segunda-feira, 22 de abril de 2013

Trufas de chocolate branco, matcha e pistache e livros que vão e voltam

Nas minhas arrumações catárticas, muitas vezes mando coisas embora das quais depois me arrependo. Como quase tudo o que é para doação passa pelo filtro da casa da minha mãe e ela já me conhece bem, quase sempre as coisas permanecem ali por um tempo, como um purgatório de objetos indesejados antes de seu destino final. E, nisso, acabo arrebanhando de volta algumas tralhas. Às vezes para o bem, às vezes para o mal.

Gostaria de dizer que meu caso com o Larousse do Chocolate era de amor e ódio, mas era mais uma questão de ódio e obsessão mesmo. Se por um lado o livro é absolutamente impreciso e cheio de erros, por outro trazia ideias de guloseimas que se fixaram em minha mente de um jeito que sempre que tento mandar o livro embora, ele acaba voltando. Um bumerangue literário.

Uma das receitas que havia anos estava encravada no meu cérebro eram as trufas de chocolate branco e matcha de Pierre Hermé. A foto era interessantíssima, de trufas cortadas ao meio, mostrando um recheio verde intenso, uma camada de chocolate branco por fora e, encobrindo tudo, pistache picado e um delicado pó verde, como limo fluorescente em pedras de rios cristalinos.

Mas essa era justamente a receita que mantinha o livro indo e vindo da minha casa. Se a foto apetecia, a receita não fazia jus. Não havia indicação nenhuma em toda a receita sobre a tal camada incólume de chocolate branco a cobrir a trufa verdinha. Depois, há duas menções do uso do matcha na receita: uma vez no creme de leite e outra vez junto ao açúcar e pistache, na cobertura. No entanto, o matcha aparece na lista de ingredientes apenas uma vez: junto do creme de leite – e não há nenhuma observação quanto à divisão da quantidade para cada etapa. Fora a quantidade do pó, que me parece muita coisa, ainda o texto informa que deve-se rolar as trufas no cacau. Hein?? Quem foi o revisor dessa joça?

Daí que nessa que foi uma das muitas idas e vindas do livro, resolvi que era hora de preparar as tais trufas e tirá-las do meu caminho. Principalmente porque desta vez me considero gata escaldada o bastante para identificar alguns erros básicos em livros de culinária e corrigi-los antes de estragar toda a receita.

E saí adaptando.

Primeiro, dividi a receita ao meio, pois cinquenta trufas de um sabor tão específico (e uma receita tão inexata) me pareciam demais. Em seguida, diminuí a quantidade de matcha. Ok, desta vez foi porque eu só tinha 4 envelopinhos mesmo. Mas não me arrependo, pois o amargor e o gosto herbáceo do matcha ficaram bastante em evidência já nessa quantidade. Não tinha açúcar de confeiteiro e usei o cristal. Também omiti o matcha da cobertura porque não tinha mais. Por último, usei o pistache cru sem sal, porque era o que eu tinha e porque, convenhamos, pistache é caro pra chuchu. (Já dá pra ver um padrão de preguiça de ir ao supermercado se instalando e sendo o grande causador das adaptações.)

O resultado... ficou MUITO bom! :D Aprovado pela cozinheira, marido e pelo pequeno devorador de trufas verdes. O sabor vem em camadas a cada mordida: primeiro o pistache crocantinho, depois o doce e macio do chocolate branco, então o amargo do matchá, e em seguida o pistache envolto em açúcar de novo. Delicioso para quem não gosta de doces apenas doces, mas com algo mais, e, principalmente, para quem aprecia chá verde. o/

O que vai ser do livro? Provavelmente vai ficar por aqui. Mas completamente rabiscado de correções e adaptações e sob um severo olhar de desconfiança. ¬_¬

TRUFAS DE CHOCOLATE BRANCO, MATCHA E PISTACHE
(adaptado do bizarro e não muito confiável Larousse do Chocolate)
Rendimento: cerca de 25 trufas pequenas

Ingredientes:
  • 100ml creme de leite fresco
  • 6g matcha (chá verde em pó – um pó verde fluorescente)
  • 200g chocolate branco de qualidade (usei Lindt), picado
  • 50g manteiga sem sal, gelada
  • 1/3 xic. açúcar cristal orgânico
  • 1/2 xic. pistache cru sem sal (com pele ou não)

