terça-feira, 4 de maio de 2021

Magnólias e Macarons

 São as flores das cerejeiras que dão a dica, melhor que qualquer marmota, de que o inverno finalmente acabou. Em toda primavera, desde o meu primeiro ano no Canadá, ando em direção a essa fileira de árvores rosa pálido, esperando alguma espécie de arrebatamento: o sorriso espontâneo, o calor no peito, aquela leveza alegre que causa formigamento na pele, quando me deparo com algo verdadeiramente bonito. Escolho uma manhã cinza, fria e chuvisquenta, na esperança de evitar as comuns aglomerações dos dias ensolarados.

Talvez eu tenha sido excessivamente mimada por uma vida brasileira carregada de ipês brancos, amarelos, roxos e cor-de-rosa, cujas copas coloridas espalhadas por São Paulo contrastavam contra as nuvens monótonas. Os ipês, na minha memória, são fluorescentes como as pulseirinhas dos festivais de música eletrônica da minha juventude.
 
As cerejeiras, ao contrário dos ipês, empalidecem nos dias chochos. Como fotos de prédios novos em folhetos imobiliários, precisam de um otimista azul sem nuvens para brilharem. O céu chuvoso da primavera de Toronto abafa sua formosura, como um emaranhado de fios elétricos e postes sujos na frente do empreendimento de luxo.
 
Cerejeiras num dia cinza.

 
Minha reação às cerejeiras é sempre morna. É bonito. Mas não emociona. Caminho, passo por elas, até encontrar magnólias.
 
Gosto de magnólias.
 
São como a versão agigantada e extrapolada das cerejeiras. As duas têm a mesma paleta de cores e florescem, sem folhas, na mesma época. Mas só as cerejeiras causam filas de Instagramers posando sob suas copas delicadas. E as magnólias observam passarinhos.
 
As cerejeiras, eu entendo, têm uma beleza clássica que atrai. É conservadora, delicada, moça de família. Se as cerejeiras fossem uma pessoa, ela seria o tipo de pessoa que sempre pede sorvete de baunilha. Seria a pessoa que senta de pernas cruzadas, com as mãozinhas nos joelhos, exibindo no pulso um reloginho de ponteiros e uma correntinha de ouro, presente da mãe do namorado que ela nunca viu sem roupa. Se as cerejeiras fossem uma pessoa, elas seriam a pessoa que passa hidratante com cheiro de flor de cerejeiras e que escova o cabelo o mesmo número de vezes antes de ir dormir.
 
O que está tudo bem. Desejo toda felicidade do mundo às cerejeiras.
 
Mas eu gosto de magnólias. Das flores imensas que você não espera ver na ponta de um galho de árvore. Dessa exuberância quase tropical, de alguém que usa brinco grande e vestido de chita.
Se as magnólias fossem uma pessoa, elas seriam o tipo de pessoa que pede sorvete de missô, pra saber que gosto tem. Seriam o tipo de pessoa que senta na grama e tira o sapato. Seriam uma pessoa que vira e mexe quebra um copo, porque usa sempre os braços para falar. Seriam a pessoa que grita o seu nome do outro lado da rua só pra te dizer oi. Quando chega a primavera, as magnólias saem de shortinho quando está dez graus. As cerejeiras usam o cardigã combinando com os sapatos. 
 
Magnólias num dia cinza.

 
Olho para as magnólias sob o chuvisco fino de uma manhã sem luz, e sorrio. O peito aquece. A pele formiga. Deixo-me arrebatar pelo riso alto das flores grandes. Piso em poças d'água enquanto ouço passarinhos. Volto para casa com energia para fazer macarons.

Macarons são o doce favorito da pessoa-cerejeira. Mas a pessoa-magnólia acha que gostar de macarons não define uma pessoa, e se joga no projeto simplesmente porque é divertido preparar um doce tão cheio de fricote numa quinta-feira à tarde. 

Tentei fazer macarons uma vez, ainda no Brasil. Na época, havia todo um frenesi internet afora a respeito dos macarons franceses. Acho que foi quando saiu o filme da Sofia Coppola sobre a Maria Antonieta, e os americanos descobriram os macarons. Todos os blogs estrangeiros tinham receitas coloridas de sabores inusitados e dicas infalíveis em processos complicadíssimos para alcançar idílica perfeição macarroneana dos mestres confeiteiros. Sendo ainda uma louca obcecada por todo o tipo de comida que eu nunca provara na vida, eu precisava, PRECISAVA preparar macarons.
 
Inventei de usar açúcar comum e moer minhas próprias amêndoas, porque, afinal, COM CERTEZA todos os chefes confeiteiros do mundo estão errados nos seus minuciosos métodos. Às vezes a pessoa-magnólia tem que aprender com a pessoa-cerejeira. O resultado foi uma braçada de suspiros de amêndoa. Óbvio.

Alguns anos depois, passei vinte e oito minutos na fila da confeitaria de Pierre Hermé, em Paris, para comprar uma caixinha delicada com quatro pequenos macarons. Não me lembro quanto paguei naquela caixinha. Mas o horror do marido ao calcular o preço em reais, com uma cotação de 4 para 1, ficou marcada para sempre na memória.Esses biscoitos devem valer muito a pena, ele disse, apanhando o de caramelho salgado para provar. Não valem, foi a conclusão. Os tão sonhados e perdulários macarons foram ligeiramente decepcionantes: eram tão leves, tão leves, que desapareciam na boca tão logo tocassem a língua. E o sabor... era ok. O biscoito mais hypado do momento sofrera na entrega por excesso de expectativas.

Não sou fã de macarons, comecei a dizer.

Pule outros tantos anos para uma manhã solitária no Yorkdale Mall, em Toronto, durante as duas breves semanas em que cafés e restaurantes permaneceram completamente abertos no ano passado.
 
Shopping centers me causam dor de cabeça instantânea, e eu eu só ponho um pé dentro de um quando e em extrema necessidade. Jamais, em qualquer circunstância, entraria em um shopping com o simples intuito de passear. Eu havia pego trinta e cinco minutos de metrô até Yorkdale com a intenção de me achar um casaco de outono: algo que ficasse entre os casaquinhos brasileiros que não servem para nada aqui e minha parka de neve para vinte graus negativos. E até então, a melhor parte do passeio fora o trajeto de metrô, que me possibilitava olhar pessoas e ler um pouco.

Mas ali estava eu, depois de meses de escola online e quarentena, sentindo-me de férias ao passear sozinha num shopping center. Talvez tenha sido saudades de Paris, saudades de viajar, ou as simples saudades de sentar num café e ver a vida passar. Mas naquele dia eu entrei na Ladurée, aquela loja em tons pastéis que parece ter sido projetada por um unicórnio, sentei numa mesinha de metal com tampo de mármore, e pedi um café e três macarons.

Foi como um abraço. 

O café veio servido numa xicarazinha de avó, de haste dourada e pires decorado. Os macarrons foram servidos num pratinho que fazia conjunto com a xícara, precisamente posicionados no centro de uma toalhinha de papel rendada. A simpática e sorridente moça que me atendeu também trouxe um açucareiro de metal dourado e desenhos intrincados, que parecia ter sido comprado num mercado de pulgas. E aquilo era tão charmoso que quase me entristeci por não adoçar meu café. 

Não sei dizer no quê aqueles macarons coloridos diferiam dos que comi em Paris. Talvez nada. Talvez fossem apenas uma indulgência necessária num momento emocionalmente difícil. Talvez se a viagem a Paris tivesse sido estressante, os macarons de Pierre Hermé fossem tão deliciosos quanto aqueles da Ladurée do shopping. Talvez eu simplesmente não tivesse expectativas.
 
Saboreei cada um deles, bocadinhas intercaladas com bicadas no meu cafezinho de avó, enquanto lia mais um trecho do livro que começara na viagem de metrô. 
 
Numa manhã ensolarada do outono do ano passado, saí para andar de bicicleta com Laura. Thomas preferiu passar tempo com o pai. Pedalamos muitos quilômetros pela orla do lago, vendo as gaivotas pairando no vento e o vento formando ondas na água. Quando chegamos ao centro da cidade, estávamos com frio, e sugeri que apanhássemos um chocolate quente num café que estava aberto ali ao lado. Entramos de máscaras, enquanto os outros clientes esperavam do lado de fora. Café. Chocolate quente. E eu vejo aqueles sanduichinhos coloridos nuam redoma de vidro ao lado da caixa registradora. 
 
"Laura, vou te dar uma coisa pra comer que você nunca comeu". 
 
Levamos nossos copos quentes e nossos macarons genéricos para fora, sob o vento forte que começavaa trazer nuvens. Encontramos um banco em frente ao lago, e, Laura seu macaron, falei sobre Paris, sobre confeitarias francesas, sobre viajar, sobre prazer na vida. 
 
"Eu adoro o Dia das Meninas", disse Laura. Dia das Meninas é como ela chama qualquer saída de casa em que estejamos apenas nós duas, mesmo que seja uma ida ao oculista ou ao supermercado. Sabendo do efeito que isso tem nela, tento sempre incluir nesse tempo nosso uma parada num café novo, uma compra de um doce especial numa bakery diferente, qualquer coisa que ela possa contar animada quando chegar em casa, que "só eu e a mamãe fizemos".
 
Eu não esperava que Laura fosse gostar de macarons, uma vez que ela detesta amêndoas. Mas ela ficou encantada. O sabor, a textura, o recheio, o formato delicado e as cores: tudo ela achou lindo, interessante, fantástico, delicioso. "Quando os cafés estiverem abertos para a gente sentar dentro deles de novo, vou te levar na Ladurée.A gente vai tomar café e chocolate quente em xícaras de louça, e vamos comer macarons de vários sabores. Os de lá são mais gostosos."

Estava prometido.

Mas os meses foram passando, e Laura perguntava quando teríamos nosso Dia de Meninas no café dos macarons, só para ouvir sempre a mesma resposta: "Um dia, Laura. Um dia."

Naquele dia de flores cor-de-rosa, fui ao mercado comprar farinha de amêndoas e açúcar de confeiteiro. Eu não cometeria aquele erro duas vezes. Asssiti a um video maravilhoso que ensina todos os truques de um jeito muito mais simples e do que os blogs de tantos anos atrás. E lá fui eu. 

"Laura, hoje eu vou fazer macarons." Seus olhos acenderam estrelinhas. "E a gente vai fazer eles cor-de-rosa!"

Foi como se eu dissesse que adotaríamos um unicórnio.

O processo dos macarons, ainda que tenso, foi muito mais simples e fácil do que eu esperava. Bate clara em neve, mistura açúcar e farinha e corante, bota no saco de confeitar...

"Eu não tenho saco de confeitar", murmurei. Eu tinha. Com uma coleção de bicos diferentes. Mas vendi tudo para vir para o Canadá. 

"E agora, mamãe??"

"Sabe, Laura, eu já fui essa pessoa preciosista que não faria macarons sem bico de confeitar. Mas a mamãe aprendeu a relaxar a bisteca." Apanhei um ziplock, enchi um dos cantos com a massa dos macarons, torci a parte de cima e fiz um picote pequenino com a tesoura, para a massa sair. Pessoa-magnólia.

"Olha que danadinha, mamãe!", Laura riu. 

"Né. Sou mesmo. Eles com certeza não vão ficar todos do mesmo tamanho, nem com aquela cara perfeita das bakeries..."

"Mas vão ficar gostosos, e é isso o que importa!", me interrompeu ela. 
 
Esse é o mantra da Laura: vai ficar gostoso, e é isso o que importa. Ela repete essa frase para mim, sempre que eu digo que talvez a receita não dê certo. E quando não dá certo mesmo, ela dá de ombros e sorri: "Tá tudo bem, mamãe, o que importa é que você fez com carinho e a gente vai comer mesmo assim". 

No forno, os macarons começaram a me preocupar. Cresceram um pouco menos do que eu esperava, e terminado o tempo indicado na receita, eles não mostravam os sinais esperados. Quando tentei mover um para ver se estava dourando por baixo, percebi que ainda estavam crus. Mantive a temperatura muito baixa, e continuei assando os danados até o limite do aceitável, quando começaram a dourar em cima e pareciam quererem se destacar do papel-manteiga. Nesse ponto, eu já havia me conformado com o fato de ter produzidos suspiros de amêndoa novamente. 

