quinta-feira, 10 de julho de 2008

Cookies de aveia para um dia da pizza sem pizza

Dia 10 de julho, dia da pizza. Assim como eu, um zilhão de outros blogueiros devem ter pensado em preparar uma pizza hoje. Exatamente por isso decidi que deixaria o projeto para um outro dia. Principalmente porque ainda não encontrei uma receita de pizza caseira que, feita sem uma pedra no forno, batesse qualquer outra que eu possa chamar pelo telefone.

Logo, bola para frente. O que eu cozinho hoje?

Hoje, nessa quinta-feira entre trabalhos, seria um bom dia para perseguir uma de minhas muitas Moby Dicks, pensei: biscoito de passas e aveia. "Ok", você me diz, rolando olhares de tédio, "o que pode haver de tão difícil em biscoitos de aveia??" A-há! É aqui que entra a história. Sente-se confortavelmente e preste atenção...

Quando criança, costumava almoçar na casa de minha avó materna todos os domingos. Vó L. não se conformava em preparar apenas tortas, massas, lombo, frango, sopa e salada. Ela fazia bolos, pavês, servia sorvete com tudo isso e, quase sempre passava bandejinhas de doces ou biscoitos, que depois ficavam sobre o carrinho de chá de madeira, na copa, embaixo de um enorme quadro de cebolas. Meus favoritos eram pequenos biscoitos macios mas resistentes à mordida, de bordas douradas e quase carameladas, salpicados de passas escuras, que tinham seu sabor concentrado após o forno.

Como eu adoraaaaaaaaaava aqueles biscoitos.

Mas, assim como a torta de palmito, os enormes suspiros e um delicioso doce de figos secos (outro doce misterioso), a receita dos biscoitos de passas perdeu-se após o falecimento de minha avó, há mais de uma década.

Há uns três anos atrás, no entanto, um de meus tios encontrou uma receita de biscoitos, a qual prontamente enviou-me por e-mail. Seriam aqueles os misteriosos? Uma nota desaminadora no fim do e-mail, porém, dizia que ele tentara reproduzi-los, sem sucesso.

Hmmm... Não muito promissor. Deixei a receita quieta na época, cheia de outras coisas em mente, e acabei me esquecendo dela. De tal forma que, inadvertidamente, apaguei o e-mail, e meu tio nunca mais me enviou a receita (acredito que a tenha perdido).

Minha última esperança residia em minha tia, a quem fui visitar em Los Angeles. Dizia ela ter cartas de minha avó em que constavam receitas suas. Enquanto preparávamos sanduíches para a viagem de carro, conversando sobre a comida que minha avó L. fazia, perguntei-lhe a respeito dos tais biscoitos, e se ela se recordava deles.

Sim, ela lembrava. Não, não havia receita. E se houvesse, garantiu-me ela, eu não conseguiria reproduzi-los.

"Por quê não?????"
"Porque não era para eles serem biscoitos."

Contou-me que minha avó, tendo convidado um casal para almoçar em casa (acredito que meus tios-avós), resolvera testar uma receita nova de... muffins. Éééééé... É isso mesmo que você leu. Muffins. [Vou fazer uma pausa para que você possa parar de rir e se recompor. Quer um copo d´água?] Alguma coisa deu muito errado no meio do caminho, pois os muffins colapsaram no fim do cozimento, ficando com não mais de 1cm de altura. Profundamente frustrada com um fracasso tão retumbante, vó L. decidiu deixar os bolinhos escondidos no forno, para que nunca ninguém soubesse de seu desastre culinário.

Após o almoço, entretanto, um dos convidados, muito enxerido, resolveu fuçar na cozinha e, atraído pelo perfume doce que exalava o forno, abriu-o, deparando-se com aqueles pequenos círculos dourados cravejados de passas.

"L., que feio! Você estava guardando o melhor da festa para você? Por que não serviu esses biscoitos??"

A partir de então, quase todos os domingos minha avó servia orgulhosa os biscoitos que não eram biscoitos, muffins que nunca deveriam ter sido, e ninguém sabe o que era que os fazia assim, se o forno, se os ingredientes, se a "sorte" da cozinheira.

De todas as minhas Moby Dicks, essa pelo menos é a mais engraçada. Tudo o que posso fazer é sair testando receita após receita de biscoitos de passas (a aveia é uma lembrança incerta, reminiscente da textura do biscoito), até encontrar algo que seja ao menos próximo do "biscoito" da minha avó.

Comecei por esta, Oatmeal Raisin Cookies, do ótimo blog Simply Recipes. Os biscoitos ficam enormes, mas por isso mesmo crocantes por fora e macios por dentro. O preparo foi seguido à risca, até o momento de ir ao forno. Como tenho apenas uma assadeira grande (que, como vocês podem ver pela foto não é grande o bastante), resolvi seguir o método do Chocolate Chip Cookie e assar uma fornada por vez, deixando a massa na geladeira, ao invés do sugerido por Elise, que era colocar duas assadeiras de uma vez e alterná-las no meio do cozimento.

Contudo, acostumada a preparar biscoitos pequenos, não soube calcular bem o quanto as bolas de massa se espalhariam, de modo que a primeira fornada, com 9 bolas, tornou-se um grande e único biscoitão (foto). Sem problemas, quando isso acontece, os biscoitos não estão arruinados: ficam feios, mas não menos gostosos. Basta esperar dois minutinhos e separá-los ligeiramente com uma faquinha enquanto ainda um pouco moles. Isso evita que eles quebrem em mil pedacinhos ao tentar separá-los depois de frios.

Por causa do tamanho da assadeira, tive de fazer mais duas fornadas, com apenas 5 biscoitos em cada uma, o que garantiu perfeição absoluta.

A textura dos cookies chegou até que bem perto dos "nunca-foram-muffins" de minha avó. Mas, no melhor estilo Monica tentando descobrir a receita dos cookies da avó de Phoebe (aaah, saudoso Friends), já deixei anotado que minha avó com certeza não colocava noz-moscada neles. Ficaram muito bons com ela, mas não é exatamente esse o sabor que está fixo em minha memória.

And the quest continues...


DICA:
costumo ter dificuldades com receitas com aveia em inglês, uma vez que "rolled oats", "quick oats" ou "steel-cut oats" não são termos que vemos nas embalagens de aveia aqui no Brasil. Finalmente fiz minha pesquisa, e, para quem tem as mesmas dificuldades que eu, aqui vai:

  • STEEL-CUT OATS ou SCOTCH OATS ou IRISH OATS: são os grãos de aveia cortados em poucos pedaços. Lembram arroz quebrado.
  • ROLLED OATS ou OLD-FASHIONED OATS: aveia em flocos.
  • THIN ROLLED OATS ou QUICK OATS: aveia em flocos finos.
  • INSTANT OATS: flocos muito finos de aveia, pré-cozidos e secos, aos quais geralmente é adicionado algum aromatizante, sal ou açúcar.
  • OATMEAL: ao contrário do que eu pensava, não é farinha de aveia. Oatmeal pode fazer referência a qualquer um dos tipos de aveia mencionado acima.

Cozinhe isso também!

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