Preparo:
  1. Coloque o creme de leite em uma panela e leve à fervura. Desligue o fogo e junte o matchá, misturando bem até que esteja dissolvido. 
  2. Junte o chocolate picado em três levas, mexendo bem até que esteja dissolvido. Junte a manteiga e misture bem com um fouet, até que o creme esteja liso. Despeje num pote, tampe e leve à geladeira por cerca de 2 horas ou até que fique firme. 
  3. Pique finamente o pistache e misture ao açúcar.
  4. Faça bolinhas com o creme mais ou menos uniformes, um pouco maiores que uma bola de gude, e role na mistura de pistache. Mantenha as trufas na geladeira, em pote fechado.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Pãozinho com centeio, chocolate e ameixas e saudades de sentar e ler revista

Comecei a ler revistas de culinária na época da faculdade, quando meu interesse por cozinha de fato explodiu. Comprava a Gula e a Cláudia Cozinha, e ficava recortando minhas receitas favoritas e colando num caderno . Mas a Gula fazia vinaigrettes com 25 ingredientes e a Cláudia Cozinha parecia resultar em sobremesas sempre com gosto de amido e pratos salgados que careciam de um algo mais. Acabei trocando tudo pela Gourmet, americana, da qual eu cozinhava de fio a pavio, e tudo era simples, e prático, mas ainda assim com um sabor sofisticado, e casava muito bem com o tipo de comida que eu gostava de preparar todo dia.

Aí mataram a Gourmet e eu fiquei órfã.

Aí me apresentaram a Donna Hay e eu descobri a revista do Jamie Oliver. As duas lindas. A primeira, com o benefício de estar no mesmo hemisfério que eu, e, portanto, ter uma sazonalidade de frutas e verduras semelhante. Bem melhor que ter de esperar meses pra fazer na Páscoa aquela receita de edição especial de Natal. :P

Mas logo percebi que, apesar de linda, eu quase nunca cozinhava nada da revista do Jamie Oliver. Parecia que eu nunca tinha todos os ingredientes, ou a receita não me apetecia como um todo. Talvez seja mais feita para o público britânico do que os livros ou os programas de tv. E a Donna Hay, apesar de linda, é muito superficial: só fotos e receitas, quando eu adoro, na verdade, ler as reportagens que deveriam acompanhar a escolha daquele prato específico. Saudades da Gourmet. E, no fim, a revista é centrada demais em pratos com carne, e eu acabava cozinhando muito pouco dela.

Então que um dia notei na banca que havia mais revistas brasileiras de culinária. Ainda tentei a Gula novamente, mas de fato não é para o meu gosto. Muito cheia de frufru. Ando mesmo é gostando um bocado da Menu, que tem bons textos, e da Casa e Comida, da qual tenho cozinhado um bocado. Parece que as editoras brasileiras acertaram a mão, enfim, entre um conteúdo que case bem ingredientes nacionais com importados, e traga receitas mais interessantes, mais complexas.

Gostei.

Trocando as importadas pelas nacionais. :)

Eu não tenho mais aquele tempo lindo para sentar no sofá e ler revistas. Folheio um pouco por vez (assim como leio livros) enquanto amamento. (Digito esse texto com a mão esquerda, enquanto a pequena amazona se pendura ao peito.) O breve espaço de tempo que tenho pela manhã tenho usado para trabalhar. Considero-me em regime de semi-licença-maternidade. Não estou ativamente correndo atrás de trabalho, mas estou pegando quando aparece. Enquanto isso, a minha loja continua funcionando, inclusive vendendo algumas pinturas originais, a quem interessar. :)

À tarde é de fato mais fácil fazer pão com a pimpolhada do que pintar. Daí que tenho conseguido botar minha padaria em dia. Esse pãozinho saído da Casa e Comida ficou uma delícia, ainda que tenha precisado acrescentar mais água do que pede a receita. Adorei o fato de levar um pouquinho de centeio, que eu adoro, e a mistura de chocolate e ameixas secas. Ele fica particularmente bom quentinho e com requeijão. :)

Obs: fiz metade da receita, pois a original rendia 50 pãezinhos, coisa que não cabe nem no meu freezer. Aliás, os pães congelam bem. Para comer de manhã cedo, basta tirar do freezer e deixar na bancada (ainda embalado em filme plástico ou dentro de um pote) durante a noite. Ah, só achei meio bizarro isso de metade da receita ser em volume, outra em peso, mas beleza. ¬_¬