"Tá tudo bem, mamãe. O que importa é que você fez com carinho."

Ressabiada, ainda assim, montei os macarrons recheados de geleia, tentando resolver aquele quebra-cabeça de qual macarron tem o formato de qual, para que ficassem iguais quando sanduichados. 

As crianças foram para a cama, e eu apanhei um macaron para experimentar. 

Decepção. 

"Droga, deu errado", disse a Allex. "Estão chewy e duros na base."

Fui dormir àquela noite chateada por não conseguir prover à Laura o "Dia de Meninas" com os macarons que eu havia prometido tantos meses antes. Na manhã seguinte, servi os doces às crianças sem muita empolgação, avisando que haviam dado errado. 

"Mamãe! Tá uma delícia!", eles disseram. Sorri, feliz com aquelas crianças amáveis que só queriam me agradar. "Não! Mamãe! É verdade! Ficou muito bom!"

Provei um, desconfiada. Para minha surpresa, aquela noite na geladeria, recomendada pela receita, não era nenhuma frescura: as bases duras e puxa-puxa haviam amolecido, e agora os macarons tinham exatamente a textura de que eu me lembrava. Eram macios e quebradiços e derretiam na boca. Apanhei mais um. E mais um. Fiz um café. E comi mais um, bocadinhas intercaladas com bicadas no meu café. 

Na manhã seguinte, o sol nos chamou para fora, e apanhamos as bicicletas para pedalar ao longo do lago. Atravessamos o parque e a rua onde ficam as cerejeiras, cujo rosa esmaecido sorria contra o céu azul sem nuvens. Continuamos por mais dez quilômetros até um parque distante, onde tirei da mochila um pote plástico com uma fileira de macarons. 

"Gosto mais das magnólias!", disse Allex, apontando para uma árvore madura num quintal da frente, explodindo em grandes flores tão rosa quanto os docinhos franceses. 

"Eu também."


.....

Vamos aos macarons. 

Antes de você se aventurar com a receita, assista a esse video aqui:
 
 
Mesmo que você não entenda inglês. O simples fato de você ver a pessoa fazendo já ajuda. Porque o preparo em si é muito simples. Se você acerta o ponto da massa e a temperatura do forno, dá tudo certo. Não, não saia inventando de trocar o açúcar e coisas do gênero. Faça exatamente como está na receita. E se der errado, vai continuar gostoso. Suspiro de amêndoa. Esmigalha tudo e come com morangos e chantilly. ;) Sem estresse. É pra ser divertido.

Meu forno aqui em Toronto é elétrico, o que facilita na manutenção da temperatura. Se o seu for de gás, use um termômetro de forno para ter certeza de que ele está regulado. 
 
Para meus macarons, usei um corante vermelho natural a base de framboesas, e aproveitei e recheei com geleia de framboesa também.
 
Lembre-se de fazer a receita um dia antes, porque ela precisa passar a noite na geladeira. 

Não se assuste com o tamanho do texto. É mais explicação do que esperar do que de fato coisas pra fazer. ;) Agora se joga e faz macaron numa quinta à tarde.

MACARONS
(do livro Chewy Gooey Crunchy Crispy, da Alice Medrich.)
Rendimento: cerca de 30-36 macarons montados e recheados

Ingredientes:
  • 2 xic. (225g) açúcar de confeiteiro
  • 1 1/3xic. (125g) farinha fina de amêndoas descascadas
  • 3-4 claras de ovo grandes, em temperatura ambiente
  • 1/4 colh.(chá) extrato de amêndoas
  • 3 -6 gotas de corante alimentício (opcional) - eu usei um natural
  • 3/4 xic. do recheio de sua escolha (geleia, ganache, nutella, buttercream, manteiga de amendoim, lemon curd...)

Preparo: 
  1. Combine o açúcar e a farinha de amêndoas numa tigela e misture cuidadosamente com um fouet. Passe por uma peneira uma ou duas vezes, até que a mistura esteja aerada. Isso facilita na hora de misturar às claras. 
  2. Num copo ou jarra medidor, derrame as claras até que elas preencham o espaço exatamente entre 1/3 e 1/2 xícara. Ou meça 105g. Guarde o restante das claras para outro preparo. 
  3. Transfira as claras medidas para a tigela da batedeira. Bata em velocidade média, até que formem picos moles quando o batedor é levantado. 
  4. Junte o extrato de amêndoas e corante, se estiver usando, e continue a bater em velocidade alta até obter picos firmes quando o batedor é levantado. Se você virar a tigela, as claras têm que se manter no lugar, sem escorrer pra lado nenhum, e até permanecerem na tigela quando viradas de ponta cabeça. Visualmente, elas devem ainda estar acetinadas, brilhantes e lisas. Se estiverem granulosas ou opacas, passaram do ponto e estão secas. 
  5. Coloque toda a mistura de amêndoas e açúcar sobre as claras. Usando uma espátula reta (não as com forma de colher), misture, trazendo as claras do fundo para o topo da farinha de amêndoas, num movimento circular. Você não precisa ser tão cuidadosa quanto seria com as claras em neve de um bolo. Pode misturar com um pouco mais de energia, mas não tanto que a massa desinfle totalmente. A massa vai, no entanto, ficar com metade do volume que as claras tinham originalmente, e está tudo bem. Pare assim que nãou houver mais traço de farinha de amêndoas e tudo pareça incorporado. A massa será espessa e úmida, com uma consistência que eu imagino que tenha lava quando ela está começando a esfriar.
  6. Você vai precisar de duas assadeiras grandes. Forre as assadeiras com papel-manteiga. Agora você pode usar uma colher de chá para colocar montinhos iguais na assadeira, deixando cerca de 3cm entre eles. Ou pode transferir a massa para um saco de confeitar com um bico pequeno (ou uma das pontas de um saco ziplock, como eu fiz, fazendo um corte bem pequeno na ponta) e usar o saco para formar montinhos. Nesse caso, aproxime o bico da assadeira, aperte, e deixe que a massa saia e espalhe até formar um círculo de uns 3cm.
  7. Agora pegue as suas assadeiras cheias de montinhos e, segurando nas laterais, levante e bata a assadeira uma ou duas vezes na bancada (veja o video). Isso vai tirar algumas bolhas grandes de ar que podem estar dentro dos macarons, e vai terminar de espalhá-los. Agora, sem cobrir, deixe as assadeiras em temperatura ambiente por pelo menos 30 minutos, mas não mais do que 1 hora, dependendo da umidade do ar. O descanso vai ressecar a superfície e formar uma casquinha fina. Os macarons estão prontos para ir ao forno quando estiverem opacos e você conseguir tocá-los suavemente sem melecar o dedo. 
  8. Enquanto isso, aqueça o forno a 205oC. Posicione as grades do forno nos terços superior e inferior.
  9. Coloque os macarons descansados no forno e IMEDIATAMENTE abaixe o fogo para 150oC. (Isso vai ser o mínimo na maioria dos fornos. O meu forno do Brasil era desregulado, e, usando um termômetro, descobri que o mínimo dele era 180oC. Para conseguir 150oC pra assar suspiros, eu abaixava para o mínimo e deixava a porta entreaberta com uma colher de pau,como minha avó.) Asse nessa temperatura baixa por 12 a 15 minutos, trocando as assadeiras de posição no meio do cozimento. Durante esse tempo de forno, eles vão crescer um pouco para cima, não muito, e criar aquele pézinho típico dos macarons. 
  10. Para saber se estão prontos, eles precisam parecer secos em cima. Toque suavemente um deles, no meio, para sentir se estão muito moles ou se parecem estar bem estruturados (pense suspiro). Você também pode segurar as laterais de um deles e tentar balançá-lo para os lados bem de leve. Se ele parecer se agarrar à assadeira, está pronto. Se ainda estiver dançando e parecer solto da base, volte ao forno por mais uns minutos. Os meus demoraram uns 18 minutos para ficarem prontos. Vai depender mutio do seu forno e do quanto você ficar abrindo e fechando a porta dele.
  11. Retire as assadeiras e coloque-as sobre grades para esfriarem. 
  12. Quando estiverem COMPLETAMENTE frios, retire-os do papel-manteiga, erguendo o papel, segurando o macaron e puxando O PAPEL delicadamente, como quem descasca uma banana. Se você segurar os macarons e puxá-los pra cima, as bundinhas vão se destacar e ficar grudadas no papel. 
  13. Faça os pares dos biscoitos. Segure aquela que vai ser a base, e coloque de 1/2 a 1 colh. (chá) de recheio. Pressione o biscoito de cima com cuidado, para que o recheio espalhe até as beiradas. 
  14. Guarde os macarons em potes fechados e leve à geladeira por NO MÍNIMO 8 horas. Nesse tempo, eles vão perder a textura de suspiro e ganhar a famosa textura dos macarons. Tire da geladeira alguns minutos antes de servir, para que voltem à temperatura ambiente.
 

terça-feira, 27 de abril de 2021

Os adultos que eles vão ser um dia. E popovers que, como crianças, eu fiz sem saber no que iam dar.


Até a primavera entendeu o feelling dessa quarentena.

Thomas, meu filho, tem dez anos, agora. Dez anos são duas mãos cheias, espalmadas, que, quando estiradas para os lados na ponta dos braços, formam um abraço comprido que me enlaça a cintura inteira. Como isso é possível? Lembro quando minhas mãos eram tão grandes que seguravam todo o seu corpo feito um saquinho de leite.

Ainda existem sacos de leite no Brasil? Aqui no Canadá compramos leite em sacos: um saco grande que comporta 3 sacos menores, totalizando 4 litros. Há um apetrecho de geladeira de 1 dólar e 99, que se usa para manter os sacos empilhados, e uma jarra de plástico de 1 dólar e 99, com uma vaquinha estampada em dourado, para acomodar o saco aberto, cortado com tesoura na pontinha, como era na minha infância. Gosto do leite em sacos. O que não gosto é de saber que são 4 litros de leite divididos em 3 sacos. Cada saco contém, portanto, 1,3333333333...ao infinito de leite. O que me faz pensar como diabos se mede infinitas partes de leite num saco. Ou que na verdade cada saco contém exatos 1,3 litros de leite e e eu fui roubada dos meus preciosos mililitros infinitos. Quem consegue dormir sabendo disso?

Enfim. Meu filho tem dez anos e é ele normalmente quem troca o saco de leite da jarra de plástico. Ele faz um corte pequeno demais na ponta com a tesoura da cozinha, e frequentemente o leite sai do saco num jato arqueado que erra a xícara. Mas eu fico feliz que meu filho de dez anos lembre de trocar o leite da jarra.

Dez anos é uma idade importante. Com dez anos, meu filho pode sair da escola sozinho. Com dez anos, ele pode andar pelas ruas da cidade, sem que ninguém olhe para trás procurando os pais da criança. Com dez anos, o governo diz que eu não sou uma mãe horrível se ele ficar sem supervisão em casa por algumas horas. 

Às vezes eu olho para esse menino de dez anos largado na minha poltrona amarela. Seu rosto sério enfiado num livro de dinossauros. O livro, por sua vez, apoiado às pernas de girafa dobradas à sua frente, como um muro que separa sua consciência do mundo acontecendo à sua volta. E eu me dou conta de que seu maxilar está mais largo, que seu corpo comprido ocupa todo o espaço da cadeira, que a massa de músculos entre seus ombros e sua cintura formam um perfeito trapézio, já distante das proporções infantis às quais me acostumei por uma década. Ele ergue os olhos das páginas para me olhar sob sobrancelhas pensativas, e eu vejo o homem que ele vai ser um dia. 

O encanto se quebra quando sua expressão relaxa, e ele me conta seus planos de ser um cientista, morando dentro de um vulcão, onde pretende criar um Indominus Rex de verdade. 

Meu filho de dez anos.

Então, numa manhã comum, enquanto cada um preparava o próprio café-da-manhã (Allex e seu smoothie, Laura e seu ovo frito com legumes, Thomas e seu mingau de aveia e eu ainda no meu cappuccino, esperando a fome aparecer), Thomas disse que queria ir ao mercado sozinho. 

