domingo, 27 de novembro de 2011

Para minha avó: Panforte senese

Minha avó materna, de família veneta, nunca fez panforte na vida. Que eu saiba. Panforte é um doce senese, toscano, e, casada com outro veneto, não acredito que eles fossem se aventurar em culinária de outra região. No entanto, cresci comendo em sua casa um doce misterioso, denso, de sabor forte de especiarias e frutas secas, que, como tudo o que era gostoso na casa de minha avó, perdeu-se com sua morte, há mais de quinze anos. Já falei com minha mãe, meus tios, meus primos, e todos parecem se lembrar da textura, do gosto, mas não do nome, e muito menos da receita de muitas coisas boas que saíam de sua cozinha.

Por isso, todas as vezes que preparo algo nesse tom, com esse gosto adulto de natal, minha mãe e eu imediatamente pensamos em minha avó, nos almoços de domingo. Talvez eu nunca descubra o que era aquele doce intenso que tanto gostava, mas em sua memória, preparo panforte. Para saborear aos bocadinhos em dezembro e contar ao meu pequeno matador de dragões histórias da bisavó que ele nunca conheceu.

Da primeira vez que preparei essa receita, de minha rainha da confeitaria, Alice Medrich, usei papel-manteiga, como indicado na receita. Apesar de muito bem untado, o panforte grudou de tal maneira no papel, que a solução foi aparar as laterais e o fundo do panforte com uma faca afiada. Daí o corte limpo do panforte das fotos, tiradas há dois anos atrás mas nunca publicadas aqui. Neste ano, para evitar o stress, usei papel-arroz sobre a forma untada: um círculo no fundo e tiras na lateral, tomando cuidado para não deixar nenhum buraquinho. Desta forma, o panforte grudou no papel-arroz, o que não é problema, já que ele é comestível, mas desenformou facilmente.

Assim que esfriou, embrulhei-o em papel-alumínio, e depois em papel-manteiga, amarrando com um barbante e guardando-o no armário, para ser aberto mais perto do Natal. Nesse tempo, ele desenvolverá sabores mais intensos.


PANFORTE
(do livro Pure Dessert, de Alice Medrich)
Rendimento: 1 panforte de 20cm
Tempo de preparo: 1h

Ingredientes:
  • 1 xic. avelãs, tostadas e sem pele
  • 3/4 xic. amêndoas inteiras com pele, tostadas
  • 2/3 xic. farinha de trigo
  • 2 colh. (sopa) cacau em pó
  • 2 1/4 colh (chá) sementes de erva-doce ligeiramente moídas
  • 1/2 colh. (chá) canela em pó
  • 1/8 colh. (chá) cravo moído
  • 1/4 colh. (chá) pimenta-do-reino branca em pó (eu usei metade da quantidade, pois achei muito forte da primeira vez)
  • 1/4 colh. (chá) gengibre em pó
  • 1/4 colh. (chá) sementes de coentro ligeiramente moídas
  • 1/4 colh. (chá) noz-moscada ralada na hora
  • casca ralada de 1 laranja, de preferência orgânica
  • 225g figos secos, sem os cabinhos, cortados em fatias de 0,5cm
  • 2/3 xic. mel
  • 2/3 xic. açúcar cristal orgânico
  • Açúcar de confeiteiro para polvilhar (opcional)

Preparo:
  1. Posicione a grade do forno no terço inferior e pré-aqueça a 150ºC.Unte uma forma redonda de 20cm com manteiga ou óleo em spray. Forre o fundo e as laterais com pape-manteiga (usei papel-arroz, para não me preocupar se grudar) e unte deliberadamente o papel. 
  2. Numa tigela grande, misture as avelãs, amêndoas, farinha, cacau, especiarias, casca de laranja e figos.
  3. Numa panela média, leve o mel e o açúcar à fervura alta. Ferva por 15 segundos e desligue o fogo. 
  4. Fora do fogo, despeje os outros ingredientes na panela, misturando bem e rapidamente, antes que o xarope esfrie. 
  5. Raspe o conteúdo para a forma, alisando a superfície de forma uniforme e asse até que a massa borbulhe tanto nas bordas quanto no centro, cerca de 40-45 minutos. Retire a forma do forno e esfrie sobre uma grade completamente antes de desenformar. 
  6. Inverta o panforte num prato e retire o papel-manteiga. Inverta novamente e polvilhe com açúcar de confeiteiro para servir. Bem embalado e guardado em local fresco, o panforte se conserva por meses.

