segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Farinata

Farinata é uma massa de farinha de grão-de-bico, assada em forno ou em frigideira de ferro fundido sobre o fogo, típica da Liguria. Depois de pronta, costuma parecer-se com uma panqueca ou uma fritatta.

Preparei-a hoje, para o jantar, acompanhada de uma espécie de salada quente de abobrinhas fatiadas muito finas, ligeiramente refogadas em azeite, alho e vinho Marsala, temperadas com sal, pimenta-do-reino, pimenta-rosa, menta seca e manjericão fresco.

O caso é que minha mente me prega peças às vezes. Acontece quando tenho uma receita que quero fazer há séculos mas, no último instante, resolvo substituí-la por uma nova, de origem duvidosa. Por quê? Não sei. E sempre dá tudo errado.

Neste caso, o culpado foi (como quase sempre acontece) um livro barato de banca, que não vou mencionar, mas faz parte de uma coleção atual de culinária distribuída por um jornal. A receita dizia ser de "cecina", um dos inúmeros equivalentes regionais à farinata ligure. A foto não me deixava dúvidas. O texto pedia por 200g de farinha de grão-de-bico e 800ml de água. Misturei-os como indicado, temperei, mas estaquei no momento em que pediam para despejar sobre uma forma de 28cm, de modo que a "massa" ocupasse uma altura de 4mm... Bom... Ok... Primeiro, olhei para a "sopa" à minha frente. Aquilo preencheria vários centímetros da forma, e nunca poderia ser chamada de massa. Imediatamente dei-me conta de que alguém errara feio na hora de traduzir /converter / digitar o texto do livro, principalmente porque a primeira receita que eu tinha (mais confiável), apresentava uma proporção de 3 para 1, ao invés de 4 para 1. Oh-oh. Como resolver isso, tendo gasto toda a minha farinha?

Deixei a tigela num canto por alguns minutos, até que decantasse. Queria ver se a farinha dissolvera-se ou se havia ainda algo a se chamar de "massa" no meio daquela bagunça. Quando achei que os depósitos no fundo eram suficientes, passei lentamente o líquido por uma peneira, recolhendo a parte semi-sólida e deitando-a na forma. Sim, havia bem um meio centímetro de massa bastante líquida ali, mas, estando já no meio do processo, achei melhor ir até o fim. Coloquei-a no forno e, 30 minutos depois, havia uma farinata pronta.

Preciso treinar-me a não mais mudar de idéia no último momento. Ontem mesmo, quase o fiz ao preparar a lagosta. Foi Allex quem me disse para prepará-la do primeiro modo, e tenho quase certeza de que a outra receita não teria sido tão satisfatória. É... auto-sabotagem na cozinha é fogo...

Cozinhe isso também!

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