"Qual mercado?", perguntei. Há um mercadinho vinte e quatro horas a 350 metros de casa, aonde Thomas já foi sozinho algumas vezes para comprar baguetes para o café.

"No NoFrills", ele disse.

NoFrills é uma rede de supermercados equivalente ao Extra, cuja loja mais próxima fica a exatamente um quilômetro de casa, subindo a avenida movimentada ao longo do parque. Esse ponto é um mercado razoavelmente pequeno, mas onde tenho evitado levar as crianças desde o início da quarentena. É onde faço metade das minhas compras semanais.

"Pra quê você quer ir lá?", perguntei, sentindo apitar no ouvido a vontade de dizer não. 

"Quero comprar um treat pra vocês", ele respondeu. Minha expressão deve ter sido de confusão, pois ele imediatamente começou a explicar: "Você e o papai andam muito sad. Vocês não have fun anymore."

"A gente quer fazer uma festa pra vocês!", Laura interrompeu, casualmente, como se o fato de estar de cabeça para baixo, sustentando o corpo sobre as mãos espalmadas e com os pés ao alto, levemente apoiados à parede, não tivesse nenhuma influência no tom da conversa.

"É. A gente quer fazer uma festa, para vocês pararem de trabalhar e have fun again."

Foi como um soco no estômago. Um soco carinhoso e bem intencionado, mas ainda assim um gancho de direita logo abaixo das costelas. Eles tinham razão. Nós estávamos "sad". Tristes. Nós estávamos trabalhando muito e not having fun anymore. Sabíamos disso. Eu havia já mencionado a Allex minha dificuldade em me abandonar a qualquer espécie de diversão genuína, sem sentir o peso do mundo lá fora e das preocupações espremendo meu peito como um torno. As duas semanas anteriores haviam sido particularmente complicadas: pincei um nervo no pescoço e comecei a sentir dores elétricas e dormentes em todo o meu lado direito. O fato de que as dores pioravam sempre que eu me deitasse me impedia de dormir ou mesmo ficar naquele tal repouso que recomendam para nervo pinçado. Passei madrugadas chorando de dor e exaustão, sem conseguir dormir mais de duas horas por noite. Depois da quinta madrugada, fui a um pronto-socorro, onde me deram uma dose cavalar de remédios e marcaram uma ressonância magnética para o dia seguinte. A ressonância confirmou o que já sabíamos: que meus nervos estavam pinçados entre algumas vértebras do pescoço, e que isso havia sido causado pela pressão dos músculos tensos e travados em volta. Ibuprofeno, Tylenol e quiropraxista para os músculos. E CBD para a ansiedade. 

As dores começavam a ir embora quando as crianças propuseram a festa. Eu já conseguia dormir, ainda que não noites inteiras.

Dor é uma coisa engraçada. Ela muda tudo. Sem dor, eu ia dormir desejando que a pandemia acabasse, que a quarentena tivesse fim, pré-requisito essencial para a reestruturação da minha felicidade. Com dor, eu rezava a deuses antigos para conseguir dormir. Dormir, esse desejo tão simples. Se eu puder dormir, serei feliz. 

E, dormindo, vi restaurada aquela alegria besta de quem ri à toa da piada do tio do pavê. 

Não sentir dor é lindo.

"Tá bom, filho", eu disse. "Quando você vai ao NoFrills?"

"Depois da escola. Mas eu também quero passar na biblioteca."

A biblioteca fica, em termos de esquinas, na diagonal oposta ao mercado. Apenas uma pessoa por vez tem permissão de entrar, se besuntar de álcool, mostrar a carteirinha para o bibliotecário e pedir o livro encomendado. Para facilitar as coisas, a biblioteca também tem "Grab And Go Bags" (sacolas pegue-e-vá): sacolas de papel pardo, cheias de livros que você leva para casa às cegas, apenas com base nas dicas que o bibliotecário escreveu nas sacolas: "Livros de 8-10 anos, aventura e dinossauros", "Romances ingleses do século XIX", "Livros infantis, 4-6anos, sobre amizade e diversidade".

"Tá bom. Então entre biblioteca e mercado, você deve ficar não mais que uma hora fora de casa. Se você demorar mais que uma hora, eu vou atrás de você", avisei, dando-me conta de que essa seria a maior quantidade de tempo que ele já passara sozinho na rua. Eram quinze minutos para ir e voltar do 24 horas. Eram oito minutos entre o parque e o nosso apartamento, quando ele precisava voltar correndo para usar o banheiro e o pai, trabalhando, me avisava por Whatsapp quando ele entrara e quando saíra para me encontrar no parque outra vez. 

Uma hora inteira.

"Tá", disse ele, assentindo firmemente com a cabeça, como um soldado recebendo uma missão.

Depois da escola, ele apanhou a mochila da escola, uma sacola de mercado, a chave de casa, seu porta-moedas de unicórnio e seu cartão da biblioteca. 

"Leva meu celular, só em caso de você precisar", eu disse, colocando meu telefone dentro de sua mochila. "E é SÓ mercado e biblioteca. Não é pra entrar em mais nenhum lugar. ESSE É O COMBINADO."

"Ok."

Fiquei observando o girar dos trincos da porta, quando ele usou as chaves para trancá-los pelo lado de fora. Trinco dourado. Trinco prateado. Cujas chaves, curiosamente, têm as cores trocadas. Laura deu duas estrelas, uma parada de mão e um salto dançante sobre o sofá, quando foi em direção à janela que dá vista para a avenida. Diz ela que avistou o irmão correndo na calçada, mochila azul e casaco azul avenida acima, até desaparecer por trás dos prédios que encobriam o caminho. Imediatamente, Laura cruzou os braços e as pernas e começou a reclamar. O irmão podia fazer tantas coisas. Ela não. Não via a hora de ter dez anos também.

Expliquei, tentando não tornar óbvio meu revirar de olhos, que não era a idade que dava a Thomas liberdade, mas a responsabilidade que ele havia demonstrado em outros momentos. O modo como atravessava as ruas, como respeitava os combinados, como cumpria com suas tarefas sem que eu precisasse lembrá-lo delas. "Quando você me mostrar que tem responsabilidade, você vai ter mais liberdade", eu disse. "Começa com você, filha. Não é a idade, ainda que alguma maturidade venha sim com a idade. Faz parte do desenvolvimento. Mas veja só: quantos amiguinhos seus de oito anos têm permissão pra usar o fogão sozinhos?"

"Ahn... nenhum. Mas eu tenho!"

"Sim, você tem. Porque você mostrou responsabilidade e maturidade lidando com facas e fogo e coisas fervendo, e eu sei que eu posso confiar em você na cozinha. Você não brinca com as facas e não faz nada perigoso perto do fogão. Você presta atenção e é cuidadosa. Você cumpre as regras e os combinados na cozinha. Então você pode cozinhar sozinha. Quando mostrar essa mesma responsabilidade em outras áreas, vai poder ir ao mercado sozinha também."

"Argh", resmungou, largando os braços e jogando a cabeça para trás, numa expressão aborrecida muito típica de desenhos animados. Pensei em como o fato de meus filhos emularem personagens de cartuns para comunicar suas emoções facilita meu trabalho na hora de desenhá-los.

Apesar de ter entendido a conversa, ela ainda fazia questão de demonstrar fisicamente seu aborrecimento. Eu poderia ter deixado quieto. Mas sabia que tudo o que ela queria era ter também algo de interessante para contar ao irmão depois.

"Laura, você quer fazer o jantar hoje? Enquanto a gente espera seu irmão voltar?", tentei.

A resposta foi o sim explosivo que eu esperava.

"Tá. Vou te ensinar a fazer risotto, então."

"Aaaaaargh. Mas eu não queria fazer risotto. Pode ser sopa?"

"Sopa?? Tá bom."

Eu não queria jantar sopa. Mas achei que jantar com paz familiar seria mais apetitoso do que um risotto emburrado.

Enquanto Thomas se aventurava no mercado, Laura descascou e picou fininho uma cebola, duas cenouras, um talo de salsão, um punhado de salsinha, quatro batatas e umas tiras de bacon. "Pô, ela pica legume mais rápido que eu", disse Allex, enquanto apanhava seu chá para voltar a mais uma reunião. "Ela pratica bastante", eu disse. Laura pica legumes melhor que a maior parte dos adultos que eu conheço. "Laura é uma máquina de picar".

Tendo a mãe ao lado, dando dicas dos próximos passos, Laura dourou o bacon, carregou os legumes picados com a lâmina da faca até a panela, refogou tudo, mexendo com uma colher na mão direita, enquanto casualmente apoiava a mão esquerda à cintura. Ela acrescentou o caldo, a casca de parmesão para dar sabor, e ficou de olho no ponto da batata como sinal de que era pra juntar o arroz. Acertou o fogo, experimentou o tempero. Decidiu quando estava tudo bom o bastante para servir, e, na hora do jantar, serviu, cheia de orgulho, duas conchas grandes de sopa para cada um, sem derrubar uma gota na mesa.

A sopa da Laura.

Quando o irmão abriu a porta de casa, ela correu não para saber dele, mas para contar como ela tinha preparado o jantar sozinha. O som daquelas chaves virando outra vez os trinco de cores diferentes foi um alívio imenso. Ele estava de volta em casa dez minutos antes da uma hora combinada.

Thomas tirou os sapatos, lavou as mãos, guardou a máscara, e veio nos mostrar o resultado de sua empreitada.

"Eu comprei isso para a festa", disse, colocando sobre a bancada da cozinha um tubo de batatas Pringle's sabor Barbecue. "É do Halo!", explicou, empolgado, apontando para o desenho do soldado de video-game na embalagem. "E eu comprei isso para mim, e isso para a Laura." Ele segurava, em cada uma de suas grandes mãos de dez anos, um saco com um quilo de balas de uma marca genérica de supermercado. "E eu fui na biblioteca e peguei esses aqui!" Ao lado de sua mochila, estavam duas sacolas Grab And Go de papel pardo: "Histórias em quadrinhos, 10-12 anos, Batman e SpiderMan" e "Ficção, 8-10 anos, com mensagens positivas". 

"Thomas foi sozinho ao mercado e voltou com doces e histórias em quadrinhos", disse a Allex, quando ele saiu do quarto-escritório. "Já é praticamente um homem de quarenta anos", brinquei.

"Ha. Ha. Ha. Engraçadinha", ele retrucou.

As compras do Thomas.


"E como você se sentiu indo sozinho no mercado, Thomas?", perguntei, fingindo tranquilidade. Tentava conter meu impulso de reclamar da quantidade colossal de jujubas e balas de goma que ele havia comprado. Como na vez em que nos comunicamos mal e ele, aos 8 anos, voltou para casa da escola sozinho de bicicleta. Ele estava tão feliz com a aventura, sem a menor ideia do que havia feito de errado, que respirei fundo e me forcei a primeiro perguntar sobre a experiência, para depois pedir que não saísse pedalando sozinho por aí sem me avisar.

Maternidade zen. Pelo menos de vez em quando.

"Eu em senti confiante", ele disse, com um sorriso que ocupava toda a largura daquele maxilar de gente grande. "Eu fiquei muito feliz porque você confiou em mim. Eu tô muito proud of myself."

Tudo o que uma mãe quer ouvir.

Naquela noite, jantamos a maravilhosa sopa da Laura, tivemos jujubas de sobremesa, e as crianças leram gibis do Homem Aranha até a hora de dormir.

Ao longo da semana, eles continuaram falando da festa, criando convites, planejando músicas e decorações, e dividindo tarefas entre eles. No domingo, Allex e eu observamos, positivamente impressionados, enquanto as crianças arrumavam o quarto, passavam pano nos móveis, e aspirador no chão. Eles penduraram bandeirinhas e cartazes. Colocaram na bancada do quarto uma pilha de pratos, guardanapos de papel e os copos vermelhos descartáveis que guardamos para festas. Arrumaram os chips e os doces em potinhos ao lado de jarras de água e suco de maracujá. 

