sexta-feira, 24 de julho de 2009

Uma Sexta-Feira Frugal 1: Geléia de Maçã


Não é segredo para ninguém de que eu sou chata, natureba e adepta do "faça você mesmo". Acredito que seja uma herança genética, uma vez que minhas avós (como muitas), faziam sorvete, macarrão, pão e o que fosse na cozinha, meu pai sempre quis morar numa chácara e ser auto-suficiente e até meu tio, que é médico, já aprendeu o suficiente de marcenaria para construir a cozinha inteira do meu primo. Adoro isso de ser independente. E também tenho tentado, há já muitos meses, levar uma vida um pouquinho mais frugal.

E "frugal" é uma palavra que anda muito na moda hoje em dia, ainda que eu não veja lá muita gente aplicando o conceito. Nos Estados Unidos, por conta da crise, as pessoas parecem de fato estar voltando ao estilo de vida de nossas avós: economia ferrenha de recursos, comida caseira, criação de galinhas e horta para aqueles que têm quintal. Adoro ler a coluna de W. Hodding Carter, no site da revista Gourmet, onde ele conta suas desventuras na tentativa de uma vida mais frugal para poder quitar suas dívidas. A despeito de toda a tragédia financeira, a maior parte das pessoas parece estar na verdade se beneficiando dessa mudança de vida, voltando-se mais para o convívio em família, desacelerando suas rotinas e se alimentando de uma forma mais saudável. E isso é muito bom. Independente do motivo de essa mudança estar acontecendo, acredito que ela seja sim muito positiva.

Mas em minha busca em sites brasileiros a respeito de um estilo de vida frugal, vi-me frustrada, pois me parece que por aqui, talvez pelo fato de a crise não ter batido tão forte – ainda que tenha sim tido um impacto – ainda não há um movimento tão massivo por parte da classe média para alterar qualquer coisa em nosso estilo de vida. Ao invés de fugirmos feito diabo da cruz do estilo americano que lhes causou a ruína, continuamos comprando desenfreadamente e sustentando estilos de vida que não condizem com nossos salários. Noutro dia descobri que quem mais tem e usa cartão de crédito no Brasil é a classe C e D. Isso é muito preocupante.

Já disse isso aqui antes, e continuo na mesma fase: cansada de comprar, cansada desse conceito de "saiu de casa, gastou dinheiro". E eu quero ver até onde consigo ir. Iogurte e pão, ah, são coisas que já estão tão na minha rotina, que nem penso mais a respeito. Quando vejo, já está pronto. Virou miojo. Mas agora estou passada com o preço dos laticínios. E decidi que vou tentar fazer o máximo possível deles em casa. Algumas continhas e regras de três me mostraram que eu vou conseguir economizar um belo dindin se eu dedicar um pouquinho do meu tempo para produzir meus queijos favoritos. Há mais uma dezena de alimentos que podem ser produzidos em casa e uma centena de hábitos que podem melhorar nossas vidas e reduzir nossos gastos. Ando testando cada um deles. E quero começar a dividir minhas experiências com vocês. Vou ver se consigo, toda sexta-feira, postar alguma receita, dica ou experiência bizarra, com ou sem sucesso, para que vocês também testem e, quem sabe, economizem uns trocados. Espero que gostem. :)

1. GELÉIA FÁCIL E DELICIOSA DE CASCAS DE MAÇÃ
(Do livro: Entre Panelas e Tigelas, A Aventura Continua, de Heloisa Bacellar.)
Nada melhor que não precisar comprar geléias carésimas e, ao mesmo tempo, reduzir um pouco seu lixo. Ao invés de jogar fora as cascas e o miolo das maçãs (quando você as corta com faca e não com os dentes), coloque num saquinho e congele. Vá juntando as cascas e miolos, com semente e cabo inclusive, até ter umas 4 xícaras. Então coloque numa panela com água suficiente para cobrir, leve à fervura e cozinhe por meia hora. Passe a polpa obtida por uma peneira ou um passa-verdure com o disco fino e volte a polpa à panela com 1 pau de canela e 1 xícara de açúcar. Cozinhe por mais 15 minutos até que fique encorpada e brilhante [eu já cozinhei por uma meia hora e obtive uma geléia mais firme e mais forte]. Deixe que esfrie e guarde em pote fechado na geladeira por até 1 mês. Faz 1 a 1 1/2 xíc. de geléia, dependendo da quantidade de maçã e quanto tempo ficou cozinhando. Delícia tanto no pãozinho com manteiga ou cottage (foto) quanto para pincelar tortas de frutas e bolos neutros (foto).

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Fake chicken meatballs, ou sensacionais almôndegas de tofu para "tofu-haters"

Sempre que digo a alguém que não como carne [vou parar de dizer que sou vegetariana, porque apesar de ser mais fácil dizer isso, alguns amigos de fato vegetarianos andaram me olhando feio... :P ], lá vem as receitas com proteína de soja texturizada e leite de soja. Eu sei que tem gente que adora. Mas eu destesto, DETESTO, DE-TES-TO proteína de soja texturizada e leite de soja. Não sei na boca dos outros, mas na minha fica um retrogosto meio amargo inconfundível, que me faz passar o resto do dia lembrando meu almoço. Por algum motivo bizarro, no entanto, eu gosto de tofu. Tofu não tem aquele retrogosto e não me incomoda de jeito nenhum. Mas eu nunca tinha feito muita coisa com ele; primeiro, porque não costumo preparar muitos pratos de origem asiática, e segundo, porque nunca foi minha missão como cozinheira procurar substitutos para a carne. Já falei disso aqui. Não gosto de colocar um pedaço de sabe-deus-lá-o-quê no meio do prato, cercadinho de arroz e batata, só porque ali deveria estar um bife. Como um prato inteiro só de legumes (aliás, cada vez mais). Com ovo, com queijo, com a proteína que for, mas sem ficar imitando bife.