PÃO DE CHOCOLATE E AMEIXA COM CENTEIO
(ligeiramente adaptado de receita de Julice Vaz, revista Casa e Comida)
Tempo de preparo: 2h30
Rendimento: 16-24 pãezinhos, dependendo do tamanho

Ingredientes:
  • 750g farinha de trigo orgânica ou para pães
  • 1/4 xic. farinha de centeio
  • 1/2 colh. (chá) rasa de sal
  • 3/4 xic. açúcar cristal orgânico
  • 8g fermento ativo seco instantâneo
  • 1 ovo grande, orgânico
  • 50g manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 250ml de água morna (acrescente mais, de colher em colher, se a massa estiver muito seca)
  • 1/2 xic. ameixa seca sem caroço picada
  • 1/2 xic. chocolate meio amargo picado

Preparo:
  1. Polvilhe o fermento sobre a água morna e espere que espume um pouco, cerca de 5-10 minutos.
  2. Numa tigela grande, misture as farinhas, o sal, o açúcar e a manteiga. Junte o ovo e o fermento e misture bem, sovando na bancada por uns 10 minutos até que a massa fique homogênea. A massa deve ficar macia e lisa, sem grudar nas mãos, mas não excessivamente seca, ou pode ficar pesada depois de assada. 
  3. Junte a ameixa e o chocolate e sove novamente, até que os ingredientes estejam bem espalhados na massa. Forme uma bola, coloque de novo na tigela, cubra com um pano e deixe fermentar por cerca de 1 hora.
  4. Retire a massa da tigela e divida a massa em porções iguais. A receita original sugeria cerca de 25 bolinhas, mas por preguiça, dividi em apenas 16. Distribua as bolinhas em duas assadeiras. Cubra com um pano e deixe que fermentem por mais 1 hora. 
  5. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Faça cortes em cruz sobre os pãezinhos com uma faca afiada. Asse uma leva de pães por vez, por cerca de 20 minutos, ou até que estejam dourados e assados. Deixe esfriarem sobre uma grade e só congele os pães depois de completamente frios.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

"Dadinho" o car*lho! Meu nome é "Peanut Butter Fudge"!

Ainda posso usar essa piada do título ou está datada demais? Hmmm... a outra opção era "Dadinho. Só que não." Mas é muito da modinha. Então fica assim. Consegui enfiar um palavrão pesado no título e, teoricamente, me safar dessa. ;)

Palavrão é o que às vezes tenho vontade de berrar no ouvido de quem entra no blog dos outros para trolar gratuitamente. Já falei e fui (de novo) trolada por isso: não gosta, não lê. Mas tem gente que não entende. De qualquer forma, ando tentando (sem sucesso) controlar a quantidade de palavrões que falo perto do meu filho, para que a primeira frase dele não seja "vá tomar no c*". Confesso que é difícil e agora entendo as expressões engraçadas que ouvi meu pai dizer a vida toda: "Carambola!" e "Os que for da família!" hehe...

O caso é que um comentário extremamente grosseiro no post anterior, ao invés de sucitar em mim a vontade de viver na Idade Média e poder carregar comigo e fazer uso indiscriminado de um mangual, fez com que eu me lembrasse de toda uma categoria de coisas gostosas que eu andava negligenciando.

COMO ASSIM eu tenho uma criança em casa e nunca preparei bombons, caramelos e pirulitos??? o_O

Saí loucamente fuçando em meus livros atrás de docinhos tipo "candy". Afinal, Thomas já está muito bem familiarizado com bolos, biscoitos, pudins e sorvetes (última compra por impulso foi um conjuntinho para picolé pequenininho, perfeito para o tamanho dele). Delícia é ter em casa uma criança que não foi educada na base do "sabor chocolate" e "sabor morango", e que por isso explora de peito aberto a miríade de gostos possíveis numa sobremesa. Vê-lo comendo panna cotta de açafrão e cardamomo, com pistache e canela, foi para mim a prova cabal de que não existe isso de "paladar infantil". O que existe é "paladar estragado". Para ser justa, acho que o moleque comeria até um tablete de manteiga enfiado no açúcar, no melhor estilo Homer Simpson. :P

Daí que quero muito explorar gostos diferentes em docinhos mais porqueira, desses carregados de açúcar, que você serve assim, em bocadinhos bem pequenos. E esse peanut butter fudge é para ser comido com parcimônia. Mesmo por que, se alguém conseguir comer um prato cheio disso de uma sentada, ganha um belo troféu trasheira. Confesso, no entanto, que toda vez que abro a geladeira, roubo um quadradinho. Perigo. Perigo.