Quando o relógio deu cinco horas, a música começou: Alestorm. Alestorm é uma banda de metal-farofa que só faz músicas de pirata. Thomas fechou a porta do quarto atrás de nós, ofereceu chips e anotou nossos nomes nos copos descartáveis com uma caneta Sharpie preta de ponta grossa, "pra gente saber de quem é o copo".

"Aqui é o Chill-Out Spot", explicou Laura, apontando para o cobertor vermelho esticado sobre sua cama bem feita como nunca, e a pilha de almofadas peludas formando um canto aconchegante para relaxar, caso a festa ficasse muito louca. 

"Bom, nossos filhos já estão prontos pra faculdade",comentei com Allex por trás do meu copo de suco. "Eles já sabem fazer festa em dormitório", eu ri. 

Dançar com eles aliviou a tensão em meu pescoço. Ri deles e com eles, e a festa terminou com um filme em família, pizza pedida pelo pai, e uma torta de limão que Laura havia ajudado a preparar. 

"Você gostou da festa, mamãe?", perguntou Laura, me abraçando o pescoço com cuidado, já deitada na cama. 

"Foi a melhor festa que vocês já fizeram!", respondi, honestamente. "Eu fiquei muito impressionada com o empenho de vocês."

"Que bom."

"Obrigada pela festa, e obrigada pelo feedback. Eu gostei muito que vocês vieram falar com a gente, tá?"

"Tá."

"Só lembra que não tem nada a ver com vocês. A gente só tá cansado dessa quarentena. Só isso."

"Vai passar, mamãe. Não é pra sempre. Você e o papai só precisam trabalhar menos e se divertir um pouco". 

"Você tem razão". 

"Na próxima vez, eu que vou buscar a pizza", Thomas disse, com os ombros já enfiados embaixo das cobertas. 

"Ok. Tô muito orgulhosa de vocês dois", eu disse, cobrindo os dois de beijos estalados. Thomas esticou os dois braços compridos para fora da cama, pedindo um abraço. E aquele abraço longo de dez anos me cercou inteira. Quando fechei a porta do quarto já escuro, vi os dois deitados, cada um em sua parte do beliche, ansiosos para serem deixados em paz para conversarem até caírem no sono. E vi os adultos que eles vão ser um dia. 

 

.....


Naquela semana, depois da bronca das crianças, eu resolvi me divertir um pouco. As dores melhoraram, e eu quis preparar algo diferente para o café da manhã. Algo que eu nunca havia feito antes. Apanhei o livro que eu emprestara da biblioteca e decidi preparar Popovers.

"Popovers?",perguntou Laura. "O que é isso??"

"Eu não sei", respondi, honestamente. "A gente vai descobrir quando ficar pronto". 

Como crianças, que você decide fazer sem saber no que vai dar, os popovers também apresentaram imprevistos: 

"Droga. A massa precisa descansar meia hora antes de ir pro forno", resmunguei.

"O que isso quer dizer?", Laura perguntou.

"Quer dizer que o café-da-manhã vai demorar mais um pouco."

"Aaaaargh."

"Sim. Argh."

Quando ficaram prontos, descobri que eles são a versão individual e salgada daquelas German Pancakes ou Dutch-Baby pancakes. Acho que era esse o nome. A versão familiar é uma massa rala de panqueca, que você despeja na frigideira já bem quente e com gordura, e enfia no forno. A massa cresce como um souflé, e desinfla assim que sai do forno, e você polvilha com açúcar antes de servir. Os popovers, por sua vez, são uma massa rala de paqueca, que você despeja nas forminhas de muffin já bem quentes e com gordura. Os popovers crescem como soufflés, e desinflam assim que são tirados do forno. E você os come com manteiga e geleia.

CORNMEAL POPOVERS

(do livro One Good Dish, de David Tanis)

Rendimento: 12 unidades, ou 4 pessoas

 

Ingredientes:

  • 2 colh. (sopa) manteiga sem sal, em temperatura ambiente, para untar as formas
  • 3 ovos grandes
  • 1 xíc.leite
  • 1/3xic. buttermilk (ou leite com uma colherinha de vinagre)
  • 1/3 xic. água
  • 3/4 xic. farinha de trigo
  • 1/4 xic. farinha de fubá
  • 1/2 colh (chá) sal
  • 2 colh (sopa) manteiga, derretida

 

Preparo: 

  1. Pré-aqueça o forno a 190oC. Unte generosamente com a manteiga as 12 cavidades de uma forma de muffins. 
  2. Numa tigela, bata com um fouet os ovos, leite, buttermilk e água, até que fique homogêneo.
  3. Junte a farinha fubá e sal para fazer uma massa rala.
  4. Junte a manteiga derretida e misture com o fouet até que fique homogêneo. 
  5. Deixe descansar por pelo menos 30 minutos. Quando faltarem 5 minutos para colocar assar os popovers, coloque a forma de muffins preparada no forno, para que esquente bem.
  6. Retire a forma quente e, rapidamente, coloque 1/4 xic. de massa em cada cavidade. A massa vai ser bem líquida ainda. Leve imediatamente ao forno e asse por 25-30minutos, até que estejam bem dourados e inflados.Sirva imediatamente.

quinta-feira, 8 de abril de 2021

A fila da montanha russa. Scones, biscoitos, biscotti.

 

 

Ele tem me chamado de Solange Frasão. Às vezes de Pugliesi. Então tenta buscar na memória algum outro nome de musa fitness, sem sucesso, e repete a primeira, enquanto eu guardo os kettlebells no lugar, e enxugo o suor que escorre pela testa e pinga da ponta de meu nariz. Eu rio, e faço alguma piada autodepreciativa (um velho hábito com o qual preciso parar) comparando meu físico com o delas, ao que Allex sorri de volta e diz "You are MILFing right."

Eu não sei se estou MILFing, or whatever, sei apenas que me sinto forte. E sentir-se forte é bom numa época em que o mundo inteiro nos faz sentir impotente.  

Desde o começo do ano, quando finalmente consegui colocar meu pé no chão sem sentir ondas agudas de dor geradas no meu calcanhar e subindo por minha coluna, voltei a correr regularmente. Mas desta vez, repleta de uma cautela quase traumática, resolvi ter paciência e respeitar o fato de que meu corpo não tem mais vinte anos; mesmo que os funcionários da loja de bebidas continuem me pedindo a carta de motorista quando compro meu vinho de sexta-feira. (É essa pele de nenê que herdei da minha vó.) Eu posso ter esse rostinho "xófem", mas a fascite plantar será um lembrete eterno do fato de que meu corpo tem sim 41 anos e requer mais responsabilidade. 

Foi assim que voltei a treinar kettlebell direito e me alongar decentemente, ao invés de fazer aquela meia dúzia de exercícios com peso leve e sentar na escrivaninha para trabalhar imediatamente após correr 15km. Coisas das quais você se safa quando tem vinte anos. Lembrando mais uma vez, porque às vezes eu esqueço: EU NÃO TENHO 20 ANOS. 

Mas se com vinte anos eu não via vantagem em ficar forte, e fugia da musculação achando tudo uma grande bobagem, hoje me vejo quase mais ansiosa pelos treinos de força do que pela corrida em si. Ouso dizer que é a vontade de levantar pesos que tem me levantado da cama. 

Honestamente, apesar das piadas infames e dos textos bem humorados que tenho publicado no Instagran, poucas coisas têm me tirado da cama nos últimos meses além do senso de responsabilidade com relação a meus filhos.

Houve muitos dias em que eu só queria chorar e dormir.

Mas assim como tenho consciência de que em alguns dias por mês minha irritabilidade, fragilidade emocional, cansaço ou depressão têm fontes puramente hormonais, tenho feito um esforço para me lembrar de que essa sensação de ter um rinoceronte sentado no meu peito quando abro meus olhos de manhã é puramente circunstancial. Essa não sou eu.

Repita: ESSA NÃO SOU EU.

Deixo o choro vir e coloco em palavras, às vezes escritas, às vezes ditas a um ouvido amoroso, toda a angústia que me aflige. Lembro e repito aquelas descrições tão precisas de Bukowski e Sylvia Plath: é como se enxergasse e ouvisse tudo através de uma névoa; é como se estivesse sob uma redoma de vidro.

É como se meu corpo tivesse perdido a sensibilidade. A pele formiga, os olhos embaçam, algo obstrui os ouvidos, não há sabor na língua. Não gosto mais da minha música favorita.

Nada me toca.

Mas eu não sou mais a menina adolescente que chorava na frente do espelho para admirar o brilho trágico das próprias lágrimas. 

Repita: ESSA NÃO SOU EU.

Sentei-me um dia em minha poltrona, num ato mecânico de uma inteligência artificial que descobre não estar viva, e, de olhos fechados, listei mentalmente todas as coisas que me davam prazer.

Ler naquela poltrona, com uma xícara de chá.

Escrever um texto engraçado.

Gansos em formação, atravessando o céu da cidade.

Esquilos comendo castanhas com suas mãozinhas minúsculas.

Cheiro de manjericão.

Correr longe.

A vibração dos músculos depois de um treino de força.

Quando a comida está tão boa que a gente sorri e diz HMMMMMM.

Abraços.

Beijos.

Olhar o lago.

Terminar uma pintura.

A risada dos meus filhos.

Descobrir um vinho bom.

Mingau de aveia quente com maple syrup.

Passeios de bicicleta com as crianças.

A sensação de competência quando consigo usar toda a comida da casa até a geladeira e a despensa ficarem vazias, como a resolução de um quebra-cabeça muito difícil.

Piqueniques.

Mato.

Dançar na sala.

Conversar com uma amiga.

O modo como o cheiro de cada livro meu me lembra de onde estava quando o li pela primeira vez.

Churrasco na varanda.

Conversar com Allex até esquecer que estávamos vendo um filme.

A textura do spaghetti.

Luz de abajur no começo da noite, quando as crianças adormecem e a casa é silêncio.

O som de "KA-TCHING!"que o aplicativo do Etsy faz toda vez que vendo uma pintura, e a reação das crianças ao ouvir a notificação: "Mamãe vendeu um desenho! Mamãe vendeu um desenho!"

Ver a lua cheia da janela do quarto escuro. 

Receber mensagens de quem está lendo meu livro e gostando.

Descobrir que consigo fazer algo que eu achava que não conseguia.

Flores.

O barulho da caldeira da máquina de café ligando de manhã.

Enfiar os pés embaixo da coberta e sentir os lençóis limpos ainda gelados.

Cheiro de xampu no cabelo lavado.

Lembrar de um momento bom que eu tinha esquecido.

Croissant com geleia. 

Piadas internas.

O silêncio antes de uma ideia.


Devagar, comecei a buscar minha sensibilidade perdida. Tentar entender porque é que essa lista inteira não funcionava mais, e fazê-la voltar a funcionar. Afastar a névoa dos olhos. Levantar a redoma. Se a vida anda mecânica no fundo do poço, vou mecanicamente encontrar uma saída dele. Só preciso lembrar de que essa não sou eu. 

Repita: ESSA NÃO SOU EU.

De todas as minhas fontes de prazer, atividade física intensa tem sido o remédio mais potente. Ver meu corpo correndo mais rápido, ficando mais forte, executando movimentos novos, é prova irrefutável de que o tempo ainda existe, e de que melhoras são possíveis. 

Aproveito a dose cavalar de endorfina pulsando em minhas veias para buscar cores em atividades antes cinzentas. Escrevo um texto engraçado. Inspiro fundo o cheiro do xampu enquanto seco os cabelos. Ganho um beijo na nuca. Rio alto de uma piada besta. 

Abraço.

As coisas vão bem até não estarem bem de novo.Até a preocupação virar tensão e a tensão travar meu pescoço. Até a preocupação virar insônia e eu não conseguir recuperar meus músculos dos exercícios do dia anterior. E eu precisar parar tudo de novo. E de novo. Lembrando que todo o resto está também parado. E esperar passar. Lembrando que tudo o que faço é esperar passar. 

Às vezes choro, porque só queria conseguir dormir.

Abraço.

Gansos voando em frente à minha janela.

A luz da primavera faz o lago ter outro tom de azul. 

