sexta-feira, 18 de março de 2011

Pudim de leite: permissão para ser mãe

Quem vem por essas bandas há muito tempo sabe do meu problema com pudim de leite. Essa sobremesa tão simples, que toda mãe, avó e tia sabe fazer, que todo restaurante por quilo tem na ponta do balcão junto com a salada de frutas e a torta holandesa, e que eu simplesmente não conseguia acertar. Nunca.

Meu primeiro problema: não gosto de pudim de leite feito com leite condensado. Doce demais para mim. Meu negócio é ovo, leite, creme, baunilha e açúcar. Mesmo assim, a maior parte das receitas que eu testara era excessivamente doce.

Segundo problema: todas as receitas mandavam assar em banho-maria, por, sei lá, 40 minutos, e meus pudins ficavam mais de duas horas no forno e nada de firmarem. Mudei a forma, mudei a temperatura do forno, fiz o diabo, e nunca dava certo. Eles assavam de forma irregular, ficavam com gosto de ovo, e quando os desenformava, eles quebravam em mil pedacinhos mal cozidos.

Terceiro problema: eu teimava em fazer o caramelo numa frigideira antiaderente, de fundo preto, e nunca conseguia ver a cor exata do bendito. Colocava na forma e estava sempre claro demais, caldinha rala de açúcar, e essa calda endurecia assim que encostava na forma e eu não conseguia espalhá-la direito. :P

Quando o marido fez cara de pidão, reclamando que havia tempos eu não preparava nenhum pudinzinho ou sobremesa de colher, resolvi que era a hora de tirar a teima de uma vez por todas. Afinal, com o bebê já praticamente com um pé pra fora, eu não poderia ser mãe sem saber fazer um pudim de leite decente.

Apanhei uma receita de Dorie Greenspan, que alguém já me havia recomendado certa vez, e arregacei as mangas. Primeiro ponto positivo: o truque de deixar a forma no forno enquanto o caramelo é preparado. O caramelo bate na forma quentinha e escorre sem problemas, sem endurecer. Também larguei mão de ser besta e fiz o caramelo numa panela decente, de modo que ficasse exatamente no ponto que eu queria.

Coloquei a forma em banho-maria no forno na temperatura indicada e acertei o timer já com um suspiro conformado. Imaginei quantas horas a mais o pudim ficaria ali. No entanto, contra minhas pessimistas expectativas, abri a porta do forno ao soar do alarme e vi um pudim balouçante mas ligeiramente dourado, e quando lhe enfiei uma faquinha, desconfiada, a lâmina saiu surpreendentemente limpa.

Eureka!

Pudim perfeito, delicioso, doce na medida certa, lisinho... :)
Permissão para ser mãe: concedida.

PUDIM DE LEITE
(Do livro Baking - From My Home to Yours, de Dorie Greenspan)
Tempo de preparo: 30 min. + 40 min. forno + 5 horas para resfriar
Rendimento: 6-8 porções

Ingredientes
(calda)
  • 1/3 xic. açúcar cristal orgânico
  • 3 colh. (sopa) água
  • 1 espremidinha de limão
(pudim)
  • 1 1/2 xic. creme de leite fresco
  • 1 1/4 xic. leite integral
  • 3 ovos grandes, orgânicos
  • 2 gemas grandes, de ovos orgânicos
  • 1/2 xic. açúcar cristal orgânico
  • 1 colh. (chá) extrato natural de baunilha

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Coloque no forno uma forma de bolo (de alumínio, SEM antiaderente) de 20cm diâmetro e uns 5cm de altura (sem furo no meio). Coloque água para ferver. Quando ferver, desligue o fogo. Forre uma assadeira de bordas altas, onde caiba a forma, com um pano de prato. 
  2. Numa panela de inox, misture os ingredientes da calda. Leve ao fogo médio-alto, sem mexer, por cerca de 5 minutos, ou até que esteja de uma cor âmbar. Desligue assim que vir qualquer sinal de vapor ou fumaça. 
  3. Usando luvas, retire a forma quente do forno e despeje com cuidado o caramelo na forma, girando-a para cobrir todo o fundo. Reserve. 
  4. Coloque o leite e o creme de leite em uma panela média e leve à fervura. Enquanto isso, misture numa tigela os ovos, as gemas, o açúcar e a baunilha. Bata com um fouet vigorosamente para dissolver bem o açúcar e deixar homogêneo. 
  5. Misture 1/4 do leite quente aos ovos, batendo sempre com o fouet, para temperar os ovos e impedir que cozinhem. Misture o restante do leite quente, agora com uma colher de pau, até que não se veja mais espuma e bolhas em cima do líquido (retire a espuma com a colher, se necessário). 
  6. Despeje o creme sobre o caramelo na forma e posicione a forma no meio da assadeira forrada. Despeje a água quente na assadeira, até metade da altura da forma, tendo certeza de que o pano de prato está todo submerso e molhado. Leve cuidadosamente ao forno por 35-40 minutos, até que o pudim tenha inflado ligeiramente e esteja dourado aqui e ali. Teste inserindo uma faca no centro: a lâmina deve sair limpa. (Mas o pudim ainda balançará um bocado.)
  7. Retire do forno. Retire a forma de dentro da assadeira e deixe-a sobre uma grade. Passe uma faquinha nas laterais para soltar o pudim e deixe-o esfriar até temperatura ambiente (cerca de 1 hora). Então cubra mais ou menos com papel alumínio e leve à geladeira por no mínimo 4 horas.  
  8. Passe uma faquinha novamente nas laterais e desenforme rapidamente num prato com bordas.

