segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Biscoitos de chocolate para depois de um dia de trabalho

Semana passada fui totalmente abduzida pelo trabalho. Um trabalho bom, daqueles que faz você suspirar aliviada por ter tomado a decisão certa a respeito de sua carreira – no meu caso, largar design gráfico e me concentrar em ilustração e pintura. O resultado do trabalho, três aquarelas imensas para um evento corporativo, podem ser vistas AQUI. Enquanto isso, lembro a quem quiser [pode fazer jabá no próprio blog? Acho que sim, certo? ;)] que reproduções e originais podem ser compradas na minha loja AQUI e que pinturas podem ser encomendadas a qualquer momento. :)

Em meio à correria, tendo inclusive recorrido a minha mãe para cuidar do pimpolho enquanto eu pintava loucamente, fiquei com uma vontade enlouquecida de comer biscoitos de chocolate. Desejo de grávida ou simples gordice, a verdade é que eu precisava de algo super fácil e rápido. Recorri ao livro de biscoitos de Alice Medrich, Chewy Gooey Crispy Crunchy, e, enquanto Thomas jantava – maravilha de criança que come sozinha, deixa as mãos da mamãe livres – coloquei todos os ingredientes no processador, enrolei a massa em papel alumínio e levei ao freezer. No tempo que demorou para dar um banho no pequeno (e tirar a tinta azul do meu tornozelo, que ainda não sei como foi parar lá)  e colocá-lo para dormir, a massa firmou. E assim que o moleque danado cessou suas incorridas de chupeta e travesseiro em mãos até a sala e resolveu dormir de vez, os biscoitos foram para o forno. Em pouco tempo eles esfriavam na bancada da cozinha, e quando me sentei para ver um episódio de No Reservations em Paris, eles já estavam crocantes e deliciosos em minha mão.

Estes biscoitos são intensos de cacau, e apenas doces o suficiente. Crocantes, leves, do tipo perigoso que você continua comendo se o pote estiver aberto na sua frente. Ótimos para rechear com algum creme ou ganache, perfeitos para esmigalhar em cima do sorvete e acho que devem ser uma delícia com uma cerveja bem escura.

No dia seguinte, Allex apanhou um dos vidros de biscoito para levar ao trabalho, e no meio do dia recebo o seguinte email: "Por favor, faça esse cookie pelo resto da sua vida".

Acho que foi um sucesso.

BISCOITOS DE CHOCOLATE DE PROCESSADOR
(do infalível Chewy Gooey Crispy Crunchy, de Alice Medrich)
Tempo de preparo: 10 minutos + 15 minutos de forno (1 hora de freezer ou geladeira)
Rendimento: 50-60 biscoitos

Ingredientes:
  • 1 1/2 xic. farinha de trigo branca orgânica
  • 3/4 xic. cacau em pó não adoçado (usei Callebaut)
  • 1 xic. + 2 colh. (sopa) açúcar cristal orgânico
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 1/4 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 14 colh. (sopa) manteiga sem sal, ligeiramente amolecida (cerca de 210g)
  • 3 colh. (sopa) leite integral
  • 1 colh.(chá) extrato natural de baunilha

Preparo:
  1. Coloque a farinha, cacau, açúcar, sal e fermento no processador de alimentos e pulse algumas vezes para misturar bem. Junte a manteiga cortada em pedaços menores e pulse mais algumas vezes.
  2. Coloque o leite e a baunilha num copo. Com o processador ligado, derrame o leite pelo tubo devagar, e continue processando até que a mistura se agrupe junto à lâmina ou às laterais do pote. Sove uma ou duas vezes a massa, apenas para garantir que está tudo bem incorporado, e então forme um cilindro de cerca de 35cm. Embrulhe em papel alumínio ou papel-manteiga e leve à geladeira por no mínimo 1 hora e no máximo 3 dias. (Como fazia 30ºC na minha cozinha àquela noite, levei ao freezer.)
  3. Pré-aqueça o forno a 180ºC com as grades nos terços inferior e superior e forre duas assadeiras com papel-manteiga ou silpats. Corte fatias de 0,5cm do cilindro e distribua nas assadeiras, deixando uns 3cm entre os biscoitos. Leve ao forno por 12-15 minutos, ou até que tenham inflado um pouco e desinflado novamente e pareçam secos.
  4. Retire do forno, e transfira os silpats ou papéis para uma grade para que esfriem. Se depois de frios, não estiverem crocantes, volte ao forno por mais um minutinho ou dois. Depois de frios, podem ser guardados em potes fechados por até 2 semanas ou até 2 meses no freezer.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Eu adoro pão velho

Parece ridículo publicar uma receita para french-toast, ou rabanada, considerando que 90% das famílias brasileiras têm sua própria receita da mesma, que por algum motivo que desconheço, virou comida de Natal. Mas a danada está aqui porque eu mesma reneguei essa delícia simples por muito tempo.

Na mesa de Natal de meus tios sempre havia rabanada. Mas meu cérebro infantil sempre confundiu as coisas, e quando me perguntava se queria rabanada, torcia o nariz, fugia correndo, achando que me ofereciam algo feito de rabo. Vai entender. Se alguém sabe por que diabos o pobre pãozinho ganhou nome tão infeliz, por favor me dê uma luz.