As coisas não estão bem até estarem bem de novo. Como o abre e fecha do comércio em Toronto. Como o abre e fecha das escolas. Enquanto escrevo isso, voltamos à escola online. Enquanto reviso o texto, sai uma nova ordem (DE NOVO) de ficar em casa por mais um mês.

Seria uma montanha-russa emocional. Mas não é. Montanhas-russas são divertidas. Eu não estou em uma montanha-russa. Estou há quatro horas na fila, embaixo do sol escaldante, com a excursão da terceira série gritando atrás de mim. E quando finalmente chegar minha vez, o brinquedo estará quebrado, fechado para manutenção. Sem reembolsos. 

Corro. Levanto pesos. Sorrio contente porque consegui fazer flexões de braço. Eu nunca tinha conseguido fazer flexões de braço. Sento em minha poltrona para ler com uma xícara de chá. Beijo. Abraço. Sorrio outra vez quando ouço a caldeira da cafeteira esquentando ao meio-dia. Um espresso depois do almoço. Um cochilo de conchinha. 

Minha pele volta a sentir, e o que enxergo tem definição. Mas é preciso estar atenta. Não me deixar levar pelos desastres miniatura da vida dos dias iguais. Essa água fria que lava a alegria e pesa nos pés. Encontrar de novo um jeito de ter prazer e relaxar para conseguir dormir. E, dormindo, ter força para fazer força. 

Quero ter forças para fazer força.

Escolho receitas que eu nunca fiz para que hoje seja diferente de ontem. Para acordar meu paladar adormecido.Chamo as crianças para fazerem comigo um biscoito que elas nunca comeram.

"Vai Solange!", ele diz. Eu rio.É bom rir. Meu corpo vai lembrando aos poucos como é bom rir. Rio de um par de gansos tentando fazer ninho na varanda do prédio da frente. Rio dos absurdos que as crianças dizem. Faço um desenho. Rio de uma coleção de Memes estúpidos que só têm graça porque não têm graça. "Não acredito que você está rindo disso", ele diz, encantado com minha capacidade de chorar de rir com uma piada tão segunda-série.

Ando no mato. O mato me traz uma saudades do Gnocchi que me abre um buraco por dentro que quase não consigo conter. Choro um pouco. Choro muito. As crianças me abraçam. "É o Gnocchi, né, mamãe?" Também, eu respondo, sincera.

Voltamos para casa e as crianças pedem música.

Everything's not awesome
Things can't be awesome all of the time
It's an unrealistic expectation
But that doesn't mean we shouldn't try
To make everything awesome
In a less idealistic kind of way
We should maybe aim for not bad
'Cause not bad right now would be real great.

 A sabedoria de Lego Movie 2.

E vamos indo. Nada incrível. Apenas não-ruim. Não-ruim está bom. No meio dessa fila sem fim para um passeio de montanha-russa que nunca chega. Convencendo as crianças de que não vai demorar muito mais. Vamos jogar um jogo enquanto isso. Fazer um piquenique. Alguém trouxe um baralho?

RESPIRA.

....

Ano passado, a quarentena me fez buscar comidas fáceis e confortáveis, pratos que não precisavam de receita. Muito da minha atenção era voltada à novidade da escola online e de todas as dificuldades causadas pelo Lockdown no Canadá e pelo isolamento social, que aqui aconteceu de verdade. Um ano depois, essa estratégia não mais me serve. Não há novidade mais em estar em casa, em crianças estudarem no computador, em restaurantes e lojas e museus fechados, em não podermos ver os amigos, em termos medo de ficarmos doentes. Quem tem ditado a novidade é a comida. (Antes era o vinho,mas isso não faz bem.) Não todos os dias, pois não tenho energia mais para testar receitas novas todas as noites, como era no passado. Mas algumas vezes por semana. Um bolo diferente, um biscoito que ninguém conhece, um jeito novo de comer rabanetes, uma carne que eu nunca fiz. Qualquer coisa que me faça lembrar da passagem do tempo, e que traga prazer aos dias. 

Estas são três receitas que fizeram estrondoso sucesso aqui em casa. 


A primeira, scones de azeite,erva-doce e uva-passa, deliciosos para o café da manhã. Tão fáceis porque congelá-los faz parte do processo, o que quer dizer que você pode assar quantos quiser de manhã cedo e ter um café da manhã diferente em vinte minutos, enquanto você checa as notícias de manhã, bota uma música, manda um Bom-Dia pra família pelo Whatsapp.

 

Os biscoitos amanteigados de trigo sarraceno e nibs de cacau foram devorados pelas crianças, e me trouxeram a lembrança gostosa de quando Thomas nasceu: preparei esses biscoitos há dez anos atrás, e levei um pote deles comigo na maternidade (a louca).

 

Sim, isso quer dizer que Thomas fez dez anos. DEZ ANOS. Partiu-me o coração o fato de ser seu segundo aniversário sob quarentena. Ele preparou comigo seu bolo de baunilha da Alice Medrich (tem aqui no blog), recheado de doce-de-leite e coberto de chantilly e morangos. Combinação que ele pediu. Também pediu hambúrgueres de almoço e a pizza de gorgonzola da mamãe de jantar. "Quero ver Jurassic World EM FAMÍLIA, todo mundo junto", ele disse. Claro, pimpolho. Eu queria escrever um post inteiro sobre seus dez anos. Mas não consegui. Não com o tom que eu queria. Eu desejava mais para ele do que esses dias trancados.


Os últimos, biscotti de fubá, foram feitos no improviso, numa noite em que eu não tinha o que mandar de lanche no dia seguinte e não tinha lá muitos ingredientes pra fazer qualquer coisa. Eu não tinha manteiga, quase não tinha farinha de trigo, e me restavam dois ovos na geladeira. Achei uma receita de biscotti de azeite e fubá da Alice Medrich, que adaptei para não usar castanhas (proibidas na escola), acrescentando sementes de erva-doce. Os biscotti tinham gosto de bolo de fubá, acabaram em dois dias, e a receita vai ser repetida muitas vezes.

 SCONES DE ERVA-DOCE, PASSAS E AZEITE

(Do livro Baking Handbook, de Martha Stewart)

Ingredientes:

  • 3 colh. (sopa) sementes de erva-doce, e mais um pouco para polvilhar por cima
  • 4 xíc. farinha de trigo
  • 2 colh (sopa) fermento químico em pó
  • 1 colh. (sopa) açúcar
  • 1 colh (chá) bicarbonato de sódio
  • 1/2 colh (chá) sal
  • 115g manteiga sem sal, gelada, cortada em cubos
  • 1 1/2 xic. passas amarelas, de preferência o tipo sem semente, picadas grosseiramente
  • 1/2 xic. + 1 colh (sopa)  azeite de oliva extravirgem
  • 1 1/2 xic. creme de leite fresco
  • 1 ovo, batido

Preparo:

  1. Forre uma assadeira com papel-manteiga.
  2. Coloque as sementes de erva-doce em um pilão e transforme-as numa farofa grosseira. 
  3. Numa tigela grande, junte farinha, fermento, açúcar, bicarbonato e sal. Junte a manteiga e esfregue com os dedos, até obter uma mistura que pareça uma farofa bem grossa. 
  4. Junte as passas e as sementes moídas, 1/2 xic. azeite, e o creme. Misture com uma espátula, apenas até que forme uma massa. Se a massa parecer muito seca, junte mais creme, uma colher por vez. 
  5. Despeje a massa numa superfície ligeiramente enfarinhada. Com mãos enfarinhadas, junte a massa aos tapinhas, até que ela forme um disco de 3,8 a 4cm. 
  6. Com um cortador de biscoito de 7cm de diâmetro, corte quantos scones conseguir da massa. É importante que o corte seja feito como um carimbo, num movimento rápido para baixo e retirando para cima, sem girar o cortador. Girar o cortador pode interferir no modo como o scone vai crescer no forno. Junte os restos de massa e corte novamente até que não reste mais massa. Alternativamente (e é como vou fazer na próxima vez pra facilitar a vida), forme um retângulo de 4cm de altura e,com uma faca afiada, corte quadrados de 7cm de lado. BEM mais simples, né? 
  7. Coloque os scones na assadeira e leve ao freezer até que endureçam. Nesse ponto, você pode transferi-los para um saco plástico fechado e deixar a assadeira com o papel-manteiga pronta para assar os scones na manhã seguinte. Caso queira assá-los no mesmo dia, bastam duas horas de freezer.
  8. Preaqueça o forno a 180oC. Bata o ovo com a colher restante de azeite. 
  9. Posicione os scones com uns 5cm entre eles na assadeira com papel-manteiga. Pincele-os com a mistura de ovo e polvilhe com erva-doce. 
  10. Asse por 20-25 minutos (se estiverem congelados há mais tempo pode levar uns 5minutos mais),até que estejam dourados e com pedacinhos caramelizados. TRansfira para uma grade para que esfriem. Eles são mais gostosos comidos no mesmo dia. 

 

BISCOITOS AMANTEIGADOS DE SARRACENO E NIBS DE CACAU

(Do livro Chewy, Gooey, Crispy Crunchy, da Alice Medrich)

Rendimento: 48 - 60 biscoitos, mais ou menos, dependendo do tamanho


Ingredientes: 

  • 14 colh. (sopa)(310g) manteiga sem sal, em temperatura ambiente
  • 3/4 xic açúcar
  • 1/4colh (chá) sal
  • 1 1/2 colh. (chá) extrato de baunilha
  • 1 gema grande
  • 1 1/4 xic (160g) farinha de trigo
  • 3/4 xic (85g) farinha de trigo sarraceno
  • 1/3 xic. nibs de cacau

Preparo:

  1. Com uma colher de pau ou uma batedeira, bata a manteiga e o açúcar, sal e baunilha, até que fique homogêneo e cremoso, mas não fofo (cerca de 1 minuto na batedeira). 
  2. Junte o ovo e bata até incorporar.
  3. Junte as farinhas e os nibs de cacau e misture apenas até que não haja traços de farinha na massa. Sove a massa com as mãos por um minuto, para ter certeza de que todos os ingredientes estão bem incorporados. 
  4. Na bancada, polvilhada com um pouquinho de farinha, forme um rolo de 30cm de comprimento por 5cm de altura. (Eu fiz um rolo mais comprido, com uns 3cm de altura, porque queria biscoitos menores, que coubessem melhor nos potes de lanche). 
  5. Embrulhe em papel-manteiga e leve à geladeira por 2 horas ou, de preferência, durante a noite. A massa pode ser congelada assim por até 3 meses.
  6. Preaqueça o forno a 180oC, e posicione as grades no terço inferior e superior.
  7. Desembrulhe o rolo de massa e use uma faca afiada para cortá-lo em rodelas de um pouco mais de meio centímetro de espessura. Coloque-os nas assadeiras (sem untar nem forrar), deixando uns 4-5cm de espaço entre os biscoitos. 
  8. Asse por cerca de 14 minutos, trocando as assadeiras de grade no meio do cozimento, até que estejam ligeiramente dourados nas bordas. É mais difícil de notar isso com a farinha escura, mas eles tem que estar com um aspecto opaco.
  9. Retire do forno e deixe que esfriem na assadeira por 1 minuto antes de retirá-los para esfriarem completamente sobre uma grade. Eles se mantém bem por 1 mês em pote fechado hermeticamente. 

