terça-feira, 4 de novembro de 2014

Chamemos as coisas pelos nomes delas: pavê de banana


Minha mãe, dia desses, deu-me de presente um pacote de "biscoitos champagne" de uma marca italiana que ela encontrara, e cujos ingredientes eram ingredientes de verdade, sem nenhuma traquitana nojentinha. Imediatamente olhei para aquilo e pensei TI-RA-MI-SÙ. Porque meus filhos nunca comeram tiramisù e está mais do que na hora.

Fui feliz e contente ao supermercado procurando mascarpone, apenas para cair sentada com o fato de 200g de mascarpone brasileiro custarem 40 reais. Uma sobremesa de 40 reais. Acho que não. Pensei em tentar fazer o mascarpone em casa, mas confesso que me deu uma preguiça de gastar também bons 20 reais em creme de leite fresco, sem saber se daria certo ou não.

Suspirei, decepcionada, e voltei para casa.

E lá, os biscoitos me esperavam. E também bananas. Muitas delas, olhando para mim e dizendo que não aguentariam o calorão por muitos dias mais.

Lembrei do banana pudding da Magnolia Bakery, que eu sempre quisera preparar. Porém... e esse é um porém que sempre me incomodou... a receita original usa, além de biscoitos, banana, creme de leite e leite condensado... pudim de baunilha instantâneo.

OK.

Claro, eu já estava usando biscoito comprado, por que não usar pudim comprado de uma vez? Bom... porque eu caí sentada de novo quando li a quantidade de ingredientes impronunciáveis e asquerosos que vão nos pudins instantâneos (edulcorante xyz, acessulfato do quê diabos??). O pudim de baunilha que eu faço em casa (desses de comer de colher) leva 5 ingredientes: leite integral, creme de leite fresco, amido de milho, açúcar orgânico e fava de baunilha (ou açúcar baunilhado e extrato natural, tudo caseiro, quando não tenho a fava).

Daí que fiquei morrendo de vontade de banana pudding, mas com a certeza de que jamais prepararia a receita original.

Antes de ficar deprimida, no entanto, resolvi que faria minha própria versão. Melhor, não sei. Nunca comi o tal banana pudding da Magnolia. Com melhores ingredientes? Sem sombra de dúvida. Delicioso? Opa! Muuuuito! :D

Mas banana pudding o caramba. Chamemos as coisas pelos seus nomes: pavê de banana, que é o que é de fato, com gosto de comida de vó, para aquele dia em que você quer um docinho bem docinho pra comer na sua tigelinha favorita, enroscada no sofá, vendo um filme gostoso. Digno de virar clássico aqui em casa. Estou pensando agora em como posso criar variações, com um nadinha de rum no pudim, ou um limãozinho nas bananas, para um toque ácido... Canela? Chocolate? Cardamomo, de repente? Hmmm... Vamos ver.

Nem consigo imaginar quão doce é a sobremesa original, pois leva leite condensado além de todo o açúcar contido na mistura em pó instantânea. Deve ser de cair os dentes. Minha versão, com apenas 3/4 de lata de leite condensado, já ficou bastante doce. Como disse, doce tipo sobremesa de vó brasileira. ;) Para quem quer algo mais suave, sugiro usar apenas meia lata. Para quem quer bem doce, lata inteira.

Lembre-se de deixar o pavê na geladeira por no mínimo 4 horas. Melhor ainda se for de um dia para o outro, pois não apenas o pavê firma, como o creme absorve maravilhosamente o sabor da banana.

Nonna em treinamento, doce de vó.

PAVÊ DE BANANA
Rendimento: 8-10 porções

Ingredientes:

  • 1 pacote de biscoitos tipo champagne caseiros ou de sua marca favorita
  • 4-5 bananas maduras mas ainda firmes (usei bananas prata)
  • 1 1/2 xic. leite integral
  • 1 1/2 xic. creme de leite fresco
  • 1/4 xic. amido de milho
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 1/2 fava de baunilha (ou 1/2 colh. sopa de extrato natural de baunilha)
  • 3/4 lata de leite condensado (ou a gosto)


Preparo:

  1. Dissolva o amido em 1/2 xic. do leite dentro de uma panela. Junte o restante do leite e do creme de leite e o sal.
  2. Abra a meia fava com a ponta da faca e raspe as sementes para dentro da mistura de leite. Junte a fava aberta. 
  3. Leve ao fogo médio e cozinhe, mexendo sempre, até que ferva. Abaixe o fogo, misture bem por 1 minuto, deixando engrossar, e desligue o fogo. Junte o leite condensado, mexendo bem para que fique bem incorporado. (Se estiver usando extrato de baunilha, junte agora.)
  4. Escolha uma travessa refratária, de vidro ou cerâmica, que comporte pelo menos 2 camadas do pavê. Reserve 3 biscoitos para a farofa de decoração.
  5. Disponha uma parte do restante dos biscoitos, em camada única, dentro da travessa. Fatie as bananas em rodelas de não mais que 0,5cm, e disponha uma parte delas sobre os biscoitos, em camada única. Despeje uma parte do creme quente sobre as bananas, cobrindo bem. Repita as camadas, até terminar com creme, cobrindo bem todas as bananas, para que não escureçam. Pique na faca os biscoitos restantes, até obter um farofa grosseira, e polvilhe por cima. Leve à geladeira por no mínimo 4 horas. 




terça-feira, 28 de outubro de 2014

Orecchiette de couve-flor com azeitonas pretas e o vôngole que não foi


Se existe um hábito que meus filhos estão pegando de mim é o de folhear livros de culinária. Aliás, tudo o que Madame Bochechas não curte assistir a desenhos com o irmão, ela gosta de ver programas de culinária comigo. Gordice corre no sangue.

Noutro dia, estou folheando um dos lindos livros da Rachel Khoo, com os dois pimpolhos olhando e me perguntando o que é cada item das fotos, meu Matador de Dragões enfia o dedo assertivo sobre uma fotografia de um prato de vôngole e ervilhas.

"Que é esse?"
"Vôngole. Von-go-le."
"Côncole?"
"É um bichinho, que vive dentro da concha, no fundo do mar. A gente cozinha e come o bichinho de dentro da concha. Essa parte aqui, ó."

Naquele momento eu me preparei para o famoso "eeeeeeeeeeca".
Mas não.

"Hmmm! Delí-shia!", exclamou.
"Você quer comer vôngole, Thomas?"
"Hm-rum!"
"Jura? Quer que a mamãe compre e prepare?"
"Sim!"

Eu tinha ervilhas-tortas. Tinha spaghetti. Tinha creme de leite e até um resto de Calvados eu tinha. Todos os ingredientes menos o vôngole. E eu não ia deixar escapar a oportunidade de fazer os pimpolhos experimentarem algo novo e que eu imaginava tão difícil de fazer uma criança apreciar.

Dois dias depois, dia de feira. Demorei anos para encontrar bons lugares para comprar peixe, e na época em que morava nos Jardins, havia já estabelecido uma boa relação com o peixeiro da feira de quinta, que, descobri depois, era também quem fornecia para o Alex Atala. Nunca tive problemas com ele, e foi ele quem me vendeu meus primeiros mariscos, fresquíssimos, com cheiro de maresia. (Dizem que ele pretendia abrir uma peixaria. Preciso ir atrás disso.)

Fiquei triste quando saí de São Paulo e perdi meu peixeiro. Não consigo confiar nas carnes e peixes dos mercados de onde moro. Nada parece super fresco. Dei um voto de confiança ao peixeiro da feira, muito simpático, apesar do salmão dele sempre parecer meio velho e os camarões sempre estarem com a cabeça caindo.  Eu usava do que conheço e escolhia o que havia de mais fresco, de preferência a partir do peixe inteiro, para que eu pudesse averiguar as escamas, os olhos, as guelras.

Aí um dia eu comprei uma bandeja de pescada. E quando fui empanar, ela se desmanchava nos meus dedos. Cheiro de mar sujo. Peixe estragado. Fiquei fula da vida, reclamei, acontece, ficou por isso mesmo.

Nesse dia de feira, resolvi dar outro voto de confiança. Afinal, vôngole é fácil de checar se está bom: se estiver aberto antes de cozinhar, está estragado. Se não abrir depois de cozinhar, também. Pedi um punhado generoso de vôngole e ainda especifiquei que pretendia dar aquilo aos meus dois filhos pequenos.

