segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Geleia de amoras com gostinho de obsessão

Depois que a conserva de ameixas deu certo [está bem vedada, e até agora não mostrou nenhum sinal de estar estragando], fiquei bastante empolgada com a ideia de conservar comida, e saí fuçando e marcando em meus livros todas as receitas de geleias, compotas, chutneys, molhos, picles e afins. Quero fazer tudo! Ainda mais agora que percebi que não preciso fazer quantidades imensas. Posso fazer um vidrinho só de cada coisa, sem o risco de estragar um monte de comida.

Comprara na feira uma bandejinha de amoras grandes e bonitas, mas elas não estavam tão doces quanto eu esperava, e não estavam gostosas para serem comidas ao natural. Enquanto esmiuçava meus livros, deparei-me com uma das dezenas de receitas de geleia de amora, e resolvi testar aquela específica com as amoras que eu abandonara em minha geladeira.

Eu gosto de receitas precisas, e fico passada quando me vejo numa situação de dúvida, ingredientes nas mãos, panela no fogo, sem saber como prosseguir. Dividira a receita em três, uma vez que só tinha 2 xícaras de amoras, 1/3 da quantidade de frutas requeridas. Coloquei-as na panela com a maçã, separei o açúcar e o suco de limão... e fiquei na dúvida. A receita pedia para COBRIR as amoras com até 1cm de água. Hmmm... isso quer dizer colocar só 1cm de água na panela, ou cobrir as amoras e ultrapassar 1cm?

Erroneamente, escolhi a segunda opção. Em seguida, a receita indicava para medir o suco obtido das amoras e acrescentar uma quantidade X de açúcar para cada Y de suco. É claro que eu obtivera mais suco do que deveria, uma vez que colocara mais água também do que deveria. Prossegui, e no que a autora indicava que aos 220ºF a geleia estaria pronta, entornei-a no vidro esterelizado, fervi-o e guardei-o.

No dia seguinte, descobri que minha geleia estava mais para um xarope: completamente líquida.

Sem nada em meus livros que indicasse o que fazer nesse caso, pensei haver perdido minhas preciosas frutas e meu tempo. Mas não, depois de alguma pesquisa na internet, descobri que se a geleia não deu ponto, você pode sim retirá-la do vidro e consertá-la. Provavelmente havia pouca acidez na minha geleia, uma vez que a autora pedia suco de limão siciliano e eu usara um limão tahiti, com muito menos suco, e também deveria ter deixado ferver um pouco mais. Coloquei um pouco mais de suco de limão e açúcar, e deixer chegar novamente aos 220ºF, no que a geleia reduziu e, ao testá-la também de forma tradicional (no pratinho gelado), ela indicou que estava no ponto certinho.

No entanto, ao entornar a geleia no vidro, ainda borbulhante, ela transbordou, como leite fervendo, e ainda que eu tenha limpado bem a borda antes de fechar o vidro, ele provavelmente não ficou bem vedado, e mesmo depois de fervê-lo, a tampa continuava fazendo "pop" e se movendo à pressão do meu dedo.

Desisto.

Cortei uma fatia de pão, passei-lhe um pouco de manteiga, abri o pote da geleia e retirei dela uma bela colherada. O vidro foi para a geladeira ao invés da despensa. Tudo bem. Vou ter de fazer o esforço de comer a geleia de amoras agora ao invés de daqui a um ano. Hmmm... Difícil... ;)

Deixo a receita original, uma vez que saí adaptando e consertando e não anotei nada...

GELEIA DE AMORAS
(do livro Chez Panisse Fruit)
Tempo de preparo: 30 minutos
Rendimento: 3 1/2 xícaras


Ingredientes:
  • 6 xíc. amoras maduras
  • 1 maçã cortada em cubos de 0,5 cm (com sementes, casca e cabo)
  • 2 xíc. açúcar
  • suco de 1 limão siciliano

Preparo:
  1. Lave as amoras, descartando qualquer uma que esteja mofada e coloque-as numa panela grande e de fundo grosso, com a maçã. Coloque 1cm de água na panela e leve ao fogo médio por 10 minutos, amassando as amoras com as costas de uma colher.
  2. Passe as frutas por uma peneira, recolhendo os sucos em uma tigela de vidro. Esprema as frutas até retirar todo o seu suco. Descarte a polpa e meça o suco. Deve haver cerca de 4 xíc.
  3. Volte esse suco para a panela e acrescente 1/2 xic. de açúcar para cada xíc. de suco. Junte o suco de limão.
  4. Em fogo alto, ferva o líquido, retirando com uma escumadeira a espuma que se formará na superfície. Quando marcar 220ºF no termômetro para doces, estará pronto. Ou coloque um pires no freezer; coloque 1 colh. (chá) da geleia no pires e volte-o ao freezer por 1 minuto; a textura deve ser de xarope bem grosso.
  5. Despeje nos vidros esterelizados, deixando 1cm de borda. Feche os vidros e ferva-os por 10-15 minutos. Deixe esfriar por 24 horas, sem mexer, antes de guardar por até 1 ano. (A receita original manda apenas "processar os vidros como manda o fabricante", pois nos EUA se compra vidros de conserva com aros para selar as tampas, e com instruções precisas de quanto tempo se deve ferver os vidros e como.)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