 

BISCOTTI DE AZEITE E FUBÁ
(Adaptado do livro Chewy, Gooey, Crispy Crunchy, da Alice Medrich)

Rendiemnto: 24-30 biscotti

 

Ingredientes:

  • 1 xic + 2 colh (sopa) (140g) farinha de trigo
  • 2/3 xic (104g) fubá 
  • 1/4 colh (chá) fermento químico em pó
  • 1/2 xic. azeite extravirgem
  • 2/3 xic. açúcar
  • 1/4 colh (chá) sal
  • 2 ovos grandes
  • Casca ralada de 1 laranja
  • 1 colh. (sopa) sementes de erva-doce

 

Preparo:

  1. Forre uma assadeira com papel-manteiga (ou unte com manteiga). Preaqueça o forno a 180oC.
  2. Numa tigela, combine a farinha,fubá e fermento.
  3. Num pilão, quebre as sementes de erva-doce, até que algumas tenham virado pó e outras estejam em pedaços menores. Não tem problema se alguma ficar inteira. Junte as sementes à farinha.
  4. Na tigela da badeteira, bata o azeite, açúcar, sal, ovos e casca de laranja, em velocidade alta, por 3-4 minutos, até que a mistura esteja clara e tenha engrossado um pouco.
  5. Junte a mistura de farinha e bata apenas até que esteja incorporada. A massa vai ser grossa e grudenta. 
  6. Com uma espátula, passe a massa para a assadeira preparada, formando um retângulo chato de cerca de 40x12cm. (Molhe as mãos e empurre a massa até chegar nesse formato.)
  7. Asse por 20-25 minutos, até que a massa esteja dourada em cima e acastanhada nas beiradas. (Gire a massa na metade do cozimento, para que asse por igual). 
  8. Retire do forno e deixe na assadeira, numa grade, descansando por 15 minutos. Enquanto isso, abaixe o fogo para 160oC. (Caso seu forno não fique mais baixo que 180oC, como era o meu no Brasil, você pode deixar a porta entreaberta com uma colher de pau segurando, ou assar por menos tempo). 
  9. Transfira a massa assada para uma tábua de corte, e, com uma faca de serrilhada, corte fatias de pouco mais de 1cm de espessura. Disponha os biscotti na assadeira SEM o papel-manteiga. Volte ao forno e asse por 15-20 minutos (menos se o forno ainda estiver a 180oC), até que estejam ligeiramente dourados. 
  10. Retire do forno e imediatamente coloque os biscoitos para esfriar sobre uma grade. Duram pelo menos 2 semanas se guardados em potes herméticos. 

segunda-feira, 1 de março de 2021

Pequenas coisas. Um bolo de chocolate.


 

"Mamãe, a professora pediu pra levar um snack sem pote amanhã", disse Laura, pulando de camisola pelo apartamento. Suas pernas e suas bochechas ainda tinham aquele brilho úmido e avermelhado do banho quente, os cabelos à la Mia Farrow pingando água, os óculos de aro violeta desembaçando aos poucos, com o contato do ar frio da sala. 

Eram sete da noite. Estava escuro e frio-refrigerador lá fora. Do lado de dentro, os abajures produziam uma luz amarelo-quente como as chamas de uma lareira.

"Por quê?'", perguntei, levando à mesa a panela de arroz, e interrompendo a conversa para pedir a Thomas um Untersetzer, ou "únta-zétze", como acabo pronunciando, porque essa palavra me vêm à mente mais rápido que qualquer outra quando preciso de um "descanso de panela" ou um "coaster". Thomas levantou devagar do sofá, olhar tenso por trás dos óculos azuis retangulares, deixou seu livro cuidadosamente aberto de páginas para baixo sobre a almofada, e cumpriu a tarefa em silêncio. Únta-zétse na mesa, criança de volta ao sofá com a cara enfiada no livro. Laura e eu observamos aquele movimento, como quem espera uma família de patos atravessar a avenida. 

De volta à conversa, Laura explicou: "A Mrs. Markandonis vai levar a gente no parque amanhã, e a gente não vai levar lancheira. Ela pediu pra levar um snack que é wrapped, como um cereal bar."

Eita. 

"Bom, não tem nenhum snack assim em casa", respondi, sem conseguir me imaginar me encasacando de novo para ir ao mercado por uma barra de cereal. "Mas eu posso fazer um bolo, e você leva ele em papel-alumínio. Pode ser?"

"Tá bom. Bolo do quê?"

"Menor ideia. Vou ver o que tem na geladeira. Agora venham jantar."

"O que tem?"

"Ah. Arroz, soufflé de brócolis e aquela cenoura cozida que vocês gostam."

"Por que é que ela tá marrom?"

"Porque eu usei aquelas cenouras coloridas, achando que ia ficar lindo, mas elas desbotaram e ficaram marrons." Laura fez uma careta. "Tá feio, mas o gosto é igual."

"O importante é estar gostoso, né, mamãe?"

"Exato. Agora chama teu pai, que acho que ele saiu da reunião."

As crianças levaram os pratos à pia, após a refeição. "Quem vai limpar a mesa hoje?", perguntei, ajeitando tudo nos espaços vazios da lava-louças, sentindo uma satisfação infantil ao conseguir resolver aquele quebra-cabeças de pratos, panelas e tigelas da forma mais eficiente possível. Competência. Tapinha nas costas. Um sorriso meu só para mim. Enquanto isso, Thomas já havia apanhado pano e spray e já terminava de esfregar a mesa e dobrar os guardanapos de pano. Laura deixara o ambiente sorrateiramente. "Laura, vai escovar os dentes!", exclamei, sem olhar para o quarto. "O Thomas vai primeiro!", sua voz soou do além-porta. "O Thomas limpou a mesa! Você vai primeiro!", rebati. E sua resposta veio arrastada após um som ininteligível de frustração pré-pré-pré-adolescente. "Aaaaaaaaargh! Por quêeeeeeee? Isso é tão boring...!"

Suspirei. 

"Laura, larga a mão de ser chata. Você sabe que tanto faz, dá na mesma, os dois vão ter que escovar os dentes igualzinho, e não importa quem vai primeiro."

"Se não importa, então o Thomas vai primeiro!". Sua voz soou firme e ponderada, com a cadência típica da satisfação de quem ganha uma batalha.

Argh. Respira.

"Laura, é sua RESPONSABILIDADE cuidar do seu corpo. Eu estou pedindo sua COLABORAÇÃO, para que todos possam usar o nosso único banheiro e a gente possa ter um fim de noite legal em família. Precisamos de ORGANIZAÇÃO para dar tempo de ler uma história antes de dormir. Eu continuo esperando que você tenha INICIATIVA para cumprir suas tarefas de forma INDEPENDENTE. Quando você precisa desse tipo de reminder (lembrança), quer dizer que ainda precisamos trabalhar seu SELF-REGULATION."

Silêncio. Usar os termos de avaliação da escola tem surtido efeito no último mês, ainda que me faça soar como uma palestrante de RH. Sinto-me ridícula, mas eles têm conseguido identificar mais facilmente o progresso de seu comportamento e como os professores avaliam sua conduta. Dar nomes aos bois.

Espero, olhando por cima do ombro em direção à porta aberta do quarto, como quem observa um animal selvagem que ainda não decidiu se você é comida ou apenas uma curiosidade no meio do caminho. 

"Aaaaaaargh. Tá bom", ela respondeu, saindo do quarto, não sem revirar os olhos assim que percebeu que eu a estava olhando. Ela tem oito anos. Imagino como será quando tiver dezesseis. Suspirei aliviada, e fui buscar na geladeira uma inspiração. Havia meio pote de sour cream que eu havia comprado não me lembro para o quê, e para o qual eu não tinha nenhum plano. Um bolo com sour cream. Eu tinha várias receitas de bolos que levavam sour cream. Certeza. Mas onde?

Era o repeteco infinito daquela situação que vi repetida a vida toda: você vai ao mercado e finalmente encontra aquele ingrediente exótico que você precisava para preparar uma dezena de receitas, mas quando volta pra casa com o ingrediente exótico comprado, não consegue encontrar uma única receita que o use. 

"Pronto, mamãe!", ela se aproxima, abrindo a boca para que eu verifique se o trabalho foi bem feito. "Tá ótimo, parabéns!", sorrio, dando-lhe um tapinha afetuoso na bochecha. "Vai brincar. Thomas, sua vez."

"Aaaaaaahn...", ele geme por trás do livro. 

"Não começa você também. Vai escovar os dentes e aí você pode terminar de ler. Vai."

Ele se levanta e caminha a passos propositalmente lentos e pesados, como se eu pudesse enxergar o peso imaginário da tarefa sendo carregado por seus ombros magros. Oh, the drama

"Vai logo, que senão não dá tempo de ler história, que eu ainda tenho que fazer bolo."

"Bolo do quê?", ele pára em frente à porta do banheiro. 

"Eu te conto quando você tiver escovado os dentes". 

"Aaaaaaaaaahn..."

Volto aos livros que espalhei no sofá. Não consigo encontrar nenhuma receita que queira preparar. Todas as que levavam sour cream levavam também manteiga, que eu não tinha, ou amêndoas, que eu não podia mandar para a escola. Penso em preparar meu bom e velho bolo de iogurte e substituir o iogurte pelo sour cream, mas me dá preguiça. Sinto no meio das costas e atrás das orelhas aquele comichão de vontade de algo diferente. Será? Toda vez que saio inventando coisa diferente no fim da noite, dá errado.

"Você quer um chá?", perguntou Allex, enchendo a chaleira.

"Sim, por favor", respondi, largando os livros e apanhando o celular. SOUR-CREAM-CAKE-NO-BUTTER, eu digito com o dedão na caixa de busca do Google. 

Levantei os olhos para encontrar Thomas à minha frente, corpo inclinado na minha direção, boca aberta num sorriso forçado que me faz lembrar um cavalo rindo. "Muito bom, amor", eu disse. "Agora, por favor, deem um jeito no quarto para a gente ler uma história."

"Você vai passar o Bob?", perguntou. Bob. O nome carinhoso que dei ao aspirador de pó. Ele quer saber se pode deixar o Lego no chão. 

"Não, só empurra o Lego prum canto do tapete pra ninguém tropeçar durante a noite."

"Tá bom."

"Tá aqui seu chá", Allex se inclinou para me beijar e deixar a xícara fumegante ao meu lado. "Eu preciso terminar uma apresentação para amanhã cedo, mas é coisa rápida", explicou, voltando ao computador no quarto. 

"Ok".

Ok. Encontrei uma receita. Um bolo de chocolate com laranja que usa creme de leite no lugar de manteiga. Já havia feito um destes uma vez, receita de um livro que eu não tenho mais. Perguntei-me se ainda tinha aquela receita em algum lugar, se a havia publicado no blog, mas tive preguiça de procurar. Daria certo substituir o creme de leite por aquele sour cream tão espesso? E a laranja? Eu não tinha suco de laranja. Hmmm... 

"Lauraaaa!", berrei na direção do quarto.

"Quêeeee?", ela berrou de volta. 

"Vou fazer um bolo de chocolate que eu não sei se vai dar certo. Se ficar horrível, a gente compra alguma coisa no caminho da escola amanhã, tá?"

"Tá tudo bem, mamãe!", ela disse, doce, sua cabeça aparecendo de repente do corredor, por trás da poltrona. "Se não der certo, a gente come mesmo assim."

"Tá bom, então, sua linda. Vamos ler história e dormir". 

Thomas apagou as luzes e ligou o abajur. Sentei-me na parte de baixo do beliche, a cama da Laura, e li dois capítulos de um dos livros que trouxe para eles da biblioteca. Uma história de mistério em uma noite passada no museu. O barulho não eram fantasmas: eram passarinhos, que as meninas da história conseguem libertar por uma janela do banheiro. Boa noite, boa noite. Beijinhos. Pulguinhas. Mais um abraço. Mais um. Pega água? Pego. Tá aqui. Boa noite. Boa noite, agora. Laura, pra debaixo da coberta. Thomas, pára de cantar. Laura, pára de chutar o colchão do teu irmão. Eu disse boa noite. BOA NOITE. 

Porta fechada. Ainda ouço os dois conversando, aos sussurros.

Na cozinha, junto os ingredientes. Não há laranja, mas eu tenho esse hábito de congelar a casca das laranjas quando as descasco. Elas ficam muito duras e ralam no ralador muito mais fácil, feito parmesão. E sempre que preciso de raspas de laranjas, posso apanhar uns pedaços de casca congelada para usar. Mas e o suco? Ah, dane-se. Faço um xarope de açúcar. Espera! Acho que ainda tem Cointreau. Uma dose. Ótimo. Metade xarope de açúcar, metade licor de laranja. 

