segunda-feira, 5 de maio de 2008

Heranças de família


Ultimamente tem sido difícil manter o blog atualizado com a mesma regularidade de antigamente. Ritmo mais intenso de trabalho, todo o "procura apartamento, muda ou não muda, desencana de mudar", vários jantares fora, preparativos para minhas primeiras férias desde 2004 e minha (ainda) balança quebrada têm me impedido de cozinhar qualquer coisa que eu considere merecedor de uma fotografia e um texto. Isso somado ao fim do mês, que, para mim, sempre significa um período pão-com-queijo, resto de spaghetti, sopa do que tiver na geladeira.

Para não dizer que nada gostoso saiu de minha cozinha nesse meio tempo, digo-lhes que preparei um bolo de aniversário para meu pai, que estava em São Paulo. Mas a adaptação de ingredientes não foi um sucesso total, e o bolo ficou gostoso, mas denso e cheio de falhas na massa. Feio, o coitado. Meu pai merecia bolo mais bonito.

Também fiz uma sopa "napoleônica", como bem descreveu Allex, referindo-se ao modo como Napoleão gostava que as sopas para seu exército fossem preparadas: tão densas, que uma colher no centro da panela deve ficar de pé. A sopa era composta de um mirepoix de cebola, cenoura e salsão, acrescido de batatas e uma miríade de grãos: lentilhas verdes e vermelhas, feijão branco, corado, azuki, cevada, farro, ervilhas... Uma delícia em noites frias. Mas feia, a coitada. Marrom e pedaçuda, não ousei tentar fotografá-la.

Ontem, então, meu pai trouxe algo sobre o qual eu poderia com certeza falar aqui: os cadernos de receita de minha avó. Ela, que me ensinou a preparar pasta fresca, mas que hoje tem preguiça de cozinhar e só come legumes no vapor, emprestou-me seus cadernos antigos, para que eu pudesse copiá-los à vontade. O mais antigo deles é de 1947, dois anos antes de meu pai nascer, e leva recortes de jornal muito velhos, com receitas perfeitas para as donas de casa da época, com uma disponibilidade de ingredientes limitada. Dentro de outro, encontrei uma brochurinha amarela e esfarelenta, sem data, da Nestlé, com desenhos em preto-e-branco das latas antigas de "leite condensado marca Moça" e "Nescáo — o super alimento". Pelo estilo das fontes utilizadas e das ilustrações (a designer em mim enlouqueceu com o livrinho), acredito que seja também da década de 40.

Já encontrei nos cadernos receitas antigas de sorvetes com "truques" para conseguir a consistência certa sem a sorveteira (aquela antiga, de manivela), apenas com "refrigerador". Há também os bolinhos de banana que meu pai comia na infância, pudins, bolos de natal, recheios para peru, caçarolas italianas, massa de cannoli, entre muitos outros quitutes. Engraçado notar, porém, que aquilo que lhe era mais automático (pasta e gnocchi) não está anotado em lugar algum.

Estou com os dedos coçando de vontade de fazer o bolo mais antigo que encontrar nesses cadernos. Da época em que não eram "xícaras", mas "chícaras". (Quando eu era criança, as duas formas eram permitidas. Sempre gostei com "ch", tão mais elegante, e fiquei muito triste quando aboliram essa opção...)

Cozinhe isso também!

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