Para uma ex-viciada em Dadinhos – já falei quão roliça fui na infância? – esses quadradinhos são nostálgicos, ainda que não exatamente iguais. Usei açúcar cristal ao invés do de confeiteiro, o que deixou a textura um pouco granulosa. Recomendo usar o de confeiteiro mesmo, para que fique bem homogêneo. Também usei manteiga de amendoim natural (amendoim sem pele, torrado no forno e batido no processador até virar manteiga). Provavelmente o resultado com manteiga de amendoim convencional encontrada aqui no Brasil seja completamente diferente, e provavelmente ainda mais doce. O gosto dos quadradinhos é bem esse, manteiga de amendoim doce, como uma paçoca úmida. Não tem a complexidade de sabor que um fudge de chocolate pode ter. mas é viciante para quem gosta de amendoim. Começo os docinhos com algo simples e fácil, mas já ando muito de olho em técnica de temperar chocolate e forminhas de pirulito. A louca.

Só para constar, e em resposta à trolagem gratuita... Thomas foi num bufê infantil e, espontaneamente (para minha franca surpresa), esticou o braço para cima da mesa dos adultos e roubou... um palito de cenoura. Toma essa.

:P

PEANUT BUTTER FUDGE
(Da revista Donna Hay)

Ingredientes:
  • 150g manteiga sem sal, cortada em cubos
  • 1/3 xic (80ml) creme de leite (usei o fresco, mas acho que pode ser o comum)
  • 1 1/2 xic. (390g) manteiga de amendoim
  • 1 colh. (chá) extrato de baunilha
  • 2 1/2 xic. (400g) açúcar de confeiteiro, peneirado

Preparo:
  1. Unte ligeiramente uma forma quadrada de 20cm e forre com papel-manteiga. Coloque o açúcar numa tigela grande e reserve.
  2. Coloque a manteiga, creme, manteiga de amendoim e baunilha numa panela e leve ao fogo médio, mexendo sempre até que esteja homogêneo e começando a borbulhar.
  3. Tire do fogo e imediatamente misture ao açúcar, mexendo rapidamente para incorporar e obter uma mistura lisa.
  4. Derrame a mistura na forma preparada e alise a superfície.Coloque uma folha de papel manteiga por cima, terminando de alisar, e leve à geladeira até que esteja firme o bastante (mínimo de 1 hora). Corte em quadradinhos pequenos e guarde em pote fechado na geladeira por até 2 semanas. 

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Financiers de avelã, chocolate e amaranto

Tenho boas memórias das Páscoas passadas. Ok, talvez menos uma, em que, com o olho maior que a barriga, comi todo o meu chocolate de uma vez e passei mal. Mas ainda assim, as boas memórias superam as ruins. Lembro do bacalhau da Sexta-Feira Santa, coisa mesmo de uma vez ao ano, pois bacalhau era caro, lembro de acordar cedo para encontrar a cestinha de vime com meu nome e com os chocolatinhos do Coelho da Páscoa e de levar pedacinhos do ovo embrulhados em papel alumínio no lanche da escola.

Os eventos religiosos na escola de freiras foram integralmente apagados da minha mente.

O caso é que, assim como aconteceu com o Natal, percebi que minhas memórias mais gostosas e persistentes tinham a ver com a comida. E, por consequência, as pessoas que haviam preparado aquela comida e dividido ela comigo. Mas se eu ganhei um ovo ao leite ou crocante, não sei. A não ser pelos ovinhos que meus pais nos davam todos os anos, pequenos, cobertos de açúcar para parecerem ovos de galinha, e que precisavam ser quebrados com um martelo de cozinha, não me lembro de nenhum outro. Mas esses, talvez pelo inusitado e pelo modo divertido com os comíamos, ficaram marcados.

