sexta-feira, 17 de julho de 2009

Salvando memórias de infância

Demorou bem menos do que eu esperava para desejar escrever novamente. Mas nesse pouco tempo, pude matutar um bocado a respeito do que anda acontecendo em minha vida. Além de várias mudanças (e decisões e planejamentos que levarão a mudanças), consegui identificar qual foi a principal metamorfose responsável por minha diminuição de interesse pelo blog. Nesse momento, sei que muita gente se identificará comigo...

Comecei o La Cucinetta porque queria provar um ponto: o de que era possível viver sem as "conveniências" culinárias responsáveis por tornar muitos amigos meus gordos e pouco saudáveis. Queria mostrar que era sim possível trabalhar o dia todo e fazer um jantar a partir do zero no fim da noite. É por isso que o comecinho do blog tem tantos textos sobre técnicas e pratos bastante básicos. Simplesmente não publicava nada que parecesse complicado, porque não queria assustar meus amigos (que eram meus únicos leitores).

Conforme fui melhorando na cozinha e, principalmente, conforme fui descobrindo que o meu não era o único blog de culinária do mundo [santa ingenuidade, Batman...], comecei a querer melhorar o blog e caí na velha pegadinha de "quero ser famosa e escrever livro". O ego inflou. E, na verdade, isso estava muito em conformidade com minha atitude na época com relação à comida, principalmente quando tinha convidados para jantar. Sem me dar conta, eu cozinhava para mostrar. Para mostrar no blog como o prato estava bonito, para mostrar aos convidados como eu era talentosa na cozinha e excelente anfitriã, para que todos achassem que aquele era o melhor bolo que já haviam comido. É claro que isso não é saudável, e no fim das contas só gera mal estar. Eu me estressava quando tudo não saía absolutamente perfeito, sentia-me na obrigação de cozinhar coisas novas e interessantes todo dia para o blog, e por aí vai.

O que mudou? Não sei exatamente o que desencadeou a mudança. Talvez a dieta. Talvez o livro A Platter of Figs, que fala justamente do ato de receber com simplicidade, e sugere que frutas maduras da estação e um bom queijo são sobremesas melhores do que qualquer doce complicado. É verdade. O caso é que um belo dia eu simplesmente relaxei. O stress foi embora. No momento em que comecei a me concentrar mais nos convidados do que na comida que eu lhes servia, no momento em que comecei a pensar no que eu queria comer, e não sobre o que eu queria "blogar", todo o peso foi embora, e todo aquele "olha só o que eu fiz, não é fabuloso?" desapareceu. E acho que é apenas natural que, uma vez restabelecida essa relação mais simples com a comida, eu não sentisse mais necessidade de ficar tagarelando a respeito do meu almoço.

No entanto, noutro dia fiz uma experiência que foi tão bem sucedida, que imediatamente pensei em dividir com vocês. Não pelos "nossa, isso parece delicioso!", mas porque foi algo que me deixou muito muito feliz, e talvez possa deixar alguns de vocês também. Principalmente os vegetarianos. Quando era criança, minha mãe costumava preparar sempre almôndegas com molho de tomate, que comíamos com arroz branco, que sempre ficava deliciosamente manchado de vermelho, tendo absorvido todo o sabor do molho. "Porpetas" era como as chamávamos, um desvirtuamento de "polpetta", a palavra italiana para almôndega. Diga-se de passagem, "porpeta" era também o apelido carinhoso que meu pai me dera, em minha época mais redondinha.

Há anos eu não comia almôndegas, e esse era só mais um dos meus pratos favoritos que haviam ficado para escanteio desde que eu deixara de comer carne, junto com o strogonofe de frango e a lasagne de minha mãe. E eu queria muito comê-las de novo. Já vira muitas receitas de hambúrguer vegetariano usando soja, feijões ou mesmo cogumelos. Mas não gosto de soja (a não ser tofu e molho shoyu), não queria mais um carboidrato no prato, e as receitas de polpette de cogumelos que eu tinha levavam, além do pão, batatas, ou seja, mais carboidrato. Lembrem-se: eu ainda estou em manutenção da dieta.

Foi então que apanhei uma receita de almôndegas da revista Gourmet e resolvi simplesmente substituir todo o peso da carne por chapéus de cogumelo (shiitake ou portobello), sem mais batata para dar liga, sem feijão, sem soja, nem nada. Mas eu sabia que, ainda que o cogumelo imite até que bem a textura da carne, esta tem algo de picante e adocicado que o cogumelo não tem. Principalmente se falamos de carne de porco. Pensa, pensa, pensa... E encontrei uma solução muito muito simples, que fez toda a diferença, fazendo com que minha mãe dissesse que, se eu não lhe tivesse contado, ela não desconfiaria, assim de cara, que a almôndega era vegetariana. A solução foi refogar os cogumelos com uma folha de louro, picante e adocicada na medida certa, além de acrescentar à mistura das almôndegas floquinhos pequenininhos de manteiga gelada, para que se derretessem apenas no fogo, assim como os pedacinhos de gordura presentes na carne. Ficaram excelentes, do jeitinho que eu me lembrava das almôndegas da infância, principalmente no dia seguinte, quando, como quando criança, eu "belisquei" algumas das sobras direto da geladeira, como bolinhos. E deixo essa receita para os não-comedores de carne, para que matem a saudade das almôndegas como eu... :)

