sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Delícia (queimada) de chocolate: Pierre Hermé 2x3 Ana Elisa




Meu lado masoquista estava dando pulinhos, pedindo para que eu desse mais uma chance ao livro amaldiçoado. A verdade é que continuo muito encasquetada, principalmente depois de ter nas mãos a versão original em francês e a traduzida para o português, uma ao lado da outra na livraria, e pude conferir todos os meus fracassos assim como Hermé as escreveu. O choque foi ver que o tal do Bolo Suzy não tem erros de tradução. É aquilo mesmo, com colher e tudo. A única diferença que havia em quase todas as receitas era no tipo de chocolate. Enquanto as brasileiras dizem "chocolate com tantos por cento de cacau ou meio amargo", as francesas especificam apenas a primeira opção. Sem substituições. O que para mim faz muito sentido, pois trocando um chocolate a 70% por um "tipo cobertura" da Nestlé, você está alterando a quantidade (e tipo) de gordura, quantidade de açúcar e quantidade de amido da receita, o que pode, dependendo da sensibilidade da mesma, provocar pequenas mas notáveis alterações no resultado.

De qualquer forma, continuo afirmando que não vou jogar o livro fora ainda. Se eu conseguir encontrar duas receitas "repetíveis", para mim está bom.

Apesar da estranheza que me causou o processo desta receita específica, resolvi levá-la a cabo, pois tinha um potinho de amêndoas moídas que logo sairia andando sozinho da geladeira. Eu nunca vi um bolo tão estranho. Bater gemas com açúcar. Ok. Derreter chocolate. Ok. Misturá-lo às gemas. Ok. Misturar a manteiga em temperatura ambiente às amêndoas e à farinha. O.. Hein? E quando virar uma massaroca com cara de marzipã, misturá-a ao reboco de chocolate e gemas (ficou mesmo parecendo reboco). Achei que a coisa toda viraria um tijolo, mas a manteiga acabou suavizando a mistura. Então, voltando à vida normal, bater claras em neve e misturá-las ao restante. Com cuidadinho.

Tudo para a forma milimetricamente untada e enfarinhada, e para o forno a exatos 200ºC. Vinte minutos?, pensei, lembrando do fiasco do bolo Suzy. O timer tilintou e lá fui eu com um palitinho. Porque dessa vez, pelo menos, Hermé avisa que o bolo tem que sair sequinho. Espeta. Ainda um tantinho úmido. Marquei mais cinco minutos. Incorri no erro fatal de ir responder a e-mail de cliente (ou você achava que eu passo o dia cozinhando? Fiz o bolo no meu horário de almoço, tá?!) , e, cinco minutos depois, o cheiro de queimado era inconfundível.

Desenformei a "delícia de chocolate", que mostrava para o mundo sua bunda tostada, e virei-o novamente na grade. Então eu vi. Vi aquele sorriso sarcástico para cima de mim, aquele bolo com cara de sapo rindo da minha cara. Ok, eu enlouqueci.

Deixei que esfriasse para experimentá-lo e... ok. Gostei. Deu certo. Não é demasiado rico para meu paladar, como fora o Suzy, mas suave, muito macio e úmido. Dá até para passar por cima do queimado e dizer que sim, deu certo. Sem adaptações. Eu faria de novo.

Mas antes... compraria uma tigela extra da batedeira. Afe, que dor no braço! Se você tem o livro e resolver fazer o bolo, faça um favor a você mesmo e compre uma tigela extra para sua batedeira. Ou escolha sabiamente suas batalhas. Bata as gemas e o açúcar na mão, e deixe as claras para a batedeira. Não o contrário, como eu fiz. Ê, antebraço fora de forma...

Eu só sei receber presentes quando eles vêm de longe...

Tenho de confessar uma coisa: eu não sei receber presente. Sempre gostei muito mais de dar presentes do que de receber, porque EU NÃO SEI RECEBER PRESENTES. Fico vermelha, sem graça, não sei se agradeço efusivamente ou se apenas um "obrigada" educado basta. E quanto maior a expectativa do presenteador, pior me sinto. Já houve terríveis mal-entendidos por causa disso, inclusive com meu marido, que já me deu presentes acreditando que eu pularia de alegria e, embora pulasse de alegria por dentro, teve de se contentr com minha cara desconfortavelmente constrangida. Não sei por que sou assim. Simplesmente sou. Não sei reagir, e por isso acabo ofendendo muita gente.

Por isso achei fantástico isso de receber presente pelo correio. É outra coisa poder abrir a caixa com calma, sem o presenteador em cima do seu pescoço aguardando ansiosamente. Porque mesmo eu avisando para os presenteadores que EU NÃO SEI RECEBER PRESENTES, ainda assim eu arrumo problemas quando não reajo do jeito que eles esperam.

Dessa forma, não. Eu relaxo, gosto do presente e posso pensar numa forma adequada de agradecer. Com calma.

Chegou hoje esse pacote de Recife, trazendo castanhas de caju, rosquinhas de bolo de rolo e rapadura. Quitutes enviados por Fernanda, que começou seu blog há pouco tempo. Se existe uma coisa de que estou gostando (sim, eu mesma, serzinho notoriamente anti-social) é essa interação com pessoas que, de outra forma, jamais teria a oportunidade de conhecer.

Obrigada, Fer! Adorei os quitutes e sua delicadeza!

Cozinhe isso também!

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