sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Não gosto de kombu e ponto.

Acredito ter motivos bons e racionais para não comer as coisas que não como. Estar inacreditavelmente longe de seu estado natural, tendo passado por inúmeros processos industriais nojentos, é um deles. Sua produção causar mais males à natureza que bens a meu corpo é outro. Causar em mim uma sensação insuportável de hipocrisia, por estar comendo algo que eu mesma não teria coragem de matar, é o último. Todos, acredito eu, motivos justos. Agora, quando me perguntaram uma vez do que eu não gostava, tive dificuldades em apontar algo que não se encaixasse em uma das três categorias acima. "Não gosto e ponto" é uma frase que não faz parte de meu vocabulário desde que me tornei uma mulher adulta e determinada a provar que não é o ingrediente que você não aprecia, mas o modo como ele foi preparado.

Por isso minha surpresa ontem à noite.

Considero-me uma pessoa de paladar bastante desenvolvido e de mente muito aberta. Por essa razão fui contra meus primeiros instintos e insisti numa sopa fadada ao fracasso.

Comprara um pacote de alga kombu, curiosa, tendo em mente uma sopa de um livro de cozinha vegetariana e natureba. O livro narrava as delícias das algas e seus benefícios para a saúde, de modo que não podia deixar de experimentá-la.

Assim que abri o pacote, meu nariz foi atingido por um cheiro pungente que me fez pensar em algum tipo de carne defumada. Deixei a alga de molho e prossegui com a minha vida. Na hora de cortá-la, fiquei incomodada com sua textura gelatinosa, mas continuei. Coloquei-a na panela para cozinhar, enquanto cuidava do restante dos ingredientes. Para minha surpresa, o cheiro que subia da panela com a alga não era de mar, mas de porto. Pensei imediatamente naquelas praias pequenas, invadidas por algas marinhas caídas sobre a areia, apodrecendo sob um sol escaldante, empesteando o ar. Mas, tendo em mente que há muitos alimentos que não cheiram bem mas são saborosos, resolvi insistir e terminá-la.

Pela primeira vez na minha vida, tive medo da reação que teria ao provar algo que eu mesma cozinhara. O caldo, com cebolas e alho-poró, não estava de todo mal. Mas a alga, densa, pesada, ainda ligeiramente pegajosa mesmo depois de mais de uma hora de cozimento, causava-me reflexos como os que tinha na infância, quando meu café com leite vinha com nata na superfície.

"Não é tão ruim", pensava, dando mais uma colherada, até terminar com a porção em minha tigela. Foi o fato de ter passado a meia hora subseqüente com o gosto da alga na boca que me fez jogar o resto da sopa fora e decidir que não gosto de kombu.

Fica então minha pergunta a você que está lendo esse post: já comeu kombu? É um gosto adquirido ou a receita (ou a marca da alga) que era uma droga?

Cozinhe isso também!

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