Quando mais velha, ouvia em filmes e seriados sobre a tal French Toast, mas nunca me interessei muito. Foi apenas quando casei e comecei a cozinhar e produzir pães em casa que a possibilidade de transformar pão amanhecido em coisas deliciosas me trouxe essa gostosura. Afinal, tanto trabalho e bons ingredientes haviam sido colocados naquele pãozinho, que parecia sacrilégio jogá-lo no lixo só por ter ficado duro. Parecia, não: é. [Agora pense naquele pão bizarro de supermercado, que não amanhece, não resseca, não estraga, tem para sempre aquela textura gelatinosa e não se presta a mais nada a não ser grudar na parte detrás dos seus incisivos quando você os morde.]

Toda semana alguém me escreve a respeito de pães caseiros e comenta algo como "pena que fica duro de um dia para o outro" ou "pena que não dura como o de supermercado". Isso sempre me surpreende um bocado, por vários motivos. Primeiro, que meus pães duram bem uma semana, frescos, ressecando muito devagarinho, e raramente eles de fato endurecem antes de terem sido completamente consumidos. (No fim da semana, já não tão macios, mas pouco ressecados, vão para a torradeira logo de uma vez.)

Se você deixar um pão caseiro, que não tem nenhum conservante, estabilizante, anti-umectante ou qualquer "ante" nojento, descoberto na bandeja da cozinha, como se fosse decoração, de fato ele estará uma pedra no dia seguinte. Para que isso não aconteça, assim que seu pão (qualquer pão: rústico, de forma, brioche, o que for, salvo aqueles bem doces, com coberturas e caldinhas) estiver completamente frio, embrulhe-o muito bem em um pano de prato grande e limpo, sem deixar nenhuma frestinha à vista, e deixe-o assim na sua cesta de pão, num canto da bancada que não tome sol e seja fresquinho. O pano de prato deixa o pão respirar o bastante para que sua umidade não condense e ele não mofe (ao contrário de plástico) e retém suficiente umidade para que ele não resseque de um dia para o outro (ao contrário de sacos de papel). Sempre que cortar um pedacinho, embrulhe o pão muito bem novamente. E pronto. Pãozinho perfeitamente macio por dias.

Agora, e se não der tempo de comer e o pão de fato ficar duro? Ai, que desperdício de pão? Não, de jeito nenhum. Não foi uma só vez que fiz dois pães com o intuito de deixar que um deles amanhecesse, ou que apanhei uma metade de um pão, cortei em pedaços e deixei exposto numa bandeja, especificamente para que ressecasse mais rápido. Já vi sites de culinária com gente perguntando o que fazer com ponta de baguette, que o transeunte simplesmente jogava fora. Hein?? Não, pelamor!

Se está sem criatividade, pode terminar de secar o pão no forno e moer no processador (ou no moedor de carne, de manivela, como fazia minha mãe, pacientemente) para transformar em farinha de rosca, que deixo num pote fechado na geladeira e dura horrores (e fica uma delícia, assim com vários tipos de pães misturados). Num próximo nível, o pão duro pode ser cortado em cubos menores e passado no azeite na frigiedeira, para virar croûtons na salada do almoço. Se estiver se sentindo italiano, pode deixar os nacos do pão duro macerando com tomates, azeite e vinagre até ficarem macios, e misturá-los a várias outras coisas gostosas, produzindo uma panzanella. Ou, deixe os nacos macerando em leite até que absorvam o líquido, exprema com as mãos para tirar o excesso e misture à carne das almôndegas. Ou faça as deliciosas almôndegas de pão e queijo, os canederli italianos. Ou ainda use em sopas de pão como pappa al pomodoro, ou outras versões que a cozinha mediterrânea (portuguesa, espanhola, francesa) tem de monte. O pão duro, em nacos ou fatias, pode também virar bread pudding, versão doce ou salgada, com variações infinitas, ajudando a usar toda a sorte de restos de queijos e legumes que houver na geladeira. Ou, enfim, rabanadas, french toast, ou, meu nome favorito, francês, Pain Perdu.

Sempre faço meio no olho, de acordo com a secura do pão e a quantidade dele. E nunca fiz no Natal. Pain Perdu, French Toast ou Rabanada, aqui em casa é comida de café da manhã, quando o pão ficou duro e ninguém lembrou de fazer pão ou ir à padaria. Bato com um garfo 1 ovo e 1 xic. ou mais de leite integral e tempero com uma pitada de sal e uma colherinha de açúcar, comum ou baunilhado. Às vezes junto um splashezinho de extrato de baunilha, às vezes não. Cubro as fatias grossas de pão duro (pense numa quantidade como 2 pães franceses em fatias de 1,5cm) com a mistura e deixo que absorvam rapidamente o líquido enquanto derreto uma colher generosa de manteiga numa frigideira grande, em fogo baixo, para que a manteiga não queime. Retiro as fatias de pão da tigela com um garfo, escorro o excesso de líquido e douro as fatias dos dois lados. No prato, ainda quentes, polvilho com açúcar baunilhado, ou açúcar e canela, ou açúcar e noz moscada. Ou deixo sem o açúcar e rego com um pouco de mapple syrup e sirvo com ovos mexidos, quando a fome é grande.

Adoro o exterior douradinho, quase crocante, bem adocicado, e o interior das fatias grossas ainda úmidas do leite, com textura de pudim. Tem coisa melhor para começar o dia do que pain perdu e uma xícara de café?

Cozinhe isso também!

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