Ah, mas o que diabos são essas receitas de almôndegas, então? Que feio, Ana Elisa, se contradizendo dessa forma... tsc...tsc...

Explico-me. ;)

Eu tenho um bocado [um belo bocado] de livros de cozinha. E posso dizer seguramente que 1/3 das receitas contidas neles são com carne ou aves. E isso começou a me irritar. Muito. Não pelo fato de não comer bife ou frango assado, mas pelo fato de que há ali uma centena de combinações de temperos interessantíssimas, e outra centena de acompanhamentos perfeitos para esses pratos, e eu nunca vou provar nada disso. Hunf. Foi nessa que mandei tudo às favas e comecei a preparar as receitas de carne usando cogumelos. [Quando os pedaços de carne são grandes, como bifões mesmo, uso os chapéus inteiros de cogumelos grandes; nos cozidos ou assados muito longos, cozinho os legumes no tempo da receita e acrescento os cogumelos no final, para que não passem do ponto, mas absorvam os temperos. Tem dado muito certo e rendido ótimas refeições.]

Mas e frango? O que eu poderia usar no lugar de frango? Hmmm... Pensei naquele peito de frango branquinho e completamente sem gosto (quando sem tempero), e imediatamente me lembrei do tofu. O tofu não vai imitar a textura do frango, isso com certeza. Mas vai prover a mesma base neutra para variados temperos e a mesma versatilidade de preparo. Pelo menos essa é minha teoria.

Ontem à noite, cortei um pedaço de tofu [orgânico, porque se vou comer soja, que não seja transgênica nem cheia de veneno] do tamanho de um filé de frango, esfreguei uma quantidade abissal de temperos (pimenta calabreza, sal, anis moído e orégano) em todo ele e grelhei o bendito no azeite até que ficasse crocante e dourado por fora. Comi acompanhado de rabanetes fatiados e salsa verde. Dexeufalar? Surpreendentemente gostoso. O segredo do tofu é temperá-lo quase que na medida do exagero, aparentemente. Não vai funcionar como aquele franguinho de todo dia, só com salzinho e pronto.

Hoje no almoço, apanhei uma receita de Chicken Meatballs, do fabuloso livro A16 Food + Wine [A16 é um restaurante americano especializado em cozinha do sul da Itália], reduzi as quantidades para duas porções e troquei todo o frango por tofu e toda a banha por manteiga. E prossegui exatamente como mandava a receita. Com a diferença de que eu não precisei cozinhar um pedacinho da massa para experimetá-la, uma vez que não estava lidando com frango cru.

As almôndegas saíram crocantes e douradas, macias por dentro, e deliciosas. Sem brincadeira. Servi com cenouras assadas com ervilhas, cebolinha e hortelã, outra receita adaptada do mesmo livro.

Meu paraíso será o dia em que eu conseguir pele sintética para fabricar minhas próprias salsichas, porque as salsichas de soja que existem no mercado são de doer... :P

FAKE CHICKEN MEATBALLS - ALMÔNDEGAS DE TOFU
(Adaptado do livro A16 Food + Wine)
Tempo de preparo: 40 minutos
Rendimento: 2 porções (8 almôndegas de 5cm)


Ingredientes:
  • 1/4 colh. (chá) sementes de erva-doce
  • 3 grãos de pimenta-do-reino
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 150g tofu orgânico firme
  • 1 colh. (sopa) manteiga
  • 1/4 xíc. farinha de rosca
  • 1 punhado generoso de salsinha picada
  • 1 dente de alho pequeno, bem picadinho
  • 1 colh. (sopa) de água
  • 1 ovo grande
  • azeite de oliva

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 205ºC. Unte uma assadeira pequena com azeite de oliva e reserve.
  2. Num pilão de pedra, esmague a erva-doce, o sal e a pimenta-do-reino até obter um pó. Reserve.
  3. Passe o tofu por um processador manual (passa-verdure) com o disco de buracos largos. Deve funcionar também num amassador de batatas, ou use um garfo. Junte os temperos em pó, a manteiga em floquinhos, a farinha de rosca, a salsinha e o alho. Misture bem.
  4. Junte o ovo e a água e misture. A massa deve parecer flocosa mas pegajosinha. Experimente e acerte o sal se necessário.
  5. Forme 8 bolas de 5cm de diâmetro com a massa, apertando-a bem nas palmas das mãos para que a mistura mantenha-se unida. Delicadamente coloque as bolas na assadeira untada.
  6. Leve ao forno por 20-25 minutos. No meio do cozimento, vire cuidadosamente as almôndegas com a ajuda de uma colher, para que dourem por igual. Elas devem ficar douradas, firmes e com uma leve casquinha crocante em torno. Sirva as almôndegas quentes, com o acompanhamento de sua preferência.

Cozinhe isso também!

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