agora a criançada tem colocado pera em calda no mingau, no sorvete, e, principalmente, no iogurte, pois o contraste do doce melífero e perfumado da compota e o azedinho do iogurte faz com que isso pareça sobremesa de restaurante cinco estrelas. Um abuso de bom. Tanto, que quando as peras acabaram mas o caldo ainda era abundante, voltei-o para a panela e cozinhei mais peras frescas nele. E todo mundo ficou contente por ter mais peras em calda pra comer. Vai entender.


PERAS EM CALDA
(Do livro Sinfully Easy Delicious Desserts, de Alice Medrich) 

Ingredientes:
  • 1/2 colh. (chá) sementes de erva-doce
  • 1 1/3 xic. água
  • 2/3 xic. suco de limão siciliano
  • 1 3/4 xic. açúcar
  • 4-5 peras maduras mas ainda firmes, cortadas em quartos e com as sementes removidas

Preparo:
  1. Combine a água, o suco de limão, as sementes e o açúcar numa panela e leve à fervura em fogo alto. Abaixe o fogo e cozinhe por cinco minutos. 
  2. Junte as peras, cubra com uma tigela ou pires de diâmetro pouco menor que a panela, para mantê-las afundadas na calda, e cozinhe em fogo baixo por 3-5 minutos, dependendo da firmeza das frutas.
  3. Remova a panela do fogo. Deixe que esfriem, sem remover o pires, por 1 hora. Então passe para um recipiente com tampa e leve à geladeira até a hora de servir. A compota dura cerca de uma semana, e se melhora conforme os dias passam. 
 Nisso de reaproveitamento, acompanhei um passeio de escola de Thomas a uma fazenda, onde as crianças colheram diversos vegetais que os professores então decidiram cozinhar para que as crianças experimentassem. Quando comentei com a professora sobre não esquecer de usar as folhas dos nabos e da erva-doce, ela disse: "Não teremos tempo de consumir tudo isso, eu acho. Quer as folhas para você?"

Ieeeei! Claro!

No mesmo dia as folhas de nabo, com seus talos, foram branqueadas até amaciarem, e então refogadas em nacos generosos de manteiga e alho. Acompanharam batatas-doce assadas e um arroz de forno em que usei as partes externas da erva-doce, machucadinhas, que a professora havia descartado com as folhagens. Fatiei essas partes fino e caramelizei com cebolas, incorporando ao arroz de transantontem com ovo, parmesão, salsinha e folhas de erva-doce. Parmesão polvilhado por cima e nacos de manteiga, e forno nele até dourar. 


O resto das folhas de erva-doce (que eram MUITAS) viraram um pesto sem queijo, apenas com alho, pinolis e azeite, que bati no processador e congelei, para usar em massas, legumes e para esfregar num peixe da próxima vez.

Falando em economia doméstica, a sopa abaixo parece pouca coisa mas é deliciosa e fez muito sucesso com as crianças. Também do livro francês. Chama-se, justamente, Soupe Économique! Você leva à fervura 6 1/2 xic. de caldo caseiro (qualquer caldo! usei o meu de legumes, mas um de carne ou galinha deve ficar sensacional!) junta 500g de batatas raladas com casca (raladas na parte grossa do ralador) e cozinha por 10 minutos ou até que a batata esteja macia e quase desmanchando no caldo, que automaticamente engrossa com o amido da batata. Na hora de servir, basta juntar 2 generosas colheres (sopa) manteiga e acertar o sal e a pimenta. Servi com o que restara da focaccia al rosmarino que eu preparara no dia anterior, pois ter algo para chuchar na sopa sempre foi o segredo para as crianças experimentarem a sopa e começarem a comê-la sem queimarem as bocas com o caldo muito quente.

(As fotos dos jantares tendem a ficar mais feias agora com a luz artificial, já que o sol anda se pondo mais cedo.)


Por último, a família que veio visitar também trouxe junto um presente de minha amiga querida do coração lá do Brasil, que é ceramista e tem um talento incrível. Já tomo meus cafés de meio da manhã numa xícara sua, minhas frutas ficam dispostas sobre um prato seu, azul e branco, e ela agora fez para mim um prato para minhas torradas de almoço, para que estejamos mais juntas, de alguma forma, e não tenhamos tantas saudades de nossos extensos chás com bolo, cheios de boa conversa. 

Dêem uma olhada no trabalho dela e do ATELIÊ GAROA, na sua loja e em seu Instagram: @ateliegaroa


Cozinhe isso também!

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