terça-feira, 6 de maio de 2014

Um mini post sobre a balbúrdia anterior

Que eu sabia que daria alguma zica o post anterior, eu sabia. O que me surpreendeu foi o motivo. Mas, vá lá, os comentários têm sido totalmente diferentes desde o dia em que comecei a falar de filho e de ser mãe por aqui. Parece que é mesmo um assunto que deixa o povo ensandecido. Porém, algumas coisas que li tanto nos comentários críticos quanto os de apoio, fizeram-me perceber que talvez seja preciso esclarecer alguns que podem ter ficado confusos ao longo desses anos todos...

Primeiro, nunca fui profissional da área. Nunca fiz gastronomia, nutrição nem nada parecido. Como muita gente dentro e fora da internet, sou apenas uma aficionada por cozinha, cheia de curiosidade. Curiosidade essa que me faz pesquisar um bocado e experimentar muitas coisas. Mas eu não sou nem nunca quis ser autoridade em coisa nenhuma. Aliás, o que é uma "autoridade na cozinha"? Nunca vi presidente do frango assado na vida. Considerando a cozinha essa atividade em constante evolução, indo e vindo da tradição, descobrindo e redescobrindo ingredientes, misturando culturas e novas tecnologias, seria estúpido presumir saber tudo. E eu com certeza não sei. Quando vi esse mês uma reportagem na revista Casa e Comida sobre tipos de creme de leite, corri para ver se havia alguma informação que eu não soubesse e que pudesse acrescentar ou corrigir naquele meu post antigo. Quando alguém me corrige, seja no português ou informação incorreta, eu tento consertar o erro no blog o quanto antes, desde que eu não esqueça de fazê-lo (às vezes acontece). Lembro-me de alguém ter comentado naquele caso da piadina, sobre eu ter dito que era toscana. Sem problemas, presumi que fosse toscana porque um livro meu toscano continha a receita. Me atira uma piadina na testa, então.

O que me leva ao segundo ponto. Durante todo esse processo de buscar informações e aprender a cozinhar, eu me tornei extremamente radical em alguns pontos. Fruto dos vinte e poucos egocêntricos anos, que fazem com que nos achemos donos do mundo e da verdade absoluta (coisa que parece passar conforme envelhecemos, graças aos céus) e fruto da ignorância. Era uma fase muito "quem foi que inventou a maionese? Ah, então essa é a única maionese CORRETA." Resumidamente: eu era uma idiota. E fui idiota com muita gente. E hoje agradeço aos leitores que suportaram toda essa fase, que foi e voltou algumas vezes, e continuaram por aqui. E peço desculpas ~aqueles com quem possa ter sido grosseira ao longo dos anos. De verdade.

Acho que todos nós, quando descobrimos algo novo de que gostamos, mergulhamos um pouco de cabeça. Às vezes nos empolgamos além da conta. Às vezes viramos militantes. Às vezes ficamos chatos. Então descobrimos que estamos chatos e tentamos amenizar um pouco as coisas. E mudamos de ideia.

E este é o terceiro ponto. Quando comecei esse blog, jurava que era a primeira pessoa do mundo a pensar num blog de culinária. Há! Pausa para as risadas. Era a única dentre todos os meus amigos que cozinhava alguma coisa, e realmente me julgava grande coisa. O bastante para ensinar os outros que sabiam menos do que eu. Como muitos outros blogueiros, caí na fantasia de ser "descoberta", publicar livro e virar a próxima Nigella. Coisa que, ainda bem, passou. Passou e o que ficou, quando parei de tentar produzir fotos ou maquiar minha vida, foi um blog extremamente pessoal. Quem lê desde o primeiro post pode identificar todos meus questionamentos e dificuldades, toda a insegurança da adolescente gordinha que a gente carrega dentro de si pelo resto da vida, toda a tentativa de me tornar alguém remotamente melhor do que eu era, todos os meus retumbantes fracassos nessas tentativas e alguns pequenos sucessos.

O blog tornou-se um diário pontuado de receitas, mais do que qualquer coisa. E o que minha cabeça confusa produz às vezes não é consistente, às vezes é esquisito, às vezes não faz o menor sentido. Algumas outras vezes é uma versão romanceada dos fatos, para um efeito mais cômico. Mas com certeza me ajuda a colocar as ideias em ordem. Mesmo que seja para ler de novo um mês depois e me sentir estúpida.

Em suma, não levem muito a ferro e fogo o que escrevo aqui. São apenas crônicas. São apenas receitas. São apenas opiniões de alguém que, como muita gente por aí, não sabe tudo. É para ser divertido. Ligeiramente informativo. Mas não muito. Se deixar de ser divertido para quem lê ou para quem escreve, então acabou. (Só que ainda não acabou, não se preocupem.)

Noutro dia comentei com meu marido: "Às vezes me sinto completamente esmagada pela sensação de não fazer ideia do que estou fazendo."
"Em que sentido?", perguntou.
"Todos. Saber o que estou fazendo presume que tenho controle total sobre os resultados. E eu não tenho. Não faço ideia de que tipo de adultos meus filhos vão ser. Não faço ideia se minhas telas vão vender. Não faço ideia do por quê de continuar escrevendo o blog. Não sei qual vai ser o resultado de tudo isso. Às vezes isso me esmaga. Às vezes é libertador."

[Obs: e se você leu isso e imaginou um tom de voz mi-mi-mi, saiba que não foi com esse tom que escrevi. O próprio post anterior fora para inaugurar uma fase mais leve e despretenciosa no blog. Então leiamos com leveza e um sorrisinho maroto.] 

Obrigada a todos os leitores, críticos, fãs, que vão e voltam, que têm me feito sempre matutar bastante. Porque fica tudo muito chato quando todo mundo concorda em tudo absolutamente e é sempre bom ter o carinho de vocês e também os alertas que me fazem mudar ou reafirmar meu caminho. ;)

Cozinhe isso também!

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