sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Quanto sal você consome?

Eu acabara de escrever o post abaixo quando vi na TV o programa You Are What You Eat, com a nutricionista Gillian McKeith, no GNT, em que ela citava e explicava um por um os grandes vilões da alimentação moderna. Apesar das estatísticas limitarem-se ao Reino Unido, não era difícil se identificar com alguns dos tópicos e conseguir enxergá-los em larga escala aqui mesmo no Brasil. O que mais me chamou a atenção foi um casal que salgava (como no texto anterior) qualquer prato, independente de ele já ter uma quantidade abissal de sal por ser comida processada. Eles consumiam cerca de 52kg de sal ao ano!!! Por isso estavam já hipertensos e com dores nas juntas, apesar de serem muito jovens.

A verdade é que um adulto não deve consumir mais de 6g de sal por dia. Parece muito pouco, mas na verdade, é mais do que suficiente. Se você fizer uma sopa para 4 pessoas e tomá-la no almoço e no jantar, não usará nem 1/3 dessa quantidade para temperar o prato. Se você for uma pessoa com o paladar normal, é claro.

Encasquetada com a informação, resolvi fazer o cálculo. Faz já um ano que estou morando fora da casa de meus pais, com meu namorado. Nesse tempo, lembro-me de ter comprado 1 kg de sal refinado quando mudamos, e 2kg de sal grosso (que coloco no moedor, como pimenta-do-reino, pois é mais saudável e saboroso), sendo que o segundo saco abri faz um mês. Ou seja: só para arredondar, em 1 ano, nós dois consumimos 2 kg de sal. O que quer dizer que, ao menos na comida que cozinho (almoço e jantar), nós consumimos por dia em média 2,74g de sal cada um. Muito bom! Claro, isso sem contar pães, pizzas, esfihas, pães de queijo congelados e quibes ou hambúrgueres de soja congelados, requeijão, queijos, azeitonas, alcaparras e anchovas, que são os únicos alimentos comprados prontos que entram nessa casa e os únicos ingredientes conservados em sal que uso. Mas mesmo assim, acredito que estejamos dentro do permitido.

Parece idiota, mas fiquei bastante feliz com a constatação de que não estamos nos matando através da comida. Convido você, então, a fazer a mesma conta (é só dividir a quantidade de sal que usou durante o ano por 365, ou faça a média do mês, se for mais fácil). O grande alerta, no entanto, vai para as pessoas que consomem uma grande quantidade de alimentos prontos, como enlatados que já vêm temperados, comida pronta congelada (como as famosas lasanhas com gosto de nada), ou qualquer alimento processado, como nuggets, hambúrgueres, salsichas, etc. Esses alimentos quase sempre contém, em uma só porção, o dobro da quantidade de sal recomendada diariamente (assim como de açúcar, gordura ruim e produtos químicos). Se isso constitui boa parte de sua dieta, talvez seja hora de reavaliar o que você anda fazendo com seu corpo...

Se quiser saber mais sobre nutrição (um pouco extrema para meu gosto, mas ainda assim interessante para quem quer mudar definitivamente seus hábitos ruins), veja o site de Gillian e o de seu programa, no canal inglês Channel 4:

Dr. Gillian McKeith - the official website

Channel 4 - You Are What You Eat

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Sal e açúcar

Ando ligeiramente preocupada com algumas pessoas que conheço, incluindo aí familiares. Desde que comecei a cozinhar, venho tentando variar os sabores daquilo que como ao máximo: se existe algo que me aborrece é comer sempre a mesma coisa. Afinal, com tantos alimentos diversos no mundo, por que alguém em sã consciência comeria arroz e feijão todos os dias?? Mas não é exatamente isso que anda me incomodando. Nessa busca por variação, encontrei as ervas, as pimentas, os grãos inteiros ou em pó, os molhos, os sais e os açúcares, sendo que destes dois últimos (principais temperos na mesa do mais inábil cozinheiro) tenho usado cada vez menos em minha cozinha. Não que eu preteda eliminá-los, deus do céu! Mas quando se usa ingredientes-base de qualidade, você quer que uma abobrinha tenha gosto de abobrinha, e que os temperos apenas realcem seu sabor ao invés de encobri-lo. E assim é com o sal e o açúcar para mim: apenas o necessário para realçar e fazer o sabor do alimento saltar.

O que mais me alarma é almoçar com aquelas pessoas que, mal o prato chega à mesa, elas já estão com o saleiro a postos. Polvilham sua comida com uma fina mas pronunciada camada de sal refinado, sem sequer terem experimentado o alimento antes, para verificar se já não estava suficientemente temperado. E, apesar de não se ter o costume de acrescentar mais açúcar a uma sobremesa, como se faz com o sal, estas mesmas pessoas costumam apreciar doces muito doces, tortas de fruta em que só se sente o açúcar, bolos que causam dor de dente.

Além dos males que isso faz à saúde, por que isso me incomoda? Porque quando cozinho para estas mesmas pessoas, elas tendem a reclamar da falta de sal ou de açúcar de minha comida. A última reclamação foi acerca dos muffins abaixo: "por que os seus muffins não são doces?". Tive de explicar que as receitas que uso são inglesas ou americanas, onde o muffin é comido no café-da-manhã, com uma bela passadela de manteiga e geléia. Ou seja, são bolinhos praticamente neutros, como aqueles bolos para se tomar com chá, ao contrário dos cupcakes, que podem ser servidos como sobremesa. Acontece que muita gente adaptou as receitas dos muffins para o paladar brasileiro, tornando-os doces como aqueles "bebezinhos" da nossa infância. Nada de errado com isso, tudo depende do seu propósito.

O caso é que, ao longo do tempo, sinto que meu paladar tem sofrido uma transformação: cada vez mais aprecio sabores mais suaves, menos extremos. Quando vou escolher um doce, por exemplo, tendo a preferir doces com frutas, ou que sejam ligeiramente ácidos. Ou, se há chocolate envolvido, prefiro uma porção diminuta, pois sei que enjoarei rápido do doce. Quanto aos salgados, à exceção dos queijos, também prefiro explorar os sabores dos legumes e verduras ao invés da impressão de mastigar uma colher de sal.

O problema das pessoas que abusam tanto de um quanto de outro, é que, da mesma forma como meu paladar está cada vez mais sutil, capaz de perceber sabores que antes passavam batidos, elas também estão treinando seus paladares a apenas sentir o gosto de sal e açúcar, e nada mais. Elas pagarão uma fortuna em restaurantes caríssimos e salgarão seus pratos de suaves alcachofras. Além de assassinar qualquer chance de uma experiência gastronômica mais interessante e enriquecedora, também serão obrigados, aos 40 anos, a cortar em definitivo ambos os temperos, diabéticos e hipertensos que serão.

Agora vai o desafio: se você já se pegou dizendo que abobrinha não tem gosto de nada, e que aqueles bolos simples de laranja não têm graça nenhuma, tenho quase certeza de que você é uma dessas pessoas. Então faça a experiência: tire o sal da mesa. Seja mais mesquinho na hora de temperar sua comida com sal, e comece a usar ervas. Experimente doces mais neutros. No começo, será uma experiência terrível, pois de fato você não sentirá gosto de nada. Mas conforme seu paladar for se acostumando, você notará a diferença e nunca mais voltará atrás, quando descobrir o mundo de sabores que vinha perdendo.

Cozinhe isso também!

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