Essa foi a segunda Páscoa do Thomas. E a segunda Páscoa em que ele não ganhou ovo e eu fiquei, confesso, sem saber o que fazer a respeito. A coisa toda do ovo de chocolate parece ter saído de controle. O que me parecia uma diversão inocente naquela época virou mais um exemplo de excessos. Fui criada como católica, mas hoje me considero muito mais uma pessoa espiritualizada do que pertencendo a qualquer religião organizada. Nesse ínterim, meu marido e eu sabemos exatamente como explicar Natal a nossos filhos, e como incorporar Papai Noel na jogada sem deixar que o feriado seja uma mera questão de soterrar crianças com brinquedos (já pedimos aos familiares que dêem apenas lembrancinhas – qualquer presente grande ou mais caro é pai e mãe que dão). Agora Páscoa... por algum motivo parece mais difícil. Pelo menos por enquanto, em que é complicado explicar o feriado a uma criança de 2 anos, e que, uma vez permitidos os ovos, a coisa foge ao controle. A escola mesma do meu filho distribuiu coelhos de chocolate, que, sem saber o que era, ele simplesmente levou na mochila. Uma vez longe do pimpolho, ele já tendo esquecido do coelho na mala, apanhei o coelho da Lacta para ler os ingredientes. Nada que prestasse. Ainda querendo dar uma chance, abri um pedacinho do papel e tirei um naquinho da orelha do bicho. Gosto de m*rda. Lixo.

Mas eu também não posso exigir que a família saia por aí gastando os tubos para comprar chocolate belga para o menino. Não é justo e também não é o objetivo. Prefiro pedir que não dêem nada a ficar dando uma lista de regras chatas.

O que fazer?

Esse ano, o domingo de Páscoa foi também festinha de aniversário, pois Thomas faz 2 anos na quarta-feira. Daí que seu chocolate de Páscoa foi um enorme pedaço de bolo de brigadeiro e financiers de avelã, chocolate e amaranto, ambos feitos pela mamãe. Ano que vem, no entanto, ele talvez se pergunte a respeito dessa história de coelho, já que a própria escola (que é laica) fica dando liçõezinhas sobre o lado consumista do feriado: fala-se de coelho e chocolate, mas nada sobre a parte religiosa.

Daí que ando pensando em outras atividades para fazer com o pimpolho. Se ano que vem chamo a família para uma caça aos ovos (de verdade, pintados) no jardim, para depois serem trocados por coisinhas gostosas de chocolate, por exemplo. Bom... tenho um ano para matutar. Mas adoraria saber se vocês têm alternativas ao safado do ovo de chocolate, e se as crianças (e o resto da família) abraçam ou não a ideia.

Pois o mais difícil até agora não tem sido educar meus filhos a não relacionarem feriados a consumismo desenfreado. Isso parece fácil. O difícil é convencer os outros. Família e amigos parecem ficar ofendidos quando você explica que não precisa de presente de aniversário, Natal ou o que seja, porque a criança (ou mesmo nós, os pais) não precisa de nada, já tem bastante roupa, brinquedo, o que for, e que a companhia e a brincadeira é melhor do que um objeto. (E sim, eu fico chateada quando vejo que minha irmã, meus pais ou minha sogra ficaram tristes por eu "não deixar" dar presente.) Estamos, como sociedade, tão acostumados a medir nosso amor por uma pessoa pela quantidade de objetos que damos a ela, que nos perdemos um pouco, e nossa boa intenção e nosso amor vira dinheiro que não precisava ser gasto e acúmulo de objetos dos quais não precisamos.

Nessa Páscoa, Thomas não ganhou nenhum ovo. De ninguém. Brincou loucamente com toda a família, e foi dormir feliz e exausto. Os financiers que ele surrupiou da bandeja sem que mamãe visse foram chocolate o bastante pra entretê-lo entre uma brincadeira e outra. ;)

A receita, ótima, é do La Tartine Gourmande, mas ao invés de 8 formas de muffin normal, assei por 5 minutos a menos, na mesma temperatura indicada, 24 financiers em forma de mini-muffin. O perfume de avelã e chocolate que o forno exala é delicioso, e o amaranto se sente muito pouco, mas aplaca aquele pânico materno de nutricionismo. hehehe... (Se não tiver farinha de avelã no supermercado, basta pulsar avelãs no processador até ficar com textura de areia grossa – usei farinha feita com a avelã inteira, com casca e tudo, e ficou uma delícia).

De quebra, Thomas não tinha pedaço de ovo para levar de lanche, mas levou com gosto dois financiers, cujo papelzinho ele aprendeu a tirar com relativo cuidado.

Receita AQUI.

[Em tempo: os pimpolhos eventualmente começarão a ganhar ovos de chocolate. Só estou deixando para quando forem um pouquinho mais velhos. Não tem porque entuchar de chocolate uma criança tão pequena. E essa é minha decisão. Não quer dizer que vá fazer de fato bem para os meus filhos, e com certeza não quer dizer que tem que ser feito assim para todo mundo.]

Cozinhe isso também!

Related Posts with Thumbnails