UMA SEXTA FEIRA FRUGAL 7: conserva de ameixas em xarope de mel

Conservas em geral são coisas com as quais sempre flertei mas jamais me comprometi. O conceito é fantástico: compre o que você gosta quando está na estação e faça conservas das sobras, para ter o ano inteiro. A imagem dos vidrinhos de geleia, das compotas, dos picles e chutneys enfileirados na minha prateleira é linda em minha mente. Mas o medo de me comprometer com o processo e acabar com vidros e vidros de comida mofada era grande. Durante os últimos anos, não saí do cercadinho seguro da geleia de maçã que fica na geladeira e não precisa de esterilização nem nada disso. Apenas uma vez me aventurei a fazer uma conserva de pimentões com base em um livro emprestado. Mas o livro pulava várias partes importantes sobre o processo e não dizia se a conserva deveria ficar ou não na geladeira. Resolvi testar. Dois dias depois, meus pimentões espumavam para fora do vidro. Frustração total.

Então encontrei um blog. Um blog lindo, fantástico, sobre tudo aquilo de se comer que se guarda e conserva. Fiquei fascinada pelas receitas e pelas fotografias, e marquei nos meus favoritos. Um dia. Ah, um dia eu faço alguma receita.

Na quarta-feira, eu comprara uma Food & Wine para ler na hora do almoço, uma vez que a tv a cabo (que normalmente me faz companhia enquanto como) estava com problemas, e eu passaria o dia justamente esperando pelo técnico. Na revista havia um texto de Eugenia Bone, autora de um livro sobre conservas, contando sobre suas aventuras na cozinha no último mês do ano. O relato de todas as gostosuras saídas de sua despensa e feitas por ela, muitas vezes um ano antes, me deixou completamente encantada. E, enquanto o técnico me deixava plantada já por cinco horas, resolvi que era chegada a hora de tentar. Entrei no Food in Jars e procurei por uma receita que levasse ameixas, qualquer coisa, geleia, compota, chutney, o que fosse. Pois eu tinha uma grande tigela de ameixas orgânicas na geladeira que estavam mais azedinhas do que eu gostaria. E encontrei uma receita muito promissora de conserva de ameixas em xarope de mel.

Para não correr o risco de estragar muita comida, adaptei a receita para um vidrinho só, do tamanho de um vidro médio de palmito. E comecei a receita, na verdade muito fácil, com aquele medo absurdo do marinheiro de primeira viagem, tremendo enquanto a pinça de metal puxava para fora o vidro escorregadio e pesado de dentro da panela com água fervente. Assim que coloquei o vidro quente na tábua de corte, ele começou a soltar um barulhinho suave, quase um assobio. Aparentemente era um bom sinal, segundo o blog. Vinte e quatro horas depois, dei alguns tapinhas com a ponta do dedo na tampa. Ela estava côncava e o som era seco, ao invés de oco. Iêeeei! Isso queria dizer que o vidro estava de fato muito bem vedado.

O medo se dissipou imediatamente, e fiquei com uma vontade louca de fazer muitas outras conservas como essa. Agora fica aquele comichão... quero abrir e comer e ver como ficou... não. Tem que esperar, dar um mês, para ficar mais forte e para ver se dura, se de fato deu certo. Mas eu quero comer agora! Com iogurte! Com sorvete! Não, mas para que diabos serve uma conserva de um dia só?

Dilema cruel...
;)

PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR: Vocês fazem conservas? Do quê? Têm algum livro específico a respeito ou aprenderam com pai, mãe, avós?

CONSERVA DE AMEIXAS EM XAROPE DE MEL E CANELA
(adaptado daqui)
Tempo de preparo: 35 minutos
Rendimento: 1 vidro de uns 500ml de capacidade
Ingredientes:
  • ameixas suficientes para caber no vidro (depende do tamanho delas)
  • 1/4 xic. + 2 colh. (sopa) mel
  • 1 xic. água
  • 1 pedaço pequeno de canela em pau
  • 1 vidro de conserva de uns 500ml
Preparo:
  1. Coloque uma panela grande cheia de água para ferver. Limpe bem o vidro e as ameixas.
  2. Em uma panelinha menor, ferva a tampa do vidro. Em outra, misture a água e o mel e leve à fervura, até que o mel esteja dissolvido.
  3. Coloque as frutas inteiras dentro do vidro, o mais apertadinhas possível. Insira a canela em pau e despeje o xarope de mel dentro do vidro, deixando 1cm da borda. Limpe qualquer respingo da borda e com a ajuda de um pegador de metal, retire a tampa da fervura e feche bem o vidro.
  4. Coloque o vidro fechado dentro da água fervendo na panela grande. Deixe ferver por 25 minutos contando a partir do momento em que a água volta a ferver.
  5. Retire com a ajuda um pegador, com muito cuidado, e coloque na bancada, sobre um pano de prato. Deixe que esfrie completamente e não mexa nele por 24 horas. Passado esse tempo, limpe qualquer resíduo que possa ter vazado para fora (segundo a autora, às vezes acontece). A tampa deve estar côncava e firme quando pressionada. Se se movimentar ou estiver estufada, há ar dentro do pote. Ao bater com o dedo, na tampa, o som não deve ser oco, o que também indicaria ar dentro do vidro e uma vedação falha. Coloque a data e guarde a conserva num local fresco e escuro por até 1 ano.

Cozinhe isso também!

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