sábado, 19 de novembro de 2011

Pfeffernüsse: se as lojas podem, também posso começar o Natal cedo

Ano passado, com a correria da mudança e do bebê que chegaria, não consegui preparar tantas guloseimas natalinas quantas gostaria. Agora, então, com o pequeno querendo minha constante atenção para ficar de pé e treinar seus passinhos desengonçados, ando vendo meu tempo de lazer na cozinha limitado aos fins de semana, quando posso deixar o matador de dragões nos braços do pai, enquanto este sim mata dragões no video-game.

Por isso, a comilança de Natal nessa casa está começando cedo, ainda em novembro. ;)

Nunca entendi muito bem essa mania americana de comer massa crua de biscoito, a ponto de existir até sabor de sorvete "raw cookie dough"; até preparar estas coisinhas alemãs deliciosas, e precisar me conter ao máximo para não ficar lambendo os dedos enquanto rolava a massa em bolinhas. Repletos de especiarias, eles têm uma casquinha ligeiramente crocante e um interior macio, quase como um pão de mel.

É sempre difícil agradar o marido quando o assunto são biscoitos alemães de Natal, uma vez que ele os comeu a vida toda preparados por... velhinhas alemãs. Hunf. Assim que ele os viu na cozinha, esfriando sobre a grade, já recobertos de açúcar, soltou uma interjeição de reconhecimento, dizendo que as velhinhas do clube alemão também vendiam Pfeffernüsse. Tremi na base, prevendo a inevitável comparação quando ele jogou um biscoito inteiro na boca, ainda morninho do forno.

"PHFFfffickou mnhuithfo bohnn...", disse, boca cheia, apanhando um segundo.

Além de gostosos, os Pfeffernüsse são também fáceis de serem feitos. A massa não precisa ficar resfriando na geladeira nem ser aberta com rolo, o que é ótimo para nós, brasileiros, que assamos biscoitos de Natal em plena passagem da primavera para o verão, com altas temperaturas na cozinha, enlouquecendo a cozinheira mais zen. Basta que manteiga e ovo estejam em temperatura ambiente, e o resto é alegria.

PFEFFERNÜSSE
(do fantástico livro Bon Appétit Desserts)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: cerca de 30-35 biscoitos

Ingredientes:
  • 2 1/4 xic. farinha de trigo
  • 1/2 colh. (chá) sementes de anis moídas
  • 1/2 colh. (chá) noz-moscada ralada na hora
  • 1/2 colh. (chá) canela em pó
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 1/4 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 1/4 colh. (chá) pimenta-da-jamaica moída
  • 1/4 colh. (chá) cravo moído
  • 1/4 colh. (chá) pimenta-do-reino moída na hora
  • 1/2 xic. manteiga sem sal, em temperatura ambiente (cerca de 115g)
  • 3/4 xic. açúcar mascavo, apertado na xícara
  • 1/4 xic. melaço de cana
  • 1 ovo grande
  • 2 xic. açúcar de confeiteiro (a quantidade é para facilitar, mas sobra um bocado, então guarde para a próxima leva de biscoitos)

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Forre duas assadeiras grandes com papel-manteiga ou silpats. 
  2. Com um batedor de arame, misture a farinha, sal, bicarbonato e especiarias. 
  3. Na tigela da batedeira, bata a manteiga, o açúcar e o melaço até que fique claro e fofo. 
  4. Junte o ovo e misture bem. 
  5. Misture em baixa velocidade a farinha, apenas até que fique incorporada. 
  6. Com a ajuda de uma colher de sopa,  faça bolinhas de massa e disponha na assadeira, distando 5cm entre elas. Leve a primeira assadeira ao forno por 15 minutos, ou até que os biscoitos estejam dourados na base e firmes ao toque. Enquanto isso, prepare a segunda assadeira.
  7. Retire os biscoitos do forno e deixe ainda na assadeira, sobre uma grade, por 5 minutos. 
  8. Coloque o açúcar num saco de papel ou plástico e jogue 3 biscoitos ainda mornos dentro. Chacoalhe bem para recobri-los de açúcar e disponha-os em uma grade. Repita com o restante dos biscoitos.
  9. Sirva morno, em temperatura ambiente ou guarde em pote hermético por 2 dias.

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