Quanto ao blog, os posts serão menos freqüentes, mas continuarão existindo sim. Vou voltar a permitir os comentários, mas, por uma questão de tempo, já aviso que não vou responder a eles, a não ser que me pareça MUITO pertinente. Mas eu leio todos com carinho. E isso vale para e-mails e para comentários: se você pode encontrar a informação no mecanismo de busca do blog ou no Google, eu não vou responder. Mesmo. Tudo aquilo que eu posso responder está no FAQ. E quanto às receitas, se um ingrediente não consta na lista nem no preparo, é porque ele não é usado ali; se você trocou pêssegos por bananas e o bolo não deu certo, é porque você não seguiu a receita; se você não consegue encontrar um ingrediente X, faça como eu: não prepare a receita. Isso parece meio ríspido da minha parte. Mas hoje o blog tem 35 mil leitores (pouco comparado com outros blogs, mas muito para mim). Façam a conta de quantos emails legais versus quantos absurdos eu recebo por dia. Pois é. Quem tem blog sabe do que eu estou falando. Para que o blog continue, é preciso que eu não perca tempo respondendo coisas que eu não precisaria estar respondendo. Eu fui muito legal e paciente no começo, mas hoje em dia simplesmente não dá. A coisa adquiriu uma proporção que minha vida simplesmente não comporta. Ou eu aparo arestas, ou corto o blog de vez. Portanto, espero a compreensão de vocês todos, e que ninguém leve isso pro lado pessoal.

ALMÔNDEGAS DE COGUMELOS AL SUGO
(adaptado da revista Gourmet)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 2-4 porções, dependendo do acompanhamento


Ingredientes:
(molho)
  • 1 lata (400g) de tomates italianos pelados
  • 1/2 cebola picada
  • 2 colh. (sopa) azeite de oliva extra virgem
  • 1 dente de alho grande, picado
(almôndegas)
  • 1/2 cebola picada
  • 1 folha de louro
  • 2 colh. (sopa) azeite de oliva extra virgem
  • 2 dentes de alho picados
  • 350g cogumelos frescos (shiitake, cremini ou portobello, pesados já sem os cabos)
  • 1/2 xíc. pão amanhecido despedaçado
  • 1/2 xíc. leite
  • 1 ovo grande
  • 1/3 xíc. de queijo Parmesão ralado na hora
  • um punhado de salsinha fresca picada
  • 1/4 colh. (chá) orégano seco
  • 2 colh. (sopa) de manteiga bem gelada
  • 1 xíc. de azeite ou óleo vegetal para fritura
  • farinha de rosca, se necessária
  • sal e pimeta-do-reino

Preparo:
(molho)
  1. Refogue a cebola no azeite em fogo médio por uns 10 minutos, mexendo de vez em quando, até que ela esteja amolecida.
  2. Junte o alho e cozinhe por uns 2 minutos, sem deixar que queime.
  3. Junte os tomates com seu líquido e mexa, despedaçando-os com a colher de pau. Tempere com sal e pimenta a gosto, abaixe o fogo e deixe em fervura branda, destampado, por cerca de 30 minutos, até que o molho esteja bem grosso. Mexa de vez em quando para não grudar.
(almôndegas)
  1. Pique os chapéus de cogumelos ou passe por um processador de alimentos (NÃO use liquidificador) até ter uma consistência de carne moída. Reserve.
  2. Refogue a cebola e o louro no azeite em fogo médio numa frigideira grande, por uns 10 minutos, mexendo de vez em quando, até que ela esteja amolecida. Junte o alho e cozinhe por uns 3 minutos, sem deixar que queime.
  3. Junte os cogumelos e aumente o fogo. Mexendo sempre com uma colher de pau, para que não grudem, cozinhe por uns 5 minutos, até que parem de liberar vapor e não haja mais água na frigideira. Passe para uma tigela e deixe esfriar um pouco. Retire a folha de louro e jogue fora.
  4. Enquanto isso, coloque o pão despedaçado em uma tigelinha e cubra com o leite. Deixe descansar por 5 minutos. Então escorra o pão e esprema-o bem entre os dedos para retirar o excesso de leite e junte o pão úmido aos cogumelos. Descarte o leite.
  5. Junte o parmesão, a salsinha, o orégano, 1 colh. (chá) rasa de sal, pimenta-do-reino a gosto e o ovo. Misture bem até que fique homogêneo.
  6. Com a ajuda da ponta de uma faca, junte a manteiga gelada (ou congelada), acrescentando-a em floquinhos de não mais de 0,5cm. Se a mistura ainda parecer muito molenga para formar bolas, acrescente farinha de rosca até que pareça mais firme. A consistência da massa vai depender da quantidade de leite absorvida pelo pão e da quantidade de água presente nos cogumelos.
  7. Molhe as mãos em água fria e forme bolinhas de 5cm de diâmetro com a massa, reservando-as em uma assadeira. Você terá cerca de 18-20 almôndegas.
  8. Aqueça o óleo em uma frigideira grande em fogo médio-alto, até que esteja quente mas sem sair fumaça. Frite as almôndegas, umas 5 por vez, virando-as constantemente com a ajuda de uma espátula, com cuidado para não despedaçá-las. Cozinhe-as por 5 minutos, ou até que estejam marrom escuras, quase da cor de kibes, mas não queimadas. Transfira de volta para a assadeira. (Você pode parar por aqui, se quiser servi-las sem o molho, ou pode guardá-las na geladeira e reaquecê-las no molho no dia seguinte.)
  9. Junte as almôndegas ao molho de tomate, tampe e cozinhe por cerca de 20 minutos, mexendo de vez em quando. Sirva com arroz, se for como minha mãe, com legumes se for como os italianos ou com spaghetti se for como os americanos.

Cozinhe isso também!

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