A receita é muito simples. Dessas de uma tigela só. Era pra bater o creme de leite até ele começar a firmar, mas meu sour cream era tão firme que fiz o contrário: bati o creme azedo com um fouet até que ele ficasse cremoso. Coloquei a mistura na forma. A receita pedia para untar com manteiga e polvilhar com farinha de rosca. Eu não tinha farinha de rosca e minha forma é daquele metal engraçado que conduz super bem o calor mas que enferruja. Então forrei com papel-manteiga e não untei coisa nenhuma. 

Bolo no forno. Silêncio. Eu não conseguia ouvir mais a conversa das crianças no quarto nem o som dos dedos de Allex tamborilando o teclado do computador. Havia o som da minha respiração e o sibilar sutil e constante dos canos do aquecedor. Allex apareceu de repente, espreguiçando-se num sorriso de trabalho entregue. "Que cheiro bom", ele disse."Bolo de chocolate", respondi. "Mas não sei se vai dar certo". Ele me olhou sem entender. "Ah, receita nova, mudei um monte de coisa, eu tô cansada e distraída, e você sabe... 2021. Não espero nada."

Assistíamos juntos a um episódio de Lupin, enquanto o bolo crescia. Saiu do forno lindo, uniforme, brilhante, para minha surpresa. Espetei-o todo, e pincelei com a calda de açúcar e licor, enquanto Allex preparava mais um chá. "Quer ver mais um episódio? Acho que é o último."

Na última cena, já dominada pelo sono, levantei para cortar um naco do bolo e guardar o restante sob a redoma de vidro. O miolo era macio e úmido. Gosto forte de chocolate amargo e um aroma delicioso e delicado de laranja. "Gente, que bolo bom", falei de boca cheia. Allex levantou para roubar um pedaço. "Deu certo, então!"

Deu muito certo.

Escovamos os dentes falando de presepadas. Eu contando presepadas das crianças, ele contando sobre presepadas de adultos. "Você vai ler um pouco?", ele perguntou. "Não, esse livro é bom, mas eu tenho tido pesadelos quando leio ele antes de dormir", explico, colocando Educated, de Tara Westover, no criado-mudo. Chamo Allex para vir ver as crianças dormindo. Nenhuma delas está coberta. Laura chutou os lençóis para os pés e dorme em pose de bailarina. Thomas se moveu tanto que os lençóis se enrolaram em seu corpo desconjuntado, parecendo uma marionete enroscada nos próprios fios. Mas dormem tranquilos. Deixamos os dois e vamos dormir. Deixo o escuro do quarto pesar sobre mim. Minhas costas se desmancham sobre o colchão. Amanhã será um dia como foi ontem. Esta noite foi igual às outras. Mas meu bolo de chocolate deu certo. Pequenas coisas. Pequenas, minúsculas coisas. Boa noite. Um beijo. Outro.

Mais um.

....

 

BOLO DE CHOCOLATE COM CREME DE LEITE (ou SOUR CREAM)

(do livro Chocolate is Forever, de Maida Heatter, no site Epicurious)

Ingredientes:

  • 1 1/4 xic, farinha de trigo
  • 2 Colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 1/2 xic. cacau em pó (sem açúcar)
  • 1 xic. açúcar
  • 1 xic, creme de leite fresco ou sour cream
  • 1 colh. (chá) extrato de baunilha
  • 2 ovos grandes
  • Casca ralada de uma laranja

(calda)

  • 1/3 xic. suco de laranja (ou água, se não tiver suco)
  • 3 colh.(sopa) açúcar

Preparo: 

  1. Posicione a grade do forno no terço inferior e aqueça o forno a 180oC. Unte e enfarinhe uma forma de bolo inglês de 20cm, ou forre-a totalmente com papel-manteiga. 
  2. Numa tigela, peneire a farinha, cacau, fermento, açúcar e sal. 
  3. Em outra tigela, bata o creme de leite, a baunilha e a casca de laranja até que o creme de leite tome corpo e firme quando você levantar o fouet. Cuidado se fizer isso com a batedeira, para não bater o creme demais, ou ele pode talhar. O sour cream que usei tinha a consistência de cream cheese, e por isso apenas bati com o fouet até ele ficar cremoso e aerado. 
  4. Junte os ovos, um a um, batendo apenas até que o ovo esteja incorporado. (De novo, se estiver usando o creme de leite, não bata demais para a mistura não talhar). Os ovos vão fazer a mistura ficar mais líquida.
  5. Use uma espátula para incorporar os ingredientes secos, apenas até que não se veja mais farinha. Transfira a mistura para a forma, espalhando de modo uniforme, e leve ao forno por 1 hora, ou até que um palito saia limpo quando inserido no centro e o bolo esteja elástico quando pressionado com o dedo. Enquanto isso, misture o suco (ou água, ou uma mistura de água e licor de laranja) e o açúcar e deixe descansar até dissolver. 
  6. Quando o bolo sair do forno, ainda na forma, fure-o todo com um palito e, com um pincel de cozinha, espalhe toda a calda sobre o bolo. Deixe que ele esfrie completamente antes de desenformar. O bolo se conserva bem por alguns dias em pote fechado e fica melhor de um dia para o outro.


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Volta às aulas na câmara de descompressão - um bolo e um peixe


As crianças voltaram à escola.

A casa está com aquele silêncio familiar que relaxa meus músculos e acalma meus nervos. Eu amo a companhia de meus filhos, mas eles estão grandes e independentes demais para passarem tanto tempo confinados comigo. Eles precisam de um tempo sem minha presença, muito mais do que eu, na verdade. Talvez fosse diferente se eles fossem mais novos. Não sei. Entramos nesse apartamento quando Laura tinha 4 anos e Thomas 6. Laura fez 8 em janeiro e Thomas faz 10 em abril. Duas crianças de 8 e 10 anos correndo num apartamento de 70m2 é bem diferente de duas crianças de 4 e 6 fazendo a mesma bagunça nesse mesmo espaço. Esse espaço que temos não comporta seus corpos em expansão de energia. A casa é, cada vez mais, o local de sossego, de descanso. É preciso ter um 'lá fora". É preciso ter um "outro lugar". Coisas precisam acontecer em outro ambiente, para que a casa possa atingir seu máximo potencial de acolhimento. 

E as crianças, como eu disse, voltaram à escola. 

A manhã foi estranha, desconjuntada, como um corpo reaprendendo a andar, consciente de cada músculo, cada tendão, cada nervo, em espasmos de movimento desajeitado. Putz, eu tinha que fazer almoço. Putz, não preciso mais colocar os tablets para carregar. Putz, eu costurei a calça de neve do Thomas? Putz, cadê aquele livro da biblioteca da escola que a Laura tinha que devolver? Putz, eu não posso sair para correr, porque tenho que andar até a escola com os dois. Putz, tem máscara extra? Putz, pega uma luva extra pra se a sua encharcar. Putz, não esquece os "indoor shoes". 

Putz.

Faz -20oC lá fora, e há 30cm de neve nas calçadas. Pequena aventura. Há quem reclame, mas eu tenho amor por essas nevascas noturnas que nos acordam como se alguém tivesse derrubado um saco de açúcar sobre a cidade. Afundar o pé na neve até o joelho me dá uma satisfação infantil muito semelhante a me enfiar em uma piscina de bolinhas. 

Os dias andavam tão iguais. Me deixa fingir que a neve é uma piscina de bolinhas. 


 

Tentei sair para correr, mas a neve fofa no asfalto me fazia escorregar, e a noite mal dormida pesou nas pernas mas do que eu gostaria. Voltei para casa cedo, com frio, pensando que deveria ter ouvido meu coração que dizia que hoje não era dia de corrida. Contentei-me em fazer um pouco de yoga e alongamento, e saí para o mercado. 

"Você vai de carro?", perguntou Allex.

"Vou."

"Você já dirigiu na neve?"

"Nunca."

"Cuidado."

"Podexá."

Dirigir na neve requer atenção. As rodas derrapam tanto quanto meus tênis de corrida. Mesmo em velocidade baixa. Há os solavancos dos montes de neve compactados nas laterais da rua. As ruas que estão limpas ficam mais estreitas, porque parte delas é ocupada pela muralha de neve ao longo da calçada, empurrada pelos caminhões que desobstruem a rua e jogam sal. É como aquela estradinha que sai da praia  no meio do mato: com areia, pedregulhos e lama, tudo junto ao mesmo tempo, só que na cidade. 

Eu estava tão focada, e ao mesmo tempo me divertindo tanto com aquela novidade, que me senti jogando video-game. 

Os dias andavam tão iguais. Me deixa fingir que dirigir até o mercado é como jogar video-game. 


 

Mercado desorientado. Por algum motivo eu não tinha clareza para criar uma lista mental de refeições e ingredientes para a semana. O apetite das crianças anda irregular, assim como o de Allex, e eu não conseguia resolver o quebra-cabeça dos jantares para quatro, almoços em casa para dois com preferências diferentes (eu almoço leve, e Allex é do "comfort-food")  e almoços de escola para as crianças. Mais "snacks".Sem "nuts". 

Eu havia preparado dois bolos de banana, coco e nozes da Martha Stewart algumas semanas antes, e ainda tinha um deles congelado. Enquanto tirava o bolo do freezer para mandar de snack na primeira semana da escola, Thomas lembrou: "Mas mamãe! Tem nuts!"

Putz.

Então no dia anterior ao primeiro dia de escola, preparei, no improviso do que eu tinha, um bolo simples com frutas, para que as crianças tivessem lanche. 

E agora eu saía do mercado carregando sacolas demais. O reflexo de minha confusão mental, comprar mais comida do que precisamos na semana. 

Arruma tudo na geladeira. Almoça. 

"Eu não tenho reunião pela próxima meia hora. Quer tirar um cochilo?", pergunta Allex. 

"Por favor". 

O silêncio gostoso da casa pedia cochilo. Minha cabeça sem dormir também. Deito sob as cobertas, as costas relaxando e estalando sob a luz de inverno entrando pela janela aberta, e ouço o estalo da maçaneta. 

"Pra que você fechou a porta? As crianças não estão aqui!", disse, rindo. 

"Pois é, eu me perguntei isso também", ele riu. "Foi automático."

Meia hora de cochilo restaurador. Sonhei. Quão cansada está uma pessoa que entra em REM e sonha em trinta minutos de cochilo? 

Café. Tem isso de a gente ter colocado um timer na tomada da cafeteira, nos horários em que a gente gosta de tomar café, já que ela demora uns vinte minutos para esquentar a caldeira. Ela liga às seis da manhã e desliga às nove. Liga de novo ao meio-dia e meia, e desliga às duas. "A cafeteria está aberta!", Allex diz. 

Trabalho. O texto demora a se formar em minha mente, como se eu tentasse escrevê-lo em outra língua. Leio palavras formadas por ideogramas desconhecidos.  

"Ana! Eu fiz uma coisa importante que a gente tinha esquecido de fazer!", Allex grita do quarto. 

"O quê?"

'Coloquei um timer pra lembrar de buscar as crianças."

Putz. 

Ainda bem. Porque eu tenho disso. Quando engato no trabalho acho que duas horas passadas foram quinze minutos. Perco-me. Perco a noção. Perdi a conta de quantas vezes cheguei atrasada na escola pra buscar as crianças. Mas eles ficam tranquilos. São filhotes lindos, que sabem que a mamãe é meio cabeça-de-vento, mas transborda amor por eles.

Não cheguei atrasada. Bom. Mais ou menos. O elevador do meu prédio imenso, que só comporta duas pessoas por vez durante a pandemia, demorou horrores para aparecer. Mas o caminho até a escola havia sido limpo e alcancei as escadas do pátio mais rápido que de manhã, sem passar pela aventura da piscina de bolinhas. 

Eles me esperavam, juntos, ao lado da professora, todos mascarados. Acenei. Levantei o trenó de plástico preto, essa grande banheira com cordinha, chata de carregar com dedos gelados, para que eles vissem como eu sou uma mãe legal. Atrasada. Mas legal. 

