sexta-feira, 8 de agosto de 2008

E ela desapareceu em meio a uma cortina de pó... *puft!*

Temos piso novamente.

Como posso explicar resumidamente minha semana? Hmmm...

Comecemos pelo atraso do pedreiro, que marcara comigo às 10h da manhã, chegando de fato às 13h, largando suas tranqueiras e saindo para o almoço, para começar a trabalhar apenas às 15h30...

Passemos pela encantadora constatação de que apenas as lajotas que eu já arrancara estavam soltas, e o restante teve de ser arrebentado com marreta, fazendo surgir uma inesperada névoa de sujeira por toda a casa. Detalhe: para melhorar a circulação, minha cozinha não tem porta.
No primeiro dia foi tranqüilo manter o cão longe da cozinha, apenas bloqueando sua passagem com alguns banquinhos. Ele continuou passeando pela sala e eu pude trabalhar "tranqüilamente", sempre de olho no pedreiro, a despeito das marretadas que pareciam ser aplicadas diretamente em minhas têmporas.

Concentrada no que fazia, não notei o pó chegando até ser tarde demais. Quando o pedreiro foi embora às 18h em ponto, apanhei aspirador de pó, pano e rodo e saí limpando por aí. "Amanhã é só assentar o piso", disse ele. Ótimo, pensei, vou limpar tudo hoje e amanhã vai ser sossegado.

Naquela segunda-feira de geladeira na sala e fogão no banheiro, dei sorte de receber um convite para jantar de meu pai.

No dia seguinte, surge o primeiro desespero da vida sem fogão: eram 6 horas da manhã, eu estava a caminho da corrida, e eu precisava — PRECISAVA — de café. Meti a roupa de ginastica o mais rápido que pude, aprontei minha mochila apressadamente, tudo para ter tempo suficiente para caçar na gaveta o fogareirozinho de acampamento, montar no micro-butijãozinho de gás e [*suspiro*] fazer meu café.

Corre, corre, corre, pega o cachorro, passeia, passeia, passeia, volta prá casa, espera o pedreiro e tudo começa de novo com o homem atrás de uma tomada 220v para ligar a serra circular que ele usaria para cortar o porcelanato.

"Vai fazer sujeira?", perguntei, sabendo já a resposta.
"Vixe, mais do que ontem!", respondeu.
"Então peraí, que eu vou pegar o que ficou na cozinha."

Logo percebi que fora uma péssima idéia não retirar a comida e as frigideiras no dia anterior, ao sentir pó sobre minhas cebolas e meus potes de farinha. Pobre de mim, só pensara em tirar o que ficava de fato SOBRE o chão.

Suspirei, apanhei uns lençóis velhos e cobri o que seria mais difícil de limpar (televisão, sofá, etc), e usei o último para, munida de muita fita crepe, aprisionar o pedreiro e sua sujeirada em minha cozinha sem porta.

Quando ele ligou a serra apoiada em meu balde (que ele eventualmente serraria ao meio sem querer), achei que havia sido transportada para uma consulta com o dentista dos infernos. A serra zuniu agudo, o cão começou a latir, e eu comecei a duvidar que conseguisse manter um pensamento não-suicida na cabeça e de fato terminar meu trabalho.

E o pó começou a surgir, atravessando sorrateiro as fendas entre os batentes e o lençol, grudando em meus braços, minha roupa, meu cabelo, e, para meu desespero, meu computador, que não podia cobrir porque, bem, eu tinha um prazo.

Mandei o pedreiro almoçar, passeei o cão novamente, e almocei o último pedaço de pizza gelada e dura que restara na geladeira, com muita preguiça para sequer requentar o desgraçado.

Ao fim do dia, eu desistira de trabalhar e passara a última hora olhando para a serra e contando mentalmente quantas peças de porcelanato faltavam ser assentadas. O cão, atrás de mim, fora impedido de sair do quarto por uma barricada de cadeiras, para que não resolvesse enfiar patas e focinho no cimento ou (pior) na serra. E agora ele latia e grunhia, inconformado com sua prisão temporária. Eu respirava devagar, tentando acalmar meus nervos, que queriam me convencer a pegar aquela maldita serra e enfiá-la na cabeça do pedreiro, definitivamente. Assim eu teria silêncio e paz de espírito, mas provavelmente não teria o piso da minha cozinha.

Paciência. Mantenha o pedreiro vivo. Por enquanto.

"Pronto", disse ele, "amanhã é só rejuntar."
"Não vai ter mais poeira?"
"Não, acabou. Pode limpar tudo hoje. Só não pode pisar na cozinha, senão entorta tudo."
"Ok, sem problemas!"

Assim que ele recolheu suas coisas e foi embora, comecei a juntar novamente panos mil, rodo e vassouras para começar a faxina novamente. Então me dei conta de que esquecera o item mais urgente na área de serviço, além da cozinha intransponível: o aspirador de pó.

