quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Arroz integral com radicchio

A inspiração voltou rápido. Foi abrir a gaveta da geladeira e olhar para aquelas folhas fantásticas, cor-de-vinho e rajadas de branco, para saber o que queria comer. Que eu gosto de folhas amargas não é lá nenhuma novidade. Mas já falei aqui sobre minha paixão por radicchio? Dominando a cena em uma salada verde, refogado com alho ou cebola, com abóbora, risotto di radicchio, macarrão com radicchio, pizzoccheri com radicchio, torta de radicchio... até geléia de radicchio eu já comi e é uma de minhas inúmeras frustrações nunca ter comido de novo.

Era minha última noite em Veneza, durante aquela tal viagem pela Itália, em 2004. Como estava hospedada em um albergue em Padova, não daria tempo de jantar na cidade, pois o último trem partiria logo, e eu precisava estar no albergue antes que as portas se fechassem. Com pouco tempo nas mãos mas sem querer desperdiçar um só minuto naquele lugar, sentei-me em um bar chamado Cavatappi, nas proximidades de San Marco, e pedi uma taça de vinho e um prato de queijos. Aturei a mulher fumante ao meu lado apenas porque queria muito ficar do lado de fora do café e observar a vida passar. O simpaticíssimo garçom, que tentou me ensinar qualquer coisa do dialeto local, trouxe-me um prato com três ou quatro tipos de queijo, nozes, fatias de maçã verde e uma geléia rosa escura, como um antigo vaso de Murano de minha avó. Explicou-me qual queijo comer com o quê [juro que procurei em meu diário de viagem, mas não anotei os queijos ou a combinação], e respondeu-me, quanto lhe indaguei, que a geléia era feita de radicchio di Treviso.

"De radicchio?? Mas radicchio é amargo!"
"Ah, pois é... Mas é uma especialidade de Treviso..."

Experimentei com o queijo forte que havia no prato. Era absolutamente delicioso e diferente de qualquer geléia que já provara.

"Onde consigo isso? Vocês vendem?"
"A gente compra de um alimentari aqui perto. Você tem um mapa?" Abri o mapa do guia, ele apanhou um lápis e rabiscou um caminho e um X. "Aqui, na Calle San Lucca."

Saí tresloucada atrás da loja, mapa em punhos, seguindo o rabisco do garçom, até encontrar uma pequena loja de produtos alimentícios. Fui atendida prontamente por um senhor de avental branco, e expliquei-lhe o que queria.

"Oh, infelizmente acabou. Mas chega mais amanhã, se quiser."
"Amanhã??? Mas amanhã estarei em Verona! Não tem nem unzinho?"
Ele meneou a cabeça, desolado.

Mais uma para a lista de obsessões.

Enquanto isso, vou comendo radicchio de tudo quanto é jeito... menos marmellata. Hoje cozinhei um pouco de arroz integral apenas em água e sal [fiz as pazes com o arroz integral recentemente], enquanto refogava em pouco azeite meia cebola em tiras finas e um ramo de alecrim, até amaciar. Juntei o radicchio fatiado e cozinhei em fogo baixo, com uma pitada de sal, até murchar bem. Quando o arroz ficou pronto e afofado, juntei-o à frigideira dos legumes e misturei tudo muito bem, acrescentando algumas nozes ligeiramente tostadas. Para acompanhar, uma saladinha de tomate com queijo de cabra. Nham...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Uepa! Novinha em folha!

Assim como profetizaram alguns de vocês, foram três dias de febre e uma tosse que continua insistindo. Mas estou de volta. O carinho de todos vocês me surpreendeu muito, e não tenho como agradecer por cada um dos comentários! Toda essa manifestação de preocupação e votos de melhora tocou meu coraçãozinho e derreteu todo o cinismo dentro dele... Obrigada!!! ;)

Nesse meio tempo, de molho e sem vontade, nada saiu de minha cozinha que prestasse ou merecesse ser comentado. Nem acidentes culinários interessantes, uma vez que não cheguei perto das panelas para outra coisa a não ser requentar o que já tinha pronto. No entanto, tenho uma novidade.

Havia muito tempo eu vinha reclamando com um amigo meu que não conseguia mais desenhar por prazer. Algo no meio do caminho acontecera que minara minha vontade e minha autoconfiança. Fora ficando cada vez mais exigente e perfeccionista, de modo que apanhava a caneta e nenhum rabisco era bom ou significativo o suficiente para merecer a página de meu caderno. Além disso, meus trabalhos como designer me tomavam tanto tempo e energia, que acabava não dando toda a atenção que deveria a meu lado ilustradora. Quando me dei conta, eu havia me transformado em uma designer que fazia ilustrações ocasionais. E isso me deixou muito infeliz.

Por isso, decidi focar. Aos pouquinhos vou deixando o design gráfico de lado, trabalhando apenas com meus clientes mais antigos, e vou me concentrando no que mais gosto de fazer. Por que estou contando isso? Porque uma coisa que queria havia muito tempo era criar um blog de ilustração. Assim, despretencioso, cheio de rabiscos, para soltar a mão, me obrigar a desenhar mais todo dia e, principalmente, submeter-me à crítica dos outros, que nem sempre é gentil, mas serve para criar aquela couraça necessária à qualquer profissão que envolva criação.

Então, nesse post muito pouco culinário, convido quem quiser a conhecer o Desenhoquê, ainda engatinhando, tadinho dele, mas logo logo recheado de bobagens. Obrigada pela atenção e carinho de vocês. Novos quitutes em breve, prometo.

Cozinhe isso também!

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