terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Ai, as resoluções...

No ano passado, escrevi em uma folha de caderno tudo o que queria/precisava mudar em mim em 2007 e colei na geladeira, onde pudesse ler aquelas frases todo santo dia e não esquecê-las. O resultado foi que, ao contrário de outros anos, eu de fato consegui cumprir algumas das promessas (uns 60% pelo menos). Por isso resolvi repetir a dose esse ano.

Definitivamente preciso meditar mais. Foi-se a época em que eu era mais disciplinada, e não é à toa que minha cabeça anda uma loucura... E meditação de menos aliada a bebida de mais... vixe... Só beber em casa de fim de semana é uma promessa. Senão, quando você percebe, é terça-feira e você está no sofá bebendo vinho às três horas da tarde, num dia sem trabalho... E bebida engorda um bocado. E tudo o que eu tinha emagrecido começando a correr voltou quando fiquei relapsa e comecei a faltar. Nada mais de faltar então, e se chover, vou para a esteira. Só isso vai fazer com que eu pule fora do trem Nigella: próxima parada, obesidade acima dos 30 anos. Essa gordura ninguém tira!

Quando era mais viciada em academia, também lia muito, pois levava livros para a bicicleta. Aliás, eu costumava ser uma traça de livros quando mais nova, e de uns tempos para cá minha freqüência de leitura de livros não-culinários diminuiu consideravelmente, o que é uma vergonha. Para que eu não tenha de parar de ler sobre comida, acho que um livro por mês é uma boa meta. Tenho que começar pelo (afe!) Madame Bovary, que está pela metade há uns 2 anos e não desempaca nunca... E falando em livros, enquanto lia Julie & Julia me dei conta de que nunca fiz todas as receitas (pelo menos as veggies) de nenhum dos livros das minhas estantes. Quero ver se esse ano consigo matar pelo menos um. Nem que seja do Jamie Oliver, que são fáceis e bem dia-a-dia. Pelo menos para me sentir menos idiota por gastar tanto dinheiro em livros de cozinha... Mas calma, o blog não virará nenhuma cópia fajuta do projeto de Julie Powell, como já vi em vários outros lugares (é até feio, de tão óbvio).

É, e acho que se juntasse toda a grana que gastei em 2007 com livros de receitas e quinquilharias culinárias, provavelmente daria para pagar uma mensalidade de financiamento de uma casa... Graças a Deus esse ano foi muito bom para minha empresa (ao contrário de 2006). Mas tem que ser melhor. Ganhar mais din-din é importante, porque quero uma casa com quintal para plantar um bocado de tomates e para que o Gnocchi possa correr e perseguir insetos. Será que esse ano minha casinha vem?

A última resolução de ano novo deveria ser de muita gente também: reclamar menos e agradecer mais. Às vezes passo dias inteiros reclamando da vida. Então paro e percebo que não tenho problema nenhum. Pelo menos nada com o qual eu não possa conviver ou para o qual eu já não tenha uma solução. Menos reclamação, mais agradecimento. Da mesma forma, menos raiva, mais amor. Luv, luv, luv... Vai ser difícil, pois minha porção cínica geralmente ganha no braço-de-ferro da minha porção cor-de-rosa...

Tudo na geladeira. Agora é esperar 31 de dezembro para ver quanto disso conseguirei manter... Ai, ai, ai...

Reveillon de comilança, bebedeira, biribinha e video-game

O Reveillon começou 3 dias antes, quando fui com um amigo ao mercado para comprar ingredientes para a comilança da noite de ano novo. No ano anterior exageráramos na dose, e sobrara comida demais; portanto, desta vez, decidimos manter as coisas simples.

Compramos duas pastinhas feitas no Santa Luzia, uma de pimentão e uma de gorgonzola, queijo brie, uvas, cerejas, e os ingredientes para uma pissaladière (minha responsabilidade) e um quiche de tomates e queijo de cabra (responsabilidade dele). Havia pouco tempo eu fora à sua casa ensiná-lo a preparar quiches, e esse seria seu primeiro vôo solo. Você deve estar se perguntando onde está a salada em nosso cardápio. A quem estamos tentando enganar? Quem come salada com cerveja??