"Está bem fresquinho?"
"Sim, estão super vivos!", disse ele.

Ele embalou e levei para casa, feliz e contente. Havia dito ao pimpolho que prepararia o bichinho da conchinha, ele ficara bastante empolgado.

Em casa, abro o saquinho. Um odor pungente me atinge o nariz, como um vento num porto sujo em dia quente. Fico sem saber se aquilo é normal. Não preparava vôngole havia muitos anos, desde antes do Thomas nascer, e não me lembrava de como eles cheiravam.

Resolvi colocar de molho para tirar a areia. A água começou a ficar bem suja, e quando fui escorrê-los, percebi que metade estava aberta. Ao levar uma das conchas abertas ao nariz, ficou claro que aquilo era cheiro de bicho morto. Comecei a separar todos os abertos e jogar fora. Então deixei de molho de novo. E em dez minutos havia mais um punhado deles abertos, e o cheiro persistia.

Eventualmente, sobraram pouco mais de dez vongolezinhos, de 1kg que eu comprara. Mas eu já não queria mais comer aquilo, muito mais dar para meus filhos.

Fui buscar Thomas na escola e expliquei que o vôngole estava estragado e que não seria possível comê-los, mas que eu cozinharia um apenas para que ele visse como era por dentro.

Ele achou linda a conchinha fechada e ficou vidrado no bichinho aberto. Deixei que pegasse na mão e observasse. E, quando pensei que ele acharia tudo aquilo muito estranho, perguntou:

"Pode comer?"
"Não, meu amor, esse não está bom pra comer."
"Aaaaaaaaaah..."
"Mas mamãe vai comprar um que esteja bom pra você experimentar, ok?
"Aah... tá bom."

E lá fui eu improvisar almoço para uma criança que nunca deixa de me surpreender. E o almoço foram conchinhas que nunca me decepcionam. Ou orelhinhas. ;)

Esse prato de orecchiette é muito simples, mas muito, muito gostoso, leve e fresco. Usei a couve-flor no lugar do usual brócolis, e, ao invés de anchovas, pensei nos ingredientes de uma tapenade de azeitonas, pois couve-flor combina maravilhosamente bem com azeitonas pretas. Pimpolhada raspou o prato de qualquer forma (Madame Bochechas ADORA couve-flor), e lá vou eu agora começar a também comprar peixe em São Paulo e trazer na térmica, porque aquele peixeiro da feira eu não quero nunca mais olhar na cara.

ORECCHIETTE COM COUVE-FLOR E AZEITONAS PRETAS
Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

  • 320g orecchiette
  • 1 couve-flor pequena, cortada em floretes médios
  • 1/4 xic. azeite
  • 2 dentes de alho fatiado
  • alguns raminhos de tomilho fresco
  • pica umas 10 azeitonas pretas bem picadinhas
  • um punhado de salsinha bem picadinha
  • suco de meio limão (siciliano de preferência, mas pode ser tahiti)
  • parmesão ralado na hora (ralado fininho)


Preparo:

  1. Leve bastante água salgada à fervura, junte os floretes de couve-flor e cozinhe apenas até que estejam al dente. Retire com uma escumadeira e pique em pedacinhos pequenos (não maiores que o macarrão). Reserve. Cozinhe o macarrão na água da couve-flor.
  2. Numa frigideira grande, aqueça o azeite e junte o alho e o tomilho em fogo baixo. Quando o alho amaciar e começar a soltar perfume (sem dourar) junte a couve-flor picada. Misture bem e cozinhe mexendo de vez em quando. Você quer que a couve-flor termine de amaciar, mas não doure. 
  3. Junte à couve-flor as azeitonas, salsinha, suco de limão, misture e cozinhe por apenas 1 minuto.
  4. Escorra o macarrão, reservando 1/4 xic. da água do cozimento. Junte essa água e a massa à couve-flor, com mais 1/4 xic. de parmesão e 1 fio de azeite. Misture bem e acerte o tempero. Sirva imediatamente com mais parmesão por cima.


Cozinhe isso também!

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