É proibido brincar no pátio da escola depois da aula. O que não faz sentido, porque tem menos criança brincando no pátio depois da aula do que durante a aula. Mas tudo bem. Levei os dois ao parque em frente à escola, destino diário em tardes de inverno pós-escola pré-pandemia. Eu havia explicado aos dois, de manhã, como precisávamos voltar direto para a casa, sem brincar depois da aula, por conta da quarentena. Mas meu coração apertou. Há 30cm de neve fofa e divertida no parque, que a qualquer momento pode derreter e não voltar mais. Isso de estações marcadas faz a gente ver o tempo diferente. Não é um ano que passa. Não foi um ano de quarentena. Esse é o único inverno dos meus filhos com 8 e 10 anos. No próximo, vai saber, talvez Thomas não veja mais graça em brincar na neve. Talvez ele tenha crescido. Não vai ter outro inverno, outro dia de 30cm de neve no fevereiro que ele tem 10 anos e ainda gosta de brincar com o trenó. 

Por isso levei os dois ao parque. 

"Brinquem com as crianças da sua sala, por favor", recomendei. "E fiquem de máscara."

Havia menos gente ali do que eu esperava. O dia estava cinzento e sem graça, e os -20oC se tornaram -10oC, o que é mais confortável, mas ainda espanta muitos pais. Era possível brincar sem aglomerar. Era possível me manter distante de todos os outros adultos. Thomas correu para construir um iglu com uns amigos que carregavam pás de neve. Laura achou uns meninos da sua sala com quem ficou brincando de construir tijolos de gelo que eles quebravam com galhos. Eu fiquei ali, mãos nos bolsos, trenó aos meus pés, suspirando de alívio em ver duas carinhas contentes de quem teve um dia mais normal, de quem passou tempo com os amigos, de quem teve aula olhando para a professora sem um fundo de tela com uma praia do Caribe. 

"Eu tô no Big Hill!", avisei às crianças, puxando a cordinha do trenó atrás de mim e andando pela neve fofa em direção à grande ladeira que separa a parte alta e a parte baixa do parque. Ali, onde tem uma placa altamente ignorável em que se lê "proibido descer de trenó". Lá em cima, desviei de três crianças e dois adultos, posicionei o trenó num trajeto que imaginei ter menos buracos, e sentei minha bunda de quarenta anos no plástico já coberto de flocos de gelo. Inspirei. Expirei. Empurrei o chão. É como montanha-russa. O ar frio veio por entre meus pés, atingindo meu rosto. A parte da frente do trenó abria caminho pela neve, levantando, como água, cristais brancos e leves em ondas nas laterais do meu corpo. Gosto do jeito como o estômago se move dentro de mim na queda, abrindo um espaço vazio no meu tórax que se preenche de alegria. Deixei que o trenó desacelerasse sozinho, derrapando de um lado e do outro, até cansar no meio do descampado. Espere que o carro pare completamente antes de desafivelar os cintos de segurança. Ao sair, por favor verifiquem se não deixaram nenhum pertence para trás. Levanto. Minhas calças estão polvilhadas de branco até as coxas, por baixo do casaco comprido. Tiro a neve das roupas com batidas leves, no ritmo do coração. 

Subo de novo. Desço de novo.

De novo. De novo.

De novo. Última. 

Os dias estavam tão iguais. Me deixa brincar de trenó.  



As crianças me acompanham na rua a passos cansados, arrastados. Tiram botas molhadas, penduram casacos, colocam as luvas encharcadas para secar em cima do aquecedor. Desmontam lancheiras sem eu precisar pedir. Tomam banho e leem os livros da escola. Sento para ajudar Laura com a pronúncia. Communities. Expectations. Empathy. Empathy is when you notice other people's feelings and try to understand them. São cinco horas e Allex ainda trabalha. Coloco uma música. Há dois momentos do dia em que gosto de colocar uma música. No café da manhã, para agitar. No fim do dia, para acalmar. O App de música criou uma lista especial para mim: as músicas que eu mais ouvi em 2020. Play. Metade dela era Frozen 2, metade Moana. Tinha um Nick Cave e um Icona Pop perdidos no meio. Curioso.

Preparo o jantar. Into the unknooooooooown... Into the unknoooooown... Um risoto com tomates e ervilhas, em que uso um caldo de camarões que fiz umas semanas antes, com as cascas dos camarões que cozinhei. Eu não quis comprar mais camarões para o risotto,pois eles viriam de novo com cascas, e eu quereria fazer caldo de novo, e viraria o ciclo infinito do risotto do caldo de camarão. Mas àquela manhã, pela primeira vez na vida, as vieiras estavam em promoção no mercado. Vieiras fresquinhas. Porque aqui tem disso: quando a comida está perto do vencimento, principalmente carnes e laticínios, os mercados colocam uma etiqueta avisando que o produto tem que ser consumido hoje ou amanhã, e que por isso está com 30, 50 ou até 70% de desconto. Acho isso muito honesto. Comprei duas bandejinhas de vieiras pelo preço de uma. 50% off. Enjoy tonight! Podexá. 

Dourei as vieiras na manteiga e servi sobre o risotto. Laura adorou. Thomas achou curioso. Mas gostou mais quando eu mostrei, no Wikipedia, como era uma vieira viva, dentro de sua concha. Onde ficava sua boca, seu intestino, o modo como ela nada abrindo e fechando a concha, expulsando ar de si mesma feito um fole. Você sabia que as vieiras tem diversos olhos? Eles ficam ao longo das beiradas das conchas, entre os filamentos que elas usam para apanhar comida. Quando a luz bate neles, eles brilham feito bolinhas azuis,. Parece uma nave espacial. 

As crianças cogitaram se a vieira seria capaz de ver vários filmes ao mesmo tempo.

Escova dentes. Desenha um pouco. Senta do lado do pai no sofá. Conversa sobre o dia. O que teve de bom? O que pode melhorar? 

Boa noite. Boa noite. Beijinhos. Mais um abraço. Me dá água? Allex coloca as coisas na lava-louças. Santa lava-louças, que eu sempre achei que fosse bobagem. Me lembra de só morar em casa com lava-louças. Sento na poltrona amarela com um chá. Já é noite faz tempo. Gosto de luz amarela de abajur. A sala tem quatro abajures. Eu nunca acendo a luz do teto. Como foi seu dia? Você viu a notícia? Olha esse meme. Achei que você fosse gostar. Amo você. Eu também. 

Os dias andavam tão iguais. As crianças voltaram à escola. Amanhã vou escrever um post no blog. Faz tempo que não consigo me concentrar nisso. Vou falar do peixe no forno que eu fiz e ficou uma delícia. Só precisa de menos alho. Vou falar do bolo de fruta que preparei para o primeiro dia das crianças.Vou falar de como foi um dia bom, muito bom, o primeiro dia de aula, ainda que tenha sido de alguma forma enevoado e confuso, como uma câmara de descompressão. 

Vai ficar tudo bem. 

....

 

O Bolo

Um bolo simples, muito simples. Adaptável. Pouco doce. Desses bons para o café da manhã ou bons pra mandar de lanche, quando você não pretende que seus filhos comam tanto açúcar no recreio que pirem e despenquem durante a aula de geometria. Bolo bom de fazer na mão. Mas pode fazer na batedeira. Era pra usar buttermilk, usei iogurte. Buttermilk deixa a massa mais molinha. Meu iogurte é mais consistente, gordinho, e deixou a massa com cara daqueles bolos italianos de massa compacta. Eu gosto. Mas você pode substituir uma parte do iogurte por leite, se quiser. Ou usar buttermilk. Também era para ser só de mirtilos. Mas eu tinha 3/4 xic. de um mix de frutas congeladas: mirtilo, cereja e amora preta. Achei que era pouco e piquei uma maça com casca junto. Ficou ótimo. Moral da história: use a fruta que quiser. Mas as que soltam caldinho ficam mais gostosas. Também era para ser numa forma de 12x8 polegadas. Me deu até coceira de preguiça de calcular isso. Usei uma forma quadrada de 9x9 polegadas (22-23cm). Dá pra usar forma redonda. Dá pra usar uma forma retangular, desde que não muito maior que isso. Ela pedia para untar e enfarinhar. Fui teimosa, porque achei que seria chatinho desenformar depois, e forrei tudo com papel-manteiga. Acabou que demorou bem mais pra assar. Não forre com papel-manteiga. No máximo, use um papel-manteiga untado em baixo, pra desenformar fácil. Ou use uma forma de fundo removível. Enfim. Falei que era um bolo de improviso.


BOLO DE IOGURTE E FRUTAS 

(adaptado do livro Apples for Jam, da Tessa Kiros)

Ingredientes:

  • 2 1/2 xic, farinha de trigo
  • 1 colh (sopa) fermento químico em pó
  • 1/2 xic. de açúcar
  • Noz moscada ralada na hora
  • 2 ovos grandes
  • 1 xic. iogurte natural
  • 4 colh. (sopa) manteiga, derretida
  • 1 colh (chá) casca ralada de um limão
  • 1 xic. frutas vermelhas ou outra de sua escolha, picada
  • 2 1/2 colh. (sopa) açúcar para polvilhar

Preparo:

  1. Pré-aqueça o forno a 205oC. Unte e enfarinhe uma forma quadrada de 22cm (ou qualquer outra de mesmo volume). Se quiser, forre o fundo com papel manteiga untado, para ajudar a desenformar. 
  2. Numa tigela, misture a farinha, fermento e uma ralada generosa de noz moscada. 
  3. Em outra tigela, bata com um fouet os ovos e o açúcar até que fique claro e fofo.
  4. Junte aos ovos o iogurte, a manteiga e a casca de limão, e misture bem. 
  5. Junte a farinha em três adições, misturando com uma espátula, apenas até que não se veja mais farinha.Não misture demais, ou o bolo ficara maçudo. 
  6. Espalhe colheradas da massa na forma (a massa é mais firme, como de muffin), e, com a ajuda de uma espátula, tente tornar uniforme. Espalhe as frutas por cima e polvilhe com o açúcar. 
  7. Leve ao forno por 25 minutos, ou até que um palito saia limpo quando espetado no centro. O bolo não necessariamente vai ficar muito dourado. A foto do livro mostrava o bolo super dourado, e eu acabei deixando bem mais tempo no forno, sem necessidade. Coisas de mente atrapalhada com o primeiro dia de aula. Deixe no forno apenas até o palito sair limpo. 
  8. Deixe que esfrie completamente antes de cortar em quadrados. O bolo se mantém bem por alguns dias em pote fechado. 

O Peixe. 

Um jeito muito fácil de fazer peixe. Assado, com ervas. Usei haddock fresco, que é peixe fácil de se encontrar aqui. Mas acho que pescada amarela, linguado, ou qualquer outro peixe branco mais alto e mais firme ficaria bom. Você pode usar as ervas que quiser, na verdade, na combinação que mais gostar. Eu só não picaria o alho, que ficou muito forte. Faria lâminas, fáceis de remover de cima do peixe na hora de comer. Ou deixaria ele em metades, apenas para aromatizar. Servi com brócolis cozidos e batatas-doces assadas nesse dia.

 

 

PEIXE BRANCO ASSADO COM ERVAS

(do livro Twelve, de Tessa Kiros)

Ingredientes:

  • 6 filés de peixe branco, sem pele, de cerca de 150-200g cada
  • Cerca de 30g de farinha de trigo
  • 3 colh. (sopa) azeite
  • 125ml (1/2 xic) vinho branco
  • 60ml água
  • 2 dentes de alho, fatiados ou cortados na metade 
  • 1 colh. (sopa) de cada uma destas erva, picadas; alecrim, sálvia, salsinha, tomilho e hortelã
  • 30g manteiga

Preparo:

  1. Pré-aqueça o forno a 220oC. 
  2. Corte os filés na metade, para facilitar. Tempere com sal e pimenta-do-reino. Passe os filés na farinha de trigo, chacoalhando pra tirar o excesso.
  3. Coloque o azeite numa travessa de forno ou panela que comporte todos os filés numa camada só, e coloque ali os filés de peixe enfarinhados. Regue com o vinho e a água. Espalhe o alho e as ervas por cima. Divida  manteiga em pedacinhos pequenos e coloque sobre os filés. 
  4. Leve ao forno já aquecido e asse por cerca de 20 minutos. O peixe deve estar opaco, branco e macio, com um pouco de molho borbulhando em volta. Sirva quente.

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