quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Pasta e piselli

Não sei por que me lembrei dessa história hoje... Quando estava na Itália, confesso que passava ao menos 1 hora antes das refeições vagando a esmo, procurando onde comer. Depois de alguns desapontamentos, deixei de seguir as sugestões do guia de viagens, e fugia como diabo da cruz de qualquer espelunca que tivesse menu bilíngue. Queria comer como os italianos, não como os turistas.

Era já tarde da noite e estava completamente perdida em Roma, quando encontrei esse restaurantezinho minúsculo, sem nome nem nada. Promissor, pensei. Como o lugarzinho em Genova, onde comi meu melhor fusilli al pesto, o restaurante tinha uma velhinha na cozinha e outra no salão, que, após sentar-me em uma mesa, pediu-me para que a ajudasse a amarrar o avental. Para o couvert, ela ia até aquela estante com compartimento para pão e cortava as fatias na hora, devagarinho para não cortar os dedos idosos. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, havia já uma jarra de vinho branco à minha frente e fatias grossas de pão rústico. Uma terceira velhinha, sentada na mesa ao lado, começou a puxar conversa em dialeto romanesco, e eu lhe respondia como podia às meias palavras que conseguia captar.

Foi apenas quando outras pessoas chegaram, clientes fiéis, recebidos com abraços, que me dei conta (captando mais uma vez as meias palavras de um italiano nada acadêmico), que o único prato servido àquela noite seria uma massa com ragù di carne. "Meraviglioso! Buonissimo!", dizia-me a velhinha, sorvendo o caldo grosso de seu prato. O que é que se faz numa situação dessas? Eu já havia deixado de comer carne havia um bom tempo, e não pretendia recomeçar o hábito naquele momento. Também já bebera bastante vinho e comera toda a minha porção de pão, e não encontrara nenhum outro lugar que me apetecesse. E, deuses!, já eram quase 10 da noite, e eu ainda precisava descobrir como voltar para o albergue, do outro lado da cidade.

Puxei a senhora de avental que atendia o salão e expliquei-lhe meu problema, ao que ela respondeu com a cara de "ai, ai, ai" que a maioria dos italianos faz para vegetarianos. Sem problemas, disse ela, "ci sono dei piselli". Hein??? Pi-o-quê? Quando vi, ela trazia já da cozinha um prato fumegante de penne, ervilhas e grana padano ralado. Ah... ervilhas! Um pouco decepcionante para quem ainda não está acostumado à cozinha mais simples, mas as ervilhas eram fresquíssimas, o queijo de qualidade e a massa cozida à perfeição. Foram 10 euros por tudo, a experiência de ver como seria um restaurante gerido pela minha avó, e lá fui eu me perder de novo, como de praxe. (Ah, a placa "Un pasto senza vino...", da foto ao lado, é dali.)

Pão de nada

Sou mal acostumada mesmo. Com a batedeira com gancho para pão, a balança para medir a quantidade certinha de fermento, a farinha mais forte e o forno regulado, todos os meus pães têm saído ótimos. Ah, nem vou me dar o trabalho de ser uma falsa modesta: ficam bons mesmo! Mas não é sempre que dá tempo ou bate aquela inspiração, aí o negócio é sair e comprar do melhor pão que conseguir encontrar nas redondezas. No meu caso, eu acabo indo ao Santa Luzia e comprando algum pão rústico, como um ciabatta, ou algum pão de campanha mais interessante (os preços são salgadinhos, no entanto). Ultimamente, o Pão-de-Açúcar (eca!) da região deu uma bela melhorada em sua padaria e os pães estão bons e mais em conta. Se tenho paciência, ando mais um quarteirão até a Pâtisserie do Le Vin, que faz um pão que é um absurdo de macio e gostoso, mas nem sempre tem: dependendo do horário, acabou faz um tempão.

Quando, porém, simplesmente esqueço de comprar pão para o café-da-manhã, acontece o que mais temo: Allex me aparece com algum pão-de-forma industrializado. Tá, os integrais, pretos, de centeio, vá lá: eu gosto, eu como, tudo bem. Mas pão-de-forma BRANCO da Panco, Wickbold, ou qualquer desses... Passa manteiga, passa requeijão, bota geléia, tosta, vira do avesso, e o pão continua sem gosto e sem textura. O desgraçado é feito para ser tão macio, que ao invés de desmanchar-se na língua, ele vira uma insuportável massaroca, que prende no dente e no céu-da-boca (sem falar no aparelho fixo, que eu uso na arcada inferior). Ô, diacho de pão ruim! Aí me dá vontade de sair correndo e comprar meu ciabatta fresquinho, cortá-lo em fatias grossas, tostar um dos lados na frigideira e colocar um nadinha de manteiga sem sal, que vai derreter no calor do pão quentinho, saboroso, de casca crocante e interior fofinho como uma nuvem.

Cozinhe isso também!

Related Posts with Thumbnails