terça-feira, 15 de março de 2011

Soba de chá verde com pepinos apimentados e cogumelos

Dizem que comida apimentada faz você entrar em trabalho de parto. Considerando a quantidade de vezes que comi esse prato nos últimos meses, mais toda a comida mexicana e asiática que andei preparando e comendo fora desde o início da gravidez, vou precisar engolir uma Scotch-Bonnet inteira para o expulsar o menino da barriga. O bebê já vai nascer pedindo pra botar Tabasco no leite.

A primeira vez em que preparei esse soba muito rápido e fácil, usei a quantidade inteira de pimenta calabresa pedida na receita (2 colheres de chá!). O marido, que come molho de pimenta brava de colher, lacrimejava a cada garfada. Então resolvi substituir as "colheres" de pimenta em flocos por "pitadas". E, mesmo assim, dependendo do tamanho da sua pitada, os pepinos absorvem o fogo da pimenta como uns loucos e você pode acabar exagerando na picância do prato.

Mas... vai do gosto do freguês. Gosto do apimentado que não mascara o sabor dos outros ingredientes. E você não vai querer mascarar os cogumelos no molho de ostra, a refrescância dos pepinos e o sabor interessantíssimo desse soba aromatizado com chá verde. O soba – que é uma massa feita de trigo sarraceno – pode ser encontrado na gôndola de produtos asiáticos dos bons mercados e empórios ou nos mercados da Liberdade, assim como essa variação com chá verde, que torna os fios esverdeados e seu sabor ligeiramente amargo. Mas, caso só encontre o soba comum, acho que o prato deve ficar igualmente bom.

Também troquei o caldo de legumes por água, não me importei em descascar ou retirar as sementes do pepino e já variei um bocado o tipo de cogumelos usado (shiitake, shimeji, enoki, às vezes misturado, às vezes um tipo só...), e sempre fica bom.

Fiquei feliz por ter encontrado no mercado um molho de ostra sem glutamato monossódico, um negócio que eu abomino e que me dá dor de cabeça. Na primeira vez em que fiz o prato, fiquei com preguiça de comprar o molho, pois estava de mudança e achei bobagem levar de um apartamento para o outro uma garrafa de molho de ostra recém-aberto. E preparei o soba com shoyu no lugar. Bem, o molho fez falta. Ele tem um sabor interessante e diferente e é bastante salgado, então nem se incomode em salgar o prato.

Aliás, se você gosta de pratos com um toque asiático, ter esses ingredientes em casa (mirin, molho de ostra, shoyu, nam pla, óleo de gergelim, soba e outras massas) é uma mão na roda para as noites sem tempo, pois há uma infinidade de receitas deliciosas que podem ser feitas em vinte minutos ou menos. :)


[A porção da foto é praticamente para duas pessoas; porção de mulher grávida de 38 semanas, urrando de fome...]

SOBA DE CHÁ VERDE COM PEPINOS APIMENTADOS E COGUMELOS
(ligeiramente adaptado da revista Donna Hay)
Tempo de preparo: 10 minutos (com o mis-en-place)
Rendimento: 4 porções

Ingredientes:
  • 1/4 xic. mirin (sake culinário, vinagre de arroz)
  • 1 colh. (sopa) suco de limão
  • 1 pitada generosa de pimenta calabresa em flocos
  • 1 colh. (sopa) sementes de gergelim, tostadas
  • 2 pepinos fatiados fino
  • 1 colh. (sopa) óleo de gergelim
  • 400g cogumelos (shiitake, shimeji, enoki, nameko, pleurotus...), fatiados, se necessário
  • 1/2 xic. molho de ostra (o do Panda é uma boa marca)
  • 1/2 xic. água
  • 270g soba de chá verde
  • 1 xic. folhas de hortelã
  • 3 talos de cebolinha grandes, picadas

Preparo:
  1. Cozinhe o soba conforme as instruções na embalagem, escorra e reserve. 
  2. Numa tigela, misture os pepinos fatiados, a pimenta, as sementes de gergelim, o mirin e o suco de limão. Reserve.
  3. Aqueça o óleo de gergelim numa frigideira grande e junte os cogumelos, cozinhando por 1-2 minutos em fogo alto. 
  4. Junte o molho de ostra, a água e o soba cozido e mexa bem por 1 minuto, ou até que a massa esteja coberta de molho. Desligue o fogo e junte os pepinos e seu líquido, a hortelã e a cebolinha. Misture bem e sirva. 

Cozinhe isso também!

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