Depois de passar panos úmidos pela terceira vez em toda a casa e em todos os cacarecos visíveis, queria sentar e chorar, achando que minha casa fora para sempre engolida por uma camada indelével de pó branco, fino e pegajoso. Continuei limpando, tentando não deixar que aquilo arrebentasse de vez meu espírito, e decidi que, apenas para fingir a mim mesma que as coisas não eram tão ruins, eu faria o jantar. Mas não sem passar no mercado antes e apanhar uma merecida garrafa de vinho. Para os nervos.

Voltei para casa, coloquei a garrafa de Chardonnay argentino na geladeira e coloquei a panelinha cheia de água sobre o fogareiro. Tomei um loooooooooongo banho, tentando esfregar fora aquela camada de sujeira que se fixara em minha pele. Relaxada, de pijamas, liguei a tv, apanhei tomates cereja vermelhos e amarelos, azeitonas kalamata e alcaparras e misturei numa tigela, com azeite, pimenta-do-reino e orégano, e deixei aquele molho improvisado ali, aguardando pela massa pelando. Resolvi que abriria o vinho enquanto esperava a água ferver. Estava sozinha àquela noite. Allex trabalharia até tarde.

Coloquei a garrafa sobre a mesa e fui pegar o saca-rolhas... Vi-me inerte, paralizada, etupidificada à porta da cozinha, com um olhar fixo e imbecil para a gaveta fechada onde estava meu saca-rolhas: a um metro e meio de distância e completamente inalcançável.

Sentar e chorar?

Voltei à sala, arranquei o lacre da garrafa e olhei para a rolha. Pensei em cortá-la em mil pedacinhos e coar o vinho; pensei em afundar a rolha na garrafa. Muitas idéias cretinas e perigosas passaram por minha mente enevoada pela exaustão até que decidisse pedir um saca-rolhas emprestado ao vizinho... que não estava em casa.

Andei de um lado para o outro, inquieta, sem saber o que fazer. Se meu amigo já tivesse se mudado para a casa nova, ele seria a solução mais viável, a um quarteirão de distância. Não conhecia nem simpatizava suficientemente com ninguém mais do prédio para pedir um favor. "Oi, eu não sei seu nome nem nunca perguntei. Você não me dá bom dia nem gosta do meu cachorro. Poderia me emprestar um saca-rolhas para que eu beba meu vinho sem te convidar? Obrigada."

Respirei fundo e violei o manual das pessoas que já saíram da casa dos pais há 3 anos: liguei para minha mãe. Que, ufa!, me emprestou o saca-rolhas.

Tenho plena consciência de quão alcoólatra todo esse episódio parece, mas dada a situação, me vejo no completo direito de PRECISAR DESESPERADAMENTE de uma taça de vinho. Isso só me ensina a, da próxima vez, comprar cerveja. O abridor de garrafas, afinal, estava ali, em cima da mesa.

No dia seguinte, mesma correria. Despedi-me rapidamente do marido que viajaria a trabalho aquele dia, saí para meu treino, passei o cão e esperei pelo pedreiro. Ao meio dia, estava tudo pronto. Sem mais sujeira, como prometido. No fim do dia poderia passar um pano seco na cozinha e, no dia seguinte, lavá-la.

Passei o resto da tarde trabalhando e, assim que vi que o rejunte secara, limpando a cozinha. Terminei uma primeira faxina sem água às nove da noite, quando o acesso de tosse por conta da poeira realmente se intensificou. Sentia-me absolutamente exaurida, razão pela qual, sem dinheiro na carteira e sem uma folha de cheque para uma pizza, resolvi jantar um dos miojos do marido. Fazer o quê? O acesso de tosse foi tão violento até o fim da noite (devo ter inalado muita poeira, ao contrário do pedreiro, que usava máscara), que acabei passando muito mal, e, digamos, foi como se eu nunca tivesse comido miojo àquela noite.

Fui dormir me sentindo um caco, e acordei me sentindo ainda pior. Mas, boa menina, fui correr mesmo assim, lembrando do que meu treinador me dissera uma vez: "Tá doente? Corre que passa!"

Onze horas da manhã, roupa de ginástica suada, esfregando chão, telefona um cliente querendo confirmar uma reunião ao meio-dia. Culpa de um e-mail que eu nunca recebera. Milagrosamente, consegui largar tudo, tomar banho, passar no banco para tirar dinheiro, pegar o metrô até o cliente e chegar razoavelmente apresentável e em ponto na reunião.

Quando voltei para casa, decidi que não agüentava mais. Dissera que esperaria o marido voltar na sexta para ele me ajudasse a voltar tudo para o lugar, mas nunca fui mulher de depender de homem. Ok, o móvel e a geladeira são pesados demais para uma pessoa só. Mas botei meu fogão no lugar e viva! guardei o fogareiro.

Agora, pela primeira vez de fato na semana, tenho cinco minutos para escrever esse texto. Apenas porque a cozinha está limpa, comida e temperos nas prateleiras, fogão funcionando, o cão está dormindo, a última reunião da semana acabou há 2 horas atrás e estou aguardando o parecer dos clientes a respeito de trabalho entregue.

Neste fim de semana quero dormir.

Cozinhe isso também!

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