Decidi que faria um tiramisù para sobremesa, e preparei-o no dia seguinte. Estava em dúvida entre fazer a receita de tiramisù veloce de Jamie Oliver, e a versão clássica, do meu livro gigante de comida italiana, que leva gemas de ovos. Acabei preparando o clássico, incorporando algo da outra receita. Usei os biscoitos champagne que vieram na cesta de natal, que de outra forma ficariam abandonados na despensa. Mas decidi-me a preparar um pão-de-ló da próxima vez. Bati o creme de leite, bati as gemas, incorporei o mascarpone e depois o creme batido. Embebi os biscoitos em café forte adoçado e vinho Marsala, que usei também para aromatizar o creme, junto com raspas de laranja, montei o doce em camadas, cobri de cacau em pó, raspas de chocolate e de laranja. Tudo para a geladeira.

No dia seguinte, comprei pães e comecei a fazer a pissaladière, com uma receita da revista francesa Saveurs, seguida, dessa vez, ipsis literis. Foi desanimador descascar e fatiar 2kg de cebola, e agradeci mais uma vez ao Allex por dar-me a panelona Le Creuset, pois nenhuma outra panela minha comportaria tanta cebola. Espalhei as cebolas caramelizadas sobre a massa estendida numa assadeira surrupiada de minha mãe, dipus os filés de anchova e as azeitonas gregas Kalamata, e levei ao forno.

Chegando no Guilherme, dispusemos toda a comida sobre a mesa. Ele estava inseguro quanto a seu quiche, pois não ficara (segundo ele) tão bonito quando esperava. Por favor, aplausos a meu amigo e seu primeiro quiche, que ficou delicioso; tanto, que só sobrou um pedaço. A massa estava flocosa e leve, o recheio macio e saboroso, o gosto forte e picante do queijo de cabras apimentado combinando bem com os refrescantes tomatinhos-cereja. A pissaladière ficou melhor na versão da revista do que a primeira que eu fizera. A massa ficou mais macia, e a quantidade abissal de cebolas descascadas e fatiadas com certeza era necessária, pois tornou-se uma espessa cobertura de cebolas quase se desmanchando, adocicadas, perfeitamente complementadas pelas azeitonas e anchovas salgadas.

À meia-noite, que chegou muito rápido, subimos à cobertura do prédio (assim como todos os vizinhos) para ver fogos e abrir o espumante, bebido moderadamente, pois a cerveja fora a bebida da noite (Original de garrafa, trazida pela Haydée). Rimos da folia dos vizinhos, que me lembrou muito o entusiasmo de festas de escritório descrito pela Fer, que também em mim evoca todo o cinismo que meu corpo pode produzir. E voltamos ao apartamento para a sobremesa.

Ainda que tenha ficado muito saboroso, o tiramisù não firmou como acreditava que faria. O creme ficou muito mole, e os biscoitos desapareceram por completo.

Tenho certeza de que exagerei na quantidade de café e Marsala, e que da próxima vez fico com as medidas da receita clássica (que pedia apenas 3 ou 4 colheres de sopa), ao invés de confiar num inglês metido a italiano (que mandava usar quase 300ml de líquido — usei 150ml, mas obviamente foi demais para os pobres biscoitos). Não sei também até que ponto o calor não afetou a consistência do doce.

Allex levara seu video-game, e passamos quase todo o resto da noite em pequenos campeonatos de Virtua Fighter V e Naruto (muuuuuito mais legal do que eu imaginava). Surgiram então biribinhas, que ficamos jogando feito um bando de crianças, e que Allex tentava acertar no meu pé.

Queria ter ficado mais, mas fiquei com dó do pobre Gnocchi, sozinho, com medo de fogos, e acabamos voltando para casa uma 4 horas da manhã. Ok, ok, não é exatamente cedo, mas estava tão divertido...

Cozinhe isso também!

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