domingo, 13 de julho de 2008

A 4ª coisa da Califórnia de que sinto falta: piqueniques, ou farofada com classe

Desde que comprei, há uns dois anos atrás, o livro de Heloísa Bacellar, abro a mesma página para olhar a mesma foto: a linda cesta de piquenique de vime, um pequeno baú forrado de tecido vermelho e branco, com um bonito e dourado pão caseiro, quitutes, pratos e talheres. Quero uma, penso sempre. Mas, ao mesmo tempo, penso quantas vezes em minha vida de fato saí em um piquenique, e me convenço de que não, não preciso de uma.

Vivo jogando essa idéia para meu marido, minha irmã, meus amigos: ir ao parque fazer um piquenique num dia de sol. As respostas são sempre as mesmas, desentusiasmadas, preguiçosas, não entendendo o propósito de fazer comida em casa e levar para comer longe, num gramado qualquer. Será preconceito? Afinal passei minha vida inteira dando risada daquele pessoal do frango com farofa na praia. Mas... existe piquenique e existe farofa, certo? Ou estarei eu me enganando, tentando me convencer de que o sangue farofeiro não corre em minhas veias?

Ah, mas ele corre.

Estávamos em Sonoma, no norte da Califórnia, quando nos deparamos com o finzinho de um Farmer´s Market, na praça principal. Havia apenas algumas barracas ainda montadas, com cerejas, cebolas novas ainda com suas partes verdes (coisa impossível de se encontrar nas feiras de São Paulo), pães integrais artesanais e uma banca de uma robusta mulher francesa, de sotaque carregado, produtora de manteiga e queijos orgânicos que me fizeram querer morar em Sonoma pelo resto de minha vida.

Não pretendíamos comprar nada, uma vez que era já fim de tarde e ainda sairíamos para jantar, mas não conseguimos resisitir. Compramos um queijo brie de leite de cabra e um cheddar com ervas e voltamos à banca de pães para comprar um dos últimos que restara na cesta, e decidimos que no dia seguinte juntaríamos isso a todas as outras guloseimas do carro, inclusive as cerejas compradas na beira da estrada, e faríamos um piquenique em algum lugar.

Antes de voltar ao hotel, demos ainda algumas voltas pela deliciosa praça, ainda repleta de gente depois de um pequeno festival de jazz que acontecera durante a tarde, e não pude deixar de notar as famílias e grupos de amigos em volta de mesas de madeira cobertas de toalhas coloridas, terminando de comer ou já guardando potes vazios em suas cestas de piquenique, bebericando a última taça de algum vinho regional. Tive inveja. Uma invejinha saudável, daquelas que lhe dá saudades doídas de uma vida que você nunca teve.

No dia seguinte, assim que chegamos a San Francisco, estacionamos o carro junto ao Palace of Fine Arts Theatre, e resolvemos que ali almoçaríamos, debaixo de uma árvore antiga, no gramado pontilhado de minúsculas florzinhas brancas. Tia R. sacou do porta-malas o que parecia um pequeno edredon listrado de azul e branco, e me explicou que sempre carrega consigo sua manta de piqueniques, pois nunca se sabe quando se precisará de uma. Fiquei tentando me lembrar de quantas vezes em minha vida me vi, no meio de São Paulo, na extrema necessidade de uma manta de piquenique. Fiquei triste ao constatar que a resposta era nenhuma. Não se fazem piqueniques em São Paulo.

Abrimos a manta e espalhamos nossos queijos, cerejas, pão, chocolates aromatizados com vinho comprados em uma doceria de Sonoma, e, infelizmente, coca-cola, pois era proibido beber no parque, mesmo escondendo as garrafas em sacos de papel. Um vinho teria caído maravilhosamente bem naquele momento.

Foi delicioso ficar ali, petiscando e olhando as garças e as gaivotas no bonito mas estranhamente azul lago artificial do parque. E pus-me a desejar que pudesse fazer mais piqueniques em São Paulo, em locais tranqüilos como aquele, comendo boa comida, em boa companhia, ouvindo o canto de pássaros e simplesmente relaxando. Claro que essa não é exatamente a paz que eu teria no Parque Ibirapuera num domingo, por exemplo, o que dificulta um pouco as coisas. Adoraria ir ao Jardim Botânico, mas o cão não pode entrar, o que invalida todo o conceito de tarde gostosa ao ar livre com as pessoas (e cachorros) que eu amo.

Então encerro esse post dizendo que a 4ª coisa de que sinto falta da Califórnia são os piqueniques, ou a possibilidade de fazer um piquenique sem ser chamada de farofeira, e deixo uma pergunta: vocês fazem piqueniques? Se sim, onde?

Cozinhe isso também!

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